Capítulo 8
Era fofo. Isso era o que Hayato sempre pensava quando Shin vinha a sua mente. E era isso que pensava enquanto Shin escondia o rosto na curva de seu pescoço.
Depois que Shin terminou de beija-lo, ele havia se afastado, olhado uma vez para o rosto de Hayato e então corado de forma anormal. Até as orelhas ficaram vermelhas.
Hayato afagava os cabelos de Shin enquanto o sentia tremer com a timidez atacada.
— Eu não acredito no que eu fiz…. — murmurava ele. — Hayato?
— Sim?
— Você…. Você gostou?
— Eu amei.
— Está falando a verdade?
— Sim. E você, Shin? Você gostou?
— S… Sim… — Hayato podia imagina-lo perfeitamente fazendo bico.
— Então eu posso fazer de novo?
— Heh?
Antes que Shin notasse, ele foi encostado em sua parede. Ainda bem que não haviam desenhos pregados ali. Mas não era com isso que ele se preocupava. Era com os lábios de Hayato se aproximando dos seus.
— Posso, Shin? Beijar você de novo?
Shin não encontrava sua voz, então apenas acenou com a cabeça levemente. Hayato encostou os lábios nos seus. E então a ponta de sua língua deslizou, Shin se assustou, mas abriu os lábios.
As línguas se encostaram com timidez. E logo estávamo em um beijo calmo e inocente. Era a primeira vez de ambos fazendo algo como aquilo. Era diferente, mas era bom.
Ao se afastarem, Shin voltou a esconder seu rosto no peito de Hayato.
— O que foi isso? — questionou Shin de forma retórica, o coração trovejando no peito.
— Você odiou? — perguntou Hayato.
— N.. Não.
— Então você gostou?
— Eu não sei. Não me faça perguntas difíceis. — brigou Shin, mas sem brigar de verdade. — Mas e você…. Você gostou?
— Sim. — Hayato sorriu e Shin levantou o rosto para ver. Era brilhante demais. Ele voltou a esconder o rosto em Hayato.
Ele estava pensando no que fazer quando batidas a porta soaram. Akira estava dormindo, então não seria ele. Zen passaria reto e iria para o quarto de Akira. O que só deixava….
— Aika! — exclamou Shin, saindo do abraço. Ele abriu a porta e como esperado ali estava sua irmãzinha. Shinkai Aika tinha apenas quatro anos. A pequena era a cara de Akira. Tinha cabelo castanhos e olhos azuis clarinhos. Shin a pegou no colo. — O que foi pequena?
— Eu não consegui dormir. — respondeu ela com um bocejo no final da frase. A voz infantil estava carregada de sono e os olhinhos azuis estavam quase fechados.
— Por que não veio aqui antes então? — questionou Shin, a voz totalmente amável. Suas mãos faziam carinho nos cabelos castanhos da menina.
— Não queria atrapalhar. — respondeu ela, deitando sua cabeça no ombro do Shin. — Onii-chan?
— Sim?
— Quem é? — Aika apontou para Hayato que estava sentado na cama de Shin, observando a cena.
— É o namorado do Onii-chan. — respondeu Shin. Chocando Hayato, ao mesmo tempo em que o deixava besta de amor.
— Namorado? — repetiu a criança, levantando a cabeça do ombro de Shin e a inclinado para o lado. Do mesmo modo que Shin fazia.
— Sim.
— Hmm…. — murmurou a criança, provavelmente estava com sono de mais para entender o que a palavra queria dizer. — Onii-chan?
— Sim?
— Trabalho…. Você terminou? — Shin pareceu gelar ao ouvir a pergunta.
— Eu vou terminar. Mas por enquanto, apenas durma, okay? — Shin começou a balançar Aika levemente, cantando uma canção de ninar. Hayato observava toda a cena, encantado. Ele tinha certeza de que Shin seria um ótimo pai.
— Você é muito amoroso com seus irmãos. — comentou ele.
— São minha família. — respondeu Shin. — Vou brincar com eles, vou dar bronca quando necessário, vou levar bronca quando precisar, vou ser amável. Isso tudo é parte de ser uma família. Foi assim que mamãe e papai ensinaram.
Shin estava arrumando Aika no meio de sua cama enquanto falava. Hayato estava sentado na ponta. Ele se levantou para que Shin puxasse a coberta e depois se sentou novamente quando Aika estava devidamente coberta.
— Acha que seus pais iriam gostar de mim? — perguntou Hayato.
