Capítulo 9
Aquilo estava sendo o imprevisto mais irônico que Kýrios poderia ter até aquele momento. E ter isso em suas mãos lhe dava vontade de ir até as Parcas e lhes dá uma boa dose de xingamentos pela sua sádica diversão.
— E ainda me dizem que estão ao meu favor. — Reclamou para si mesmo, fungando em derrota por aquele imprevisto tão amargamente engraçado.
— Isso deve ser alguma espécie de provação. Para ver até onde você vai por seus objetivos. — disse James, jogando uma pedrinha no rio, tentando fazer com que ela quicasse o mais longe que podia, mas de um modo estranho, todas que ele jogava sempre afundavam.
Se bem que… ele nunca foi o melhor em arremessos de longas distâncias de pedrinhas no lago… Parecia que algo sempre o impedia de melhorar este tão simples talento que qualquer um conseguia, menos ele, por mais que treinasse.
E sobre aquele assunto, ele sabia flutuar, sabia sim nadar, mas sempre que queria se aprofundar mais, por algum motivo estranho, se afogava. Seus pais até o haviam levado a um terapeuta para saber porque isso acontecia, porque suspeitavam que pudesse ser algum trauma em seu subconsciente, um gatilho que era sempre desperto quando tentava mergulhar para mais fundo seja num lago ou rio.
— Ok… Isso é realmente uma grande merda. — Começou James novamente — Mas sempre há uma solução, não é? — seu olhar foi em direção à Panoptes que logo arregalou os olhos e começou a se coçar ainda mais.
— Nem ouse! Estou na mesma situação que a dele. E mesmo se eu pudesse, nem por mil hectares de ambrosia eu entraria nesse rio! — seus olhos foram nas águas calmas daquele ponto, e James ficou ainda mais intrigado com o fato de o cocheiro ter mostrado tanta implicância com aquele lugar desde que soube que iriam parar ali.
— É, você está sozinho nesse meu amigo. — disse Kýrios, lhe dando uma tapinha no ombro.
James coçou a testa, olhou pra água e depois novamente para os dois.
— Alguém tem que me ensinar a mergulhar, aceito qualquer sugestão, algum macete para que eu consiga mergulhar sem morrer.
— Hm, eu posso fazer algo a respeito, mas… — se pronunciou o deus.
— Mas?
— Há um outro pequenino problema.
— A não me diga?
— Eu… estou meio que impossibilitado de usar meus poderes, não todos. Tipo, tive meu nome tirado de mim e agora está como alvo a qualquer menção que alguém diga na minha frente, e… — pigarreou, sem jeito — Aquele rei louco do Olimpo também confiscou metade de minha divindade, só não tirou tudo porque ele e todos podem ter o controle de minha presença assim que eu as usar. E como estou foragido…
— Entendi. Estou totalmente sozinho nessa porcaria toda. Entendi perfeitamente.
— Ei, você não está sozinho. Ainda posso fazer coisas bem pequenas como… Ah! Ainda posso atirar minhas flechas quando as encanto. Isso porque é uma força da natureza, a minha natureza, que está por todos os lugares. Então mesmo se eu atirar milhares em segundos ninguém deles poderá me achar.
— Ainda não estou conseguindo ver uma solução nisso. Afinal, o que vou fazer com suas flechas nesse rio? Juntar mil delas e fazer uma jangada?
— Ha, ha. Muito engraçado, Sr. Payne. Não subestime o poder delas. Elas são capazes de muitas coisas. Como por exemplo…
O deus tirou do nada de suas costas uma aljava cheia de hastes com penas reluzentes numa extremidade, e quando tirou uma delas do suporte, fez o rapaz dar um passo para trás instintivamente.
— O que foi?
— Nada. É só que… Não sei explicar.
James falava verdade. A sensação que teve quando viu o reflexo metálico avermelhado da ponta afiadíssima da flecha lhe fez sentir um medo irracional. Quase como uma fobia.
— Tem medo de objetos pontiagudos?
— É claro que não. Senão eu teria medo de espadas também. O que não é o caso.
