Cap 47. Su Xin
Quando Shen Mu deixou o Palácio do Pavilhão Púrpura, certificou-se de que ninguém o seguia e retornou ao Palácio Ming Cheng.
Com o muro alto ao seu lado, os servos e guardas do palácio que passavam de tempos em tempos lhe faziam reverências. Shen Mu apenas assentia em resposta, enquanto repetia mentalmente o que a Rainha Mãe lhe dissera.
—… O quanto a Rainha Mãe sabe sobre Sua Majestade?
A voz de Shen Mu já era fria, mas ele a abaixou deliberadamente ao dizer essas palavras.
Os olhos da mulher começaram a desviar, mas depois de um momento, ela recuperou a compostura e perguntou:
— Não entendo a que o Regente se refere.
Já esperava essa postura de cautela, por isso não se surpreendeu ao ouvi-la.
Não podia controlar por quanto tempo ele e Xiao Fan ainda conseguiriam esconder a verdade, e, em tal situação, seria melhor cortar o nó de uma vez.
A melhor defesa era atacar primeiro.
Em seguida, sorriu levemente, pegou o chá quente que segurava, deu um gole e disse sem pressa:
— No dia da morte da imperatriz viúva, o imperador viu duas donzelas do Pavilhão Púrpura do lado de fora do Palácio Ming Cheng. Gostaria de saber que tipo de recado a Rainha Mãe mandou que elas levassem.
Shen Mu ainda se lembrava claramente do dia em que Xiao Fan teve sua primeira crise de dor de cabeça. Estava tão aflito que correu até lá, mas ao chegar ao portão do palácio, viu que as pessoas enviadas pela Rainha Mãe já rondavam do lado de fora, apenas ainda sem encontrar um modo de entrar.
Foi naquele instante que percebeu que a dor de cabeça de Xiao Fan não era algo simples.
Contudo, a situação era urgente demais para interrogar as duas servas, e no fim apenas puniu uma delas às pressas.
Também circularam rumores no harém de que Xiao Fan sofria de dores de cabeça, como dissera Xiao Huan. Mas, quando mandou alguém investigar no palácio, ninguém disse uma palavra.
Tendia a acreditar que Xiao Huan não o enganaria de propósito, então certamente havia sido enganado.
Com as mãos apertando inconscientemente a xícara de chá, a Rainha Mãe estava sob o olhar penetrante e afiado de Shen Mu.
— Naquele dia, vi que Sua Majestade parecia diferente, então mandei alguém averiguar. Quanto ao que exatamente…
A mulher de repente pareceu lembrar de algo e olhou para Shen Mu:
— Não foi o Regente quem entrou sozinho no Palácio Ming Cheng naquele dia? Mesmo tendo enviado pessoas para lá, elas permaneceram do lado de fora. Vendo por esse lado, sou eu quem deveria fazer a pergunta.
— Sua Majestade já havia se recuperado quando cheguei, caso contrário, não teria conseguido entrar na sala — Com um leve sorriso, Shen Mu captou facilmente um traço de pânico nos olhos da mulher, mas não se apressou. Inclinou-se um pouco para frente e as comissuras de seus lábios se curvaram num sorriso insinuante — Se bem me lembro, os enviados da Rainha Mãe chegaram bem antes de mim, então devem ter descoberto bastante coisa.
Nos olhos da mulher brilhou uma leve hesitação, mas no fim ela não disse nada.
— Não importa — Shen Mu largou a xícara de chá que segurava e se levantou, lançando-lhe um olhar condescendente — A Rainha Mãe ainda tem muito tempo para pensar. Se tiver algo a dizer, pode me chamar a qualquer momento.
O número de servos no Palácio Ming Cheng era pequeno, e Shen Mu basicamente conhecia todos eles. Ao perceber que Jing An não estava, supôs que Xiao Fan ainda devia estar no estúdio imperial cuidando dos assuntos de Estado.
Ah Qing o seguia de perto, e antes que Shen Mu empurrasse a porta do salão, virou-se e lhe deu algumas instruções, dizendo que fosse até o quarto que lhe havia sido designado e descansasse um pouco.
Depois de ver o rapaz se afastar, Shen Mu empurrou a porta e olhou para a sala vazia.
Estava prestes a se dirigir à estante para folhear um livro casualmente e esperar Xiao Fan retornar, quando alguém, de repente, saltou por trás e agarrou Shen Mu pela cintura.
—…Xiao Fan! Não morde!
O jovem respondeu com uma voz grave, vinda do fundo da garganta.
Ignorando a resistência descontente de Shen Mu, levantou-o e o colocou firmemente sobre a mesa. Shen Mu estava envolto pelos braços fortes de Xiao Fan, incapaz de se mover, com as mãos dele apertando sua cintura com tanta força que mal conseguia respirar.
Montado sobre os ombros do rapaz, Shen Mu puxou com força a gola de sua camisa e falou com um tom um tanto urgente, tentando convencê-lo:
— Solta minhas mãos. Me deixa descer.
Mas o jovem não se acalmou. Em vez disso, mordeu a base de seu pescoço.
— Por que Xiao Huan foi hoje ao Templo WanJi?
