Capítulo 3

Hayato não sentia medo. Mas, ao ser encarado por alguém alto, não que fosse baixinho, como Zen era mais do que óbvio que se sentiria desconfortável. Ele estava de braços cruzados, esperando uma resposta de Hayato.

 

— Por que quer saber? — indagou Hayato.

 

— Eu perguntei primeiro.

 

— E eu não me importo. Diga logo ou vamos ficar o dia todo nisso.

 

— É, acho que você tem razão. — uma parte de Hayato dizia que aquele cara era um idiota. — Shin é alguém muito importante pra mim e eu não quero ver ele magoado.

 

— Falando sério, qual a relação de vocês dois?

 

— Nós somos melhores amigos. Nós nos conhecemos literalmente desde sempre e também somos vizinhos. Ah, e eu também vou ser o cunhado dele, já que amo Akira. Ah e as nossas mães eram melhores amigas.

 

— Eram?

 

— Opa, território proibido. Eu já contei porquê me preocupo com Shin, agora é a sua vez. Por que se aproximou dele?

 

— Honestamente, no início foi porque o professor pediu. Mas depois….

 

— Depois?

 

— Eu decidi ficar. Sabe, acho que estou me apaixonando por Shin.

 

— Mas fazem só dois dias desde que você está falando com ele!

 

— E desde quando precisa de determinado tempo pra se apaixonar? — questionou Hayato.

 

— Você tem razão. — concordou Zen. — Sabe, eu gostei de você. Espero que possamos nos tornar amigos. Você tem mimha aprovação para namorar Shin.

 

— Obrigado?! — Hayato não tinha certeza se deveria agradecer por aquilo. — Mas também espero que sejamos amigos. Você parece um cara legal.

 

— Que bom. Então, vamos indo? — sugeriu Zen.

 

— Ir pra onde? E mais você não tem atividades de clube?

 

— Nós vamos espiar o Shin.

 

— Você tem uma vipe meio stalker sabia? — disse Hayato, mas apesar disso ele seguiu Zen.

 

Durante o caminho eles conversaram sobre coisas banais. Até o assunto ir parar em Shin.

 

— Shin é muito dedicado em sua família. Ele trabalha pra ajudar nas despesas e ainda ajuda em casa. — contou Zen.

 

— Ele realmente é incrível. Zen, mais cedo você disse que sua mãe e a de Shin eram melhores amigas. Por que escolheu a palavra ‘eram’ ao envés de ‘são’?

 

— Ah, os pais de Shin morreram em um acidente de carro há uns dois anos.

 

— E você não vê problema em me contar isso? — Hayato praticamente gritou essas palavras.

 

— Ah, Shin não se importa. A escola inteira ficou sabendo quando aconteceu. Você não sabia mesmo?

 

— Não. Há dois anos eu não tinha entrado no ensino médio.

 

— Ah, é verdade. Shin e eu somos mais velhos que você. Bem, mas ele realmente não se importa.

 

Silêncio perdurou entre os dois. Até Hayato o quebrar.

 

— O motivo pelo qual Shin ficou afastado da escola….. — começou ele. — Qual foi?

 

— Shin estava no carro com seus pais. Os meses afastados foram pra se recuperar dos ferimentos. — o tom de Zen se tornou melancólico. — Ele tem algumas cicatrizes pelo corpo.

 

— Eu não imaginava.

 

— Bem, ninguém imaginava. Sabe, Shin realmente é uma pessoa incrível. Ele já trabalhava antes do acidente, e ele quase não toca na herança deixada por seus pais. Ele também não pede ajuda e acho que ele nem precisa.

 

— Isso não desgasta ele?

 

— Pior que não. É que ele não está sozinho sabe? Ele, Akira e Aika são muito unidos. Os três irmãos vivem se ajudando pra que nenhum deles fique com uma carga muito pesada.

 

— Entendo. Realmente escolhi alguém incrível pra me apaixonar. Você acha que os irmãos de Shin vão gostar de mim?

 

— Acho que sim. O problema mesmo é a Shiroi.

 

— Shiroi?

 

— Sim. A gata preta de Shin. Ela é muito ciumenta.

 

— A gata é preta?

 

— Sim.

 

— E o nome dela é Shiroi?

 

— Isso.

 

— Foi Shin quem escolheu o nome?

 

— Uma brincadeira legal né?

 

Hayato suspirou. E olhando para frente, ele viu Shin.

 

— Olha. — ele mostrou o alvo para Zen. A partir daí, eles começaram a se esconder. Eles seguiram Shin por um longo tempo.

 

Hayato fez muitas caretas quando Shin foi trabalhar com um gato, pois era evidente que a dona do felino tinha uma queda por Shin.

 

Depois, Shin passou por um pet shop pra cuidar de cachorros e depois ele praticamente saiu correndo depois de atender uma ligação.

 

Os dois stalker’s o seguiram. Surpreendendo os dois, Shin foi para uma sorveteria. Ele se encontrou com um homem desconhecido. Zen o conhecia pois fez careta pra ele.

 

— Quem é? — perguntou Hayato.

 

— Um dos clientes de Shin. O problema é que ele se declarou pro Shin faz um mês.

 

— Heh?!

 

Hayato deu uma boa olhada de onde estava. O cara parecia ser bonito e pelo jeito era um estudante universitário. Hayato se corroeu de ciúmes conforme Shin conversava com o cara e tomava um sorvete.

