Arco 1 –  Oriente sem DESTINATÁRIO

Missão Ágape

Capítulo 8

  1. Home
  2. All Mangas
  3. Missão Ágape
  4. Capítulo 8 - Saindo do Ninho
Anterior
🟡 Em breve

Dois pares de olhos divinos lhe miravam, era contrastante a aura de cada um, James via isso claramente agora, não era como se ele tivesse ganhado poderes, era que parecia que as coisas estivessem mais diretas e claras ao seu ver agora.

Enquanto que o primeiro ele sentia arrepios de medo, no outro ele sentia um acolhimento doce, mas que tinha sua intensidade escondida debaixo daquele olhar que parecia sempre estar olhando-o com muito afeto, mas sabia que aquilo era parte do que ele era, e não uma coisa que significasse algo.

— Então… Ela está viva! E… bem! Por deuses… sinto meu coração quase explodir ao saber disso! — disse Kýrios, sacudindo o moreno pelos ombros, e o abraçando de forma aliviada e feliz.

James ficou olhando para o outro deus como se pedisse ajuda, mas o mesmo deu de ombros enquanto ajeitava seu manto que tinha ficado todo desordenado no decorrer daquele ritual.

— Como ela está? Quero dizer, fisicamente. — Questionou o loiro, se afastando e sentando-se de frente para ele.

— Bom… Ela parecia triste, mas sua aparência estava ótima. Digo, ela é linda. Muito linda.

Kýrios sorriu emocionado.

— Essa foi a melhor notícia que já recebi dentro desses cem anos! Ah, isso significa que meus esforços estão funcionando!

— Seus? — lembrou logo Tânatos, que franziu o cenho.

— Ah, é, nossos. Nossos esforços. E sou muito agradecido por isso. Muito obrigado Tân, eu nunca pensei que um dia nós dois pudéssemos estar trabalhando juntos… Ainda mais por você ser tão ocupado.

— Sempre há um jeito.

— Sim. Agora vejo que até pra morte há um jeito. — disse o loiro, fazendo seus costumeiros trocadilhos que tanto o outro deus detestava, mas no fundo, gostava daquela interação, já que quase não tinha amigos… Pelo menos vivos. E aquele deus era o dos poucos, se não um dos únicos que era seu melhor amigo de longas e longas datas.

— O que acontece agora? Eu me sinto bem, mas meu corpo todo ainda está doendo.

— Como eu disse antes, Sr. Payne, dentro de duas ou mais algumas poucas horas isso vai passar. Mas creio que pode até ser menos. — disse o deus, lhe mirando analítico — Você se saiu muito bem para um simples mortal. Bem até demais… — assim que terminou de falar isso, tirou um pergaminho de seu bolso e verificou algo — Sua linha está mais firme… Parabéns. É quase um semideus agora.

— O que?! — perguntou James, pensando ter ouvido errado.

— Um quase-semideus de criação. Um muito raro. Não é qualquer humano que pode suportar a essência de um deus em seu corpo, e você… Você tem uma linhagem forte. Quem sãos seus pais?

E novamente aquela pergunta veio, deixando o rapaz mais intrigado, já que logo aquele que sabia tudo dele, agora tinha uma real dúvida sobre algo relacionado a sua pessoa.

— Meus pais… São meus pais. Patrick e Imogen, um restaurador e uma ex arqueóloga e historiadora, mas minha mãe parou de trabalhar para cuidar da família… Eu tenho certeza de que são meus pais. E eles são totalmente normais.

Kýrios e Tânatos se entreolharam.

— Vou verificar isso. Até breve. — disse o deus sombrio, se afastando e sumindo deixando para trás todo aquele ectoplasma cinzento. E consequentemente, todas as tochas que estavam numa coloração escura, voltaram ao normal com seu fogo vivo em tons quentes.

— Kýrios, isso não pode ser verdade. Meus pais são mesmo meus pais!

O deus fungou abaixando os ombros.

— Tânatos tem toda a ficha completa de todo mundo que faz parte ou que está em nosso domínio, e se ele não os viu em seu histórico, algo de errado tem com eles. E é isso que vamos descobrir.

— E se caso houver mesmo algo com eles?