— Como vou saber? Eu não controlo pra onde vai o Nono Príncipe.
Shen Mu até tentou se afastar, mas Xiao Fan logo o puxou de volta. Com as mãos espalmadas em seus flancos, os olhos escuros do jovem se estreitaram ligeiramente, emitindo um brilho frio, quase perigoso.
Xiao Fan estava… com raiva?
Sem ter como escapar, Shen Mu apenas passou os braços ao redor de seu pescoço e se inclinou até seu ouvido. Colocou os cabelos das têmporas para trás e sussurrou com suavidade:
— Você… tá com ciúmes?
A mão em sua cintura se apertou.
Shen Mu não conseguiu conter um leve suspiro. E então ouviu Xiao Fan murmurar bem junto ao seu ouvido, admitindo sem hesitar:
— Tô com ciúmes. Da última vez, você e Xiao Huan foram juntos até YaoZhen. Ainda me lembro disso.
Com um suspiro de impotência, Shen Mu ergueu a mão e acariciou a nuca do jovem. Depois, esfregou o próprio pescoço dolorido e desceu da mesa, encostando-se nela de costas.
Ergueu os olhos e explicou:
— Eu já te expliquei. Ele achava que eu estava tramando algo contra ele, por isso me seguiu — Erguendo a mão em punho, Shen Mu deu um leve soco no peito firme do jovem — No fim das contas, Xiao Huan e eu estamos preocupados é com você, então para com esse ciúmes.
Ao mencionar Xiao Huan, não conseguiu evitar lembrar das palavras inúteis que a Rainha Mãe lhe dissera.
Depois de dar uma explicação simples a Xiao Fan, Shen Mu perguntou se ele conhecia as duas donzelas que haviam rondado a entrada do seu palácio naquele dia.
— Me lembro que arrancaram os olhos de uma delas — Xiao Fan abaixou o olhar, puxando o cinto de jade na cintura de Shen Mu. Com a outra mão apoiada de lado, inclinou o corpo na direção dele — A outra foi executada.
Shen Mu franziu o cenho:
— Executada?
A serva que teve os olhos arrancados não era uma desconhecida para Shen Mu. Ela continuou rondando o Palácio Ming Cheng mesmo depois de dois avisos, e ainda tentou segui-lo. Só não esperava que a outra tivesse sido morta por Xiao Fan.
Não era de se estranhar que a Rainha Mãe Chu não soubesse o que responder.
Havia milhares de servas no harém, e Shen Mu não podia simplesmente perguntar a Xiao Huan de onde vinham os rumores — muito menos interrogá-las uma a uma. Esperava obter informações com aquelas duas, mas isso agora parecia impossível.
Enquanto refletia, o jovem segurou seu queixo e olhou para Shen Mu:
— Tenho uma solução.
— Hm? — Shen Mu levantou a cabeça e encontrou o olhar de Xiao Fan. — Estou ouvindo.
Xiao Fan se aproximou ainda mais e afundou o rosto na curva de seu pescoço:
— Já que não dá pra investigar uma por uma… por que não trocamos todas?
Shen Mu entendeu na mesma hora.
O assunto da doença na cabeça não podia ser divulgado, então, além de exigir muita energia para controlar a todos, o mais importante era que isso alarmaria a serpente e espalharia ainda mais os rumores.
Mas substituições eram diferentes. Após a morte da Imperatriz Viúva, restavam apenas a Rainha Mãe e o próprio Imperador. Portanto, não havia muitas pessoas no harém, e como a Rainha Mãe não podia ser tocada, havia poucos que realmente precisavam ser trocados.
Com o processo de troca, ficaria evidente onde estavam os infiltrados da Rainha Mãe, e Shen Mu poderia seguir os rastros e encontrar as pistas.
— Mas isso também vai levar algum tempo — Tocando inconscientemente a cabeça de Xiao Fan, Shen Mu refletiu por um instante e analisou — Se Xiao Huan pudesse ajudar com isso… ah!
Sentiu uma fisgada aguda. Shen Mu não conseguiu conter um gemido abafado e, ao baixar o olhar, viu que Xiao Fan estava mordendo novamente seu pescoço, a ponta da língua deslizando devagar por ele.
O jovem franziu as sobrancelhas e pressionou o corpo inteiro contra o de Shen Mu, falando com a voz carregada de insatisfação:
— Não diga o nome de outro homem na minha frente.
Em seguida, segurou o queixo de Shen Mu com uma mão e o beijou nos lábios, enquanto a outra mão descia impaciente, puxando o cinto de jade com o qual estivera brincando durante o dia, para então jogá-lo de lado.
A barra da roupa se ergueu, e seus ouvidos se encheram com a respiração cada vez mais pesada do jovem. Shen Mu sentiu sua sanidade se consumir como papel no fogo.
As mãos se ergueram de súbito, as bochechas coradas, e sua voz subiu um pouco, ofegante e apressada:
— Ainda é de dia, para com isso!
Xiao Fan fingiu não ouvir.
Depois de dois incensos inteiros…
Jing An, que acabara de voltar do lado de fora, caminhava em direção à entrada principal do palácio quando ouviu um baque vindo do longo corredor.