— É, faz sentido… Bem, vamos ao que interessa. — O deus passou então uma flecha para o rapaz segurar e logo uma áurea rosa avermelhada envolveu seu pulso e toda sua mão.
— É… quente.
— É, é quente. — Sorriu orgulhoso, mas James não entendeu aquela reação.
— Isso vai me fazer ter alguma sequela? Já basta ter sua vitalidade enfiada dentro de mim.
— É por você ter minha vitalidade que você está podendo segurar essa flecha, do contrário, iria morrer de uma paixão sem sentido.
— Está me dizendo que essa flecha é uma flecha do…
— Sim! As encantei antes de vir pra cá. Não são como as que me foi confiscado, mas podem fazer ainda um bom trabalho. São as minhas famosas armas de…
— Apolo! Então você é ele! O deus da beleza!
O deus a sua frente murchou e fez uma cara decepcionada.
— Errou. E errou bem feio. Ele não é filho de Afrodite. É de Zeus.
— É tanto deus pra tudo, não tem como lembrar de todos. Principalmente se for um bem desconhecido. — Fungou James, dando de ombros e se virando pela terceira vez para o rio.
Kýrios fez uma cara ofendida, e quando ia rebater, Panoptes lhe impediu puxando-o pra longe.
— Beleza, agora é só você mergulhar com tudo nesse bendito rio. E pegue a coisa mais estranha e brilhosa que ver. Entendido? — orientou o cocheiro.
— Sim, entendido. Estranho e brilhoso. Não tem como errar. — disse, tirando sua camisa e seus sapatos, e os jogou para o loiro, que pegou de mal jeito por ter sido pego de surpresa, ficando um pouco irritado — Tenha cuidado com minhas coisas. Ou então terá que pagar pelos prejuízos.
— Anotado. Prejuízos. Agora vá, James.
James sentiu um pingo de tom de ameaça naquelas palavras, mas não se importou nenhum pouco. Estava numa posição em que era a peça mais valiosa para aquele ser, e já que teria que fazer todo o trabalho sujo daquela busca.
“Um deus sem nome e praticamente sem poderes. É, tenho direito de exigir pelos meus serviços prestados.” Pensou.
E como se estivesse com uma corda amarrada em seu pulso e conectada com a aljava, James desceu os degraus até ficar literalmente com seus pés dentro do rio.
Assim como o ambiente, a temperatura da água também se apresentava morna. Uma súbita tensão lhe subiu quando deu um primeiro passo e não sentiu o fundo.
— Espero muito que esse negócio dê certo.
— Estamos aqui com dedos cruzados, como vocês humanos dizem. Não precisa se preocupar com o tempo de prender a respiração, seus pulmões estarão fortalecidos por causa dessa flecha e a energia divina dele. — disse Panoptes dando sinal para ele ir seguindo em frente.
Reunindo toda coragem que tinha, James deu um passo à frente, e logo todo seu corpo submergiu.
Como não sabia como ia ser e nem para onde ir, se deixou ser levado para o fundo, a única coisa que o tranquilizava era a esquisita sensação de que a toda hora alguém soprava em seus lábios, sustentando o ar prendido em seus pulmões. Aquilo parecia muito provocativo, como se… Como se alguém estivesse lhe dando selares. E quando fazia uma pequena menção de inspirar, o ar entrava em sua boca com uma sensação que lembrava muito a de um beijo, a tal brisa se enrolava em sua língua, e se aprofundava até a sua garganta, e quando passava pela sua traqueia indo direto aos seus pulmões, sentia seu coração disparar junto de um frio na barriga.
Sua mente criativa rapidamente se pôs a imagina uma cena bizarra e erótica sobre aquilo. Era como se fosse impossível controlar sua mente de tais pensamentos repentinos, e logo raciocinou e teorizou que esses sentimentos estavam sendo causados por aquele objeto em sua mão ter a energia daquele deus.
É claro, por isso o sorriso enigmático do loiro. Ele sabia que James iria sentir essas sensações ao estar em contato com aquelas flechas encantadas.