— Isso pode mudar muita coisa, afinal, você ser filho de um deus, ou uma deusa… e logo uma cria desse ser divino cair em minhas mãos… Isso só pode significar que alguém mais pode estar me ajudando, mesmo que sua identidade esteja oculta. Uma ajuda anônima.

— Isso não pode ser possível.

— E porque não? As moiras gostam de brincar com essas coisas… Para elas, “coisas do destino” são como piadas ou ironias das quais elas gostam de assistir.

— Kýrios, eu sou um Pista de Parca, e pelo que estou começando a suspeitar, não sou o primeiro. — disse, e o loiro desviou de seu olhar — Você já tentou fazer essa ligação. Não é?

— Não. Você é o primeiro. Eu juro. Eu resolvi fazer isso porque me senti confiante de que você seria forte. De que dessa vez eu faria diferente. Mas não sinta como se fosse um objeto, eu me importo com você. Me importo com qualquer vida humana, mesmo que vocês sejam extremamente frágeis.

James não sabia o que sentir, e nem o que pensar. Tudo parecia muito surreal e impossível, aquele era um mundo que ele jamais poderia imaginar que existia.

— Havia também um lótus.

— O quê?

— Ela me deu um lótus. Era tão bonito e vivo… Quando o peguei senti a sensação de que não podia deixar aquela flor cair porque algo muito ruim poderia me acontecer.

Kýrios coçou o queixo muito pensativo, e se levantou de repente, oferecendo sua mão para o outro se levantar.

— Agora sei onde exatamente temos que ir.

— Sabe?

— Sei! Até que fim consegui decifrar algo sozinho! E prepare-se, abra sua mente, mais ainda, pois iremos ver em breve mais coisas bem loucas para você, James. — Sorriu enigmático sem mostrar os dentes.

•

James estava muito curioso para saber aonde iriam naquela viagem, e estava preocupado com sua saúde física, mesmo que agora fosse mais “difícil” de se perder a vida.

Finalmente depois de ter dormido um pouco por algumas horas por estar com o corpo todo dolorido, acordou bem disposto.

Até demais…

Havia despertado com uma surpresinha bem animada no meio de suas pernas…

E claro, para poder resolver aquilo, teve que tomar um banho bem frio para esfriar as coisas. Estava sentindo todo seu corpo um tanto sensível demais, como se tivessem lhe tocado por todos os lugares. Supôs que pudesse ser uma influência por conta da essência daquele deus em seu eu, então algo do outro poderia ter passado para ele.

Ou talvez fosse somente reações de seu corpo por ser um humano. Apostava e queria que fosse essa segunda opção, pois não gostava de pensar em ter uma parte daquele deus dentro de si.

— Olá! Cheguei em casa. — disse Panoptes assim que entrou por uma porta daquele corredor, bem na hora em que o rapaz passava com uma bolsa em suas costas.

James lhe mirou confuso, já que o outro lhe encarou desconfiado.

— Está tentando fugir?

— Quê? Não! Não estou tentando fugir. Aliás, e se eu estiver? O que vai fazer?

O enfaixado deu um passo à frente, como se colocasse em ofensiva.

— Hm, é uma boa pergunta. Nunca pensei nisso. Os outros nunca fizeram nada parecido…

James sentiu um pequeno gosto amargo na boca ao ouvir “outros”, pois isso lhe fez pensar no que poderia ter acontecido com eles.

Um longo silêncio se fez entre o rapaz e aquele cocheiro estranho.

— Pare de assustar nosso convidado, Panoptes. — disse Kýrios chegando ali de repente, também saindo de uma porta.

Quando James se virou para mirá-lo, um pequeno suspiro de surpresa saiu sem querer.

O loiro estava somente de toalha, cobrindo a metade de seu corpo. Seu cabelo e sua pele estavam molhados, como se ele tivesse acabado de ter mergulhado e voltado a superfície. E pelos granulados finos e brancos em seus pés, o moreno pôde deduzir que ele estava em uma praia.

— Ele está agindo suspeito, é meu dever proteger nosso plano.

— Ah, relaxa Pano. — disse o deus, se aproximando do rapaz e colocando um braço em volta dos ombros do mesmo — Somos amigos agora. Ele é um quase-semideus. Estamos conectados. Não é James?

