Capítulo 7
Ele corria. Não havia sentido, já que poderia chegar na casa de Shin em menos de cinco minutos andando no ritmo de uma lesma. Mas Hayato sentia que precisava correr.
As palavras de Shin naquela tarde, naquela briga, voltavam a sua mente a todo momento. Que ele não tivesse demorado demais. Que ele ainda tivesse tempo. Que ele ainda fosse de Shin.
Estava ofegante quando por fim parou a frente da casa de Shin. Precisou apoiar as mãos nos joelhos para que não despencasse. A falta de oxigênio o estava deixando tonto, mas ele estava impaciente e estava com medo de ser tarde de mais.
Ele se amaldiçoou. Já passava e muito da meia-noite, Shin deveria estar dormindo. Mas ali estava Hayato, tocando sua campainha. Que os irmãos de Shin não acordassem.
A porta foi aberta e quando Hayato ergueu o rosto para olhar, ele perdeu o fôlego novamente.
— Hayato….? — questionou Shin. Era Shin, mas não era Shin ao mesmo tempo. A pessoa que Hayato encarava era totalmente diferente de seu namorado fofo.
Ele estava assustadoramente sexy. As pernas nuas, a barra da blusa preta chegando até o meio das coxas e a franja negra que caía na frente do olho esquerdo não estava ali. Estava presa com presilhas. Revelando por completo o rosto de Shin.
Hayato já o achava lindo, mas ver ele agora, desde jeito……. Ele tinha uma cicatriz de tamanho médio na temporã esquerda, mas isso não diminuia sua beleza. Apenas a acentuava.
— Hayato, o que está fazendo aqui? — perguntou Shin, ele estava visualmente assustado. O rosto estava corado e ele não tinha certeza se a vergonha que sentia era por suas pernas estarem nuas ou por seu rosto estar visível. — Hayato!
— Ah, eh, hã…. Shin, por favor. — Hayato agarrou os ombros de Shin, olhando fundo naqueles olhos escuros.
— O que foi? O que aconteceu? — Shin não entendia mais nada.
— Me diz que ainda não é tarde de mais. — implorou Hayato.
Primeiro, ele observou o rosto de Shin piscar, surpreso. Depois, um sorriso leve se formou.
— Vamos entrar. — disse Shin. — Isso não é conversa pra se ter na porta de casa.
Hayato apenas concordou. Entrar na casa de Shin para conversar já era uma vitória. Se ele não quisesse olhar na cara de Hayato teria batido a porta em sua cara e o mandado embora.
— Ah, eu meio que esqueci de avisar mas a minha casa é um pouco diferente…. — disse Shin, meio hesitante.
— Como assim? — perguntou Shin, enquanto tirava o sapato.
— Apenas não tenha um infarto.
Hayato apenas entendeu aquilo quando olhou para a casa de Shin. Haviam pinturas nas paredes, personagens de filmes e animes de terror em cada canto. Os móveis também eram decorados com aquela temática e a casa em si parecia um daqueles túneis de susto de parques de diversão.
— É só isso? — perguntou Hayato, tentando não soar rude.
— Eu esqueci que você não é um humano normal quando se trata dessas coisas. — suspirou Shin.
— Heh?
— Esqueça, vamos pro meu quarto. — Shin começou a subir as escadas mas Hayato não o seguiu. — O que foi?
— É que… É o seu quarto. — entrar na casa de Shin era uma coisa completamente diferente de entrar no quarto de Shin.
— E? Você está com vergonha?
— Eu….. não tenho certeza. — sim, ele estava com vergonha.
— Se alguém deveria sentir vergonha aqui, esse alguém sou eu, até porquê é o meu quarto. Vamos logo. — mandou Shin e dessa vez Hayato foi. Ele olhou para trás ao chegar no topo das escadas, bem a tempo de ver as luzes se apagando sozinhas. — Não ligue, foi programado assim.
Hayato apenas concordou. O corredor também possuía uma temática de terror, mas Hayato estava prestando atenção em Shin. Ele observou o menor abrir uma porta e então ele levou uma grande choque.
O quarto de Shin era uma representação da alma do garoto. As paredes eram claras e haviam tiras de tecido verde interligadas por toda a parede. Nelas, haviam folhas de papel penduradas.