Ao virar a esquina, viu Xiao Fan parado em frente à porta. O jovem ergueu a mão e bateu duas vezes. Como não obteve resposta, apenas baixou o braço com uma expressão de impotência.
— Sua Majestade.
Ao ouvir os passos, Xiao Fan olhou para trás e cruzou o olhar com os olhos escuros de Jing An. Imediatamente, deu meio passo para trás, tossiu duas vezes com a mão esquerda fechada sobre os lábios, e pigarreou em tom contido.
Os dois se encararam em silêncio por um longo tempo.
Com a espada na mão, Jing An olhava para Xiao Fan com sua habitual expressão inalterada.
Depois de tê-lo incomodado, recebeu as palavras sóbrias de Xiao Fan:
— O que está fazendo aqui?
— Vossa Majestade, estou sempre de serviço por aqui — Após uma breve pausa, Jing An fez uma leve reverência — Vossa Majestade pretende entrar?
Disse isso enquanto se virava para abrir a porta…
— … Espere um momento! — Xiao Fan o interrompeu, tossindo levemente após repreendê-lo — O Regente está descansando lá dentro, não entre para não incomodá-lo.
Jing An assentiu obedientemente — Não farei nenhum barulho.
Xiao Fan franziu o cenho com impaciência e lançou-lhe um olhar frio, indicando que se retirasse
— Não é necessário. Consegui descansar um pouco. Se eu entrar e o acordar, tenho medo de que me incomodem de novo.
Com uma expressão de arrependimento no rosto, Xiao Fan continuou, murmurando para si mesmo:
— O Regente é bom em tudo, mas se apega demais a mim… Quando não me vê por um tempo, faz um escândalo.
Jing An levantou os olhos e olhou em silêncio para a porta firmemente fechada do salão.
— Já é suficiente. Pode se retirar. Vou descansar um pouco aqui fora e depois retorno.
— Sim, Vossa Majestade.
Quando Jing An voltou para sua residência, viu um volume sobressalente na cama do canto oeste.
Sua casa era dividida em duas câmaras, uma a leste e outra a oeste. Elas deveriam ser ocupadas por duas pessoas, mas como Xiao Fan só era acompanhado por um guarda pessoal, a ala oeste sempre estivera vazia.
A porta de madeira rangeu ao ser empurrada, e quando entrou com a espada em mãos, Jing An congelou ao ver repentinamente um homem no lugar que supostamente deveria estar vazio.
Ele vivia sozinho ali havia quase dez anos, e ninguém jamais havia pisado naquela ala — muito menos dormido em sua cama.
A pessoa na cama dormia profundamente. Seu corpo delgado, envolto num cobertor grosso, deixava à mostra apenas um rosto adormecido e levemente corado.
Talvez por ter escutado o ranger da porta, seus longos cílios curvados se agitaram algumas vezes. Depois de murmurar algo, abriu os olhos de repente.
Ah Qing despertou com lentidão, esfregando os olhos e sacudindo a cabeça.
Assim que ergueu o olhar, viu Jing An sentado diante de uma mesa redonda no centro da sala, e imediatamente entrou em pânico:
— Jing… Jing An? Por que está aqui?
Seu senhor lhe dissera que outra pessoa vivia naquela casa, mas não havia dito quem.
Inicialmente, pensara que os guardas pessoais de Sua Majestade, como Jing An, morariam cada um em um aposento separado. Então, quando acordou e o viu logo de cara, seu rosto ficou vermelho antes mesmo de conseguir dizer qualquer coisa, e suas mãos agarraram nervosamente a beirada do cobertor.
Por ser magro, o colarinho de Ah Qing estava tão solto que deixava à mostra uma linha clara e retilínea das clavículas. Os olhos de Jing An passaram lentamente por elas.
Serviu-se de uma xícara de chá de ervas e bebeu, antes de erguer o olhar e encontrar os olhos redondos e assustados de Ah Qing.
Apontando com o dedo para a outra cama na ala leste, Jing An falou com voz grave, sem virar o rosto:
— Eu durmo ali.
Ah Qing olhou para o outro lado do cômodo e demorou alguns segundos para reagir, antes de voltar a si. Após assentir obedientemente, alisou a roupa larga, calçou os sapatos e as meias, e se preparou para ir esperar fora do Palácio Ming Cheng.
— Não precisa ir. O Regente está descansando.
— Oh… está bem.
Por alguma razão, Ah Qing sentiu o rosto arder incontrolavelmente e, ao encarar Jing An nos olhos, o pânico começou a tomar conta de si.
Respondeu em voz baixa e voltou a se sentar na cama.
Os dois permaneceram em silêncio no quarto.
Depois de um longo tempo, um ronco audível ecoou pela casa vazia.
Ah Qing, que estava fazendo a mala, corou profundamente e se abaixou como se nada tivesse acontecido. Muito tempo depois, a porta foi empurrada e o homem que estivera sentado à mesa redonda bebendo chá se levantou e saiu.
