Capítulo 128
Sob a luz branca do teto do carro, após remover a camisa de Lu Lin, a marca roxa-azulada ficou particularmente evidente.
Yan Heqing apertou a mão antes de usar um cotonete embebido em pomada de ervas para aplicar o medicamento.
Lu Lin não conseguia ver a ferida, mas podia sentir a dor. Ele supunha que a marca fosse visível. De costas para Yan Heqing, não conseguia ver sua expressão, então olhou para o retrovisor.
No espelho, o jovem mantinha a cabeça levemente abaixada, ainda impossibilitando ver sua expressão.
Yan Heqing de repente ergueu a cabeça: “O osso está doendo?”
Lu Lin não respondeu. Levantou levemente os braços para vestir a camisa, mas sem abotoá-la, e virou-se para abraçar Yan Heqing firmemente.
“O senhor e Lu Lin têm laços de sangue, e mesmo assim o senhor considera que o ‘Lu’ dele é diferente do seu.”
As palavras anteriores de Yan Heqing ocupavam sua mente.
Este conflito com Lu Changcheng, ele não havia revelado a ninguém. Lu Changcheng poderia ter contado a Lu Han, e talvez a Lu Muchi. Dentre os três, apenas Lu Muchi poderia ter mencionado isso a Yan Heqing.
Mas isso também não o convencia.
Meio mês atrás, Lu Muchi sequer sabia que ele e Yan Heqing se conheciam. Supondo que os dois conversassem sobre ele, a probabilidade de discutirem esse assunto ainda era mínima.
Se Lu Muchi não contou a ele, como Yan Heqing ficou sabendo?
Lu Lin tinha uma forte sensação de que o passado de Yan Heqing era ainda pior do que ele sabia até agora, caso contrário, sua retaliação contra os credores não seria tão intensa.
Esse era o maior segredo de Yan Heqing.
O abraço de Lu Lin apertou-se ainda mais, com tanta força que os ossos de Yan Heqing doíam. Yan Heqing pensou que Lu Lin estivesse sofrendo com a dor nas costas e tentou descer do carro: “Está muito dolorido? Vamos tirar uma radiografia—”
Lu Lin puxou-o de volta, descansando o queixo na curva do pescoço dele e fechando os olhos: “É só um ferimento leve, não é nada. Só preciso te abraçar um pouco.”
Yan Heqing sentiu a emoção angustiada de Lu Lin e retribuiu o abraço.
Mas ele pensou que fosse por causa de Lu Muchi e Lu Changcheng.
Assim como quando ele despertou e descobriu que Lin Fengzhi usava seus olhos para amar e permanecer com Lu Muchi, assim como quando soube que o incêndio em casa veio de Lin Fengzhi.
Ele sentiu as mesmas emoções.
As emoções de Lu Lin já eram muito mais estáveis que as suas, e ainda assim ele havia escolhido Yan Heqing com firmeza.
Através da janela marrom do carro, Yan Heqing olhou para as luzes distantes. Ele havia decidido manter seu despertar de consciência enterrado para sempre em seu coração.
Ele não precisava da pena de ninguém, nem queria ser visto como uma aberração.
Contar aos outros que este era um mundo dentro de um livro, e que para sobreviver, ele enfrentou proativamente aqueles que o machucariam no futuro.
Que absurdo.
Nem mesmo ele poderia garantir que, se não tivesse experimentado isso, acreditaria.
Agora ele havia mudado de ideia.
Lu Lin acreditaria.
Lu Lin acreditaria incondicionalmente em cada palavra sua, por mais absurda que fosse.
Yan Heqing tomou sua decisão e soltou Lu Lin: “Lu Lin—”
Sua voz foi interrompida pelo som de vibração.
Lu Lin estava recebendo uma ligação.
Ele pegou o telefone. Era Lu Han. Lu Lin acariciou o cabelo de Yan Heqing e atendeu.
