Capítulo 22: A garota mimada não entende as emoções do mundo
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Depois de ser punida a ajoelhar-se no salão ancestral, Gu Fuyou voltou para o quarto, emburrada, evitando seu pai, Gu Wanpeng.
Embora Gu Wanpeng tenha permanecido na Seita Xuan Miao por três dias, pai e filha acabaram não tendo mais nenhuma conversa decente.
Quando chegou a hora de Gu Wanpeng retornar à Cidade Xiaoyao, Gu Fuyou ficou deitada na cama, com os cabelos desgrenhados, recusando-se a ir se despedir.
Gu Huaiyou sentou-se ao lado dela e a cutucou, dizendo:
— Ah Man, não deveria haver ressentimentos entre pai e filha. Ouça seu segundo irmão, vá se desculpar com o pai, e tudo ficará no passado.
Gu Fuyou virou-se para a parede, murmurando:
— Eu não fiz nada de errado.
Gu Huaiyou suspirou. Fora de casa, Gu Fuyou tinha um temperamento mais contido, mantinha-se na dela a menos que fosse provocada. Mas em casa, era explosiva e teimosa, como se estivesse destinada a bater de frente com Gu Wanpeng. Sempre que o pai estava presente, era inevitável: uma briga menor a cada três dias, uma maior a cada cinco.
Depois de discutirem, a relação ficava tensa — nenhum dos dois queria ceder nem pedir desculpas.
Felizmente, embora teimosa, Gu Fuyou também sabia ouvir. Depois de algum tempo sendo convencida por seu irmão mais velho, ela geralmente fazia as pazes com Gu Wanpeng, e o pai acabava se acalmando.
Mas as palavras do segundo irmão não tinham o mesmo efeito.
Os dois irmãos frequentemente lamentavam que conselhos momentâneos eram apenas um paliativo para o espírito rebelde da irmãzinha. Temiam que ela sofresse no mundo lá fora e não sabiam como ela um dia mudaria seus maus hábitos.
Quando Gu Fuyou era pequena, a família era formada por três homens tentando criar uma “rosa” — o que já era difícil por si só. Gu Wanpeng estava frequentemente ocupado com deveres oficiais e raramente estava em casa. Gu Shuangqing estava cada vez mais focado na cultivação, começando a assumir os assuntos da Cidade Xiaoyao. Gu Huaiyou era apenas um menino na época, e não sabia como guiá-la.
Gu Fuyou foi deixada aos cuidados dos servos, crescendo livre — e, no fim, em direção errada.
Quando a família percebeu, já era tarde demais. Corrigir o rumo agora não apenas seria um processo exaustivo para ela, como também deixaria suas mãos sangrando nos espinhos da rosa.
A menos que Gu Fuyou estivesse disposta a mudar por si mesma — o que claramente não estava. Ela achava que estava muito bem como era.
Talvez, um dia, Gu Fuyou encontrasse alguém por quem estivesse disposta a mudar, alguém por quem quisesse se tornar melhor.
Por causa disso, Gu Wanpeng e Gu Shuangqing já haviam considerado encontrar um marido adequado para Gu Fuyou…
Gu Huaiyou aconselhou:
— Mesmo que você não peça desculpas, o pai está indo embora. Você deveria ao menos ir se despedir.
Gu Fuyou respondeu firme:
— Não vou!
— Huaiyou! — a voz de Gu Wanpeng chamou do lado de fora do pátio, apressando-o.
Gu Huaiyou se levantou e disse:
— Se você não resolver isso agora, vai ser estranho da próxima vez que vir o pai. Vai me dizer que não pretende voltar para a visita de família no mês que vem?
Gu Fuyou puxou o cobertor sobre a cabeça e disse:
— Não volto se eu não quiser.
Gu Wanpeng chamou novamente. Vendo que não conseguiria convencê-la, Gu Huaiyou desistiu e foi se despedir do pai.
Assim que ele saiu, o quarto ficou em silêncio.
Gu Fuyou jogou o cobertor para longe, os cabelos emaranhados, e sentia-se inquieta. Não conseguia dormir, nem se concentrar em um livro, e acabou andando de um lado para o outro.
De repente, pegou uma presilha de madeira na mesa de cabeceira, prendeu o cabelo em um coque desleixado e saiu.
Tomou um atalho montanha abaixo e, ao ver a formação de teletransporte, entrou na mata próxima e se escondeu atrás de um velho olmo.
Logo, vozes se aproximaram pela trilha da montanha. Três figuras desciam devagar e pararam perto da formação de teletransporte.
Eram Ji Zhaoling, Gu Wanpeng e Gu Huaiyou.
Gu Wanpeng ainda tinha assuntos oficiais para discutir com Ji Zhaoling e questões familiares a acertar com Gu Huaiyou. Como descer voando em suas espadas seria rápido demais para dizer tudo o que precisava, os três caminhavam lentamente.
Gu Fuyou conseguiu chegar antes. Viu-os se aproximarem, mas não saiu do esconderijo — apenas encostou-se na árvore e observou enquanto Gu Wanpeng se despedia dos outros e entrava na formação de teletransporte, até que sua figura desapareceu.