Os mais diversos desenhos estavam ali. Havia desenhos de flores, de paisagens e da natureza em geral. Haviam desenhos de animais fofos. Também haviam desenhos do irmão de Shin e de pessoas que Hayato supôs ser o resto de sua família.
Mas o que realmente o deixou chocado foi os desenhos dele ali. Hayato não sabia que Shin o desenhava. Eram desenhos de seu rosto basicamente, mas de todos os ângulos possíveis.
— Você me desenha? — perguntou Hayato, mesmo com a resposta estando bem ali em sua frente.
— Então, o que veio fazer aqui de madrugada? — Shin escolheu mudar de assunto.
— Ah, é verdade. Shin, me perdoe.
— Pelo que? — era claro que ele sabia, mas queria ouvir da boca de Hayato.
— Por esconder coisas de você, por nos afastar, por te deixar preocupado, por te fazer sentir mal, por ser a razão das suas lágrimas. — Hayato estava de joelhos na frente de Shin, segurando sua mão.
— Hayato, o que está fazendo? Levante!
— Não. Eu não vou levantar enquanto você não me perdoar.
— Não posso te perdoar até que me conte tudo.
Hayato se sentiu um besta ao ver que Shin estava coberto de razão.
— Sim, desculpe, vamos conversar.
— Sim, só deixe eu colocar um short.
— Short? — então Hayato desceu seu olhar para as pernas de Shin. Ele estava de costas, pegando algo que quarda roupa. Quando esticou as mãos para cima sua camiseta sumiu um pouco, mostrando a barra da cueca box.
Hayato desviou o olhar antes que fosse pego, ficando de pé. Ele olhou o quarto de Shin. Uma cama de casal encostada na parede, uma mesa de cabeceira ao lado da cama, uma mesa de estudos e uma cadeira giratória compunham os móveis do quarto.
— Pode sentar na cama. — disse Shin, sentando em sua cadeira. Hayato o fez. Um silêncio pairou entre eles.
— Onde está Kuro? — perguntou Hayato, adiando o assunto.
— Está roncando debaixo da cama.
— E Shiroi, sua gata?
— Está dormindo com Akira. Deixei ela lá com ordens pra atacar o Zen caso ele invada o quarto.
— Ah, entendo. Eu te acordei?
— Não, eu já estava acordado.
— Ah….
O silêncio voltou a reinar. Até Shin falar novamente.
— Por que você passou a semana distante de mim?
— Desculpe por isso. Não era minha intenção… Eu só…. Queria me entender.
— Como assim? — Shin tinha muitas suposições, mas a pior delas era que talvez Hayato tivesse desistido de estar com ele. Ele segurou as lágrimas.
— Na semana passada, no dia em que levei Akemi pra casa, ouvi meus pais conversando. — começou a contar Hayato. — Minha mãe tem uma irmã mais nova. Meu pai não gosta dela por ela ser lésbica. E eu não sabia. Ele é extremamente homofóbico e eu fiquei com m-me….me-medo. Do que ele poderia fazer.
— Hayato, eu, desculpe, mas me responda. Você ainda quer estar comigo? Mesmo sabendo que seu pai é assim.
— Meu pai não vai escolher a pessoa que eu vou amar. — Hayato estava decidido. — Eu quero você, Shin.
— Quando você fala desse jeito…. — disse Shin, o rosto corado e as lágrimas presas entre os cílios. — Por que não me contou antes?
— Eu não sei. Eu nunca havia sentido isso, então…. — Hayato deixou a frase no ar.
— Você nunca havia sentido medo? É isso?
— É. Sabe, meu nome é escrito como “corajoso”, então quando minha mãe me ensinou como escrever ele, eu passei a acreditar que tinha que ser sempre corajoso. Então eu nunca havia sentido medo, até agora.
— Que bom que você passou a sentir. Mas como você percebeu que era medo?
— Então, eu conversei com a minha mãe. E ela me explicou. Ah e eu contei de você.
— De mim?
— Sim, da gente.
— Ah, entendo. — o rosto de Shin estava muito vermelho. Ele puxou a presilha do cabelo, soltando a franja.