Era o que todos humanos sentiam quando eram atingidos por elas…
“Hm? Que porra foi isso?”. Pensou James, vendo um vulto passar em uma velocidade sobre humana à sua frente enquanto afundava para cada vez mais fundo.
A visão era péssima, mesmo com aquela ajuda extra. Tudo era embaçado, terroso e sujo de muita coisa, mas a principal era de plantas, e outras coisas orgânicas como pedaços de madeira, tecidos e…
“Porra!” Xingou, ao ver uma ossada de uma coluna vertebral ainda inteira se embrenhar na sua calça junto de uma rede de pescar cheia de restos de uma possível canoa que deve ter sido um dia.
Estar ali já era um fato assustador, mas saber agora que poderia ter mais daquele tipo de coisas ali dentro… Aquilo inquietou seu ser.
E com essa premissa, segurou com mais força aquela flecha em sua mão, rezando mentalmente para que nada mais aparecesse em seu caminho e busca pela tal coisa estranha que estava dentro daquele rio.
“O que foi isso?!”. Perguntou-se, ao começar a ouvir um pequeno sussurro que parecia um riso.
Olhou para todos os lados, e nada. Não havia mais nada do que muitas flores, algumas algas, e mais outros objetos que ele não sabia identificar.
Mas claro, houve uma coisa que na hora ele soube o que era quando puxou um pé seu.
“Aaaahhhh!!!” Gritou mentalmente, e sem querer abriu a boca, e quase se afogou ao engolir um bocado daquela água turva, o medo era tanto que superou a vontade de vomitar.
Uma sombra, acompanhada de um esqueleto, começou a puxar mais forte seu pé esquerdo, e como se tentasse desesperadamente subir para a superfície, tentava escalar o corpo do rapaz, que se debatia e chutava aquele ser medonho e assustador.
Os risos sussurrados foram aumentando em quantidade, tomando lugar do silêncio que habitava ali dentro, e cada vez que se intensificava, mais daquela coisa aparecia.
Agora não era só seu pé, mas também o outro, e havia mais três em suas pernas, outros cinco puxando seus braços, outro puxando sua camisa pelas costas, e mais outros dois que competiam para ver quem lhe abraçava o torso pela frente, todos sempre o puxando em todas direções, todos tentando desesperadamente subir, mas ao mesmo tempo em que faziam isso, puxavam mais e mais o moreno para as profundezas do Ganges.
“Eu… Não posso desistir!!”. Pensou James, lutando com todas suas forças sair daquela armadilha de mãos de ossos que praticamente destruíam suas vestes pouco a pouco.
E logo um pensamento não muito bom apareceu em sua mente: se eles estão fazendo isso com minhas calças, o que farão quando não tiver mais nenhum tecido?
É, era exatamente isso que o apavorava, pois sabia o óbvio qual era a resposta.
Essa ideia lhe fez se debater ainda mais, e não só chutava, como também tentava socar o máximo que podia aqueles esqueletos deformados, já que havia alguns que pareciam não ter sido queimados inteiro, então muitas partes estavam faltando neles, e de alguma forma, pegaram os restos que sobraram de outros e juntaram em si próprios de forma toda torta, transformando-os em verdadeiros amontoados de ossos, tecidos e algumas carnes ainda por decompor.
“Não!! Isso não!!”
A flecha em sua mão esquerda começou a chamar a atenção daqueles habitantes aquáticos, e um monte de mãos ossudas começou a puxá-la de si.
Seus músculos doíam pela pressão exercida que tinha em seu corpo, seu braço, e principalmente sua mão começavam a ficar um pouco dormentes por tanta força que fazia em tentar poder aguentar aqueles ataques e tentar sair daquele aglomerado macabro.
Podia estar na água, e mesmo que não pudesse escutar alguns sons mais simples como a das bolhas que passavam pelos seus ouvidos, pôde sentir a flecha em sua mão se quebrando, e aquela magia de resistência sob água se esvaziando de seu corpo, e a conexão se perdendo da fonte.
Sem muita opção, e já quase “no fundo do poço”, James decidiu largar aquela flecha e tentar lutar contra aqueles esqueletos.