Enquanto estava perdida em seus pensamentos, alguém de repente deu um toque em suas costas. Ao se virar, deu de cara com o rosto sorridente de Si Miao.
— Sua boba — provocou Si Miao. — Se quer se despedir de alguém, faça isso de forma aberta. Por que se esconder por aí?
Gu Fuyou cruzou os braços e resmungou com desdém:
— Quem disse que vim me despedir?
Sair dali para dizer adeus seria o mesmo que admitir derrota — como se estivesse cedendo e reconhecendo a culpa. Seus sentimentos de injustiça e raiva pareceriam nada além de birra infantil.
Mas quem leva a própria tristeza na brincadeira?
Sem dizer mais nada, Gu Fuyou se virou e voltou direto para o quarto, como se tivesse apenas dado um passeio tranquilo. O sorriso permaneceu no rosto de Si Miao, que não insistiu no assunto.
Ao entrarem no pátio, notaram imediatamente uma figura escura agachada na varanda, com um leve cheiro de sangue pairando no ar.
Gu Fuyou chamou:
— Ah Fu!
A figura escura se virou, revelando presas afiadas e olhos ferozes como os de um lobo. Com um pedaço de carne crua e sangrenta ainda pendurado na boca, parecia uma fera selvagem pega no flagra.
No entanto, ao ver Gu Fuyou, o olhar da criatura se suavizou, as pupilas relaxaram e a ferocidade se desfez. Devorou a carne em algumas mordidas rápidas e correu até ela como um filhote gigante.
Gu Fuyou lhe deu um tapinha leve:
— Você tá fedendo a sangue! Não se esfrega em mim.
Enquanto entrava em casa, Ah Fu a seguia, soltando ganidos lastimosos.
Lá dentro, Gu Fuyou viu uma grande mancha de sangue no chão, mais ou menos do tamanho de um touro adulto — sinal claro de que Ah Fu havia se banqueteara antes delas voltarem.
Ela correu até um pequeno armário de madeira de pereira e o abriu, só para encontrar o interior completamente vazio.
Aquele armário era uma unidade de armazenamento, similar a uma bolsa mágica, com um espaço interno do tamanho de um cômodo. Era onde Gu Fuyou guardava o suprimento de comida de Ah Fu.
Ela saiu e encarou a criatura com irritação:
— Você é um porco? Como pode comer tanto assim?
Desde que havia trazido Ah Fu consigo, ele desenvolvera presas afiadas e crescera muito em apenas um único dia. Tirando os momentos em que pedia a Gu Huaiyou para caçar feras espirituais como alimento, Gu Fuyou basicamente deixava Ah Fu à solta.
O tamanho e o apetite de Ah Fu cresciam a olhos vistos. Ele comia de tudo — os restos das pílulas alquímicas de Si Miao, as refeições que Gu Fuyou preparava, a carne das feras espirituais que Gu Huaiyou caçava. Agora, até invadir o armário de armazenamento e devorar os mantimentos guardados na sua ausência ele fazia.
Gu Fuyou não conseguia deixar de se impressionar com aquela rara besta espiritual. Fazia apenas alguns meses desde seu nascimento, e já possuía inteligência comparável à de uma criança humana.
— Ah Fu não tá crescendo rápido demais? A maioria dos Zhenmaos não cresce assim — comentou Si Miao.
Gu Fuyou também achava estranho o crescimento tão acelerado de Ah Fu.
Desde o nascimento até agora, mal haviam se passado quatro meses, e ele já estava do tamanho de um cavalo adulto.
Sua pelagem, antes cinzenta com tons esbranquiçados, agora era preta e brilhante. O pelo da barriga e das pernas era branco, exatamente como “nuvens escuras cobrindo a neve”.
Gu Fuyou pensou por um tempo, mas não encontrou resposta. Considerou perguntar a Zhong Michu — talvez ela soubesse.
No entanto, bastava pensar em Zhong Michu para o incômodo voltar, fazendo seu corpo inteiro se irritar de novo.
Desde a discussão no salão ancestral, Gu Fuyou estava à flor da pele. Para os outros, a briga podia parecer trivial, mas para alguém como Zhong Michu — que quase não falava e evitava confrontos — aquilo havia sido intenso.
O que mais incomodava Gu Fuyou era não querer esse mal-estar entre as duas, mas também não saber como consertar a situação.
Antes, quando brigava com Gu Wanpeng, Gu Shuangqing sempre a encorajava a pedir desculpas e apontava onde ela havia errado.
Agora, tendo brigado com Zhong Michu, ela não sabia o que havia feito de errado. Na verdade, sentia que não fizera nada de errado — e ainda assim, tinham discutido.
Era frustrante.
Quanto mais tempo passava com Zhong Michu, menos sabia como lidar com ela.