— Sim. Mas… — tentou se desfazer daquele meio abraço amistoso, mas algo em seu eu lhe dizia para ficar onde estava, e isso lhe fez sentir uma estranha confusão dentro de si.

— Oh… não creio… Você fez?! — perguntou Panoptes.

— Sim! Nós fizemos! — disse o deus muito animado e deu um tapinha no tórax do moreno — E ele aguentou tudo como um verdadeiro guerreiro! Foi intenso, e bem doloroso para ele, mas no fim, tudo deu certo, e estamos muito satisfeitos com o resultado.

— É, deu mesmo certo. Consigo sentir sua essência dentro dele… não é à toa que sua pele está mais bem aparentada, Sr. Payne.

James por um segundo sentiu suas bochechas queimarem por sentir aquela conversa ter um roteiro muito estranho, e logo tomou coragem para se desfazer do braço do loiro que arqueou uma sobrancelha por sua reação tão visivelmente tímida.

— Será que podemos logo ir para onde nos interessa?

— Sim, é claro James, mas creio que o nosso amigo ali tem novidades. Vamos ouvi-lo. — disse, se recostando na parede à direita.

— Notícias boas dessa vez, Kýrios.

— Oh! Mais boas novas! Esse dia está sendo mesmo o melhor! Diga, o que conseguiu Panoptes?

— Acabei descobrindo uma parte dos conspiradores. E bem… é um tanto decepcionante.

— Mais do que foi naquele julgamento lá no Olimpo? Impossível. — Kýrios bufou e se recostou numa pilastra ali do corredor — Ok, quem são os outros?

— Nêmesis, Hefestos, Ártemis e… Deméter.

Kýrios arregalou os olhos no último nome.

— Deméter? Mas… Porquê? Eu não entendo…

— Acho que deve ser ainda o ressentimento pelo que houve com Perséfone. Ela nunca superou aquilo.

— Oras, eu já pedi perdão! E ela me disse que estava tudo bem! Mas agora vejo que era tudo mentira. Aquela uva passa do Tártaro… — xingou, aborrecido.

James ouvia a tudo atentamente, e se surpreendia toda vez que um nome de algum deus era mencionado. A impressão que tinha era de que estava sonhando o tempo todo.

Pensou em seu pai, que era tão fascinado por mitologias, e com certeza iria adorar conhecer todos aqueles deuses. Ou não, poderia ficar igual à Kýrios, decepcionado.

— Alguém mais? — perguntou James, quebrando o silêncio de aceitação daquela informação, que acabou não sendo tão boa assim.

— Por enquanto, é só. Mas há mais, disso eu tenho certeza. Mas eu teria que ter mais tempo. E agora que sei que vamos numa busca, vou deixar isso em segundo plano com meus irmãos. — respondeu o cocheiro.

— O Olimpo está dividido, mas todos estão naquela de esconder suas verdadeiras opiniões e posições. Somente os que estavam no julgamento como os deuses principais deram sua clara votação de defesa ou acusação contra minha mãe. — Contou o loiro, ajeitando sua toalha que quase caía da cintura.

— Então, para qual cidade iremos dessa vez? — perguntou Panoptes.

— Já perguntei, mas ele só quer ficar fazendo mistério. — disse James, cruzando os braços.

— Somente para você. Não quero que crie expectativas ou dê um piti por não gostar de algo.

— Ah então quer dizer que vamos para um lugar horrível. Que grande surpresa. — ironizou o rapaz, e o deus revirou os olhos.

— Está me dizendo… Que vamos até aquele lugar? — perguntou Panoptes.

— Sim, aquele lugar.

Panoptes fez uma cara feia enjoada, e James já começava a se preparar psicologicamente para algo desagradável que estava sentindo que estava por vir.

•

O ar cheirava a canela, incenso e uma série de outros perfumes, mas também havia aquele cheiro urbano de poeira e pessoas, e este segundo não era tão bom, ainda mais porque o lugar era quente, e James que não era acostumado a esse tipo de temperatura, e se sentia que estava derretendo por suar muito dentro daquelas roupas locais.

— Eu não sabia que era tão agitado assim. — disse James, admirando o local todo dali do meio daquela multidão.