Com um longo suspiro, ainda agachado no chão, Ah Qing se lembrou de quando Jing An recebeu a ordem de ir ao Templo WanJi pela primeira vez. Depois de entregar à vovó Tian o recado de Shen Mu, encontrou Ah Qing atrás de uma casa e lhe bloqueou o caminho.
Era quase uma cabeça mais alto e, quando se postou à sua frente, conseguiu bloquear os raios inclinados da luz do entardecer.
Ah Qing também se lembrava da tarde em que Jing An lhe entregou um pacotinho de torrões de açúcar. Com o rosto ainda impassível, disse apenas duas palavras, de forma fria:
— Aqui.
Confuso, Ah Qing pegou o pacote de doces e o olhou. Após agradecer, perguntou:
— Por que está me dando doces, de repente?
Jing An o encarou por muito tempo e depois murmurou:
— Tenho medo que você chore.
Tinha medo que ele chorasse.
Era a primeira vez que ouvia alguém expressar uma preocupação tão direta com ele.
Enquanto pensava nisso, a porta rangeu novamente. O corpo de Ah Qing estremeceu e ele se virou instintivamente, apenas para ver Jing An trazendo uma bandeja com três pratos e uma sopa no centro.
Depois de colocar os pratos sobre a mesa redonda, Jing An se aproximou de Ah Qing, olhou para ele e murmurou:
— Venha comer.
O estômago de Ah Qing, atiçado pelo aroma da comida, imediatamente despertou. Ele passou por Jing An e se aproximou da mesa para olhar os pratos fumegantes, começou a comer em silêncio e logo se preparou para se levantar.
No entanto, não percebeu que suas pernas estavam dormentes de tanto tempo agachado. Perdeu o equilíbrio e caiu para a frente. Em pânico, tentou se apoiar na parede, mas foi aparado por Jing An.
Caiu direto em um abraço quente.
Diferente da frieza habitual, o abraço de Jing An era inesperadamente acolhedor. A cabeça de Ah Qing ficou enterrada nos braços do jovem, e então ele ouviu Jing An sussurrar sobre sua cabeça:
— Não era você quem queria ir embora? Ou queria apenas um abraço?
- ¤•
Parece que, nos últimos dias, Shen Mu havia se acostumado a dormir ao lado de Xiao Fan, pois, sem o aroma do sândalo, sentia que não conseguia dormir bem.
Depois de se revirar várias vezes, Shen Mu despertou, esfregou os olhos e se levantou da espreguiçadeira, olhando ao redor.
—… Xiao Fan não está na sala. Será que está ocupado de novo?
Tirando a manta fina que cobria seu corpo, Shen Mu pretendia sair pela porta lateral, atravessar o longo corredor e ir até o pátio dos fundos. Mas, ao se levantar, parou de repente e se virou para olhar a porta principal, com a sensação de que algo estava errado.
Será que alguém achou que ele estava realmente bravo e ficou esperando do lado de fora enquanto ele dormia?
Seu corpo foi honesto o suficiente para caminhar até a porta, mas seu coração zombava, achando aquilo impossível.
Levantou a mão, empurrou a porta e uma lufada de vento frio entrou no cômodo. Shen Mu olhou casualmente ao redor, mas não viu sinal de Xiao Fan.
Balançou a cabeça, riu baixinho, fechou a porta atrás de si e então passou pela porta lateral e pelo longo corredor. Ao final, viu Xiao Fan no pavilhão dos fundos do Palácio Ming Cheng.
O jovem, vestido de preto, estava sentado sozinho no pavilhão, com os cabelos sedosos caindo pelas costas. À sua frente havia uma mesa de chá bem familiar.
Ele levantou o dedo e o molhou com um pouco da água da xícara que segurava. Depois, com os olhos baixos, pousou o dedo sobre a mesa de pedra.
Não se sabia ao certo o que ele estava desenhando.
Ao vê-lo distraído, Shen Mu se aproximou em silêncio, um pouco mais do pavilhão. Queria lhe pregar um pequeno susto, mas, quando ainda estava a alguns passos de distância, viu Xiao Fan virar-se e olhar para ele com um sorriso no rosto.
— Dormiu bem?
Ao pensar em como tinha sido maltratado por aquele homem antes de ser expulso, Shen Mu tocou o próprio pescoço — que, aliás, ainda doía — e lançou um olhar sem qualquer efeito dissuasório a Xiao Fan.
— No que está tão ocupado?
— Não estou ocupado — Xiao Fan lançou um olhar profundo para as marcas vermelhas no pescoço de Shen Mu, e seu pomo de adão se moveu para cima e para baixo. Ao ver que os olhos de Shen Mu já não carregavam mágoa, apenas baixou o olhar. — É que você me expulsou, e eu vim para cá porque não tinha outro lugar para ir.
—…
Por alguma razão, Shen Mu pôde ver um leve traço de mágoa no rosto quase inexpressivo de Xiao Fan, então sorriu e disse:
— Agora você me obedece… por que não me ouviu quando eu disse pra não morder?
Quando se sentou ao lado de Xiao Fan, Shen Mu olhou para as manchas d’água sobre a mesa e tentou identificar o que eram, mas ainda assim não conseguiu entender.