Uma opção um tanto arriscada, mas ele não tinha tanta escolha, já que se tentasse subir, gastaria muita energia e acabaria se afogando. E se tentasse mergulhar, a pressão da água esmagaria seus pulmões. E se se deixasse levar por aquele bando de ossos disformes, não saberia o que iriam fazer com ele, mas havia sua teoria de antes, e não estava nem um pouco afim de provar sua veracidade.
“Aaaaahhhhh!!!!” Gritou, sentindo uma dor muito grande em seu tornozelo quando sentiu um estalo parecido ao quando se quebra algo crocante, mas seu grito foi abafado pela água, que roubou mais de seu ar que ele segurava ainda com toda a resistência que ainda tinha.
Uma sombra, mais densa do que a que estava possuindo aquelas ossadas se aproximou, e logo afastou os esqueletos que pararam de atacar, dando espaço para aquele ser se aproximar.
E como se fosse um pesadelo se transformando em sonho, James viu aquela sombra se transformar em uma luz, ofuscando sua visão e lhe deixando um pouco cego por alguns segundos antes de ver algo realmente muito bonito que foi tomando forma em sua visão.
“O que faz aqui? Em meu território novamente?”
“Nova… novamente?”. Perguntou James, percebendo que aquela moça lhe dirigia a palavra.
“Ah, então é isso. Chegou a hora?”
“Hora?”
“Eu guardei, como pediu. Mas vá, rápido. Ou então não poderei suprimir a ira deles por mais tempo.”
“Quem é você?”
“A questão certa seria: ‘Quem sou eu?’ ”
“Sim, foi isso que perguntei.”
“Sim, foi isso que você ouviu. Mas não ouve verdadeiramente.”
James tentou raciocinar o que ela estava querendo dizer, mas sua mente enevoada por tanta cor e luz lhe deixava ainda mais tonto, e além disso ainda tinha um som suave de citara ao fundo que deixava tudo mais etéreo.
“Você vai me ajudar a encontrar o que estou buscando?”
“Sim, mas não posso fazer muito. Já fui avisada desde aquela última vez em que lhe ajudei.”
“Me desculpe, mas eu realmente não sei do que você está falando.”
“É claro que não.” Sorriu gentilmente, e lhe deu a mesma flor que havia recebido quando sonhou com a tal amada do deus que a estava buscando. “Como está indo sua Samsara?”
“Samsara o quê?”
A moça lhe sorriu acolhedora e se aproximou, tocando o dedo indicador bem no meio de sua testa.
James sentiu seus pulmões exprimidos se expandirem de ar, foi um alívio respirar de novo daquele jeito.
“Isso não vai durar por muito tempo, pois você ainda não pertence a este mundo.” Apontou para as águas ao redor e aqueles esqueletos. “E nem mesmo pertence ao nosso mundo.”
“Peço mil desculpas pela invasão, mas é necessário.”
“Necessário. Mas ainda sim.. Não se deixe cegar pelos acontecimentos. E agradeço sua gentileza. Claro, a essência de sua grandeza ainda verbera em você. Que bom. Agora vá. Ainda há um caminho muito longo nessa sua jornada. Obrigada pela nova visita.”
Quando a mulher ia se afastando, o rapaz lhe chamou, e a mesma se virou para atendê-lo.
“Quem é você?”
A moça, mulher, sorriu gentil outra vez, e abriu seus braços, que logo viraram quatro.
“Namastê, yaatree.“. Disse a moça, fazendo um cumprimento juntando suas mãos em pares, para logo em seguida se dissolver no meio daquela água, e toda aquela luz desapareceu, dando lugar novamente para o escuro das profundezas, e o turvo que algum dos reflexos do sol conseguiam penetrar a superfície.
Os esqueletos ainda lhe miravam, mas não lhe atacavam, somente ficavam ali parados como se esperasse algum movimento dele para poder agir também.
E lembrando das palavras daquela moça, e percebendo também que a flecha ainda se encontrava em sua mão, além de seu fôlego que agora parecia estar mais revigorado, começou a nadar para mais afundo daquele rio.
