Capítulo 46

Ruan Nian trocou o curativo da mão de Qu Fengyun, enfaixou-a cuidadosamente e advertiu: “Ah… tenha cuidado nestes próximos dias, evite que o braço entre em contato com água.”

Qu Fengyun olhou para a atadura branca em seu braço e disse: “Você pode ir embora agora.”

Ruan Nian, confuso, perguntou: “Hã?”

“Zheng Yufei já foi preso”, continuou Qu Fengyun, “você pode ir para casa.”

Foi então que Ruan Nian entendeu que Qu Fengyun estava dizendo que ele poderia retornar para sua casa, que não precisava mais permanecer na residência dos Qu.

Ele, sem saber por que, de repente sentiu-se um pouco infeliz e murmurou: “Eu não vou voltar.”

Qu Fengyun olhou para cima para olhá-lo.

“Foi para me salvar que sua mão ficou assim,” disse Ruan Nian. “Não posso simplesmente ir embora, seria muita ingratidão.”

Qu Fengyun respondeu: “… Eu não te culpo.”

“Mesmo assim, não dá”, insistiu Ruan Nian, com determinação. “Vou ficar aqui para cuidar de você.”

Qu Fengyun disse: “Há muitas pessoas na minha residência.”

Não faltam pessoas.

Ruan Nian respondeu: “Eles são eles, e eu sou eu, não é a mesma coisa.”

Qu Fengyun olhou para o rosto branco e macio de Ruan Nian e perguntou: “Como assim, não é a mesma coisa?”

Ruan Nian disse: “Eu sou um Médico Imperial”.

Qu Fengyun: “… Oh.”

Nesse momento, um servo veio correndo e disse que Liu Dameng estava tendo outro surto de fúria, destruindo coisas em seu quarto.

Qu Fengyun e Ruan Nian se apressaram para ir ver. Quando Liu Dameng tinha uma crise de veneno, ele sentia coceira por todo o corpo e ficava extremamente irritadiço, quebrando tudo o que via. Ele era muito forte, e no passado, apenas Qu Fengyun conseguia contê-lo. Mas agora, com um dos braços de Qu Fengyun fraturado, era difícil segurá-lo com apenas uma mão. Num descuido, Qu Fengyun foi atingido no nariz por um dos golpes descontrolados de Liu Dameng, e o sangue começou a escorrer imediatamente.

“A-Ying!” O coração de Ruan Nian apertou-se de preocupação. Na pressa, ele pegou uma cadeira e a arremessou contra Liu Dameng.

Com um “bang”, Liu Dameng desmaiou no chão.

“A-Ying!” Ruan Nian correu para ele, levantando as mãos para limpar desesperadamente o sangue que escorria do nariz de Qu Fengyun.

“Estou bem”, disse Qu Fengyun, levantando a cabeça, mas então viu que os olhos de Ruan Nian estavam vermelhos, como se estivesse prestes a chorar. “O que foi?”

“A-Ying…” a voz de Ruan Nian estava trêmula, “ele… ele morreu? Eu… eu matei alguém?”

A cabeça de Liu Dameng estava sangrando, e ele estava deitado no chão, imóvel.

Qu Fengyun esticou a mão para verificar sua respiração e disse: “Ele não morreu, ainda está respirando.”

Ruan Nian, com lágrimas nos olhos, perguntou: “Sério?”

Qu Fengyun respondeu: “Sério, se não acredita, veja você mesmo.”

Ruan Nian, com cuidado, colocou a mão em frente ao nariz de Liu Dameng — de fato, ele ainda estava respirando.

Então, Qu Fengyun viu as lágrimas escorrendo pelo rosto de Ruan Nian.

Qu Fengyun: “…”

Mas ele não morreu, não foi?

“Você me assustou até a morte.” Ruan Nian fungou, “eu pensei que tinha matado alguém.”

“Me assustei tanto”, disse Ruan Nian, fungando, “pensei que tinha matado alguém.”

Qu Fengyun ergueu a mão para enxugar as lágrimas do rosto de Ruan Nian e sussurrou: “Então por que você agiu tão decisivamente na hora?”