Então levantou a mão, apontou para um dos círculos e perguntou a Xiao Fan para que servia aquele desenho.
— Estava pensando em como aproveitar melhor esse pátio dos fundos — as pontas dos dedos brancas de Shen Mu se moviam de um lado para o outro diante de Xiao Fan, o que acabou chamando sua atenção.
Xiao Fan simplesmente segurou a mão dele e, com um leve puxão, fez Shen Mu cair direto em seu colo.
— Estou falando da terra — Xiao Fan levantou a mão e apontou para o espaço vazio à frente deles, que deveria estar cheio de flores — Estava pensando em como dividi-la para deixá-la mais bonita.
Olhando para as marcas sobre a mesa, Shen Mu não se preocupou com estética, então apontou aleatoriamente para um retângulo e sugeriu:
— E que tal batatas aqui?
— Eu queria plantar cebolas aí — os olhos de Xiao Fan brilharam, e ele pensou por um momento antes de dizer — Se quiser plantar batatas, vai ter que me dar um beijo primeiro.
—… Então, as batatas vão no terreno vazio do lado.
— Isso exigiria dois beijos.
—… E esse aqui?
— Três beijos.
— Se continuar fazendo barulho, vai ter que dormir no chão esta noite.
- ¤•
Alguns dias depois, para dar as boas-vindas aos enviados de Yu, Xiao Fan ofereceu um banquete no palácio e convidou os ministros para se juntarem a ele. O salão estava cheio de pessoas cantando, dançando, rindo e conversando, de modo que parecia uma recepção muito calorosa.
Shen Mu se acomodou em um assento elevado, a um passo de distância de Xiao Fan. Tomou um gole de chá e levantou os olhos para encarar o enviado do Reino de Yu, que o observava.
Aquele homem provavelmente já havia percebido sua posição pela forma como estavam dispostos os assentos e, como era de se esperar, o olhava com uma expressão surpresa.
Por alguma razão, Shen Mu sentia que já tinha visto esse tipo de olhar muitas vezes nos últimos dias — tanto que, ao encontrar o emissário, seu coração permaneceu impassível.
Além disso, após o incidente com a família Chu, todos os funcionários relacionados a parentes de fora da corte mantiveram silêncio absoluto. Todos queriam permanecer dentro de casa, sem sequer abrir as portas, temendo se envolver em algum escândalo.
Mesmo que o enviado, que fora designado para permanecer na capital, tivesse intenção de conspirar com alguém, ninguém ousaria agir contra a corrente naquele momento.
A verdadeira razão pela qual Shen Mu olhava com tanta frequência era o cavalheiro sentado em frente ao emissário, de olhos baixos. Aquele homem, que Shen Mu jamais havia visto antes, parecia ter a mesma idade que ele, mas era ainda mais magro. Seu rosto era doentio — pele pálida, lábios ressecados, cabelos desbotados. Tinha um aspecto murcho, quase decadente.
Shen Mu tinha uma leve lembrança sobre ele — e provavelmente era esse o motivo pelo qual o Rei de Yu havia enviado alguém para demonstrar boa vontade. Aquele homem doente à sua frente devia ser a pessoa chamada de “Rainha” no memorando que Shen Mu havia lido: Su Xin.
Talvez por sentir o olhar sobre si, o homem de olhos abaixados os levantou de repente.
Era um par de olhos tão profundos quanto uma lagoa morta.
Ao encontrar o olhar de Shen Mu, Su Xin não pareceu surpreso. Esboçou um sorriso educado e voltou a baixar os olhos, como se houvesse erguido uma fronteira invisível ao seu redor, isolando-se do resto do salão.
Ao observá-lo, Shen Mu percebeu que Su Xin tinha uma aparência muito bonita. Seus olhos naturalmente curvados, como pétalas de flor de pêssego, pareciam nascer sorrindo. O nariz era reto, os lábios bem definidos. Se não fosse pela palidez doentia, seu rosto seria verdadeiramente encantador.
Shen Mu não sabia muito sobre Su Xin, exceto que ele era natural de Da Qi e, por algum motivo, fora para o Reino de Yu, onde foi aprisionado no harém do rei, tornando-se um “canário”. Após várias tentativas de fuga, conseguiu escapar e morreu em Qi.
Todos esses episódios haviam sido omitidos no livro. Só depois de conhecer Su Xin pessoalmente foi que Shen Mu se lembrou deles.
Naquele momento, um sino soou no centro do salão, e a atenção de Shen Mu foi imediatamente atraída pelo som.
Ao se virar para o centro do salão, Shen Mu viu um jovem de figura elegante dançando ao som da música. Em suas mãos e pés, havia guizos dourados amarrados com finos cordões vermelhos. O rosto do rapaz estava coberto por um véu, mas seus traços ainda eram levemente visíveis. Seu corpo era esguio, porém não frágil, extremamente flexível. Vestia apenas um saiote claro, cortado na altura do abdômen, e sua cintura se destacava de forma marcante enquanto dançava.
Ao contrário dos demais dançarinos, que permaneciam confinados aos limites do salão, o jovem continuou sua dança subindo degraus, até chegar à parte mais alta e girar a cintura bem diante dele e de Xiao Fan.
