Arco 1 –  Oriente sem DESTINATÁRIO

Missão Ágape

Capítulo 7

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🟡 Em breve

A noite tinha sido calma, mas não na mente e no coração daquele rapaz, pois a culpa por ter magoado o deus estava martelando direto em seu peito.

Ele podia dar muitas dores de cabeça para sua família, ou até ser um cafajeste que adorava ter uma linda mulher a cada noite em sua cama, mas magoar uma pessoa por causa de suas impulsividades… Isso era muito doloroso.

E por conta disso, só conseguiu dormir porque seu corpo e sua mente ficaram exaustos de tanto pensar em como chegaria no loiro e dizer uma simples palavrinha: desculpa.

A manhã chegou um pouco abafada, mas não menos ventosa, as finas cortinas sempre exaltando o quão arejado era tudo por ali.

— Faça a coisa certa! Assim como aquele deus disse!

James não queria fazer aquilo somente por ser o certo, havia também aquela parte, talvez a principal, que queria muito fazer o certo.

Se levantou, tomou banho, se arrumou como podia, limpo, perfumado e nervoso. É, nem quando estava na frente daquelas pessoas e sendo obrigado a ter que pedir a mão daquela moça, nem isso era comparado ao que estava se preparando para fazer.

— Ele vai aceitar minhas desculpas, não tem como haver outro resultado. Afinal… Ele precisa de mim… Droga! Não! Não é isso que quero dizer! Porra James! Você é burro? Ok, se acalme, você não fez uma coisa tão grave assim… — disse para si mesmo enquanto ajeitava sua camisa, ficando indeciso entre usar ou não a gravata borboleta para dar mais credibilidade, mas também queria passar uma imagem mais relaxada, do tipo que tudo ia ficar bem.

Quando saiu do quarto, viu o corredor um pouco diferente. Antes havia somente uma dobra que virava para a direita, agora haviam dois caminhos. Para sua sorte, e sua boa memória para direções, James seguiu o caminho continuando para a direita, parando numa porta talhada com figuras de frutas, o lugar onde o levava até o salão de jantar.

Diferente da noite passada, o local agora estava bem claro. As cortinas finas davam ao lugar um ar etéreo, como se ali fosse uma sala antes de entrar no paraíso.

E lá sentado na mesa, cabisbaixo e com o olhar perdido enquanto bebericava sua xícara de café, estava Kýrios, que volta e outra suspirava pensativo.

James se aproximou a passos cautelosos, não por medo, mas para não assustar o deus em seu devaneio.

— Bom dia. — disse, ganhando logo para si a atenção de um par de olhos verdes tristonhos.

— Bom dia, James Payne. — Cumprimentou de volta, conciso.

Ouvir seu nome completo lhe deixou um tanto incomodado…

— Já… fez seu desjejum?

— Não. Estou sem fome.

— Panoptes não virá?

— Ele já veio. E saiu para fazer uma coisa importante. Coisas de família.

— Ah sim, espero que ele fique bem.

— Ficará. — disse, voltando seu olhar para sua xícara.

O rapaz fungou em derrota, sabia que aquelas respostas rápidas era fruto de sua mágoa. Não tirava sua razão, ele merecia ser punido com essa atitude seca do outro.

E por conta disso, tinha logo que fazer algo.

— Kýrios, eu gostaria de…

— Aqui está sua primeira tarefa. — Interrompeu o moreno, colocando um objeto em cima da mesa — Sente-se.

James se aproximou, se sentou em frente ao loiro e logo seus olhos miraram num brilho prateado e que a claridade do lugar refletiu naquele objeto tão delicado e bonito.

— É… O pingente de flecha?

— Não é aquele o qual você tinha presenteado a sua futura, agora ex-noiva. Essa é uma outra que consegui achar.

— Então existem mais delas?