 

Zen precisou o segurar quando os dois saíram da sorveteria e caminharam juntos. Eles foram até um bairro residencial. Shin esperou na porta conforme o cara entrava pra buscar algo lá dentro.

 

Hayato e Zen observavam aquilo com um bico de raiva. E suas bocas se escancararam quando Shin começou a sorrir quando o cara voltou. Mas eles logo se acalmaram, pois Shin estava sorrindo para o cachorro que o rapaz trazia na coleira.

 

Era um pitbull, branco e com uns cinco meses de idade. Shin fez carinho nele sorrindo para o cão. Depois, ele pegou a guia e a mochila que o cara oferecia.

 

Hayato e Zen se esconderam atrás de uma árvore quando Shin passou por eles. Ele deu apenas alguns passos, levando o pitbull pela guia.

 

— Vocês dois vão continuar me servindo como guarda-costas? — perguntou ele em voz alta.

 

— Você sabia? — perguntou Hayato saindo e puxando Zen.

 

— Zen sempre fura as atividades do clube pra me seguir. Não achei que ele fosse arrastar você junto. — explicou Shin. — Vamos indo?

 

Os três seguiram em silêncio. Zen roubou a mochila da escola de Shin e Hayato roubou a outra que foi dada pelo cara.

 

— O que aquele cara te deu? — perguntou Hayato, tentando disfarçar o ciúmes. Pelo sorriso besta na cara de Zen, parecia que ele estava falhando.

 

— Ah, são as coisas do Kuro. — disse Shin.

 

— Kuro? — perguntaram os outros dois em sincronia.

 

— Sim, ele. — Shin apontou para o pitbull.

 

— Quem escolheu o nome? — perguntou Zen.

 

— Eu. — respondeu Shin.

 

— Imaginei. — refutaram os dois, juntos novamente.

 

— Então, vai ficar com as coisas de Kuro para o treinamento? — supôs Hayato.

 

— Quase isso! — disse Shin. — Kuro agora é meu.

 

— Como assim? — a sincronia de Zen e Hayato estava ficando perfeita.

 

— O dono dele está viajando para a América e não poderia levar o Kuro. Então ele perguntou se eu poderia ficar com ele e eu aceitei. — explicou Shin.

 

— Tem certeza que ele não está apenas se mudando por causa do fora que você deu nele? — questionou Zen.

 

— Então por que ele me daria o Kuro?

 

— Pra fazer aquelas histórias clichês de “anos depois ele voltou para ver seu antigo pt e antigo amor, e então ambos se apaixonaram” ou algo assim.

 

— Você ta usando drogas, Zen? De onde tirou isso? — perguntou Shin.

 

— Que maldade, Shin. — o resto do caminho foi repleto de brincadeiras. Hayato os acompanhou até as casas de ambos. Zen logo se despediu, devolvendo a mochila de Shin.

 

Um clima meio estranho brotou entre Shin e Hayato.

 

— Você está estranho! — constatou Shin. — O que aconteceu? Zen fez algo estranho?

 

— Não é isso, é que…. Como eu posso explicar isso?

 

— Hayato…. — Shin se assustou quando Hayato virou com tudo pra ele. Haviam tantos sentimentos naqueles olhos verdes. — O que foi?

 

— Quando, eu vi você sorrir…. Eu…. — começou Hayato. — Eu pensei que fosse para aquele cara e eu fiquei, fiquei com muita raiva e outra coisa.

 

— Eu estava sorrindo para Kuro, não pro….

 

— Eu sei disso. — cortou Hayato. — Eu sei disso, mas…. Ai eu não sei.

 

— Você…. ficou com ciúmes? — sugeriu Shin.

 

— Ciúmes?

 

— Sim.

 

— É, acho que é isso.

 

— Ciúmes significa que você tem medo de perder algo. Se você sentiu ciúmes de mim, significa que você tem medo de me perder? — Shin perguntou aquilo totalmente corado. Ele nem sabia porquê havia perguntado.

 

— Não sei o que é sentir medo. Mas eu sei que não quero que você sorria pra outras pessoas.

 

— Quer meu sorriso só pra você?

 

— Sim. Quero ele e todo o resto.

 

Shin sorriu para aquilo, e então ele estava sendo abraçado. O cheiro da colônia que Hayato usava o envolveu junto ao seus braços. Shin, com o rosto enfiado no peito de Hayato, pode sentir perfeitamente o cheiro de brisa no verão.

 

Ele retribuiu o abraço. Shin sempre havia odiado o fato de ser baixinho, mas ao ser abraçado por Hayato, ele amou aquele fato sobre si. Ele parecia se encaixar perfeitamente nos braços do maior.

 

Hayato se afastou, mas ainda manteve suas mãos nos ombros de Shin. O coração de ambos batia forte, com algo que só poderia ser começo de paixão.

 

— Você tem cheiro de noites estreladas. — disse Hayato.

 

— Essa tipo de cheiro existe?

 

— Bem, eu acho que sim. Pelo menos é assim pra mim.

 

— Bem, pra mim você tem o cheiro de uma brisa de verão.

 

— Nossas interpretações não são normais. — Hayato riu, seguido por Shin.

 

— Tem razão. Hayato, você quer jantar na minha casa esses dias? Podemos marcar.

 

— Quero, mas com uma condição.

 

— Qual condição?

 

— Quero que você me apresente como seu namorado.

 

— Heh?!

 

Pânico. Era o que definia a mente e o coração de Shin. Pânico puro, total e assustador.

 

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Shiroi significa branco em japonês.

 

Kuro significa preto em japonês.