— Acho que sim. Mamãe provavelmente iria comparar você com personagens de anime que se chamam Hayato. — respondeu Shin se sentando em sua cadeira e pegando o lápis para continuar seus desenhos.
— Por acaso ela era….?
— Sim. Mamãe era otaku.
— Assim como você.
— Acho que está no sangue.
— Você e seus irmãos assistem muitos animes?
— Sim. Nós nos juntavamos para obrigar papai a assistir anime conosco.
— Ele não gostava.
— Ele apenas não tinha vontade de ficar assistindo. Acho que ele assistia apenas para deixar a mamãe feliz. Ah, mas ele era apaixonado por coisas de terror.
— E sua mãe não gostava de terror né?
— Pior que não. Ela amava. Assim como amava shoujo, seinen, shounen, josei e tudo mais.
— Otaku de carteirinha.
— Sim. — Shin riu levemente. Com as bochechas rosadas. Era tão adorável. — E sua mãe? Acha que ela vai gostar de mim?
— Ela vai amar você. Isso é que já não ama. Mas o meu pai….
— Já decidiu o que vai fazer quanto a ele?
— Eu não sei. Desculpe, Shin…. Mas eu…. Eu não quero contar pra ele. — Hayato podia sentir aquela estranha sensação se apoderando dele. Medo, lembrou ele, estava sentindo medo e apenas isso.
— Está tudo bem. Não precisa contar pra ele agora. É normal ter medo. E se assumir pros seus pais não é algo fácil de fazer. — Shin parecia saber exatamente o que fazer para o acalmar.
— Seus pais sabiam?
— Sim. Vou muito difícil me assumir, mas Akira já havia se assumido assexual então eu estava um pouco mais calmo. Ainda lembro da reação dos meus pais.
— Como foi a reação deles?
— Papai me abraçou, dizendo que estaria comigo e que me apoiaria. E mamãe…. — Shin suspirou. — Mamãe disse que eu era o uke.
— Ah…. — Hayato já havia ouvido duas meninas conversando sobre o termo no intervalo, então ele sabia o que era. — Deve ter sido vergonhoso.
— Muito. Mas depois ela me abraçou e disse que bateria em qualquer um que olhasse feio pra mim. — Shin sorriu com a lembrança.
— Isso é incrível. Ei, Shin, estou curioso a respeito de uma coisa!
— O quê?
— Você disse que seu irmão é assexual né?
— Sim.
— Então como ele está em um relacionamento com Zen? Eu não quero ofender…. Eu apenas não entendo.
— É normal não entender. Afinal, não é algo que fazia parte da sua realidade. Bem, vamos dizer que existem algumas “classificações” para pessoas aces. — Shin começou sua explicação. — Não vou citar todos eles já que nem eu entendo muito do assunto. Pelo que eu sei, pessoas aces podem se apaixonar, mas não sentem vontade de fazer sexo. E Akira está apaixonado por Zen. E vice e versa.
— Então é por isso que você ficou com raiva quando Zen invadiu o banho de Akira.
— Sim. Eu sei que ele não vai fazer nada. Mas o banho é um horário sagrado.
— Ah, entendo. — para Hayato, Shin parecia ser o tipo de pessoa que passava horas em una banheira de espuma. — Mudando de assunto. Como você consegue olhar para sua casa a noite?
— Eu não olho. — admitiu Shin, corando novamente. — Aprendi a andar pela casa de olhos fechados. Mas ainda bato em algumas coisas.
— Ah, é por isso que você tem alguns hematomas nas pernas e no seu ombro. — a blusa que Shin usava era larga e o ombro acabou ficando descoberto.
— Pervertido. — acusou Shin, as bochechas vermelhas e infladas como um esquilo.
— Eu, desculpe, Shin. — o rosto de Hayato pegava fogo.
— Tudo bem. — Shin o perdoou. Ele mesmo já havia olhado algumas vezes, mas nunca iria admitir. — Terminei. Agora só amanhã.
— O que estava desenhando?
— Nada de mais. — respondeu Shin. Mas Hayato já estava ali, olhando. Todos eram desenhos de terror. E o traço…. Era igual ao do ilustrador que trabalhava com a Hashimoto Akira-sensei.
— Esse traço….
— Ah, está tarde não é…. Vamos dormir. — Shin quardou os desenhos em uma pasta e se levantou. — Você…. Vai pra casa agora?
— Então né…. — Hayato sentiu o rosto corar. — Eu meio que não trouxe a chave de casa e nem meu celular.
— Você realmente saiu correndo até aqui. — observou Shin, pegando algo do armário. — Está tudo bem se você passar a noite aqui?
