Capítulo 37

Gu Lang voltou ao Palácio Oriental para buscar suas roupas. Anteriormente, para facilitar que ele cuidasse de Zhao Zhuo, o Príncipe Herdeiro o havia transferido para ser seu guarda-costas pessoal, e ele não precisava mais ficar de plantão diariamente no Palácio Oriental.

No caminho, ele encontrou o Príncipe Herdeiro retornando do Gabinete Imperial. Esta foi a primeira vez que ele viu Murong Yan vestindo um manto de dragão bordada. Não mais as vestes brancas de mangas largas e simples, nem o sorriso despreocupado e desinibido. Aquele tom de amarelo claro irradiava a dignidade da família imperial, tão precioso quanto o jade e o ouro.

Eles se entreolharam à distância no corredor. Wu Liu, que seguia atrás do Príncipe Herdeiro, estava confuso, pensando que o príncipe estava bravo porque Gu Lang não havia feito a reverência ao vê-lo, e estava prestes a dizer algo quando viu o Príncipe Herdeiro se virar e partir novamente.

Wu Liu apressou-se a seguir o príncipe, sem entender por que toda vez que o Príncipe Herdeiro via Gu-xiong, ele simplesmente virava as costas e ia embora.

Gu Lang baixou os olhos, permaneceu parado no mesmo lugar por um momento e então também se foi.

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À noite, trovões rugiram e uma chuva torrencial de outono caiu.

Sete ou oito guardas da Residência Zheng avançavam pelo bosque de bambus sob a chuva, mas quanto mais andavam, mais perdiam a direção, tremendo encharcados.

“Droga, como estamos perdidos?!” Um homem robusto à frente limpou a água do rosto e resmungou irritado. “Nessa escuridão, para onde diabos estamos indo?!”

Um homem mais jovem atrás dele resmungou em voz baixa: “Eu disse que ia chover, que não devíamos entrar no bosque, mas o senhor não quis acreditar…”

O homem robusto virou-se e deu-lhe uma palmada na nuca, xingando: “E ainda tem coragem de falar?! O mestre nos encarregou de encontrar alguém, e depois de tantos dias, não achamos nem um fio de cabelo! Se continuarmos assim, cuidado para o mestre não te cortar em pedaços e te dar de comer aos cães!”

O jovem, sabendo que após tantos dias sem encontrar a pessoa, Zheng Yufei não tinha poupado reprimendas, imediatamente calou-se.

“Jiang-ge”, disse outro homem ao robusto, “parece que há uma luz à frente, deve ser uma casa. Vamos nos abrigar da chuva.”

O homem robusto esticou o pescoço para olhar e viu uma luz fraca à frente. A chuva forte quase não lhe permitia abrir os olhos, e ele só queria encontrar um lugar para se abrigar rapidamente. Então, com um gesto amplo da mão, disse: “Vamos, vamos dar uma olhada.”

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Zhao Zhuo e Quan Si sentaram-se no andar de baixo da casa de bambu, ouvindo o som da chuva enquanto tomavam chá e conversavam.

“Desde que o Jovem Mestre voltou, ele se trancou no quarto e nem jantou”, disse Zhao Zhuo com preocupação. “Se continuar assim, como o corpo dele vai aguentar?”

Quan Si, segurando um prato de amendoins, descascava e comia um por um, disse: “O Consorte do Príncipe Herdeiro está com saudades do príncipe? Devo ir buscá-lo?”

Zhao Zhuo: “Talvez eles tenham discutido tão intensamente antes…”

“Verdade”, Quan Si concordou com um aceno. “Se o príncipe vier, será que vão discutir de novo?”

Zhao Zhuo suspirou e disse: “Pensei que, já que o jovem Murong não morreu, o jovem mestre ficaria mais feliz, mas como é que… ai…”

Nesse momento, a mão de Quan Si, que estava descascando amendoins, parou subitamente, e ele ergueu a cabeça rapidamente para olhar à frente. O barulho da chuva e dos trovões havia mascarado os passos das pessoas na floresta, e ele não havia percebido antes.

O homem robusto, seguido por seus companheiros, afastou os bambus e avistou imediatamente a casa de bambu erguida no meio da floresta. Ele limpou a água dos olhos e, olhando novamente, viu duas pessoas sentadas embaixo da casa de bambu. Uma delas era claramente o homem de meia-idade que havia sido resgatado da Residência dos Zheng e que eles estavam procurando desesperadamente há dias.

“Hahahaha…” O homem robusto riu alto. “Realmente, quebrar os sapatos de ferro procurando e agora encontrar sem esforço algum, hahahaha… Vamos, peguem esse velho e levem-no de volta para concluir nossa tarefa!”

Um grupo de homens desembainhou suas espadas reluzentes com um som “shua shua”.

A porta do andar de cima abriu-se abruptamente, e Gu Lang, segurando duas espadas, lançou uma para Zhao Zhuo, “Tio Zhao.”

Quan Si também puxou a espada flexível de sua cintura, a luz da lâmina cintilou, e ele foi o primeiro a avançar.

Os trovões rugiram, e a chuva aumentou. Em frente à casa de bambu, os gritos das facas e o tilintar das espadas foram abafados pelo som da tempestade, apenas o sangue tingindo os bambus verdes de vermelho.