— Sim. Na verdade… Essas flechas são minhas. São minhas armas, como também o meu trabalho. Mas… no dia em que ocorreu toda essa confusão conspiratória, Zeus confiscou meu arco e todas minhas flechas, transformando-as em simples objetos. Fiquei perdido, desolado. Claro, não mais quando ele também tirou de mim minha amada… Bom, o fato é que ele me tirou muitas coisas, e as quero de volta, com juros e tudo o que eu tenho direito.

— E como essas flechas vão lhe ajudar? Qual é minha função com elas?

— Quando você entrou em contato com aquela primeira flecha e se cortou, foi ali naquele momento que consegui achar você, a minha Pista de Parca. Você foi como um farol para mim, e até agora não sei porque aquelas “três senhoras” ligaram e encantaram minhas flechas para isso. E também não sei como uma de minhas flechas consegue sempre achar os Pistas de Parca. Só sei que toda vez que um entra em contato com elas e se fere alimentando-as com seu sangue, é onde eu posso saber quem é e qual será meu próximo passo.

— Então é por isso que me ajudou a fugir tão avidamente.

— Sim. Porque é através de você que conseguirei meu êxito nas buscas por justiça.

— Então… Essa flecha… Eu tenho que me cortar agora?

— Sim. Mas leve seu tempo, já que se ferir nunca é uma tarefa fá…

Antes que o loiro dissesse para não se apressar ou agir por impulso, James pegou o pingente e cortou a palma de sua mão, bem na linha da vida.

E logo a flecha foi embebida em vermelho, e o liquido foi absorvido por aquele objeto pontiagudo, deixando Kýrios intrigado e um pouco nervoso.

— O que foi?

— Nada. É só que… bem, acho que deve ser alguma piada, porque essas minhas flechas tem o objetivo de levar amor e felicidade, mas agora estão sendo usadas para dor e sofrimento.

— É, talvez seja mesmo uma piada. Mas saiba que isso que fiz não me trouxe nenhuma dor ou sofrimento, é só um corte, não vou morrer por causa disso.

— Aquiles também falava a mesma coisa sobre seu calcanhar. Que não era nada, que só um cortezinho não iria lhe trazer nenhuma desgraça, e então… Puff, morreu. Então seja cuidadoso. Por esta missão, por favor. Espero que agora que com tudo sendo esclarecido, que você leve à sério tudo que se deparar pelo caminho.

— Sim, eu levarei.

Após o corte, a flecha pingente tremeu em cima da mesa, e logo deu pulinhos agitados até parar com sua ponta afiada em uma direção. E o sangue que ainda pingava da mão do rapaz, começou a juntar-se num só local, tomando forma de algo, uma espécie de gravura sangrenta.

— Leste? Hm. Interessante. — disse o deus, analisando o desenho a frente.

— O que tem para Leste? E que desenho é esse? Parece… uma flor. Presumo pelo seu semblante que não seja algo bom.

— Nem tanto. É só que tenho alguns negócios inacabados por lá. Argh… Ok, tudo pela missão. Vamos para o pátio, temos que nos preparar…

— Kýrios, tenho que te falar uma coisa.

O loiro estava quase se levantando da cadeira, mas se deteve para ouvir o que o rapaz tinha para lhe dizer.

James ficou encarando-o por longos segundos, sua boca abria e fechava, sempre hesitando, sua mente lhe jogando várias e várias opções de como ele poderia pedir desculpas sem soar estranho ou falso, este segundo era a última coisa que queria passar de impressão.

— Diga, James. Eu sou todo ouvidos.

— É que… — quando estava criando coragem para dizer, um medo sem explicação passou por seu coração, acompanhado de uma memória passando em um segundo por sua mente.

Era novamente uma imagem daquela moça dos sonhos que pedia ajuda para encontrá-la, uma linda jovem de cabelos dourados, tão dourados quanto os fios daquele deus à sua frente.

A moça mostrava um balançar de cabeça em negativo, como se o aconselhasse a não fazer aquilo que estava prestes a fazer.

E foi bem nesse momento que James perdeu toda coragem para se desculpar.