Com a família, Gu Fuyou sempre agia de forma mimada e boba para chamar atenção — e, com o tempo, ser voluntariosa e despreocupada virou seu padrão. Com Si Miao, viviam provocando uma à outra, ajudando-se mutuamente pelo caminho. Quando estava com Zhu Ruo e as outras, era como estar entre irmãs carinhosas e gentis, que sabiam mimá-la e a toleravam — então ela podia ser ela mesma. Quanto a Yuan Changshui e os demais, que a menosprezavam, Gu Fuyou simplesmente se fechava e preferia manter distância.
Mas como ela deveria agir com Zhong Michu? Tinha medo de que, se ficasse próxima demais, Zhong Michu acabasse se cansando dela. Por outro lado, manter distância também não era o que queria. Não queria que Zhong Michu percebesse seu temperamento estranho — mas, ao mesmo tempo, desejava que ela o aceitasse.
Às vezes, agia por impulso e depois se arrependia amargamente, desejando poder voltar no tempo para estrangular seu “eu” do passado.
Ela queria tanto que Zhong Michu fosse sua amiga. Acreditava que Zhong Michu poderia se tornar sua confidente, alguém com quem pudesse desenvolver uma amizade profunda e inquebrável. Queria isso mais do que tudo — com uma paixão que só havia sentido uma vez antes, quando descobrira o mundo das formações.
Gu Fuyou suspirou, frustrada.
Lidar com o pai, pensar em como pedir desculpas a ele, nunca exigira tanto esforço.
Pensou, pensou… e decidiu parar de pensar.
E foi com essa mentalidade que permaneceu até o dia em que a Seita Xuan Miao autorizou os discípulos a voltarem para casa.
Por conta de um assunto familiar, Si Miao precisou partir antes. Gu Fuyou, ainda aborrecida e sem vontade de voltar para casa, viu que Gu Huaiyou estava visivelmente preocupado com Si Miao, e acabou deixando que ele a acompanhasse de volta primeiro.
Alguns dias depois, quando já estava planejando regressar, recebeu de repente uma mensagem de Zhu Ruo:
O Mercado Errante está aberto.
Esse Mercado Errante era o maior de todo o mundo, organizado pela maior guilda de comerciantes. Ele acontecia a cada três anos, reunindo mercadores de todos os cantos. Era um local onde qualquer um, desde os respeitáveis membros das Quatro Seitas Imortais até camponeses comuns, podia fazer negócios — desde que tivesse algo de valor a oferecer. Por isso, os comerciantes, compradores e viajantes que apareciam por lá eram os mais variados possíveis: membros de seitas, cultivadores errantes, especialistas reclusos — todo tipo de gente.
O mercado oferecia uma vasta gama de itens para troca, incluindo artefatos mágicos, pílulas espirituais, feras espirituais, plantas espirituais, tesouros raros e todo tipo de maravilhas. Foi justamente nesse lugar que Gu Fuyou adquiriu os Registros do Imperador Celeste Azul.
Também havia atividades como batalhas entre feras, competições e debates eruditos, todos com prêmios generosos.
Era um evento grandioso no mundo da cultivação, sempre fervilhando de movimento. Como o local do mercado mudava a cada edição, passou a ser conhecido como Mercado Errante.
Este ano, o Mercado Errante aconteceria na Cidade Wantong. Gu Fuyou já o visitara várias vezes no passado, sempre na companhia de seu irmão mais velho, Gu Shuangqing.
Mas desta vez, Gu Shuangqing estava atolado de compromissos e não pôde acompanhá-la.
Gu Fuyou pensou que, já que conhecia bem o funcionamento do mercado e o evento seria em Wantong, bem ali perto, não haveria problema em ir sozinha dar uma olhada.
Com a decisão tomada, arrumou suas coisas naquele mesmo dia e desceu a montanha com Ah Fu.
No caminho, passou por uma árvore de glicínia e se lembrou de que fora ali que tinha visto Zhong Michu pela primeira vez.
Aproximou-se da árvore. Agora, em pleno verão, as glicínias estavam em plena floração, com cachos de flores que pareciam franjas de seda lilás pendendo graciosamente.
Gu Fuyou contou nos dedos e percebeu que já fazia mais de um mês desde a última vez que vira a Irmã Sênior Zhong. Esperava que ela não estivesse mais brava.
Com esse pensamento em mente, de repente sentiu um aroma familiar e fresco. Ao erguer os olhos, viu Zhong Michu parada sob as flores de glicínia — sua beleza etérea e as delicadas flores compunham uma cena encantadora.
Gu Fuyou olhou para o talismã em sua mão, envergonhada. Só tinha pensado nela — apenas pensado! — mas sua mão já tinha tirado o talismã por impulso, e ela havia invocado seu nome sem perceber.
Invocá-la já havia se tornado quase um hábito instintivo.
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Capítulo 22: A garota mimada não entende as emoções do mundo
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The Dragon
Todos dizem: “Tal pai, tal filha”, mas Gu Fuyou tem um talento medíocre. Tão medíocre que, ao vê-la, as pessoas zombam, se perguntando como Gu Wanpeng poderia ter uma filha...