Lu Han falou ansiosamente: “Ah Lin, encontramos a esposa e o filho de Yan… Shengbing.” Ele estava desorientado. “Foi realmente a família Cheng que os enviou para longe! Interceptamos na entrada da rodovia, o que fazemos agora?”
Lu Lin respondeu calmamente: “Traga-os ao hospital.”
“Tudo bem, vou avisá-los agora.” Lu Han ia desligar, mas parou. “Lu Muchi já está no quarto, não é? Por que você… você não desce aqui? Sétimo andar, pai ainda está na sala de emergência, estou inquieto.”
Lu Lin desligou o telefone e começou a abotoar a camisa: “Descanse um pouco no carro, vou subir para ver.”
Yan Heqing não estava cansado nem com sono.
Ele entendia claramente que Lu Lin o trouxera ao hospital porque sabia que ele queria entender a situação. Agora, não o deixava subir porque já havia descoberto a informação e não queria que ele enfrentasse os membros da família Lu, mesmo que atualmente fosse apenas Lu Han.
Yan Heqing não quis dificultar para Lu Lin e assentiu: “Me chame se precisar.”
Lu Lin voltou ao hospital. No sétimo andar, Lu Han andava para lá e para cá. Ao ver Lu Lin, reagiu como se visse um salvador: “Xiao Chi…” Seus olhos brilhavam com lágrimas, já tendo recebido as notícias do mordomo. “Ele realmente ficará paralisado?”
Lu Lin assentiu. Lu Han primeiro se recusou a acreditar, depois virou a cabeça e cobriu o rosto, chorando baixinho.
Lu Lin esperou que terminasse de chorar antes de dizer: “Não conte a mamãe.”
Lu Han sabia agora que a família Cheng estava relacionada ao acidente, então sua raiva contra Yan Heqing havia diminuído um pouco. Mas ainda estava insatisfeito que Lu Lin se preocupasse apenas com Lu Ruchan – seu pai estava na sala de emergência, seu sobrinho com paraplegia de alto nível, e Lu Lin não demonstrava preocupação. No entanto, como dependia totalmente de Lu Lin agora, concordou a contragosto.
Pouco depois, a porta da sala de emergência se abriu. O coração de Lu Han subiu à garganta, mas ele não se atreveu a se aproximar: “Ah Lin, vá perguntar…”
Lu Lin adiantou-se e conversou brevemente com o médico. Uma enfermeira saiu empurrando Lu Changcheng, que ainda não havia acordado, mas aparentemente havia sido salvo. Lu Han então foi segurar a mão de Lu Changcheng, acompanhando-o até o quarto.
Zhao Huilin e Yan Feng foram trazidos ao hospital, e Lu Changcheng acabara de acordar.
Lu Changcheng lutou para se levantar: “Rápido, mande-os entrar!”
Lu Han apressou-se em ajudá-lo: “Pai, não se exalte.” Então virou-se para instruir o mordomo: “Rápido, traga-os aqui!”
O mordomo saiu por um momento e logo voltou trazendo Zhao Huilin e Yan Feng.
As calças de Yan Feng estavam completamente molhadas, exalando um odor fétido. O mordomo fechou a porta e afastou-se um pouco.
Yan Feng agarrava-se firmemente à borda da roupa de Zhao Huilin, escondendo-se atrás dela. O coração de Zhao Huilin batia aceleradamente desde que foram colocados no carro. Sem saber o que havia acontecido, primeiro protegeu Yan Feng com firmeza, depois ergueu a cabeça nervosamente. Estava tão tensa que sua visão estava turva, não conseguindo distinguir claramente Lu Changcheng e Lu Han, mas quando seu olhar caiu sobre Lu Lin, seus olhos se arregalaram.
“Você é—”
O chefe que veio ver a casa!
Zhao Huilin não ousou continuar, olhando para Lu Lin com espanto e incerteza.
