Capítulo 3
No dia anterior àquele incidente, Yan Heqing encontrou Lu Muchi pela primeira vez.
Enquanto voltava para o dormitório após a aula, um Mercedes entrou sem cerimônia no campus, bloqueando seu caminho.
O vidro do carro desceu, revelando um homem na casa dos 20 anos no banco do motorista.
Ele analisou Yan Heqing de cima a baixo, como se estivesse avaliando um produto à venda.
No banco do carona havia outra pessoa.
Yan Heqing já o conhecia. Era um aluno do terceiro ano do curso, chefe do departamento de relações públicas, que uma vez visitara o dormitório para divulgar atividades.
“Ah Chi,” o rapaz disse com um tom bajulador, “não é impressionantemente parecido?”
O homem murmurou um indiferente “Hum” em resposta, enquanto seus olhos continuavam a percorrer Yan Heqing.
Após alguns segundos, ele tirou um cigarro e o colocou na boca, falando lentamente: “Trezentos mil por ano. Que tal dormir comigo?”
O rosto de Yan Heqing ficou pálido. Embora sua pele já fosse naturalmente clara, a humilhação nas palavras do homem trouxe ao branco de sua pele um tom de desespero.
Ele sentiu nojo.
Mas sabia que aquele era alguém que ele não podia ofender. Um homem rico, com poder suficiente para dirigir dentro do campus e para que outros o bajulassem.
Era alguém que ele simplesmente não podia confrontar.
“Você procurou a pessoa errada.”
Yan Heqing virou-se e saiu.
Atrás dele, ouviu uma risada abafada e o som de um isqueiro.
“Nós vamos nos encontrar de novo,” Lu Muchi disse.
Agora, era a segunda vez.
E as cenas que antes pertenciam apenas a um romance cruel estavam começando a tomar forma na realidade.
As imagens desumanas e degradantes que ele havia lido estavam prestes a acontecer, vivas e palpáveis.
O peso daquela antecipação começou a se manifestar fisicamente. Os olhos de Yan Heqing ardiam, sua pele parecia formigar, e cada centímetro de seu corpo parecia avisá-lo da dor que estava por vir.
Mas ele sabia, no fundo, que não havia verdadeira empatia no mundo. A dor que sentia agora era apenas uma fração ínfima do que estava prestes a enfrentar.
Uma onda esmagadora de dor e ódio tomou conta de Yan Heqing. Ele sabia que o caminho à sua frente, a estrada de sua vida, só tinha uma direção:
Antes que eles o ferissem, ele os destruiria sem piedade. Antes que infligissem dor, ele a devolveria cem vezes pior.
Yan Heqing apertou os dedos em um punho, depois os soltou. Seus longos e finos dedos estavam frios, quase translúcidos.
Seus olhos castanhos claros encontraram o olhar invasivo de Lu Muchi, e ele respondeu com calma: “Eu não vou.”
Zhao Huilin, completamente seduzida pelo dinheiro, estava abaixada, recolhendo as notas espalhadas pelo chão com um sorriso que ia de orelha a orelha. “Ah, Qingqing, o Jovem Mestre Lu veio te buscar, você—”
“Ah!”
O grito dela ecoou quando o sapato de couro de Lu Muchi pisou em sua mão sem hesitação.
Lu Muchi não mudou a expressão enquanto entrava na casa, caminhando diretamente até Yan Heqing. Ele desabotoou um botão da camisa, agarrou a gola de Yan Heqing e o empurrou contra a janela da varanda, mantendo um sorriso casual nos lábios.
“Se você prefere fazer aqui, por mim tudo bem.”
Yan Shengbing e Yan Feng saíram do quarto sem entender o que estava acontecendo. Yan Shengbing, ao ver o chão coberto de dinheiro e não reconhecendo Lu Muchi, pensou que fosse um ladrão. Ele tirou um dos chinelos e avançou em direção a ele. “Seu desgraçado! Eu vou—”
Antes que pudesse terminar, um guarda-costas treinado entrou pela porta. Com movimentos ágeis, ele jogou Yan Shengbing no chão, imobilizando-o com um golpe nas costas e torcendo um dos braços para trás.
Yan Shengbing ficou estirado no chão, o rosto pressionado contra o piso. Suas mãos estavam completamente imobilizadas, e ele começou a gritar de dor: “Solta! Solta, seu bastardo! Solta… ai!”
Yan Feng, paralisado de medo, não ousou se mexer.
Zhao Huilin, ignorando a dor na mão, correu até Lu Muchi, suplicando: “Jovem Mestre Lu, por favor, não—”
Estalo!
Um tapa seco ecoou. Lu Muchi, com um movimento rápido, atingiu Zhao Huilin no rosto. Sua bochecha esquerda inchou imediatamente, lágrimas escorrendo enquanto ela tentava segurar o choro, sem coragem de protestar.
O que estava acontecendo ali?!
Lu Muchi olhou para o guarda-costas com irritação no rosto. “Você tem um desejo de morrer? Me siga!”
