Capítulo 5
Faziam cerca de duas semanas que Hayato e Shin estavam juntos. Durante esse tempo, ambos se conheceram melhor. Fosse com coisas que gostavam de comer ou pequenas manias.
A cada dia que passavam juntos, Hayato se encantava mais. Ele descobriu que Shin não era tão tímido, apesar de ainda não terem se beijado. Shin também era ótimo contando histórias.
Hayato havia pegado uma certa paixão por observar Shin enquanto este desenhava. E era o que estava fazendo agora.
Os dois estavam sentados contra uma árvore de um parque, Shin desenhava e conversava com Hayato enquanto esperava pelo cliente do dia.
Hayato quase não conseguia prestar atenção na conversa pois estava encontado com os traços de Shin no papel. A arte de Shin era extremamente realista. No momento, ele desenhava as árvores do parque.
O desenho estava sendo feito apenas na base do lápis, mas era formidável.
— Está tudo bem, Hayato? — perguntou Shin.
— Sim, desculpe. Estou distraído com o desenho.
— Quer tentar?
— O que? Desenhar? Eu?
— É.
— Não. Eu não levo jeito pra coisa.
— Só precisa de prática.
— Certo, mas eu ainda prefiro apenas observar.
— Hmm…. Ah, o cliente chegou. — antes de se levantar, Shin deixou um beijo na bochecha de Hayato. — Eu já volto, okay?
Hayato apenas pode confirmar com a cabeça. Ele sentia-se muito orgulhoso do fato de Shin gostar de o tocar. Na escola, ele estava sempre fugindo do contato com outras pessoas.
Então quando ele mesmo buscava o contato com Hayato, este se sentia muito feliz. Ele ficou observando conforme Shin ensinava á um golden retriver e seu dono pequenos comandos básicos.
Shin havia dito que aquela seria a primeira aula do cão, mas o golden seguiu os comandos perfeitamente. No entando quando foi a vez do dono o cão pirou de vez. Ele não obedecia nada e Shin foi forçado a intervir.
Após um período ensinando truques, Shin deixou que o cachorro corresse pelo parque com outros cachorros. O dono parece não ter gostado e iniciou uma discussão com Shin. Hayato estava ao seu lado rapidamente. Ele não sabia se poderia ser útil, mas queria oferecer apoio a Shin.
— Qual a necessidade de deixar ele correr livre? Eu contratei você pra ensinar ele a obedecer e não pra brincar. — ladrava o homem.
— É necessário que ele se divirta durante o treinamento. Caso contrário, ele não vai reagir bem nas próximas vezes. — explicou Shin.
— Eu não me importo se ele se diverte ou não. Estou pagando você pra ensinar ele e….
— Com todo respeito, senhor. — se intrometeu Hayato. — Acredito que você deveria ouvir as palavras de Shin.
— Quem é você pra opinar? — ralhou o velho.
— Quem está opinando em algo que não sabe é você. — retrucou Hayato. — Este é o trabalho de Shin e posso garantir que ele sabe o que faz.
— Senhor, acho que o que você quer é um treinamento militar. — apontou Shin. Tentando evitar que a discussão crescesse.
— Militar? — disseram o velho e Hayato.
— Sim. Me deixe mostrar. — Shin soltou um assobio alto e em questão de minutos Kuro estava ali. O pitbull branco parou bem ao lado de Shin, sentando-se com a postura rígida. — Kuro é meu cão há duas semanas mas eu o treinei desde que tinha apenas um mês.
— E o que ele sabe fazer? — o velho estava visivelmente interessado.
— Tudo que um cão de policia ou do exército faz. — Shin listou rapidamente as habilidades que havia ensinado para Kuro e as que estava ensinando. Até mesmo Hayato ficou de boca aberta.
— É exatamente isso que quero que ensine para Akemi. — então esse era o nome do golden. Da golden, no caso.
— Akemi já está muito velha para aprender desse jeito. Ela já tem dois anos e o mais provável é que ela não aprenda do mesmo modo que Kuro. — explicou Shin, novamente. — Eu aconselho que fique apenas com os truques.
— Qual a graça de ter um cão que não lhe obedeça? — o velho era teimoso.
— Senhor, se quiser um cão com o mesmo treinamento de Kuro é melhor adotar um filhote e passar Akemi para uma família que realmente cuide dela. — sugeriu Shin. Hayato o conhecia bem o bastante para saber que ele estava perdendo a paciência.
— É isso mesmo que farei. Shinkai, estarei entrando em contato em breve. — avisou o velho. — Cuide bem de Akemi.
Ele havia ido embora em questão de segundos. Shin apenas suspirou.
— O que foi que aconteceu aqui? — perguntou Hayato.
— Ele a abandonou, apenas isso. Velho desgraçado. — disse Shin. Ele chamou Akemi com um assobio. — Ele batia nela.
— Como você sabe? — perguntou Hayato, se abaixando ao lado de Shin para observar Akemi chegar.
— O comportamento dela. Ela tem medo dele. — explicou Shin, fazendo carinho nas orelhas da cachorra. — Acho que foi o melhor que ele não ficasse mais com ela.
— Você não se preocupa com o filhote que ele vai adotar?
