Capítulo 28: Palavras Podem Ferir Mais Fundo Que Lanças
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Depois de uma noite de descanso, as duas acordaram com um tempo desfavorável. O dia estava nublado, com nuvens espessas bloqueando o sol. O vento soprava forte no desfiladeiro e, mesmo sendo verão, fazia frio.
Gu Fuyou estava sentada em Ah Fu, testando sua força, enquanto Zhong Michu caminhava ao lado dele. No caminho, encontraram vários cultivadores, cada um acompanhado por suas bestas espirituais.
Durante a jornada, Gu Fuyou estava muito animada. Mas, ao pensar que Zhong Michu não poderia participar da corrida, sentiu uma pontinha de arrependimento, achando que não seria perfeito.
— Irmã sênior Zhong — disse —, você devia ter me contado antes que não consegue convocar uma besta espiritual. Poderíamos ter comprado uma no mercado para você montar temporariamente. Aí correríamos juntas.
Zhong Michu não respondeu. Acostumada ao silêncio dela, Gu Fuyou continuou:
— Da próxima vez… Na próxima vez que visitarmos o Mercado Itinerante, eu te levo comigo, e a gente corre junto.
Gu Fuyou se inclinou para perto, sentindo que havia tido uma ótima ideia, e falou animada:
— Irmã sênior Zhong, da próxima vez vamos ao mercado itinerante juntas, combinado?
— Segura firme — Zhong Michu aconselhou, virando a cabeça de modo que ficaram a poucos centímetros uma da outra.
O vento da montanha deixara as bochechas de Zhong Michu pálidas, mas sua pele, de natureza espiritual especial, permanecia úmida apesar do frio constante, parecendo ainda mais como jade.
Por algum motivo, Gu Fuyou sentiu o rosto esquentar e se endireitou, meio sem jeito.
Zhong Michu na verdade não estava olhando para o rosto de Gu Fuyou; seu olhar estava fixo atrás dela. Ela chamou:
— Gu Fuyou.
— Hã?! — Assustada, Gu Fuyou segurou com força o pelo de Ah Fu, fazendo a criatura soltar um rosnado baixo de protesto.
— Por que a maioria deles tem bestas voadoras, se é uma corrida no chão? — apontou Zhong Michu.
Gu Fuyou parou e, ao observar a colocação de Zhong Michu, percebeu o mesmo. Embora bestas espirituais de alto cultivo possam voar e correr no chão, seu poder é maior no ambiente natural delas.
Ou seja, embora seja possível usar uma criatura voadora numa corrida no chão, não é o ideal.
Um sentimento pesado cresceu no coração de Gu Fuyou.
Ela rapidamente levou Ah Fu até o ponto de partida, com Zhong Michu seguindo em sua espada.
Ao chegarem, o coração de Gu Fuyou afundou. Todos os competidores haviam trazido bestas espirituais voadoras.
Quando ela perguntou a um oficial da associação dos mercadores, ele confirmou:
— É uma corrida aérea.
Com uma expressão carregada, Gu Fuyou contestou:
— Por que é uma corrida aérea? Não era para ser no chão?
— Talvez você tenha entendido errado? — ele ponderou.
Frustrada, mas rindo de incredulidade, Gu Fuyou retrucou:
— Perguntei direto para o guia. Ele deixou claro que era uma corrida no chão!
O oficial deu uma risadinha:
— Considerando que todos os participantes trouxeram bestas voadoras, não é provável que todos os outros estejam errados? Não temos motivo para enganar você.
Irritada, Gu Fuyou foi embora. Vendo sua expressão preocupada, Zhong Michu perguntou:
— O que aconteceu?
Fazendo uma careta, Gu Fuyou suspirou:
— Acontece que é uma corrida aérea. Ah Fu não vai servir de nada dessa vez.
Ah Fu tinha atingido apenas o pico do Qi Praticante e não podia voar.
Gu Fuyou olhou para Ah Fu, que inclinou a cabeça levemente e a encarou com seus olhos negros brilhantes, parecendo bem perdido.
Ela percebeu que o único suspeito naquela situação era o guia. Mas não podia sair, pois o token de entrada só podia ser usado uma vez.
Mesmo que pudesse sair, encontrar outra besta espiritual agora não era uma opção.
Os competidores continuavam chegando e, assim que todos estivessem presentes, a corrida começaria.
Gu Fuyou se lançou e enterrou o rosto no pelo de Ah Fu, abafando seus suspiros exasperados contra o peito dele.
Mesmo com todas as suas habilidades, sem uma besta espiritual, ela se sentia impotente.
Perder a corrida não faria mal fisicamente, mas ela estava animada para isso. Ver suas expectativas destruídas por fatores externos a deixava frustrada.
Além disso, era a primeira vez que entrava sem depender do poder do irmão, e isso a deixava orgulhosa no fundo.
Ela queria ir mais longe, subir mais alto, ultrapassar seus limites.
De algum modo, acreditava que podia conseguir.
Mesmo que não ganhasse, esperava ao menos ficar bem colocada na corrida. Agora que tudo estava destruído, como não ficar chateada?
Ah Fu, sem entender nada, apenas respondeu às suas reclamações com pequenos gemidos suaves.
— Ah, não é a Terceira Gu? —
Reconhecendo a voz, Gu Fuyou se virou e logo franziu a testa com desagrado:
— Zuo Tianlang.
