Capítulo 12

A semana se passou arrastando. Hayato tentava a todo momento ficar animado com o encontro de domingo, e até conseguia, mas era só lembrar que não poderia comprar a novel de sua escritora favorita no dia se lançamento que voltava a ficar desanimado. Ele sentia que estava falhando como fã.

E também sentia que estava falhando como namorado. Ele estava divido, mas no fundo sabia que Shin era mais importante do que o livro de uma pessoa que ele nem sequer conhecia pessoalmente.

Em casa, ele tentava ao máximo evitar seu pai. E dava certo, pois o velho parecia fazer o mesmo. Foi no meio de tudo isso que o domingo chegou. De manhã, Shin havia mandado uma mensagem. Local de encontro, horário e tipo de roupa, estavam informados.

Próximo ao meio-dia e meio, Hayato se arrumou. Calça jeans básica, camiseta de manga curta verde e sem estampa, o tênis de sempre e um casaco fino de manga longa preto, que ele usou aberto. Shin havia dito pra ele ser casual, não tinha como ele ser mais casual que aquilo.

Ele foi ao ponto de encontro, um parque próximo de casa. Shin já havia chegado, e ele estava diferente. Vestia uma calça preta, uma camiseta com uma estampa branca que pareciam três rasgos, tênis preto e um casaco xadrez preto e branco, que usava amarrado na cintura.

O rosto dele se iluminou ao avisar Hayato.

— Você está tão bonito. — disse ele, quando se aproximaram. Hayato ficou surpreso. Era a primeira vez que Shin dizia algo do tipo.

— Você acha mesmo? — ele podia sentir seu rosto quente. Ser elogiado, ainda mais pela pessoa amada, é o melhor.

— É claro. Você é lindo. Eu apenas precisava de coragem pra dizer. — o rosa suave que pintou a pele de Shin parecia uma cerejeira desabrochando pela primeira vez.

— Ah, Shin! — antes de perceber, Hayato rodeou Shin em seu um abraço. — Você é tão adorável. Tenho vontade de pegar você e não deixar ninguém chegar perto.

— Ninguém mesmo? Nem Aika? — estar em um relacionamento era ter confiança entre os dois lados. Hayato fez uma brincadeira confiando que Shin continuaria, e ele o fez.

— Talvez eu abra uma exceção para Ai-chan. Mas só pra ela.

— Se é o que diz. — Shin sorriu, ainda no abraço. — Vamos indo?

****

Hayato havia passado a semana se perguntando onde Shin o levaria. Zoológico havia passado pela sua cabeça, mas como o da cidade estava fechado ele logo descartou a possibilidade.

A placa dizendo que estava fechado ainda estava ali e Hayato, morrendo de curiosidade e sem entender nada, seguiu Shin até a entrada de funcionários. Hayato ficava cada vez mais chocado, ficou ainda mais quando Shin tirou a chave do bolso e entrou.

— Shin, como que você conseguiu isso? — perguntou Hayato, hesitando ao o seguir. Lá dentro estava muito escuro.

— Eu faço bicos aqui as vezes. Ah e no aquário da cidade também. — Hayato sentiu a mão de Shin se entrelaçar a sua. Ele foi o puxando pelo escuro.

— Com quantos animais você trabalha? — Hayato sabia que Shin tinha talento com gatos e cachorros, mas estes eram animais domésticos e com certeza não estariam em um zoológico.

— Com todos. Fui eu que ensinei os golfinhos do aquário.

— Não brinca! Aqueles golfinhos foram campeões de competições. — ele havia assistido a competição pela tv.

— Difícil de acreditar né? — Shin gargalhou.

Eles por fim sairam do escuro e logo estavam na área dos animais. E Hayato ficou instantaneamente encantado.

****

Os animais adoravam Shin. Ele tinha o passe de segurança e com isso os dois entraram na jaula dos animais. Hayato ficou morrendo de medo. Mas os animais realmente amavam Shin.

Quando eles foram ver as girafas, elas bagunçaram os cabelos de Shin e de Hayato. Quando foram ver o gorila, eles os ergueu do chão. Quando foram ver os ursos pardos, eles os abraçaram. Quando foram ver o casal de lobos e sua ninhada, eles foram lambidos.

Shin ainda havia dito que Kuro e Shiroi ficariam com ciúmes depois. Hayato nunca havia se divertido tanto em um único dia. Surpreendentemente, eles não tiveram problema com nenhum animal. E Hayato sabia que era apenas por causa de Shin.

A visita aos macacos foi confusa, mas divertida. Hayato e Shin foram usados como árvores. Quando visitaram o castor, eles quase caíram na água.

Mas o incrível mesmo foi quando visitaram os leões. Esses eram os animais favoritos de Hayato.

— Os leões são os seus favoritos, por isso deixei eles pro final. — disse Shin.

— Você lembrou? — eles apenas haviam conversado vagamente sobre coisas assim.

— É claro que lembrei. Se é sobre você eu vou me lembrar de tudo. — o modo como a solitária estrela na íris de Shin parecia brilhar, o rosa suave de suas bochechas que combinava com o tom dos lábios pequenos e macios, estes que se abriam em um sorriso unicamente para Hayato e por fim, o raio de sol que atravessou as folhas de uma árvore que estava próxima e iluminou ainda mais todo aquele cenário encantador.

Foi com aquele único e solitário raio de sol que Hayato pode ver o azul escuro que residia nos olhos de Shin.

— O que foi? — e então Shin estava ali, na ponta dos pés, sua mão esquerda apoiada no ombro de Hayato enquanto sua direita tocava seu rosto. — Está tudo bem?

E então, Hayato estava abraçando Shin. Seus braços rodearam a cintura fina de Shin, apertando por cima da camiseta. Ele o ergueu um pouco, para que pudesse enfiar seu rosto no pescoço de Shin. Ele inspirou fundo, sentindo o cheiro de Shin. Seu pequeno assustadoramente fofo tinha cheiro de noites estreladas.

Hayato não se entendia naquele momento. Ele apenas sabia que queria, não, precisava abraçar Shin. E necessitava de ser retribuído. Mas se ele mesmo não se entendia naquele momento, como poderia esperar que Shin o entendesse? Mas Shin o entendeu, pois o abraçou de volta.

Seus braços pequenos rodearam Hayato. Seus dedos macios, que sempre estavam sujos com material de pintura, se embrenharam nos cabelos de Hayato. Ele o acariciou, lento e preguiçosamente, com amor e cuidado.

Hayato havia dito antes que pudesse sequer pensar direito.

— Eu amo você.

Os carinhos de Shin em seu cabelo pararam. Hayato pode sentir o momento em que o coração de Shin errou uma batida, ficando calmo, quase inexistente. Ele não sentia mais a respiração quente de Shin em seu pescoço.

Será que havia sido apressado demais? E se Shin o odiasse? E se não sentisse o mesmo? E se…

O toque de Shin o tirou de seu pânico. A mão que havia recuado agora entrava novamente em seus cabelos. A palma quente de Shin tocava em sua nuca, o acalmando. E então sua voz se fez presente.

— Eu também amo você.

Hayato o abraçou mais forte e foi retribuído. Os dois jovens corações batiam acelerados e sincronizados. Sim, aqueles dois se amavam.

Podia ser recente, podia acabar a qualquer momento, podia ser apenas o amor de dois jovens. Mas esse era o X da questão. Era amor. O que havia ali era puro amor.

E apenas isso. Eles se amavam e isso era tudo que havia.