O guarda-costas desviou o olhar, hesitando. “Foi ordem do senhor…”
Lu Muchi engoliu as palavras, reprimindo a irritação. Ele voltou a encarar Yan Heqing e, com os olhos sombrios, rosnou: “Já decidiu? Vai vir comigo ou prefere aqui mesmo?”
Yan Heqing, sem qualquer expressão, tirou o celular do bolso, exibindo a tela que mostrava a ligação para o número da polícia, 110.
Ele segurou o celular junto ao ouvido, olhando diretamente para Lu Muchi, e disse com tranquilidade: “Você ouviu bem? O endereço é…”
Os olhos de Lu Muchi brilharam com surpresa, mas logo ele começou a rir. Primeiro com uma risada baixa, depois alta, dobrando-se ao meio enquanto segurava a barriga. Ele parecia achar aquilo incrivelmente divertido, até lágrimas se formarem nos cantos dos olhos.
Parecia que havia encontrado algo verdadeiramente interessante.
Encostando-se preguiçosamente à porta da varanda, Lu Muchi cruzou as longas pernas, tirou uma cigarreira do bolso do sobretudo, acendeu um cigarro e o levou aos lábios.
“Tudo bem.”
Ele soltou a fumaça lentamente, formando um anel no ar. “Eu espero com você.”
“E eles?” Ele riu levemente. “Também vão esperar comigo?”
A pergunta foi direcionada aos seguranças.
Os guarda-costas, percebendo que aquele homem estava furioso, abaixaram a cabeça e deram um comando firme: “Voltem para o quarto.”
Um deles soltou Yan Shengbing.
Yan Shengbing, agora apavorado, não ousou questionar. Chamou Zhao Huilin, num tom bem mais baixo: “Você vai me ajudar a voltar para o quarto ou não?”
Zhao Huilin, mais que ansiosa para sair da situação, enfiou as notas de dinheiro no bolso da calça de dormir e correu até ele.
Yan Shengbing era tão obeso quanto Yan Feng, e Zhao Huilin, sozinha, não conseguia levantá-lo. Desesperada, gritou: “Fengfeng, venha ajudar!”
Yan Feng permaneceu parado, sem se mexer. Zhao Huilin, preocupada, olhou para ele e percebeu uma mancha úmida evidente na perna da calça do garoto.
Aos 12 anos, Yan Feng ainda não conseguia segurar a urina.
Zhao Huilin suspirou, dividida entre a pena e a exasperação. Agarrando Yan Shengbing com esforço, puxou também Yan Feng e arrastou os dois para o quarto.
Os seguranças desapareceram tão silenciosamente quanto haviam chegado.
No ambiente, o único som era o estalo do isqueiro de Lu Muchi.
A porta da frente estava aberta, deixando o vento frio entrar sem trégua. Yan Heqing continuava imóvel, o corpo frágil parecendo que poderia ser derrubado a qualquer momento.
Lu Muchi também permaneceu em silêncio. Depois de toda a confusão, ele havia perdido o interesse inicial, mas agora algo diferente o intrigava.
Brincando com o isqueiro entre os dedos, ele observava Yan Heqing através das espirais de fumaça.
Ao olhar com atenção, era evidente que Yan Heqing não era tão parecido com Lin Fengzhi quanto parecia à primeira vista.
Lin Fengzhi era delicado, quase frágil, com uma doçura que fazia as pessoas quererem protegê-lo. Ele era emotivo, chorava facilmente, mas também se acalmava rapidamente com um doce, e seu sorriso revelava uma pequena covinha.
Já Yan Heqing tinha traços mais marcantes, uma beleza quase agressiva, e um olhar frio que nunca parecia relaxar em um sorriso. Ele sequer tinha covinhas, ou ao menos nunca as mostrara.
Fechando o isqueiro, Lu Muchi falou com um sorriso preguiçoso: “Sorria para mim, e eu deixo você em paz esta noite. Que tal?”
Yan Heqing o ignorou completamente.
Não demorou muito para que os policiais chegassem: um mais jovem e outro mais velho.
O mais novo lançou um olhar aos dois homens na sala e perguntou: “Quem chamou a polícia?”
“Fui eu.” Yan Heqing começou a caminhar em direção à porta.
No momento em que passava por Lu Muchi, ele segurou o braço de Yan Heqing com força. “Eu não gosto que as minhas coisas cheguem perto de outros homens.”
Ele jogou o cigarro no chão. “Aqui mesmo, eles podem ouvir.”
Yan Heqing sabia que, fisicamente, não era páreo para Lu Muchi. Não desperdiçou energia lutando, apenas assentiu para o policial mais jovem e disse: “Foi ele. Invadiu a casa no meio da noite.”
O jovem policial parecia incerto e olhou para o colega mais velho em busca de orientação.
O policial mais experiente observava Lu Muchi desde que entrara. Algo nele parecia familiar. Finalmente, ele perguntou: “Qual é o seu nome?”
“Lu Muchi,” respondeu ele, sem pressa.