Gu Lang, encharcado de chuva, segurava uma espada longa manchada de sangue, observando o homem robusto cair rígido, com sangue jorrando de seu peito. Seus olhos estavam vermelhos, como se ele visse novamente um mar de vermelho brilhante, como uma boca gigante e feroz, pronta para devorar.

As mãos de Gu Lang tremiam, quase incapazes de segurar a espada. Foi então que, ao seu lado, alguém brandiu uma faca em sua direção. Gu Lang tentou desesperadamente se esquivar, mas o sangue em seu corpo parecia ter congelado, impedindo-o de se mover.

O vento cortante da espada veio em sua direção, mas foi bloqueado por uma espada longa que apareceu de repente, e com um brilho prateado, o atacante caiu morto no chão.

“Consorte do Príncipe Herdeiro”, Quan Si apoiou Gu Lang e perguntou, “está bem?”

Zhao Zhuo, tendo lidado com a última pessoa, correu para lá e, ao ver a condição de Gu Lang, lembrou-se que seu Jovem Mestre não podia ver sangue à noite.

“Jovem Mestre”, Zhao Zhuo disse apressadamente, “não olhe mais, volte para descansar.”

O rosto de Gu Lang estava pálido de uma forma assustadora, mas ele continuava a olhar fixamente para o sangue no chão. Zhao Zhuo e Quan Si tiveram que fazer um grande esforço para ajudá-lo a voltar para a casa de bambu.

No entanto, Gu Lang continuava tremendo, e sua condição parecia estar piorando. Quan Si, vendo o Consorte do Príncipe Herdeiro nesse estado pela primeira vez, assustou-se e correu imediatamente para buscar o Príncipe Herdeiro.

Na Casa de Apostas Shanhe, Murong Yan estava encostado na janela, observando a chuva. De repente, Quan Si apareceu na janela, encharcado como um frango molhado, ofegante e disse: “Alteza, o Consorte do Príncipe Herdeiro… a casa de bambu…”

Com um ‘clang’, Murong Yan pulou pela janela e correu.

Zhao Zhuo andava de um lado para o outro embaixo da casa de bambu, extremamente ansioso. Embora seu Jovem Mestre não pudesse ver sangue à noite, normalmente ele apenas desmaiava.

Por que hoje ele estava assim? E ainda o expulsou de lá.

O que ele deveria fazer? Quando ele levantou a cabeça, viu Murong Yan emergindo da cortina de chuva. “Jovem Mestre Murong!”

Murong Yan não estava com um guarda-chuva, seu cabelo e roupas pingavam água. Ele perguntou ansioso: “O que aconteceu com Gu Lang?”

“O Jovem Mestre acabou de ver sangue”, disse Zhao Zhuo. “e ele está agindo de forma estranha…”

“Onde ele está?”

“No quarto do andar de cima.”

Murong Yan subiu as escadas correndo e abriu a porta. Gu Lang sentou-se na beira da cama, com as roupas encharcadas grudadas no corpo, todo o seu corpo tremia tanto que seus dentes batiam.

“Gu Lang,” Murong Yan se aproximou e segurou suas mãos geladas, “O que você tem?”

Os olhos de Gu Lang estavam turvos, e ele murmurou: “Sangue…”

“Não há sangue”, Murong Yan acariciou seu rosto, falando suavemente, “está tudo bem, não tenha medo.”

“Não é isso…” Gu Lang cerrou os dentes, como se estivesse lutando contra algo, “Eu… sou tão inútil…” Ele odiava, odiava sua própria fraqueza e inutilidade, um pouco de sangue o deixava imóvel, à mercê dos outros. Como ele poderia se vingar sendo tão assustado com a visão de sangue?!

De repente, ele ergueu a mão para pegar a faca à cabeceira da cama e a puxou em direção ao próprio braço.

“Gu Lang!” Murong Yan rapidamente tentou arrancar a faca, mas a lâmina já havia arranhado o braço de Gu Lang, abrindo um corte superficial.

“O que você está fazendo?!”

“Eu, eu… não quero ter medo de sangue…” Gu Lang parecia achar que o corte era muito raso e tentou agarrar a faca novamente, mas foi impedido por Murong Yan, que o segurou firmemente, “Gu Lang, não faça isso, tudo vai ficar bem… não se force…”

Gu Lang fixou os olhos no sangue que escorria do ferimento.

“Gu Lang, não olhe…” Murong Yan puxou a manga dele e cobriu o ferimento com seus lábios, beijando com ternura o sangue que escorria.

O calor dos lábios e dentes tocando o ferimento trouxe uma sensação de calor que parecia se infiltrar no sangue. Gu Lang estava tão frio que até o menor calor o fazia ansiar por mais. Ele queria mais, mais calor, queria expulsar o frio do corpo, deixar o calor fluir por todos os membros…

Murong Yan, vendo que o ferimento não era profundo, sentiu-se aliviado e quis que Gu Lang trocasse as roupas molhadas.

“Eu…” Assim que ele levantou a cabeça, Gu Lang agarrou a gola de sua roupa e seus lábios frios cobriram os lábios e dentes de Murong Yan.

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