“Eu vi que você estava sangrando…” Ruan Nian enxugou as lágrimas e então lembrou que precisava rapidamente cuidar dos ferimentos de Liu Dameng, para evitar que ele realmente morresse de tanto sangrar. “Vou pegar a caixa de remédios.”

Qu Fengyun observou-o sair correndo, esfregou os dedos onde as lágrimas haviam tocado e um sorriso discreto apareceu em seus lábios.

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Os guardas do Palácio Oriental, ao verem o Príncipe Herdeiro puxando um homem em direção aos aposentos reais, lembraram-se dos rumores recentes sobre a preferência do príncipe por ser corta-manga e imediatamente desviaram o olhar, fingindo cegueira e surdez.

“Murong”, Gu Lang tentou se soltar, dizendo, “solta a minha mão!”

“Te soltar?” Murong Yan respondeu sem olhar para trás, “Para você ir procurar aquela Senhorita Wei?”

Gu Lang: “…”

“Estou aqui esperando para oficializar o noivado”, Murong Yan disse com os dentes cerrados, “e você, por outro lado, está planejando se casar com outra pessoa?”

Gu Lang respondeu desamparado: “Eu não disse que ia me casar com a Senhorita Wei…”

Murong Yan retrucou: “Mas você também não disse que não ia se casar.”

E ainda diz “hum?”  O que significa esse “hum”, você quer me deixar louco é isso?

Murong Yan abriu a porta do quarto, fechou-a novamente e, segurando o pulso de Gu Lang, pressionou-o contra a porta, dizendo com seriedade: “Amanhã mesmo você vai dizer ao velho general Wei que não vai se casar com a senhorita Wei, e que você é meu Consorte Real.”

Gu Lang baixou os olhos, aparentemente impassível, e disse: “Eu não vou me casar com a senhorita Wei… nem serei seu Consorte Real.”

Murong Yan olhou para os cílios trêmulos de Gu Lang e, contendo a raiva, perguntou: “Por quê?”

Gu Lang ficou em silêncio por um momento, e então, com dificuldade, respondeu: “Eu… não gosto de você.”

‘Eu não gosto de você…’ ele pensou que, talvez dizendo isso, Murong Yan não teria como confirmar e, desapontado, acabaria desistindo. Mas então ele ouviu Murong Yan rir suavemente, como se tivesse ouvido uma piada.

“É mesmo?” Ele ouviu Murong Yan dizer. “Você não gosta de mim? É por isso que não quer ser meu Consorte Real?”

Gu Lang respondeu relutantemente: “Sim.”

De repente, seu queixo foi levantado, e seus lábios encontraram uma suavidade, enquanto um aroma familiar invadia seu espaço.

“Mn…” Gu Lang não pôde evitar segurar as lapelas da roupa de Murong Yan, embora quisesse se afastar, acabou puxando-o ainda mais para perto. A memória daquela noite chuvosa na casa de bambu veio à tona, o calor entrelaçado das respirações, o desejo intenso e quase insuportável, os corpos suados e grudentos, aquela noite tão longa…

Murong Yan se afastou um pouco, suas respirações misturavam-se no ar entre eles. Ele passou a ponta do dedo sobre os lábios avermelhados de Gu Lang e falou lentamente: “Não gosta? Então por que seu rosto está corado? Por que seu coração está batendo tão rápido? Por que você se deitou sob meu corpo? Por que você gritou meu nome quando não conseguia mais se controlar? Se fosse outra pessoa fazendo essas coisas com você, você também diria a ela que foi um acidente, que não significa nada?”

Murong Yan olhou profundamente nos olhos de Gu Lang e disse, palavra por palavra: “Gu Lang, você acha que o gostar pode ser escondido?”

Gu Lang, com a respiração irregular, desviou o olhar e permaneceu em silêncio.

O quarto ficou em silêncio por um momento, com apenas o som da respiração de ambos preenchendo o espaço.

Murong Yan passou lentamente a ponta do dedo pelo queixo, acariciou o pescoço suave de Gu Lang e, seguindo a abertura da gola, deslizou sobre a clavícula branca dele.

“Tudo bem”, Gu Lang ouviu Murong Yan dizer, “se não gosta, então não gosta. Afinal, essa coisa de querer o corpo e não o coração, desde os imperadores e príncipes até os plebeus, não é algo comum?”

Gu Lang: “…”

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