— Até que está calmo. Estamos num horário bom para trafegar. Então vamos mais depressa, antes que o comércio se abra tudo de uma vez. — Kýrios ajeitou sua roupa, típica do país, e seguiu a frente parando no meio fio para chamar uma condução.

Havia muitas coisas esquisitas aos olhos do rapaz, que ficava indeciso para onde olhar por tanta informação nova que seus olhos absorviam. Um religioso meditando na calçada com o corpo todo pintado em branco, um grupo de Hijras que passavam por ali pedindo doações aos comerciantes, além também de muitos animais soltos transitando livremente. Tudo era fascinante para aquele rapaz que nunca tinha saído de Londres.

— Não sei como ele consegue gostar desse lugar. — disse Panoptes, parando ali ao lado do moreno.

— Porque fala isso? Aqui é tudo tão… colorido.

— Está falando isso porque só está vendo o que é belo. E também porque ainda está para amanhecer. Quero ver continuar admirando essa cidade quando for ao meio dia.

James lhe mirou, e viu que o mesmo se coçava por cima das ataduras, seus dois olhos o tempo todo piscavam como se toda hora entrassem ciscos.

— Hm, está tudo bem?

— Está tudo ótimo! — disse mal humorado, e se apressou em ir andando mais à frente.

— Não ligue para ele. O problema do Panoptes é que ele odeia poeira. Ele tem… uma certa alergia.

— Entendi… — James se aproximou olhando o loiro dos pés a cabeça, ainda não entendendo o porque ele estava vestido daquele jeito tão chamativo, sendo que eles deviam fazer o contrário. — Não. A resposta é não.

— Não o quê?

— Não sei se você sabe, mas aqui o sistema funciona por castas. E estou de Brâmane. E você, meu Sudra. Um serviçal.

Agora entendia o porquê de sua vestimenta ser tão simples com um conjunto de túnica e calça pastel enquanto que as vestes do loiro eram um dhoti branco com detalhes em dourado, cobrindo somente até sua cintura, o tórax só não estava completamente nu por conta de um manto vermelho que o mesmo só deu um nó para amarrá-lo na frente. E para completar a tamanha exuberância ainda tinha aquele turbante todo colorido em tons alaranjados e detalhes dourados.

James não sabia se ria ou achava bastante estiloso. Não podia negar que o mesmo estava realmente bem aparentado naqueles trajes típicos.

— Varanasi é lindo, não acha?

— Sim, eu gostei muito assim pela primeira impressão.

— E tenho certeza que irá gostar de muitas outras coisas! Assim que terminarmos nossa missão aqui quero apresentar todos os lugares que gosto! Você precisa experimentar a culinária, e, ah! Há também os tecidos! Amo os tecidos daqui, eles sabem mesmo trabalhar com as cores. Você já ouviu falar do Taj Mahal? É lindo! Aquela construção foi uma de minhas sugestões… Bem, na verdade foi só uma brincadeira de bêbados, mas quem diria que aquele doido iria levar tão a sério? Eu tinha dito “Se a ama tanto, porque não constrói um palácio pra ela então?”. Fiquei impressionado. Vocês humanos são realmente surpreendentes. É por isso que amo tanto fazê-los se amarem… Bom, sigamos em frente. — disse, após perceber o moreno lhe mirar risonho, pois sabia que havia começado a falar sem parar.

James já tinha percebido que o deus amava falar, e principalmente quando estava empolgado com alguma coisa. Em parte, achava irritante, mas em outra parte ele achava… formidavelmente bom, já que isso lhe poupava de falar.

E… ainda tinha o fato de que ainda não tinha se desculpado. E isso ainda lhe afetava um pouco, não sabia como agir de forma natural, mesmo que o outro tivesse lhe dito que tudo já estava bem.

A cidade estava começando a dar seus primeiros sinais de mais movimento, e o cheiro de comida começou a pairar no ar. A samosa, chamou a atenção do rapaz, que logo teve sua vontade satisfeita quando o loiro lhe comprou cinco deles para experimentá-los.

E foi uma das melhores iguarias que havia experimentado desde muito tempo, quando ainda era somente um menino e seu pai havia trago de uma de suas viagens à Paris uma cesta de macarons.