— Está tudo bem? — perguntou Kýrios, vendo a expressão estranha no rosto do rapaz, e pensou que o mesmo fosse desmaiar, já que havia ficado um pouco pálido.

— Estou bem… é só um mal estar repentino… Por não dormir direito.

— Oh, neste caso, então é melhor voltar para seu aposento.

— Não precisa… tenho que tomar o café da manhã e… treinar.

— Treinar?

— Sim. Kýrios, eu não sou bom em nada. Serei um peso morto se me levar nessa tal viagem ao leste. E creio que mais daquelas coisas vão aparecer de novo, e quero estar preparado.

O loiro lhe mirou analítico, e também pensativo.

— Ok. Vamos aos treinos! Temos que melhorar sua esgrima.

— Como você…

— Ah James… Eu não sou onisciente, mas tenho minhas fontes. E minhas fontes me dizem que você é bom com espadas.

O rapaz abaixou os ombros, pegou um guardanapo e cobriu o pequeno corte em sua mão que ainda sangrava um pouco.

— Isso foi a muito tempo…

— Mesmo assim. Vamos despertar outra vez esse seu lado guerreiro! Estou curioso para ver sua performance manejando uma lâmina grega.

— Quê?

— Tome seu desjejum, e me encontre na porta Pi com duas espadas cruzadas. — disse, se levantando às pressas, e deixando o rapaz sozinho naquela mesa.

James se xingou em mente pelo acovardamento em pedir desculpas, e se sentiu mais culpado pelo loiro ainda lhe tratar com cortesia e gentileza depois tudo.

•

Mesmo sem vontade, conseguiu comer bastante coisa que havia desejado para aquelas mesas serventes que sempre se aproximavam quando ele pensava em alguma iguaria.

Quase foi as lágrimas quando pensou na comida de sua mãe, se perguntou como ela estaria, e esperava que estivesse bem, pelo menos fisicamente.

Como o combinado, foi procurando pelos corredores uma porta com o número Pi talhada nela além das duas espadas cruzadas.

Aquela era uma porta diferente, assim como todas ali. Mas essa tinha como material predominante o aço. Seus parafusos eram grandes, pareciam várias maçanetas ao redor cobrindo os cantos.

Girando a que se destacava por ser de madeira, abriu a porta e entrou.

James se deparou com uma paisagem escura, mas não sombria. Parecia um bosque com muitas árvores ao redor, e ali onde parou era uma clareira rodeada com uma cerca feita de cordas, que eram sustentadas por hastes que serviam também de tochas.

Era estranho, já que havia acabado de acordar não fazia nem duas horas, e ali já estava noite.

— É um lugar bem legal, não acha? — perguntou Kýrios, aparecendo ali de repente por trás e sussurrando no ouvido do rapaz, que se assustou e também… sentiu um arrepio estranhamente bom subir pela sua espinha.

— Você poderia ser empalado chegando dessa maneira e me assustando. Sorte sua que não estou com nada nas mãos.

— Hm, não, eu não seria. Do jeito que está de guarda baixa, eu é quem te empalaria por trás. — disse, com um sorrisinho convencido e confiante.

James se sentiu aliviado ao ver aquele irritável sorriso de novo, já que isso significaria que pelo menos naquela hora, tudo estava um pouco resolvido.

Mas mesmo assim, quando tivesse oportunidade, iria fazer oficialmente um pedido de desculpas.

Mas também poderia ser que o deus estivesse, de maneira bem sutil, lhe dando a oportunidade de corrigir seu erro através daquela reação mais leve de sua parte. Era uma esperança que fosse mesmo essa teoria.

— Pegue. — Kýrios lhe jogou uma espada média, uma de bronze com detalhes bem delicados, sua lâmina era bem fina e polida, como se ninguém nunca tivesse a tocado para sequer cortar o ar.

James ficou impressionado com a beleza daquela arma, dava até para se ver nela de tão limpa que era.

— Era dela.

— Quem? — perguntou James.

— De minha amada.

— Porquê? — perguntou, franziu o cenho, não entendendo o porquê daquela escolha do loiro em lhe dar aquela espada.

