Capítulo 17 – O Salão do Tesouro
Depois de terminar a refeição, Lin Shu foi até o Salão do Tesouro, ao lado da biblioteca.
Como o nome já dizia, o Salão do Tesouro era um local da academia repleto de riquezas e artefatos preciosos. Dos seus dez andares, apenas os três primeiros eram abertos a todos. A partir daí, para cada ano adicional que um estudante permanecia na academia, ele ganhava acesso a um andar acima. O décimo andar era o único restrito exclusivamente a pessoas autorizadas.
Tesouros de todo o mundo podiam ser encontrados ali. Ouro, prata, elixires da Família Celestial, incontáveis tipos de armas e até pequenos animais espirituais que podiam ser criados como mascotes.
— No entanto, esses artefatos não eram fornecidos de graça. Havia um sistema que exigia pagamento.
Aos olhos de Lin Shu, aquele salão funcionava como um sistema de troca por pontos.
No primeiro andar do Salão do Tesouro, havia uma imensa parede coberta de contratos de jade, dispostos de forma densa.
Em cada contrato de jade havia uma tarefa — como varrer o pátio do palácio de He Xutian; cuidar dos animais na cadeia de montanhas onde vagavam bestas espirituais; ajudar no jardim de ervas medicinais; cortar legumes para o refeitório etc. Em níveis mais altos, havia até contratos para descer a montanha e caçar demônios. Os discípulos podiam aceitar as tarefas por conta própria e, ao completá-las, recebiam diferentes quantidades de “Almas de Jade Shangling”.
Essas almas de jade não apenas continham poder espiritual, como também funcionavam como uma espécie de moeda dentro da academia, podendo ser trocadas por itens no Salão do Tesouro.
Também havia tarefas disponíveis no Mundo Onírico de Shangling, mas o Salão do Tesouro era o lugar onde os discípulos tinham que vir para receber e trocar as almas de jade.
Lin Shu deu uma olhada nos contratos de jade.
As tarefas na parte inferior listavam afazeres simples da academia, com recompensas muito baixas. Por exemplo: cortar legumes no refeitório em troca de uma alma de jade a cada dois dias; ajudar o Mestre Verdadeiro Duruo a cuidar do Jardim de Ervas nº 3 Amarelo para ganhar uma alma de jade por dia — se fosse substituído pelo “Jardim de Medicina Espiritual nº 3 Preto”, a recompensa subiria para cinco almas de jade por dia.
Mais acima na parede, havia tarefas que exigiam conhecimento especializado. Por exemplo: ajudar o Mestre Verdadeiro Duruo a cuidar do Jardim Celestial nº 2 do Céu; ir até o Vale do Quilin para limpar as escamas dos filhotes de quilin; ajudar o Mestre Verdadeiro Juding a cuidar do forno de pílulas; auxiliar o Senhor Liu na organização das escrituras… todas valendo mais de dez almas de jade.
Já os contratos posicionados ainda mais no alto tratavam de missões num raio de mil milhas da academia. Um desastre ocorrido; um caso pendente em um governo local… sempre que alguém solicitava ajuda, a academia respondia emitindo um contrato para os discípulos. Ao completá-lo, eles podiam receber centenas ou até milhares de almas de jade.
Lin Shu continuou olhando para cima.
Explorar a Masmorra da Caverna de Pedra; matar o Dragão Flor de Olhos Dourados; resolver uma Partida de Go…
De repente, ficou paralisado ao ver os contratos no ponto mais alto da parede.
“O Território de Julin foi alterado e o povo está deslocado. Ajuda necessária.”
“O Imperador deseja mudar o sistema de impostos. Favor oferecer sugestões.”
“O Rio Shuxi está prestes a transbordar e a represa precisa de reparos. Favor oferecer sugestões.”
Essas missões eram emitidas pela Corte Imperial de Nanxia e estavam, em sua maioria, ligadas à economia nacional e ao bem-estar do povo. A quantidade de almas de jade oferecidas dependia do grau de conclusão, podendo chegar a dezenas de milhares.
— Aprender as artes literárias e marciais torna você um bem inestimável para a família imperial — disse de repente uma voz ao seu lado.
Lin Shu virou-se e viu um jovem vestindo as vestes cinzentas da Instituição Confuciana, parado a pouca distância dele.