— Heh? Ah, claro, mas…. Eu posso?
— Amanhã é sábado mesmo, ou hoje….. Mas você vai dormir no futon.
— Ah, okay. — Hayato não podia acreditar que dormiria na casa de Shin. Quando ele olhou, seu namorado já havia arrumado o futon. — Obrigado.
— Disponha.
— Shin? — chamou Hayato, antes de se deitar.
— Sim? — Shin se virou.
— Posso abraçar você? Abraço de boa noite.
— P-pode.
Hayato se aproximou de Shin, passando seus braços ao redor da pequena cintura e o trazendo para mais perto. Os braços de Shin rodearam suas costas e seu rosto se escondeu em seu peito.
Hayato deixou um beijo no topo da cabeça de Shin, um na cicatriz em sua temporã, um na testa e um nos lábios.
E depois disso, ambos se deitaram para dormir. Hayato no futon e Shin na cama com Aika e Kuro que saiu de debaixo da cama.
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Enquanto isso no quarto ao lado Zen segurava um grito ao ser arranhado por Shiroi, a gata preta de Shin.
— Shiroi-sama, por favor. — implorou Zen. — Eu prometo que não vou fazer nada indecente.
A gata soltou um miado agudo. Que Shin não escutasse. Que Shin não escutasse.
— Vamos fazer assim? Eu te compro o petisco que quiser em? — ofereceu Zen.
Outro miado, mais alto. Era como tentar acariciar um gato arisco.
— Eu te compro literalmente o que quiser. Pode ser? — a gata por fim soltou Zen, que recuou, caindo de bunda no chão. O impacto acordou Akira, que dormia em sua cama.
— Zen? É você? — perguntou Akira, acendendo o abajur e colocando seu óculos.
— Aki, desculpe por te acordar. — Zen conseguiu falar por meio dos gemidos de dor. Shiroi era muito cruel.
— Shiroi te arranhou de novo não? Venha aqui. — pediu Akira, já com uma maleta de primeiro socorros no colo. Zen foi se sentou na frente de Akira que começou a tratar dos arranhados no braço de Zen. Saia sangue de alguns. A cena já era comum. — O que está fazendo aqui tão tarde?
— Eu queria te ver. Não tivemos muito tempo juntos essa semana. Eu estava ocupado com o clube e você com seu trabalho.
— Sim, é verdade. Como vão suas notas na escola?
— Estou indo bem.
— Zen?
— Bem o bastante para passar. — admitiu Zen, corado.
— Tem que se esforçar Zen. Se não por você, então por mim. Se repetir de ano não vamos poder assumir nosso relacionamento ao público. — era essa tática que Akira usava em Zen. Havia cerca de um ano que os dois namoravam. E não podiam levar a público por conta da diferença de idade.
Shinkai Akira, tinha vinte e dois anos enquanto Konishi Zen, tinha dezessete anos.
— Eu prometo que vou me esforçar. — disse Zen enquanto Akira terminava de enfaixar seu braço. — Acho que não precisava da faixa, Aki.
— É melhor previnir.
— Você não faz isso nos arranhados do Shin.
— Shin sabe se cuidar.
— Nem dos da Aika-chan.
— Ela não se arranha. E Shin sempre cuida para que não aconteça.
— Então por que eu sou o único que você cuida?
— Porque você é o meu bebê.
Aquela conversa já havia acontecido antes. E com toda certeza aconteceria de novo. No momento em que Zen entrasse no quarto de Akira porquê estava com saudade no meio da noite.
Havia sido assim que Zen havia se apaixonado por Akira. Zen sempre foi uma criança travessa, o que resultava em muitos machucados. E Akira, como o mais velho, sempre havia cuidado de todos aqueles machucados.
Zen amava Akira, desde sempre. E por sorte, ele foi retribuído.
Depois de cuidar de Zen, Akira deitou novamente, tirando o óculos e apagando a luz. Ele puxou Zen para deitar ao seu lado e quando o mais novo o fez, Akira deitou sua cabeça no peito de Zen e o abraço como se fosse um urso grande.
Zen era praticamente uma criança. Era muito infantil, assistia animes para crianças e gostava de coisas simples. Exatamente como uma criança. Mas o que importava? Ele era a criança de Akira.
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Capítulo 8
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Osoroshiku Kawaii
Medo? O dicionário diz que é um estado afetivo que é instigado pela consciência de perigo. Que é uma ansiedade irracional ou uma apreensão em relação em algo.
Mas não é só isso....