— Sendo sincero? Não sei. Sei lá, acho que quero de alguma maneira ficar mais perto dela… São poucas as coisas que restou depois que confiscaram tudo…, mas essa espada eu consegui esconder! Este lugar onde estamos guarda uma infinidade de coisas. Dédalo é quem construiu para mim.

— Dédalo? Aquele do labirinto?

— Ah então conhece sua história?

— Sim, culpa de meu pai. E de minha mãe também. Eles adoram contar histórias sobre tudo… — disse, ficando entristecido novamente por pensar neles.

— James. — Lhe chamou, se aproximando, e pegando de surpresa o moreno ao envolver as mãos do rapaz nas suas — Eu sinto sua dor, sou bom nisso, com sentimentos. Sei que os ama muito. E sinto muito que não esteja com eles agora.

— Sente? Não me pareceu quando veio até meu quarto e quase me sequestrar se eu não aceitasse fugir com você.

— Ah, pare de ser dramático, e também fingido. — Posicionou de maneira certa a espada nas mãos do rapaz, que sentia um formigamento em sua mão toda vez que o loiro tocava em sua pele.

“Será que isso é por causa do que esse cara é? Eu sou humano, então deve ser isso. Fiquei com mal estar quando estava próximo de Tânatos naquele jantar… Devo sentir uma sensação diferente para cada deus.”

Kýrios sorriu após deixar o rapaz na posição que queria, e o mesmo nem percebeu que estava mais abaixado e quando os braços semiflexionados como se estivesse prestes a se defender de um golpe eminente.

Quando James despertou de seu devaneio.

— Acordou, James?

— O que houve? Como que…

— Me desculpe. Não pude evitar. Você estava com os olhos tão doces… Isso ativou em mim algo para lhe encantar. Mas não se preocupe, não é nada grave. — Você… me encantou?

— É. Faz parte do que sou. E do que trabalho. É minha essência. Mas… tem algo mais.

— Algo mais?

— James, está falando demais. Vamos, me ataque. E quando eu revidar, se defenda como pode.

James não estava tão seguro quanto ao que o deus estava lhe ordenando fazer, não sabia em que intensidade seria aquele ataque, mas por um lado, estava apostando no fato de que ele era um alguém precioso que não poderia ser ferido.

Se colocando em uma postura ofensiva, correu em direção do loiro, que num passe de mágica um arco apareceu em sua mão e com uma agilidade sobre humana, atirou uma flecha na direção dele.

Como se seus instintos tomassem conta de si, desviou o percurso da flecha com a espada.

— Essa foi uma excelente defesa! — elogiou o rapaz, que ficou boquiaberto pelo feito, mas também um tanto aborrecido.

— Você atirou em mim!

— E você desviou minha flecha.

— Você, atirou, em mim! — repetiu com mais ênfase, largando a espada no chão e indo furioso pra cima do loiro, que logo o parou se pondo em postura de ataque novamente com o arco, apontando bem para seu rosto.

— Se eu fosse você pegaria sua espada do chão agora, James.

De repente James teve um pensamento sobre aquele treinamento.

— Ah, já sei o que está fazendo… — sorriu amargo de canto, pegando a espada do chão de volta — Isso tudo é uma vingança, não é? Tudo bem! Pode vir, Kýrios. — disse, deixando-se exposto, de peito aberto para o outro poder atirar sua flecha.

Kýrios abaixou o arco, arqueando uma sobrancelha.

— Peso na consciência não vai salvar sua vida, James.

— Então admite que é uma vingança?

— Não ponha palavras na minha boca. Isso aqui é um treinamento. Você mesmo disse que queria aprender algo. Que não queria ser um inútil. E para sua informação, nenhum oponente vai ter misericórdia de você, nenhum deles vai hesitar em querer fazer picadinho de sua pessoa.

— Então isso significa que até você? É isso o que vai acontecer quando eu não for mais útil para sua busca?