Quando percebeu que Lin Shu o olhava, o homem sorriu:
— Apenas falei o que penso. Não me leve a sério.
— Está tudo bem — respondeu Lin Shu.
— Este é seu primeiro ano aqui?
— Sim.
— O tempo que o irmão passou na academia é curto e não permite aceitar missões fora dos limites da escola. O irmão pode considerar o Mestre Verdadeiro Du Ruo, que tem um bom temperamento, ou o Senhor Guan Liu, que é uma pessoa fácil de lidar.
— Obrigado.
O homem assentiu:
— Não há de quê.
Lin Shu olhou por um momento para os contratos da parte inferior e, por fim, escolheu dois: “Ajudar o Mestre Verdadeiro Du Ruo a cuidar do Jardim de Medicina Espiritual nº 3 Preto” e “Reorganizar os livros do décimo andar da biblioteca todos os dias ao pôr do sol”.
— Cuidar do Jardim de Medicina lhe renderia cinco almas de jade por dia, e reorganizar os livros, três. Era um pouco menos do que esperava, mas, embora em sua vida passada tivesse quase alcançado o Mahayana, nunca tinha visto um sistema de cultivo como aquele. Portanto, não se importava de aproveitar a oportunidade para dar uma olhada em alguns livros.
Ele pressionou o dedo sobre o contrato de jade, registrando sua impressão digital. A pedra, que antes emitia um brilho suave, escureceu instantaneamente, indicando que a missão havia sido aceita.
As duas tarefas levariam cerca de duas horas por dia, por isso ele não poderia pegar mais nenhuma — ainda tinha aulas e práticas para cumprir.
A academia exigia que os alunos cursassem pelo menos vinte disciplinas por ano. Ao final de cada curso, os discípulos recebiam notas A, B, C, D ou E. Quem tirava A ganhava mil almas de jade; B, quinhentas; C, metade disso; D, metade de C; e E não recebia nada.
Os “Cinábrio de Controle do Vazio” e as “Bebidas das Veias Geradoras do Céu Essencial”, que Lin Shu queria, custavam respectivamente cem almas de jade por pílula e duzentas por garrafa.
Segundo o Cleansing Black Meridians for Cultivation, esses dois itens precisavam ser consumidos pelo menos centenas de vezes ao longo do tempo para surtirem efeito.
Quanto aos elixires mais caros, ele teria de esperar até terminar seus cursos para poder comprá-los.
Em resumo, o caminho seria longo e árduo. Ele teria de trabalhar duro e estudar com empenho.
Depois de aceitar as missões, pretendia voltar ao Céu de Jade para encontrar o Senhor Meng e escolher suas disciplinas, mas foi interrompido pelo discípulo da Instituição Confuciana.
— Espere, irmão — chamou ele.
O rapaz olhava para o topo da parede, e Lin Shu acompanhou seu olhar.
Bem no alto, o maior contrato de jade branco tinha gravada apenas uma única linha:
“Pacificar o Norte. Conter o Oeste. Restaurar a paz e a glória do Grande Reino Xia.”
— Muitos irmãos e irmãs novatos vêm para aceitar essa missão, quase transformando isso em uma tradição entre as academias — disse o homem.
Lin Shu ficou parado, como se estivesse ponderando, mas na verdade já havia tomado sua decisão.
— Não será necessário — respondeu. — Muito obrigado, irmão.
— O irmão mais novo parece ser alguém ocioso — comentou o homem, sem insistir. — Cada um tem sua própria vontade. Acho que não há o que fazer.
Os dois se despediram.
Lin Shu realmente não queria soar dessa forma.
Em primeiro lugar, não conhecia muito bem a estrutura daquele mundo. Seu conhecimento sobre a família imperial era vago e ele não sentia qualquer senso de pertencimento. Em segundo, durante tantos anos, nunca teve grandes ambições além de cultivar, esperando alcançar o chamado “Livre para Caminhar pelos Céus e pela Terra”, para então se afastar da humanidade e viver em solidão.
Era apenas um peixe salgado. No momento, além de poder economizar diariamente para comprar algumas pílulas, seu único sonho era obter uma espada no valor de dez mil almas de jade, localizada no terceiro andar do Salão do Tesouro.
O mundo realmente parece mais apagado aos olhos de um pobre.