Franzindo a testa de forma inconsciente, Shen Mu não conseguiu evitar olhar duas vezes para o rapaz — e não estava de bom humor.
Naquele momento, um criado do palácio começou a servir a comida. Ah Qing pegou a bandeja das mãos da donzela do palácio e arrumou os pratos com cuidado, respeitando as preferências de Shen Mu. Só então se curvou e se retirou.
Enquanto os pratos eram servidos, Shen Mu notou que, embora Su Xin fosse um “canário” criado pela Nação de Yu, o mensageiro ao seu lado não se atrevia a tratá-lo com o mínimo desrespeito.
Nem sequer ousava pedir às donzelas do palácio que o servissem e, ao vê-las se aproximarem, ficou tão atordoado que sequer as saudou, limitando-se a recolher os pratos e pedir que Su Xin escolhesse os que desejava, acenando para que retirassem o restante.
Su Xin continuava do mesmo jeito de antes — corpo sem vida, cílios longos caídos, olhando a mesa cheia de pratos, mas hesitando em mover os hashis.
Assim que os olhos de Shen Mu se desviaram do corpo de Su Xin, ele se deparou com o olhar escuro de Xiao Fan.
— Não olhe para ele.
Um sorriso surgiu nos cantos dos lábios de Shen Mu, que assentiu com doçura. E então, com o resto do olhar, passou a observar o jovem que continuava dançando ao ritmo da música instrumental a poucos passos dali.
Shen Mu também semicerrrou os olhos para Xiao Fan e, acompanhando seu tom, falou em voz baixa:
— Você também não pode olhar.
À vista de todos, os dois trocavam palavras silenciosas, como se não houvesse mais ninguém ao redor, aproveitando-se do fato de que o palco não permitia ver com clareza os rostos das pessoas.
O ambiente à mesa era bastante harmonioso — até que um grito repentino de espanto rompeu a tranquilidade.
Su Xin, que permanecera em silêncio o tempo todo, começou de repente a tossir descontroladamente, pressionando com força um lenço de seda branco contra os lábios.
Com a tosse, era possível ver um leve traço de sangue.
Seus traços bem-feitos se contraíam com força, o rosto tomado pela dor, enquanto o corpo magro tremia como se fosse desmaiar a qualquer momento. O autor do grito alarmado foi o próprio mensageiro.
No meio daquela tosse quase dilacerante, o enviado do Reino de Yu se levantou às pressas e lançou a Xiao Fan um olhar cheio de desespero.
Embora os demais oficiais à mesa não soubessem exatamente o que estava acontecendo, sabiam que não deviam subestimar a pessoa sentada à frente de Shen Mu. Assim, quando Xiao Fan ordenou que todos se retirassem, trocaram olhares curiosos — mas nenhum deles ousou desobedecer ao comando do Imperador.
Os médicos chegaram apressados após receberem a ordem de fazê-lo. A primeira coisa que fizeram foi levar Su Xin para o sofá macio que havia atrás do biombo, para que descansasse, e logo vários médicos se aglomeraram ao redor, procurando formas de tratá-lo de todas as maneiras possíveis.
Havia um leve cheiro de sangue no ar. Shen Mu franziu a testa de onde estava, observando as figuras em movimento através da tela. O som da tosse dolorosa e abafada de Su Xin podia ser ouvido de vez em quando.
Na verdade, Shen Mu poderia ter saído com os outros funcionários, mas, por alguma razão, apesar de ser a primeira vez que se viam, quando encontrou o olhar cansado de Su Xin, um inexplicável sentimento de pena surgiu de repente em seu coração. Assim, ele entrou na sala, mas permaneceu atrás do biombo, sem se aproximar.
Quando finalmente a tosse cessou, os médicos saíram pela porta lateral, provavelmente para informar Xiao Fan e os enviados do Reino Yu sobre os ferimentos de Su Xin.
O silêncio tomou conta da sala, com Shen Mu e Su Xin em lados opostos do biombo.
Shen Mu se apoiou na parede por um momento e soltou um longo suspiro, com sentimentos misturados. Estava prestes a contornar o biombo e sair, mas, quando o fez, viu o homem que pensava estar desmaiado apoiado na cama. Seu rosto estava pálido, os olhos firmemente fechados e seus lábios, que haviam perdido a cor, estavam tingidos de sangue, o que lhe dava um pouco mais de vida.
O som dos passos de Shen Mu alcançou os ouvidos de Su Xin. Lentamente, ele abriu os olhos e se encontrou com os olhos escuros de Shen Mu. Após um breve momento em silêncio, a mente de Su Xin se acelerou. Shen Mu decidiu ficar. Parado a alguns passos de distância, tomou a iniciativa de falar.
— Como está?
Su Xin sorriu suavemente, não tão indiferente como Shen Mu esperava, mas com a suavidade de uma brisa primaveril. Tentou falar, mas não conseguiu respirar por um momento, suas mãos murchas se agarraram à manta com força. Seu corpo se arqueou incontrolavelmente como uma garra, ofegando sem controle, o peito subindo e descendo dramaticamente, e sua garganta emitindo uma respiração áspera e pesada.