Os vultos daqueles seres ainda continuavam estáticos no lugar, mas suas cabeças sem glóbulos oculares ou os poucos que tinham, viraram sua atenção em sua direção quando passavam por eles.
Era uma aflição enorme, não se sabia quando iria agir, mas com certeza seria em breve, já que todos ainda permaneciam ali na espera para dar o bote naquele pobre rapaz ainda perdido em sua busca.
Mas não por muito tempo…
Uma pequena faixa de luz reluziu bem fraca a alguns metros quando se deparou com uma embarcação em ruínas, a estrutura parecia não ser pertencente dali, pois tinha várias pinturas voltadas para o estilo mais grego, além de muitas gravuras em seu casco que mostravam um ser com asas abraçando uma pessoa.
“Kýrios?” Pensou na hora, mas não soube o porquê.
Queria ficar para ver mais gravuras, mas seu tempo ali era curto, então teve que se despedir daquele mural no casco para poder nadar até o interior da pequena embarcação e ir pegar o objeto que brilhava numa colocação dourada bem fraca, brilhava mais como uma fraca áurea que parecia estar se esgotando.
Olhando para todos os lados para ver se não tinha alguma armadilha ou qualquer pegadinha que fosse, se aproximou do jarro e introduziu sua mão, pegando uma espécie de pergaminho, mas esse pergaminho tinha uma resistência mais sólida, como… couro.
“Ah meu Deus… O que é isso agora?!“. Pensou ao ouvir um estrondo muito assustador que retumbou por todo lugar fazendo tudo ao redor tremer e começar a se desfazer.
É claro, estava sendo fácil demais para ser verdade…
James sentiu a flecha em sua mão variar de temperatura, ficando quente, depois menos quente, as vezes fria, e depois tornando-a uma mera flecha comum.
“Tenho que sair daqui!”
Agiu no mesmo tempo em que proferiu sua frase, nadando rapidamente para fora, e dando de cara com mais daqueles esqueletos e sombras.
Outro estrondo foi ouvido, e mais aqueles seres se aproximaram.
O coração de James acelerou ao entender que situação era aquela…
Suas pernas estavam cansadas, o fôlego oscilava agora, tudo de mágico em si estava começando a falhar.
O tempo estava acabando!
Pondo tudo o que tinha ainda de resistência, bateu suas pernas para poder nadar para a superfície o mais depressa que podia.
Outro estrondo.
Mais esqueletos disformes.
Mais sombras.
Mais cercavam o caminho.
E James, mais medo tinha.
Deduziu que aquele som grave e grandioso fosse alguma luta que pudesse estar acontecendo do lado de fora, mas sua paisagem barrenta não ajudava em nada para ao menos supor.
Outro estouro, mas dessa vez veio lá do fundo e bem da direção onde James tinha ido.
Uma voz muito grave e furiosa o empurrou, por um momento o rapaz agradeceu a “ajudinha”, mas se não fosse por ter empurrando também todos aqueles esqueletos pra cima dele, estaria mais grato.
E como um sino muito grande que foi tocado nas profundezas, ecoou assustadoramente lhe empurrando em ondas sonoras, e como se aquilo tivesse sido um tiro de largada para aqueles seres de ossos e restos mortais e outras coisas, todos começaram a e mover novamente, os sussurros risonhos retornaram, e toda aquela confusão explodiu novamente.
Mas dessa vez James não estava sozinho, havia alguém atrás dele que tinha aparecido de repente sem ao menos ele entender como tinha sido feito ou de onde veio.
“Kýrios?! Mas…?!”
O loiro havia envolvido um braço seu pela sua cintura, e nadava de forma sobrenatural, sua força era desumana, e mesmo assim, aquelas criaturas conseguiam lhes seguir bem de perto, passando e conseguindo arrancar algum pedaço de suas roupas.
Desvios para esquerda, para direita, rodopios, mergulhos tão curvados que os dois pareciam a dois golfinhos em mar aberto brincando ou se exibindo para outros mamíferos ou peixes.