— São muito bons, não são? — perguntou Kýrios, comendo também aqueles pastéis fritos recheados com lentilhas e carne — Mais tarde, poderemos voltar nessa rua e pedir um Vada Pav, é tipo um sanduíche, mas vem uma batata inteira cozida dentro.

— Hm, aceito, mas não mais que isso. Tenho que manter a forma.

— Tem tendências para engordar? Não parece. Sua estrutura corporal é bastante boa. Como minha mãe diz, você está perfeito para quebrar corações.

James sorriu pela primeira vez em tanto tempo depois de todas aquelas coisas bem recentes, e se sentiu sem graça por isso.

“Por que estou me sentindo assim? Não sou uma donzela virgem! E porque ele está me tratando tão bem? Eu não mereço, não ainda.” Pensou, enquanto comia sua terceira samosa.

Panoptes havia parado de andar para descansar perto de uma fonte, mas logo sua paz foi tirada quando um macaco foi até ele e lhe roubou o chapéu, lhe deixando com os fios castanhos por entre as ataduras ao ar livre. O rapaz logo reparou nisso, pois nunca até o momento tinha visto algo mais do tal cocheiro, além de seus olhos bicolores de dourado e azul e a pele de caramelo que se deixava aparecer ao redor dos olhos.

— Quer uma samosa? — ofereceu Kýrios ao cocheiro, e logo o mesmo lhe mirou feio e sem humor.

— Sabe o que eu quero? Ir embora desse lugar! Olha só para todo esse… para onde olho tem poeira! Odeio poeira!

— Sinto muito por isso Pano, mas se não fosse tão necessário eu viria sozinho com James, mas temos que ter alguém para vigiar enquanto eu vigio e oriento este rapaz em suas funções nessa busca.

— Já sabe o que fazer? Porque até agora eu só o vi ficar de turismo com esse jovem. — questionou, querendo ir logo para a ação.

— Oras, eu não posso deixar um convidado passar por aqui e não ver as belezas locais. Aliás, todos os lugares bonitos desse mundo merecem ser visitados e admirados. Mas prometo que a partir de agora serei rápido. Bem, já chamou nossa condução?

— Já, mas parece que não querem parar para um alguém como eu. Devem pensar que estou com alguma doença contagiosa com todas essas gazes. — Justificou irritado, e ainda se coçando.

— Tudo bem, deixa comigo então. — Kýrios estufou o peito, arrumou seu turbante e se pôs no meio fio, levantando um braço para a rua.

E não demorou nem cinco minutos, e um elefante apareceu.

James ficou congelado no lugar, mas também muito curioso.

— Nós vamos… em um elefante?

— Sim! Não é legal? Ok que eles só param para casamentos e outros eventos, mas como eu disse antes, quero lhe mostrar tudo de bom que este mundo tem! Ou vai me dizer que já andou em um elefante?

— Não. É claro que não…

— Então aqui vamos nós! — disse o deus, recebendo um tratamento especial do dono do elefante, que lhe ofereceu uma escadinha para subir no animal. Ficou um tanto receoso com os outros dois viajantes, mas nada que umas moedas a mais para mudar o pensamento.

Como o trânsito estava bem calmo ainda, conseguiram chegar ao famoso e muito conhecido rio Ganges. Ali, diferente das ruas, já tinha muitas pessoas fazendo suas oferendas aos deuses e dentre outras coisas que James achou muito curioso, menos Panoptes, que ainda se coçava o tempo todo.

— Tá, agora o que a gente faz? — perguntou James, olhando ao redor, admirando aquela água calma.

— Hm, devia ter algum sinal, ou alguém suspeito para perguntarmos se viu algo estranho. Essas coisas. — respondeu Kýrios, também curioso pela calma do lugar.

— Talvez tenhamos que perguntar. Pode ser que um deles saiba de algo.

— Sim, isso é fato. Mas alguém aqui fala a língua local? — perguntou Panoptes, olhando a água, sempre fazendo uma cara enjoada.

Nenhum dos outros dois se pronunciou.

“Estava fácil demais para ser verdade” foi a primeira coisa que pensaram.

A segunda foi: “Porque aquela moça está nos escarando?”