Vendo que Su Xin estava prestes a perder o fôlego, Shen Mu se adiantou quase instintivamente para segurar os ombros de Su Xin, temendo que, se caísse, ele seria responsável por algo que não conseguiria suportar.
Sem hesitar, levantou a mão e deu algumas palmadinhas nas costas dele para tentar suavizar sua respiração. Estava prestes a falar e chamar os médicos, quando Su Xin o interrompeu.
— Não, está bem, não há necessidade de chamar ninguém — Su Xin continuava lutando para respirar, seu ofegar era pesado e pouco promissor, mas insistiu em não deixar Shen Mu chamar mais ninguém. — Não quero que essa gente entre.
O corpo de Su Xin tremia muito, mas sua respiração começou a se acalmar. Shen Mu finalmente seguiu o conselho dele e não gritou por ajuda, apenas permaneceu paciente ao lado da cama. Esperou em silêncio até que a respiração de Su Xin se acalmasse e a força em suas mãos diminuísse, antes de sussurrar uma desculpa.
— Não importa, é um problema antigo. Espero não ter te assustado.
Su Xin se endireitou, o rosto ainda quente e sorridente, olhando para a manga de Shen Mu que estava amassada devido ao aperto apertado. Em vez disso, seu tom era algo apologético.
— Desculpe se causei algum problema a você e à Sua Majestade.
— Não, não causou. Fui eu quem foi rude primeiro — Shen Mu percebeu rapidamente o título que Su Xin usou para se referir a si mesmo e aproveitou a oportunidade para tocar no assunto. — O Senhor Su é de Da Qi?
Su Xin sorriu e assentiu em reconhecimento, mas logo um vestígio de tristeza inevitável cruzou seus olhos.
— Minha mãe é de Qi, mas é a primeira vez que estou aqui.
— O que o Senhor Su acha de Da Qi?
— É muito bonito e as pessoas são muito hospitaleiras.
A Su Xin parecia gostar muito do lugar, e, embora fosse a primeira vez que se encontravam, parecia que já eram amigos de longa data, sem grande desconforto na troca de palavras.
O tom de sua voz era franco.
— Eu teria gostado de ficar mais tempo.
Shen Mu se sentou na cadeira de madeira ao lado da cama, observando o rosto doente de Su Xin e lembrando-se de onde ele finalmente morrera, de acordo com o livro.
As comissuras de seus lábios desenharam um sorriso forçado.
— Se quiser, pode ficar na capital o tempo que quiser. Farei o possível para ser um bom anfitrião.
— Dizem que o Regente é um homem implacável e difícil de lidar. Mas hoje, percebi que não é bem assim.
Um toque de surpresa cruzou seu olhar, mas foi rapidamente substituído pela doçura e serenidade. Su Xin esboçou um sorriso suave, as sobrancelhas se arqueando, e toda a sua presença parecia muito amigável.
—Talvez porque nossos caminhos sejam algo semelhantes. Quando te vi, também senti uma sensação de afeto.
Enquanto falava, Su Xin levantou a mão e acariciou a manta, mostrando um pulso branco como a neve. Os olhos de Shen Mu desceram inconscientemente, e quando viu o círculo incomparável de cicatrizes em seu pulso, suas pupilas se contraíram ferozmente.
No pulso branco e níveo do homem havia uma cicatriz claramente acumulada ao longo de muito tempo, resultado de anos de cativeiro.
Então, o rei de Yu, que estava a 10.000 milhas de distância, havia encarcerado Su Xin no palácio durante muitos anos, como dizia o livro.
Neste momento, Shen Mu compreendeu por que sentia compaixão por Su Xin. Embora ele tivesse ficado por vontade própria, tanto ele quanto Su Xin poderiam ter que passar uma longa temporada no palácio.
Não sabia se Su Xin já estivera tão disposto a ficar com o Rei de Yu como ele, mas Shen Mu podia perceber que Su Xin não estava bem agora. Então, mais do que sentir pena de Su Xin, Shen Mu estava realmente preocupado com a situação que ele poderia enfrentar algum dia.
Após um momento de silêncio, Su Xin tomou a iniciativa e falou.
—O Senhor Regente não deve se preocupar. Eu tenho culpa do meu atual estado de mal-estar. Não é certo fazer generalizações — Sorriu no final de seu discurso, e suas palavras foram vagas — Eu mereço sofrer, não deve… Não duvide do seu amante por isso.
O assunto de repente tomou uma direção inesperada, e Shen Mu olhou abruptamente para Su Xin, sem saber o que dizer por um momento. Ao contrário de Su Xin, ele era alguém que havia lido a trama do livro original e naturalmente conhecia sua situação. Mas Su Xin era diferente, e para ele Shen Mu era apenas uma figura que vivia nos rumores, ou melhor, nos maus rumores.
Su Xin mal levantou os olhos durante todo o banquete, mas foi capaz de perceber sua relação com Xiao Fan com bastante precisão. Dado que já havia descoberto e foi ele quem tomou a iniciativa de oferecer uma rama de oliveira a Su Xin para se comunicar, Shen Mu não quis encobrir.