Isso estava engasgado desde ontem no jantar após ter falado aquelas coisas para o deus. Por não ter dormido, sua mente cansada começou a criar vários pensamentos ruins sobre sua situação, principalmente essa que externou de uma vez por todas.

O loiro levantou o arco e atirou uma flecha na direção do rapaz, que logo fechou os olhos para receber o dano merecido que esperava pelo seu erro.

Mas a dor não veio, o que veio foi uma sensação quente em sua bochecha que o fez abrir os olhos assustado.

— Deve estar me confundindo com meu pai, James. — disse Kýrios, com uma mão no rosto do moreno, que lhe mirava confuso com aquele gesto — Sinto sua culpa. E por isso, lhe perdoou. Podemos voltar aos treinos agora?

James queria falar, mas havia um nó na garganta lhe impedindo disso. Mas também não queria que o outro visse que estava afetado pela bondade que aquele deus lhe mostrava, e além disso, pensava que só estivesse daquela forma por conta dos efeitos de se estar perto de um deus como ele, assim como tinha ficado com o outro.

— Não… não respondeu a minha pergunta.

Kýrios respirou fundo e tirou sua mão do rosto do rapaz. Quando abriu a boca para responder, um frio repentino invadiu o lugar, para logo em seguida uma sombra fumacenta surgir no meio daquela clareira fazendo as chamas das tochas se tornarem cinzentas.

Era ele, e James logo soube.

Com o rosto queimando e com um sentimento acolhedor em seu peito que lhe deixava com um frio na barriga, se afastou rapidamente do loiro, que sorriu minimamente e se virou para o outro deus.

— Não tínhamos combinado somente na lua cheia? — advertiu Kýrios.

— Já é lua cheia. — Apontou para cima com sua foice.

Kýrios e James olharam para o céu, e lá estava mesmo a lua em toda sua gloriosa fase.

— Não percebi. — Justificou Kýrios, fazendo sumir de sua mão o arco.

— Sim, percebi isso. — disse Tânatos, e logo seu olhar foi em James, lhe encarando com um significado desconhecido que deixou o rapaz desconfortável.

— Bom, se é assim, que comecemos logo o ritual! — disse o loiro, se entusiasmando.

— Espera, nós vamos fazer isso mesmo? Kýrios, isso é…

— Tudo nessa vida é perigoso. Tudo há um risco. E pare de se preocupar, nada vai me acontecer.

— Como pode garantir? Se você morrer eu…

— Eu não vou morrer. Lembra, eu sou um deus. Estou fazendo isso porque é uma coisa segura, principalmente para você. O que estiver ao meu alcance, eu farei. E mais, se sinta honrado, James, essa é a primeira vez que vou me ligar a humano dessa forma.

— Ela era humana. — Retrucou Tânatos.

— É diferente! Minha amada era… é diferente.

— Sim, tudo é diferente. — disse se voltando para o rapaz, que deu um passo para trás com medo, mas logo se pôs numa postura confiante, mesmo que por dentro estivesse agora com medo — Está preparado?

— Sim. Estou. — respondeu James, determinado, mas na verdade não sabia nem se queria estar ali agora, suas pernas estavam bambam, só de olhar para aqueles olhos negros sem vida que lhe dava calafrios.

— Então se afastem. — aconselhou o deus da morte, e logo os outros dois fizeram o que pediu.

Tânatos começou a fazer movimentos precisos no ar com sua foice, como se estivesse cortando o ar, mas no lugar dos sons costumeiros de vultos velozes, um som de sussurros chorosos crescia a cada vez que aquela lâmina cortava o ar, deixando uma aura escura e fria.

Eram círculos, triângulos, e vários outros movimentos certos em cada volta que sua foice dava, até que formasse uma espécie de portal muito medonho com tranças de ectoplasmas, sombras e uma espécie de véu que parecia uma daquelas centenas de cortinas que haviam pela mansão.

— Fiquem um de cada lado, e depois ergam suas mãos esquerdas um para o outro. Ao meu sinal, as entrelacem, e não as larguem em hipótese alguma. — Orientou Tânatos.