Kýrios viu aquilo como algo bom, pois poderia ser que ela tivesse entendido a língua deles, mesmo que não tivesse estampa nenhuma para isso, mas não custava nada tentar a sorte.

— Oi, bom dia senhorita. Você consegue nos entender?

A moça de pele canela e olhos amendoados com um castanho claro profundo olhava para o loiro como se ele fosse a qualquer momento sumir.

— Alôô? Você pode me ouvir?

E nenhuma resposta falada veio da moça.

Vendo o insucesso do colega de viagem, James se aproximou.

— O que está havendo?

— Vôcê! Pessôa cêrta! Entregar este. — disse a moça, tirando de seu sari uma carta e a entregando para o rapaz. O loiro tentou perguntar quem era ela e quem havia lhe mandado até ali, mas logo a mesma saiu correndo para o meio daquela multidão que começava a se intensificar a cada hora que passava.

James se virou para o deus, olhando numa indagação silenciosa.

— Como eu disse antes, sou um deus, mas não sou onisciente, diferente do seu. — Cruzou os braços, um pouco ansioso pelo que tinha na carta.

— Não quer abrir? — Ofereceu ao outro.

— Não posso. Somente o Pista de Parca pode fazer isso. Da última vez que tentei ver por mim mesmo uma pista, a pessoa…

— Ah, sim, entendi, ela foi dessa pra melhor. — disse James, e o loiro fez que sim mordendo os lábios e deixando-os numa linha fina e nervosa.

Panoptes que estava ali um pouco mais afastado ainda estava dentro de uma batalha consigo mesmo e suas coceiras corporais e nos olhos, não parava quieto um segundo, sempre se coçando por cima das gazes, e isso em certos momentos incomodava James, lhe fazia querer se coçar também, pois lhe causava o desconforto de ver o outro sofrendo daquela maneira.

Mas mesmo assim, o cocheiro, que agora parecia ter virado segurança, olhava tudo ao redor, protegendo a área onde Kýrios e James estavam ali naquela margem.

O rapaz olhou para a carta em sua mão, abriu com muito cuidado como se estivesse cortando o fio de uma bomba, não que ele já tivesse visto ou feito, mas sabia como era pelos livros que lia.

E não… não conseguiu ler nada, já que tudo estava escrito em grego.

— Acho que quando chegarmos na mansão, tenho que ter umas aulinhas de grego.

— Ah não… não me diga que…

James deu de ombros um pouco sem graça.

— Olha, para isso não se estender muito, eu posso fazer como meu pai uma vez me ensinou a decifrar símbolos estranhos de artefatos egípcios. Eu digo os detalhes, e você vai montando o quebra-cabeça. Tipo… num jogo de adivinhação, o que acha?

— James, você é um gênio! Sim! Vamos fazer isso.

— Certo… O primeiro símbolo é…

James foi dizendo um por um, de um modo um tanto confuso e torto, as comparações eram como “E tem esse que parece uma cobrinha torcida ao meio depois de uma carroça passar por cima”, fazendo o deus mudar de careta a cada segundo por as vezes serem associações bizarras e outras engraçadas.

E no fim, a mensagem foi descoberta:

“Σκοτεινά νερά, ξένοι σπόροι. Οι μη ζωντανοί αποκοιμιούνται, σε ένα νέο ταξίδι που τους πάει η κατάδυση. Γι’ αυτό να είσαι ζωντανός, μην αποκοιμηθείς. / Águas escuras, sementes estrangeiras. Os não vivos adormecem, para uma nova viagem que o mergulho os leva. Seja um vivo, altamente mortal, não adormeça.”

A expressão no rosto do loiro ficou tensa, e mais ainda quando mirou seu olhar no rapaz.

— James, você sabe que este rio é sagrado, não sabe?

— Sim, mas… Porque sinto que essa pergunta não tem um bom agouro?

— É porque não tem mesmo. Bem, eu não sou um gênio de interpretação de enigmas, mas essa mensagem ficou bem clara para mim.

— Para mim também. — disse James, olhando para as águas escuras daquela parte do Ganges — Então isso quer dizer que posso morrer aqui e agora. Lembrando, esse não foi o nosso acordo.

— Eu sei! Mas… — o deu esfregou seu rosto com ambas as mãos — Fizemos aquela conexão de vitalidade.