Ele estava preocupado com outra questão — Ainda tenho curiosidade. Com o talento e os conhecimentos do Senhor Su, por que está preso?
Um sorriso amargo se curvou em seus lábios. Quando Su Xin estava prestes a falar, ouviu passos vindo do exterior, seguidos por Xiao Fan, que entrou empurrando, e o mensageiro do Reino Yu, que estava logo atrás dele.
Quando viu Shen Mu e Su Xin, que estavam conversando calmamente na sala, o mensageiro de Yu mostrou um rastro de surpresa e espanto em seu rosto. Cumprimentou Shen Mu com medo e apreensão, tagarelando sobre se ele estava bem.
Naquele momento, Su Xin voltou à indiferença e ao desapego que havia mostrado durante o banquete. Baixou as sobrancelhas e não respondeu às palavras do mensageiro, nem mesmo olhou uma segunda vez para Shen Mu.
Por outro lado, Xiao Fan foi muito mais simples e brutal, dando dois passos à frente e puxando o pulso de Shen Mu, para depois tirá-lo sem protestar.
A única coisa que pendia do céu era uma lua prateada.
O caminho de volta ao palácio Ming Cheng não era longe, mas as normas do palácio eram tão rígidas que não se permitia às pessoas vagarem à noite. Por isso, quando Xiao Fan conduziu Shen Mu de volta ao palácio, eles não encontraram ninguém.
Sem lhe dizer que estava atrás do biombo, Shen Mu pensou que o jovem teria outro ataque como o que teve durante o dia. Não esperava que Xiao Fan se limitasse a segurá-lo em silêncio, até diminuindo o ritmo de seus passos.
Ao ver que ele demorava para falar, Shen Mu se incomodou um pouco e tomou a iniciativa — O que o médico disse?
—O corpo de Su Xin já estava enfraquecido, e não se sabe quanto tempo ele ainda pode durar — O tom de Xiao Fan era tranquilo. Não fez nenhuma pergunta, mas segurou com mais força a mão de Shen Mu e perguntou suavemente — Você está com frio?
Depois de ouvir as palavras de Xiao Fan, o coração de Shen Mu se sentiu um pouco pesado. Então negou com a cabeça, disse que não estava com frio e não falou mais nada. Xiao Fan também não fez mais perguntas.
Os dois retornaram ao Palácio Ming Cheng em silêncio.
A noite estava fria, mas Shen Mu se sentia muito aquecido dentro do palácio. Xiao Fan havia mandado alguém colocar fornalhas de carvão na sala antes de voltarem, e quando chegaram, o ambiente estava agradável.
A sala estava em silêncio, Shen Mu olhou para trás e viu Xiao Fan se despojando da capa de costas para ele.
Ele se dirigiu à estante e pegou um livro aleatório, disposto a ir até o sofá para ler um pouco, quando ouviu Xiao Fan falar de repente.
—Su Xin é diferente de você.
Shen Mu parou, e viu Xiao Fan se virar com uma expressão séria no rosto, avançando em sua direção com passos firmes.
—Pase o que passe, nunca te farei mal.
Shen Mu compreendeu o que Xiao Fan queria dizer.
Su Xin havia fugido do Reino Yu para Qi e se escondido após chegar à capital. Quando Shen Mu ouviu pela primeira vez a troca de palavras entre Xiao Fan e o mensageiro fora do estúdio imperial, ouviu o mensageiro pedir a Xiao Fan que rastreasse Su Xin. Era lógico que Xiao Fan soubesse da experiência de Su Xin e o que acontecera com ele.
Ao ver que Shen Mu ainda não dizia nada, Xiao Fan deu um grande passo em direção a ele, levantou as mãos e as colocou ao redor de seu corpo. Olhando seriamente para o rosto dele, falou novamente com voz grave:
—Você se preocupa que eu te trate mal? ZiNian, você não é Su Xin. — Xiao Fan murmurou seu nome repetidas vezes, com os olhos cheios de amor e piedade — Se eu não te dei segurança suficiente, peço desculpas. Mas você precisa acreditar nos meus sentimentos por você.
Shen Mu estava dividido em seus sentimentos.
Naturalmente, ele não duvidava do afeto de Xiao Fan por ele, e sua compaixão por Su Xin também era algo espontâneo. Embora fosse verdade que havia uma preocupação em seu coração que não conseguia apagar completamente.
Mas naquele momento, ele se sentiu muito sortudo. Não eram tanto as palavras que Xiao Fan lhe disse, que eram como palavras de amor, mas sim a frase: “Você não é ele.”
Ele não era Su Xin, e Xiao Fan não era aquele homem.
—Naturalmente, eu acredito em você — Shen Mu deixou o pergaminho em sua mão e tomou a iniciativa de levantar a mão para envolver o pescoço de Xiao Fan, sussurrando em seu ouvido — Estou feliz.
Feliz por você gostar de mim.
E por eu também gostar de você.
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Cap 47. Su Xin
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O regente que abdicou após a transmigração
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No livro, ele era tão poderoso que tentou transformar o novo imperador em uma...