James e Kýrios se posicionaram um de frente para o outro e ergueram suas mãos esquerdas cada um em seu lado daquele portal.

— Eu tenho uma dúvida. — perguntou Kýrios no último segundo antes de entrelaçar sua mão com a do rapaz.

— Diga, Kýrios.

— O que acontece se um de nós dois largar nossas mãos?

James tinha essa mesma questão na cabeça, mas o loiro foi mais rápido em perguntar.

— Isso é um ritual de vínculo de vitalidades. Cortá-lo sem chegar ao término fará o contrário do que compartilhar.

— Então…?

Tânatos bufou em tédio.

— Kýrios, acho que o que ele está querendo dizer é que… Nós dois vamos morrer.

— Ei! — o deus se virou para o outro — Você não avisou sobre isso Tân!

— Você disse que faria qualquer coisa.

— Sim, mas…

— Entendo se não quiser, Kýrios. — disse James de repente, ainda com aquele sentimento quente mergulhado em seu peito.

— É claro que vou fazer! Eu só estou um pouco irritado pela omissão de informações. Só isso!

— Então que continuemos. — disse Tânatos, posicionando sua foice de volta ao portal, enquanto isso o outro deus bufou aborrecido, mas logo se concentrando para o que ia fazer.

James e Kýrios se viraram um para outro novamente, e ergueram ao mesmo tempo seus braços esquerdos, esperando pelo sinal do deus.

Tânatos fez mais um movimento com sua lâmina, agora cortando algo no ar que logo sangrou, jorrando e sujando em vermelho a sua outra mão, que pegou aquele líquido e o lançou no portal.

James ficou se perguntando de onde vinha aquele sangue, mas sabia que não teria respostas naquele instante, então focou em se concentrar no sinal do deus.

Assim que todo aquele portal ficou numa nuance avermelhada como se tivesse criado um sistema circulatório próprio, Tântatos ergueu sua foice e bateu seu cabo no chão num sinal claro para a união das mãos de ambos.

— Agora! — disse Kýrios, e logo o rapaz deu um passo rápido indo de encontro à sua mão.

Foi uma força muito grande, e James sentiu como se todo seu ser estivesse se revirando por dentro.

— Isso é normal?! Eu acho que vou vomitar…

— Seja forte! Isso é nossas vitalidades se misturando!

— Minha cabeça está doendo…!

— Tânatos! Ele vai desmaiar!

— É sua responsabilidade não deixar que essa ligação não seja interrompida, eu já avisei o que vai acontecer se caso houver um corte. — Advertiu, com as duas mãos emanando energia para manter aquele portal em pé.

Kýrios começou a se preocupar, não queria perder outra Pista de Parca, estava avançando e sentindo êxito demais para poder ter que ficar em inércia por mais alguns anos na espera de mais alguém para lhe indicar o norte.

James sentia sua mente rodando com aquelas energias indo e vindo pelo seu corpo, era uma sensação muito ruim, como se tivessem lhe espetando com agulhas em pontos críticos onde a dor podia ser sentida com mais intensidade.

Suas pernas começaram a bambear de novo, tentou resistir, mas acabou caindo sobre seus próprios joelhos, obrigando o loiro a ter que se abaixar também.

— James! Olhe pra mim! Se concentre na minha voz!

— Eu… não vou soltar… não quero soltar… — disse, seus olhos pesando para fechar e se entregar a inconsciência, mas forçando sua mão a se manter firme naquele entrelaçamento.

Uma energia de cor vermelha começou a transbordar de ambos, indo para aquele portal, que ficava pulsando nos arcos como um coração oco, e aquela energia rodava por todas aquelas tranças de ectoplasma, indo e voltando para os corpos de ambos através de suas mãos entrelaçadas.

— Tânatos! Quanto tempo mais?! — indagou Kýrios.

— Mais alguns segundos. Vocês estão indo bem, aguentem mais um pouco. — respondeu o deus, começando a suar frio pela intensidade que o portal exigia cada vez mais de si.