Lu Changcheng normalmente se irritava com qualquer cheiro desagradável, mas agora ignorou completamente o odor de urina que impregnava o quarto. Seu rosto, com manchas de idade mas bem cuidado, contorcia-se incontrolavelmente. Suportando a dor, perguntou: “Fale! Quem deu as ordens?”
Yan Feng tremia ainda mais. Zhao Huilin rapidamente o abraçou com força e baixou a voz: “Do que vocês estão falando? Não entendo.”
“Yan Shengbing está morto,” disse Lu Lin.
Zhao Huilin imediatamente abriu a boca, com lágrimas jorrando de seus olhos. Sua voz subiu várias oitavas: “O que você disse?!”
Lu Lin não discutiu com ela: “Yan Shengbing bateu o carro contra alguém e morreu na hora.”
Zhao Huilin ficou aterrorizada com essa reviravolta. Yan Shengbing bateu o carro em alguém? Ela baixou o olhar para as duas pulseiras de ouro em seu pulso.
Este movimento não escapou aos olhos de Lu Lin, que continuou: “A pessoa que ele atingiu, você conhece: Lu Muchi.”
Desta vez, Zhao Huilin ficou completamente paralisada de medo: “Eu não sabia de nada, meu filho menos ainda…”
Lu Lin não lhe deu chance de respirar: “Já chamei a polícia. Eles determinarão se vocês sabiam e não relataram.”
“Senhor! Eu realmente não sabia!” Zhao Huilin mal teve tempo de processar a notícia da morte de Yan Shengbing quando se viu em um pânico ainda maior – ela e Yan Feng seriam implicados! Quase chorando, disse: “Yan Shengbing não voltava para casa há muito tempo. Só hoje alguém que disse ser amigo dele veio nos buscar para jantar. Não acusem pessoas inocentes, não teríamos coragem de matar ninguém!”
“De onde vieram as pulseiras?” perguntou Lu Lin.
Zhao Huilin apressou-se em tirar as pulseiras de ouro, jogando-as longe: “Yan Shengbing as comprou na semana passada, eu não sabia de nada! Ele estava bêbado, mas sem fazer alvoroço, e me trouxe duas pulseiras de ouro. Disse que tinha cinco milhões e que não temia mais ninguém, ele…”
Ela abraçou Yan Feng e começou a chorar descontroladamente: “Ele enlouqueceu, como ousou bater em alguém? Isso vai nos destruir…”
Lu Changcheng ouviu por um momento, sentindo calafrios por todo o corpo. Por meros cinco milhões! Eles arruinaram seu neto! Sua pressão arterial estava subindo novamente, seus olhos vermelhos de sangue: “Foi a família Cheng?”
Zhao Huilin balançou a cabeça: “Não sei, realmente não sei…”
Nesse momento, Lu Lin pegou as pulseiras de ouro, examinando-as: “Nome da loja.”
Zhao Huilin também tremia. Mordendo os lábios, mencionou o nome de uma loja.
Desta vez, sem precisar que Lu Lin lembrasse, Lu Changcheng imediatamente ordenou a Lu Han: “Rápido, descubra qual cartão ele usou!”
Em menos de meia hora, chegou a informação: o cartão pertencia a um homem chamado Zhang Hua, secretário de Cheng Jian.
Lu Changcheng estava furioso. Mandou todos saírem e contatou um velho amigo na delegacia.
Desta vez, ele faria Cheng Jian apodrecer na prisão!
Depois de saírem, ninguém deixou Zhao Huilin e seu filho ir embora. Ela percebeu que Lu Lin estava no comando e, relutantemente, perguntou: “Se-senhor, podemos ir agora?”
Antes que Lu Lin pudesse responder, Lu Han explodiu: “Seu marido tentou assassinar meu filho, que agora está paralisado. Vocês são parentes do criminoso e não vão a lugar nenhum! A polícia já está chegando.”
Zhao Huilin não ousou argumentar. Puxou Yan Feng e ficaram encostados na parede, sem falar.