— Isso não me deixou imortal. Só me deixou difícil de morrer. Como… como naquela história de Aquiles. E você é o tendão aqui! Droga…

— Nós vamos dar um jeito. Eu vou mergulhar com você, ok?

— Ei — interrompeu Panoptes — Será que vocês dois são burros? Eu posso não ter ouvido tudo, mas ouvi a parte do “altamente mortal”, e isso significa que só ele pode entrar. — disse apontando para o moreno.

E logo Kýrios deu um tapa na própria testa.

— Você tem razão! É claro… Eu realmente não posso entrar.

— E porque não? — questionou James.

— Como eu disse antes, esse território é sagrado, e consequentemente, pertence à outras autoridades… O que quer dizer que…

— Que você não pode interferir no domínio de outros panteões. — James completou a resposta do outro, que disse um “desculpa” sem verbalizar.

James se virou para o rio novamente, e engoliu em seco.

— Kýrios, tenho que confessar algo muito importante.

O deus e o cocheiro se atentaram ao rapaz, que dobrou a carta solenemente e respirou fundo antes de dizer:

— Eu não sei nadar em rios.

Comentários no capítulo "Capítulo 8"

COMENTÁRIOS

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*

*

Capítulo 8
Fonts
Text size
AA
Background

Missão Ágape

3.7K Views 5 Subscribers

O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.

E é...

Chapters

  • Capítulo 47 Proemial
  • Capítulo 46 Alto Mar
  • Capítulo 45 Anelos
  • Capítulo 44 Verdades da Alma
  • Capítulo 43 Premências Difíceis
  • Capítulo 42 Enraizados
  • Capítulo 41 Chaves Sinceras
  • Capítulo 40 Presença
  • Capítulo 39 Luz Misteriosa
  • Capítulo 38 Possibilidades
  • Capítulo 37 Espólios
  • Capítulo 36 Fogo
  • Capítulo 35 Visitas Indesejadas
  • Capítulo 34 Penalidades
  • Capítulo 33 Mais, ou Menos
  • Capítulo 32 Temerário
  • Capítulo 31 Serviços Extras
  • Capítulo 30 Zelus
  • Capítulo 29 Magnetismo
  • Capítulo 28 Despertando
  • Capítulo 27 Sem Céu para Inocentes
  • Capítulo 26 Entre Mortais
  • Capítulo 25 Nuances
  • Capítulo 24 Céu de Luzes
  • Capítulo 23 Sobreposição (parte 2)
  • Capítulo 22 Sobreposição (parte 1)
  • Capítulo 21 Café Quente
  • Capítulo 20 Conselhos
  • Capítulo 19 Muros em Chamas (parte 3)
  • Capítulo 18 Muros em Chamas (parte 2)
  • Capítulo 17 Muros em Chamas (parte 1)
  • Capítulo 16 Cem Olhos
  • Capítulo 15 Nobre Amizade
  • Capítulo 14 Impulsos
  • Capítulo 13 Abaixo da Superfície
  • Capítulo 12 Fim de Festa
  • Capítulo 11 Fagulhas
  • Capítulo 10 Noite de Cores
  • Capítulo 9 Sopa de Ossos
  • Capítulo 8 Saindo do Ninho
  • Capítulo 7 Dádivas
  • Capítulo 6 Reunião Cancelada
  • Capítulo 5 Sonhos?
  • Capítulo 4 Empecilhos
  • Capítulo 3 Efúgio
  • Capítulo 2 Bençãos á Vista
  • Capítulo 1 Sem Opção
  • Capítulo 0 Prólogo dos Contratempos do Amor

Login

Perdeu sua senha?

← Voltar BL Novels

Assinar

Registre-Se Para Este Site.

De registo em | Perdeu sua senha?

← Voltar BL Novels

Perdeu sua senha?

Por favor, digite seu nome de usuário ou endereço de e-mail. Você receberá um link para criar uma nova senha via e-mail.

← VoltarBL Novels

Atenção! Indicado para Maiores

Missão Ágape

contém temas ou cenas que podem não ser adequadas para muito jovens leitores, portanto, é bloqueado para a sua protecção.

Você é maior de 18?