— Kýrios… Er.. Er… Não… Você é o Er…

— James? O que está dizendo?! — Kýrios perguntou ao rapaz, vendo-o sussurrar algo como um inicio de seus delírios.

— Eu não… Ela quer… Eu vi… O sol é tão confortável…

— James, o que está dizendo? James, não desmaie! Só falta mais um pouco! Você está conseguindo! Está me ouvindo? Você está indo bem! — incentivou, para que o rapaz continuasse a prestar atenção nele.

James sorriu para o loiro, mas na verdade não sorria para ele.

O seu sorriso era direcionado a uma cena linda onde ele via um pôr do sol enquanto sentia a brisa bater em seu rosto. Alguém estava ao seu lado, e acarinhava seus cabelos. Não conseguia ver quem era, já que estava recostado sobre o corpo da pessoa que estava sentada e o abraçava por trás, sempre muito carinhosa e cuidadosa….

“— E se tivéssemos mais um? — perguntou a voz do homem às suas costas. Uma voz muito familiar, mas parecia diferente por causa de alguma coisa.

— Você quer?

— É claro! Já faz centenas de anos. E sinto falta de ter uma criança correndo por nosso lar.

— Sua mãe não vai gostar nada disso. Já foi muito complicado com os trigêmeos. — disse James, mas sua voz não era sua voz.

— Se fossemos depender dela e todos para seguir nossos caminhos, não estaríamos aqui juntos.

— Você tem razão. — Se virou, ficando de frente para o homem que libertou de seu abraço para somente colocá-lo sobre seu colo, sua vez de acarinhá-lo.”

Por um momento, como estava na visão desta pessoa, James havia ficado confuso, não sabia se era ele ou essa pessoa, mas no momento em que criou consciência de quem era aquele que acariciava seu rosto e seus lábios como se os preparasse para um beijo daqueles, se assustou.

— Não… Que merda… é essa…?! — perguntou-se despertando com uma sensação de formigamento pelo seu braço.

E lá estava quem ele via naquele sonho… Kýrios segurava sua mão com todas suas forças, seus lábios tão vivos o tempo todo agora estavam pálidos, e haviam olheiras muito fortes como se ele não tivesse dormido a tempos.

— Tân…! Quanto… mais?!

— Sete segundos. E se prepare para a conclusão, isso pode doer. — Avisou, pegando sua foice e se preparando para mais uma ação difícil.

Sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um…

Num movimento bastante rápido e certeiro com a foice, cortou o portal ao meio.

Tanto Kýrios quanto James foram arremessados para longe em direções contrárias, e até o próprio Tânatos caiu para trás junto de sua foice, exausto pela carga de energia retirada de si.

— James! — correu Kýrios ao ver o moreno se debater no chão em convulsão — Tânatos! O que está acontecendo?!

— Está se adaptando. Ele é um humano, e ter a vitalidade de um deus dentro de si está mexendo com sua estrutura.

— Você disse que ia ser doloroso, mas só sinto um incômodo no meu peito.

— Kýrios, esse aviso foi para ele.

O loiro se aproximou mais ainda do rapaz, o colocando em seus braços para que ficasse mais confortável e controlasse sua convulsão.

— Tudo bem, vai passar… Você vai ficar bem James. — disse, tentando se convencer de que aquela ligação de vitalidade tinha sido uma boa ideia.

James ainda estava imerso em seus delírios. Às vezes se via em sua mansão com sua família, e às vezes se via em lugares estranhos que nunca tinha ido ou visitado, mas todos era lindos, todos eram paisagens ou lugares turísticos muito populares, mas havia também outros que não conhecia.

“Me encontre. Por favor. Tenho que impedir isso! Me encontre!”

“Quem é você?! Onde estou?!”

“Me encontre. E encontre!”

Era aquela moça linda de novo. James sentia seu peito se apertar sempre que a via, seu sorriso era doce, mas seu olhar triste dizia estar muito infeliz aonde quer que estivesse.