— Vou fazer questão de ficar por perto. Tenho a impressão que ele batia nela, não como maltrato, mas como forma de ensinar. Muitos donos tentam ensinar seus bichinhos batendo ao envés de procurar profissionais. Então ele não vai bater no filhote se ele for bem ensinado.
— Entendo. Você é incrível, Shin.
— Por que isso agora? — o rosto dele estava corado.
— É que você percebeu tantas coisas com apenas um encontro. Me pergunto o que você sabe de mim!
— Hmm. Não conto.
— Então você sabe. — constatou Hayato, surpreso. Aquilo havia sido apenas um chute.
— Bem…. Você é meu namorado. É meio óbvio que eu fosse prestar atenção em você.
— Ah, Shin, você é tão fofo. Posso beijar você?
— Não. Estamos em público.
— Então vamos nos esconder. Assim ninguém nos vê.
— Não.
— Por quê? — Hayato não estava chateado, apenas curioso. — Em, Shin. Você não quer me beijar?
— Q-quero.
— Então por que não me deixa te beijar?
— É que….. É meu…. Meu primeiro beijo. E eu tenho medo de fazer algo errado. Por isso eu estive estudando a teoria. — Shin só faltava virar um morango de tão vermelho que estava. Hayato achou aquilo absurdamente fofo.
— Você já está pronto pra me beijar? — perguntou Hayato, calmamente.
— Ainda não. Preciso de preparação.
— E se trocarmos apenas selinhos por enquanto? — sugeriu Hayato.
— Selinhos? — será que Shin não sabia o que era?
— Sim. Apenas um encostar de lábios. Como um beijo na bochecha só que nos lábios. — foi a melhor forma que Hayato achou de explicar sem entrar em detalhes. — Quer experimentar?
— Quero. Mas não agora. Kuro e Akemi estão olhando. — Hayato teria pensado que era apenas uma desculpa se os cães realmente não estivesse olhando.
Os dois estavam literalmente encarando o casal. Kuro estava com os olhos azuis bem presos neles enquanto Akemi praticamente babava com a língua pra fora.
— O que vai acontecer com Akemi? — perguntou Hayato. Mostrando a mão para a cachorra, que se permitiu ser afagada.
— Eu queria levar ela pra casa. Mas não posso aparecer com mais um cachorro lá em casa. E Akemi não pode ir pra qualquer família.
— E se eu pegar ela pra mim?
— Heh?
— Adotar ela. Eu sempre quis um cachorro. Fora que se eu adotar ela, você vai poder ver ela sempre. Ao contrário se ela ficasse com outra família.
— Você….. Você fala de mim, mas nem repara em você. — brigou Shin.
— O que você quer dizer?
— Você que é incrível, Hayato. — a forma com que Shin simplesmente soltou aquele elogio fez com que Hayato corasse. A voz de Shin dizendo seu nome era simplesmente perfeita. Os olhos carinhosos, o rosto rosado e o sorriso leve no rosto de Shin foram como um tiro no coração de Hayato.
Mas o que realmente o matou foi o beijo que Shin deixou no canto de seus lábios. Foi rápido e leve como uma pluma. Mas foi o bastante para que Hayato guardasse a textura macia em sua mente. E para que o desejo de mais surgisse.
****
Hayato levou uma grande bronca ao chegar em casa. Havia simplesmente levado uma golden retriver de dois anos para casa sem avisar nenhum dos pais.
Sua mãe quase o havia expulsado de casa junto com a cachorra. Mas após Hayato implorar e prometer lavar a louça do jantar todas as noites sua mãe finalmente o deixou ficar com Akemi.
Claro que ele também recebeu muitas ameaças para cuidar bem da cachorra. Por sorte Shin já havia lhe dado uma grande lista de instruções.
Hayato estava lavando a louça do jantar, como havia prometido, pensando em quando apresentaria Shin a seus pais quando ouviu os mesmos conversando na sala.
— Ela não pode vir. — bradou seu pai.
— Querido, ela é minha irmã.
— Não me importa. Eu não quero gente da laia dela pisando na minha casa.
— O que aconteceu? — perguntou Hayato, indo para a sala.
— A irmã de sua mãe quer vir nos visitar. — disse seu pai.
— E o que tem?
— Ela não é normal. Ela vai ser uma péssima influência pra você.
— Querido, ela apenas…. — sua mãe tentou argumentar, mas cortada pelo marido.
— Sabe o que eu acho disso. Homens foram feitos para ficar com mulheres e mulheres foram feitas para ficar com homens. Nada mais pode existir.
Com aquelas palavras de seu pai, Hayato pode, pela primeira vez, sentir um gosto amargo. Sentir as mãos tremerem levemente e um peso sustentar-se em seu estômago. O que era aquela sensação?
Era paralisante. Angustiante. Hayato não gostava daquilo. Não sabia o que era, mas não gostava. Odiava e repudiava.
Mesmo quando já estava em seu quarto, com Akemi deitada ao seu lado e roncando, aquela sensação ainda não havia ido embora. Assim como as palavras de seu pai, que se repetiam em sua mente como um disco riscado.
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Capítulo 5
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Osoroshiku Kawaii
Medo? O dicionário diz que é um estado afetivo que é instigado pela consciência de perigo. Que é uma ansiedade irracional ou uma apreensão em relação em algo.
Mas não é só isso....