A expressão do policial mais velho mudou sutilmente.
Ah, então era isso. Não era de admirar que ele parecesse familiar. Era o Lu Muchi, da poderosa família Lu.
Após tomar o depoimento de Yan Heqing, o policial fez o mesmo com Yan Shengbing e Zhao Huilin. Naturalmente, os dois negaram qualquer acusação, sorrindo e dizendo que Lu Muchi era filho de um amigo da família e estava apenas visitando. Segundo eles, Yan Heqing estava apenas fazendo birra.
Com essa versão, os policiais nada puderam fazer além de tentar mediar a situação antes de sair.
Quando a porta finalmente se fechou e o som dos passos dos policiais desapareceu, o vento frio continuava a entrar pela casa. No rosto de Yan Heqing, finalmente, surgiu um traço de desespero.
Lu Muchi riu. Aquele era o momento que ele esperava: esmagar e destruir a esperança de Yan Heqing, bem na frente dele. Para Lu Muchi, isso era muito mais interessante do que satisfazer simples desejos carnais.
Com a ponta do sapato, ele esmagou o cigarro no chão e disse, num tom de deboche: “Se tivesse concordado antes, teria poupado esforço. Agora, perdeu sua chance.”
Sem mais palavras, Lu Muchi agarrou Yan Heqing e o arrastou para fora.
Yan Heqing era leve, magro demais, e Lu Muchi o puxou sem dificuldade pelas escadas.
Dentro do quarto, Zhao Huilin e Yan Shengbing escutavam tudo nervosos atrás da porta. Quando finalmente ouviram Lu Muchi indo embora, relaxaram.
Yan Shengbing esfregava o braço, que quase havia sido deslocado. “Desgraçado, até que enfim foi embora!”
Zhao Huilin, por sua vez, começou a tirar a calça molhada de Yan Feng, chorando copiosamente. “Meu filho querido, não se preocupe. Vamos trocar logo isso…”
Do lado de fora, no estacionamento, Lu Muchi abriu a porta do carro e estava prestes a empurrar Yan Heqing para dentro quando ele falou:
“Eu tenho uma condição.”
O olhar de Lu Muchi ficou gélido.
Sempre a mesma coisa.
Ele já havia encontrado pessoas como Yan Heqing antes. Gente que, por ainda não ter sido conquistada, tentava aumentar seu valor na última hora.
Toda a curiosidade que Lu Muchi começara a sentir por Yan Heqing desapareceu. “Fale.”
Sob as luzes irregulares dos postes, o rosto de Yan Heqing era parcialmente iluminado. A outra metade estava mergulhada na escuridão, difícil de ler, difícil de entender.
O vento frio do final do outono cortava o ar, e Yan Heqing, vestindo apenas roupas finas, tinha os lábios azulados pelo frio. Com a voz baixa e firme, ele disse:
“Encontre meu irmão mais novo.”
Yan Heqing sabia que naquele momento, chamar a polícia não funcionaria. Nada havia acontecido ainda.
Ele estava representando.
Fazendo Lu Muchi acreditar que ele estava cedendo, recuando. Mas ao mesmo tempo, preparando-se para usar a maior fraqueza de Lu Muchi contra ele: seu amor por Lin Fengzhi.
Os olhos de Yan Heqing, frios como vidro, encararam Lu Muchi. “Tenho um irmão mais novo perdido desde a infância. Se você encontrá-lo, eu aceito.”
Por um instante, o olhar desprezível de Lu Muchi mudou para algo mais complexo.
Ele já havia investigado o passado de Yan Heqing e sabia que ele era, na verdade, irmão gêmeo de Lin Fengzhi.
Lin Fengzhi, adotado pela família Lin, havia ficado gravemente doente e perdido todas as memórias de sua infância, incluindo a existência de seu irmão.
As famílias Lu e Lin eram aliadas de longa data. Lu Muchi, aos 10 anos, já sabia que Lin Fengzhi era adotado.
Se Lin Fengzhi recuperasse a memória e descobrisse que Lu Muchi havia dormido com seu irmão biológico…
Os dedos de Lu Muchi, que agarravam o braço de Yan Heqing, se afrouxaram lentamente.
Após um momento de silêncio, ele arrancou o celular de Yan Heqing e o enfiou no bolso do casaco. “Eu vou pensar. Se quiser o telefone de volta, me procure.”
Lu Muchi entrou no carro, fechou a porta e partiu.
Na calma da madrugada, o condomínio estava silencioso. Yan Heqing encostou as costas machucadas contra a parede da varanda, sentindo uma leve dor que ele ignorou completamente enquanto planejava seus próximos passos.
Ele sabia que usar a mesma arma muitas vezes faria com que ela perdesse o efeito. Precisava de algo mais poderoso.
A imagem de uma pessoa veio à sua mente.
Alguém que aparecia pouco, mas era crucial para toda a história.
O tio mais temido de Lu Muchi, e o primeiro amor de Lin Fengzhi.
Lu Lin.