Sua mente estava em turbilhão. A inicial dificuldade de aceitar havia passado; ao ouvir que Lu Muchi estava paralisado, sentiu-se até aliviada. Com Yan Shengbing morto, tudo acabaria. Ela já ouvira falar de pessoas paralisadas que, incapazes de suportar o tormento, se suicidavam. Mas conhecia bem Yan Shengbing – ele não tinha dignidade e, desde que pudesse viver, se agarraria à vida, apenas para atormentá-la e a Yan Feng pelo resto de suas vidas.
…
Lá fora, o dia começava a clarear. Lu Lin voltou ao carro.
Yan Heqing estava dormindo, encolhido no banco traseiro, coberto por uma manta fina. Lu Lin entrou suavemente no carro e inclinou-se para beijar seus olhos.
Os cílios de Yan Heqing tremeram e ele abriu os olhos. Sua visão gradualmente focou no rosto de Lu Lin. Apoiando-se no braço, tentou se levantar, sua voz ainda sonolenta: “Como está seu pai?”
“Acordou.” Lu Lin o ajudou a se levantar, segurando suas costas, e resumiu sucintamente as palavras de Zhao Huilin.
Yan Heqing entendeu: Lu Lin havia subido propositalmente para, na frente de Lu Changcheng, conduzir Zhao Huilin a implicar Cheng Jian.
Agora Lu Changcheng faria Cheng Jian pagar cem vezes mais.
Ele não precisava mais fazer nada.
Yan Heqing baixou o olhar para a mão de Lu Lin, onde o dedo anelar exibia uma aliança igual à sua. Ele segurou aquela mão firmemente: “Estou com fome.”
Lu Lin levou Yan Heqing para comer macarrão com carne fora do hospital.
Pediram o prato familiar, com muita carne. Quando terminaram, Lu Han ligou novamente: “Ah Lin, volte rápido, Xiao Chi acordou, ele…”
No fundo, ouviam-se os gritos angustiados de um homem.
No quarto de hospital, Lu Muchi tentava tocar suas pernas, mas só tinha sensibilidade acima da cintura. Um braço estava dormente, apenas o outro conseguia se mover um pouco, mas não o suficiente para alcançar as pernas. Sua voz saía da garganta, terrível e pungente: “Aaaah, minhas pernas, minhas…”
Não conseguia formar frases completas.
Lu Changcheng chorava de dor por ele, cobrindo seus olhos para que não olhasse: “Está tudo bem, não tenha medo, o avô está aqui…”
“Pernas…” Lu Muchi percebeu algo. Sua cabeça se movia violentamente, um gosto de ferrugem subindo pela garganta: “Onde estão minhas pernas…”
Nesse momento, a porta foi aberta.
Lu Changcheng ergueu a cabeça e viu que Yan Heqing também havia chegado. Furioso, gritou: “Saia daqui! Você não tem permissão para entrar!”
Lu Muchi subitamente se acalmou. No instante seguinte, debateu-se ainda mais violentamente: “Me matem…” Ele implorou a Lu Changcheng, chorando: “Vovô, deixe-me morrer…”
Lu Changcheng quase gritou: “Lu Han! Feche a porta!”
Lu Han aproximou-se, olhou para Lu Lin e então fechou a porta.
De dentro vinham lamentos cada vez mais angustiados. Yan Heqing virou-se para Lu Lin, prestes a falar, quando este de repente colocou dois fones de ouvido em seus ouvidos.
Então ele viu os lábios de Lu Lin formarem as palavras: “Não ouça.”
Ao mesmo tempo, nos fones, tocava uma música.
[The winds blew up her bow dipped down Oh Blow my bully boys blow Huh Soon may the Wellerman come To bring us sugar and tea and rum] …
Wellerman.
A música que ele fizera Lu Lin ouvir pela primeira vez.
Naquela ocasião, ele estava insinuando a Lu Lin que era como aquela baleia ferida, querendo viver, querendo resistir aos marujos do navio.
Agora Lu Lin fazia com que ele ouvisse.
Pedindo que ele não escutasse os gritos.