— Shin, eu posso perguntar algo? — perguntou Hayato depois que Shin parou de ficar vermelho, alguns minutos depois.
— Claro.
— A razão pela qual você usa uma franja no lado esquerdo…. É pra esconder sua cicatriz?
— Hhm, eu acho que sim. — Shin tocou o lugar onde a cicatriz residia. — Mas eu também gosto do estilo.
— Entendo. A forma como você ganhou ela…. — Hayato deixou a frase no ar novamente.
— Foi no acidente que matou meus pais. — respondeu Shin. — Estávamos voltando do hospital, meus pais e eu, quando um motorista que provavelmente estava bêbado perdeu o controle e bateu contra a gente. Nosso carro capotou algumas vezes e, de alguma forma, eu fiquei fora dele. Bem afastado. A última coisa de que me lembro é o carro explodindo, com meus pais dentro, e uma dor forte na cabeça.
— Eu, Shin, desculpe…. Por fazer você relembrar isso.
— Está tudo bem.
— Como tem certeza disso?
— Bem, é que eu não estou sozinho. Eu tenho meus irmãos, Akira e Aika. Eu tenho Shiroi e Kuro. Tenho o besta do Zen. E tenho você.
Shin sorriu. Falar dos pais doia, mas ele não estava sozinho. E as vezes, quando a solidão apertava no silêncio da noite, Shin era capaz de sentir o abraço de sua mãe e um afago do pai.
— Ei, Shin. Sei que não estamos no clima pra isso, mas, será que eu posso te beijar?
— Hayato…
— Desculpe. Desculpe mesmo. Então, será que eu posso ver sua cicatriz? — Hayato mudou de assunto. Ele queria falar de outra coisa para fazer Shin esquecer o pedido de beijo, mas a primeira coisa que veio em sua mente foi a cicatriz.
— Claro. — Shin se levantou e sentou na cama. Na frente de Hayato.
— Tem certeza?
— Sim, é apenas você, Hayato. Então tudo bem.
— Okay….
Hayato tocou o rosto de Shin, sentindo a pele macia e quente. Ele afastou a franja de Shin, a colocando de forma desajeitada atrás da orelha de Shin.
Ele observou a cicatriz, concentrado. Era um corte reto. De alguma forma, ele transformava Shin. A cicatriz parecia o deixar mais bonito. Mas parecia ter sido um corte fundo.
Hayato não percebeu quando se ergueu um pouco, aproximando-se de Shin. Ele beijou aquela cicatriz. Não havia nada em seus pensamentos. Somente a vontade de fazer a dor desaparecer daquele corte.
Quando se afastou, entrou em choque. Lágrimas escorriam pelo rosto de Shin.
— Shin, eu, eu fiz alguma coisa errada? Desculpa! Me perdoa.
— Não, ta tudo bem. Eu, desculpe por te preocupar. Eu só…. Você pareceu notar.
— O que?
— Que o corte dói.
— Dói? Mas já não está cicatrizado?
— Não é aqui que ele dói. — Shin tocou a cicatriz, em seguida, moveu sua mão para o próprio peito. Bem acima do coração. — É aqui.
Hayato abraçou Shin.
— Eu vou beijar está cicatriz até o dia em que ela parar de doer. — prometeu Hayato.
— E se ela nunca parar de doer?
— Então vou beijar ela para o resto de minha vida.
Eles permaneceram no abraço por alguns minutos. Até que se afastaram. Shin olhou para Hayato e então mandou.
— Feche os olhos.
— Por quê?
— Apenas faça.
Então Hayato fez. Possibilidades malucas passaram pela mente de Hayato, mas todas elas morreram quando sentiu que Shin estava muito perto.
Hayato sentiu algo precionar seu lábio inferior. Parecia a ponta fina de uma caneta. Em seguida o frio foi substituído pelo calor. O que antes era a ponta fria da caneta, tornou-se a macies e calor dos lábios de Shin.
Era quente, era acolhedor e era puro. Assim foi o beijo que Shin deu em Hayato.
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Capítulo 7
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Osoroshiku Kawaii
Medo? O dicionário diz que é um estado afetivo que é instigado pela consciência de perigo. Que é uma ansiedade irracional ou uma apreensão em relação em algo.
Mas não é só isso....