“Eu prometo! Eu vou te encontrar!”

A moça sorriu e pegou uma flor de lótus de um lago onde estava submersa até a cintura. Caminhou até o rapaz e lhe deu. Empurrando-o em seguida para um abismo em branco.

O susto foi forte, tanto que acordou de supetão e logo sentiu sua testa doer com o impacto que deu em outra superfície dura.

— Aaah!!! Por… deuses! — reclamou Kýrios, pegando em sua testa e vendo sangue em sua mão enquanto estava caído para trás — Estou sangrando… De novo!

— O que aconteceu?! — perguntou James, se afastando do colo do loiro.

— Em resumo… O ritual foi um sucesso! Apesar de algumas desventuras no caminho. Deuses… Minha cabeça está doendo…! — o deus reclamou novamente, pegando em sua própria testa.

— Meu corpo está doendo… tudo dói…

— É assim mesmo. — disse Tânatos de repente, fazendo James dar um pulo para trás ali no chão quando viu o mesmo sentado perto dele.— T-Tân…

— Essa dor é temporária, dentro de duas horas vai passar. Tenho que parabenizá-lo, você sobreviveu.

James olhou para Kýrios, que deu de ombros.

— Então eu ia morrer?!

— Mas não morreu! — comemorou o loiro — E como prêmio, agora está com as chances bem mais difíceis disso acontecer, já que agora tem um pouco de vitalidade de um deus dentro de você! Como se sente? Quer dizer, além de todas as dores no corpo.

O rapaz lhe mirou aborrecido, e respirou fundo, lembrando de todas aquelas coisas estranhas que viu em seus delírios.

— Kýrios, eu preciso contar uma coisa.

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Capítulo 7
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Missão Ágape

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O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.

E é...

Chapters

  • Capítulo 47 Proemial
  • Capítulo 46 Alto Mar
  • Capítulo 45 Anelos
  • Capítulo 44 Verdades da Alma
  • Capítulo 43 Premências Difíceis
  • Capítulo 42 Enraizados
  • Capítulo 41 Chaves Sinceras
  • Capítulo 40 Presença
  • Capítulo 39 Luz Misteriosa
  • Capítulo 38 Possibilidades
  • Capítulo 37 Espólios
  • Capítulo 36 Fogo
  • Capítulo 35 Visitas Indesejadas
  • Capítulo 34 Penalidades
  • Capítulo 33 Mais, ou Menos
  • Capítulo 32 Temerário
  • Capítulo 31 Serviços Extras
  • Capítulo 30 Zelus
  • Capítulo 29 Magnetismo
  • Capítulo 28 Despertando
  • Capítulo 27 Sem Céu para Inocentes
  • Capítulo 26 Entre Mortais
  • Capítulo 25 Nuances
  • Capítulo 24 Céu de Luzes
  • Capítulo 23 Sobreposição (parte 2)
  • Capítulo 22 Sobreposição (parte 1)
  • Capítulo 21 Café Quente
  • Capítulo 20 Conselhos
  • Capítulo 19 Muros em Chamas (parte 3)
  • Capítulo 18 Muros em Chamas (parte 2)
  • Capítulo 17 Muros em Chamas (parte 1)
  • Capítulo 16 Cem Olhos
  • Capítulo 15 Nobre Amizade
  • Capítulo 14 Impulsos
  • Capítulo 13 Abaixo da Superfície
  • Capítulo 12 Fim de Festa
  • Capítulo 11 Fagulhas
  • Capítulo 10 Noite de Cores
  • Capítulo 9 Sopa de Ossos
  • Capítulo 8 Saindo do Ninho
  • Capítulo 7 Dádivas
  • Capítulo 6 Reunião Cancelada
  • Capítulo 5 Sonhos?
  • Capítulo 4 Empecilhos
  • Capítulo 3 Efúgio
  • Capítulo 2 Bençãos á Vista
  • Capítulo 1 Sem Opção
  • Capítulo 0 Prólogo dos Contratempos do Amor

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