James ainda segurava a flecha a todo custo mesmo com toda aquela velocidade, mas sentia que a haste não iria durar por mais tempo.
E foi o que aconteceu.
A flecha se partiu em dois.
E o deus que lhe segurava e nadava tão velozmente teve sua aceleração reduzida.
“Kýrios…”
O loiro não parou, continuou nadando para cima, seu braço firme na cintura do outro, mostrando que não iria largá-lo por nada.
Um dos esqueletos então agarrou a perna do deus, e diferente do que foi com o rapaz, aquele ser cravou suas mãos ossudas na carne do outro, ferindo-o, fazendo-o sangrar e icor vazar.
James ficou preocupado, mas não conseguia fazer nada. Seu fôlego estava já no fim, e temia se afogar de novo naquela água turva.
Kýrios estava determinado, sentia muita dor, mas nem isso lhe parava.
Os vultos lhe arranhavam, os esqueletos lhe feriam onde conseguissem chegar, até a própria água parecia agora estar lhe importunando com correntes aquáticas que lhe faziam ter que nadar contra para poder passar ou sair delas.
O rapaz olhava as ações do deus e não conseguia deixar de ficar admirado.
E se sentindo culpado por estar daquele jeito, como um saco de batatas inútil, resolveu bater suas pernas para também ajudar o deus.
Kýrios lhe mirou por um instante, e fez que não com a cabeça, num sinal para ele parar de fazer aquilo, mas James não entendeu do porquê daquele pedido.
Até acompanhar o olhar do loiro em direção a sua mão.
A flecha estava novamente em sua mão, inteira, e um filete de vitalidade saía do moreno, que voltava para o deus, e mudava de tom, para uma dourada, que saía também dourado dos arranhões do loiro, e iam direto para a haste daquele objeto.
James conseguiu sua resposta. E parou de se movimentar, deixando tudo por conta do outro.
Bem, mesmo que parado, ele estava ajudando em alguma coisa…
A superfície já estava à vista, faltava poucos metros. Kýrios usava tudo de si para sair daquela água, e mesmo não vendo seu rosto direito, James podia ver pela sua pele uma áurea bem fraca de um vermelho indo para um rosa, que também se empalidecia a cada minuto de esforço que o outro se obrigava a fazer.
“Kýrios!!!” Gritou o rapaz, saindo abafado por causa da água, ao ver um vulto passar veloz através do deus, lhe fazendo vomitar um pouco de sangue e parar de nadar.
Agora não tinha mais jeito, era a vez dele.
James o abraçou pelo torço pela frente, e ainda segurando a flecha e sem olhar pra trás, começou a nadar em direção aos reflexos da superfície.
“James…” Mesmo muito abafado e soltando algumas bolhas de seu fôlego, o rapaz conseguiu ouvir o outro lhe chamar, e assim como o outro fez, ignorou, continuando a bater suas pernas contra tudo e todos naquela água.
De repente uma corda brilhosa com um gancho amarrado na ponta foi jogado na água, e por instinto, James mudou sua direção para ir até ela.
Mais vultos, esqueletos e agora até alguns peixes lhe perseguiam, tentando puxá-los para baixo, tentando feri-los de alguma forma, mas sem êxito.
E bem no segundo em que um vulto iria novamente com intenções nada boas passar de novo através do deus, James desviou pro lado, e conseguiu pegar aquele gancho.
Foi puxado de maneira tão forte que quando saiu da água, foi a uma altura impressionante tal quase como algumas baleias faziam, e como a física da gravidade exigiu, despencaram junto do puxão ali nas margens, assustando alguns monges que meditavam naquele local.
— Finalmente! — comemorou Panoptes, segurando uma corda, aquela que James viu brilhando. Mas assim que viu o loiro ali caído e sangrando muito, preocupou-se — Por deuses! Temos que tratá-lo já!
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Capítulo 9
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Missão Ágape
O Olimpo está em crise, e tudo porque de repente uma profecia disse que um deus iria dizimar o seu sistema e tudo que eles lutaram para conquistar e poderem estar no poder até hoje.
E é...