Encontrar uma pessoa irritante estando já abalada só aumentava sua frustração.
Zuo Tianlang se aproximou, rindo alto, abriu seu leque e o balançou suavemente. Com os olhos estreitos, olhou Gu Fuyou de cima a baixo, de forma leviana, e disse:
— Você também está aqui para a corrida, então por que trouxe uma besta terrestre?
Gu Fuyou respondeu ríspida:
— Não é da sua conta!
Zuo Tianlang estava prestes a zombar dela quando seu olhar inadvertidamente pousou em Zhong Michu.
Ela estava elegante, com vestido branco como a neve. Sua beleza encantadora combinada com olhos indiferentes, lembrava uma lótus sagrada no topo da montanha, inalcançável.
Quem entende de romance e sofisticação sabe que existe um charme especial quando uma mulher digna mostra uma ponta de vulnerabilidade.
Enquanto olhava para Zhong Michu, os olhos de Zuo Tianlang se estreitaram e suas pupilas se dilataram.
Ele se perguntou como essa mulher, com suas bochechas rosadas e presença atraente, seria num momento de paixão ardente.
Gu Fuyou talvez não soubesse os pensamentos impuros que passavam pela cabeça dele, mas pelo olhar dele, tinha certeza que não eram bons.
Ela se deslocou para o lado, posicionando-se bem na frente de Zhong Michu, alinhando-se a ela.
Com o rosto sério, cruzou os braços e chamou:
— Ah Fu, vem cá.
Ah Fu se aproximou e sentou ao lado de Gu Fuyou, bloqueando efetivamente a visão de Zuo Tianlang.
Zuo Tianlang balançou o leque algumas vezes com jeito de brincadeira, sorriu e comentou:
— Parece que o Gu Ren realmente não apareceu.
— Eu até arrumei alguém para te recepcionar.
Um pensamento passou pela cabeça de Gu Fuyou, e ela respondeu:
— Então foi você quem arrumou o guia!
Falando de terra, quando na verdade é no ar.
A besta espiritual do irmão dela é uma pantera negra, também terrestre. Se ela tivesse vindo e caído na armadilha de Zuo Tianlang, mesmo podendo voar, sua força cairia muito no ar, caindo bem na mão dele.
Fechando o leque com um estalo, Zuo Tianlang bateu na cabeça com ele e lamentou:
— Ah, que desperdício de esforço. Se eu soubesse que era só uma jogadora pequena como você, nem teria me dado ao trabalho.
Gu Fuyou rebateu:
— Você não consegue derrotar meu irmão, então recorre a esses truques baixos.
Zuo Tianlang disse:
— Estratégia também é talento. Tipo agora, com um estalo, posso fazer você desistir da corrida.
Gu Fuyou respondeu desafiadora:
— Quem disse que não posso competir?
Ela puxou a orelha de Ah Fu e falou, puxando com força:
— Se for o pior, vou fazer minha besta espiritual correr no ar; vamos ver como você se sente quando todo seu planejamento cuidadoso desmoronar. Mestre Zuo, preste atenção: meu Ah Fu corre incrivelmente rápido, como um raio, e seria muito vergonhoso se você, no topo da sua besta voadora, perdesse para ele.
Ah Fu cooperou com um uivo alto, parecendo imponente.
Zuo Tianlang zombou:
— Muito bem, estou ansioso para ver essa sua besta espiritual veloz como um raio.
Depois disso, ele se afastou com sua comitiva.
Assim que Zuo Tianlang saiu de vista, Zhong Michu perguntou:
— Ah Fu sabe voar?
Gu Fuyou, com as bochechas levemente vermelhas, respondeu:
— Eu só estava enfrentando ele. Com aquele jeito arrogante, não posso ao menos sair com a vitória nas palavras?
Depois da explicação, ela percebeu de repente que Zhong Michu estava provocando ela mais cedo.
Foi uma revelação surpreendente. Era a primeira vez que Gu Fuyou via Zhong Michu fazer uma piada, e isso foi tão inesperado que a fez esquecer o desagrado que sentira antes.
Mudando a expressão sombria, ela fez um gesto para Ah Fu e se preparou para partir, dizendo:
— Irmã sênior Zhong, vamos.
Zhong Michu perguntou:
— Você não vai participar da corrida?
Constrangida, Gu Fuyou murmurou:
— Eu só estava blefando…
Ela queria fugir depois do blefe. Primeiro, não queria lidar com Zuo Tianlang, que estava sempre procurando encrenca. Segundo, vendo como Zuo Tianlang olhava para Zhong Michu, esperava que ela também se mantivesse longe dele.
Zhong Michu lançou um olhar para a névoa densa e as nuvens espessas no céu, e, ao baixar a cabeça, perguntou:
— Gu Fuyou, você quer participar da corrida?
Sentindo-se um pouco desanimada, Gu Fuyou afagou suavemente a cabeça de Ah Fu e admitiu:
— Quero, mas Ah Fu não sabe voar.
Zhong Michu ficou em silêncio por um momento, como se estivesse refletindo. Depois de um tempo, falou suavemente:
— Vou pensar em uma solução para você. Espere.
— Hã?
Gu Fuyou pensou consigo mesma:
“Que solução poderia haver? Você também não consegue convocar nenhuma.”
Estava prestes a chamar:
— Irmã sênior Zhong…
Mas Zhong Michu já havia disparado em sua espada, seguindo o caminho por onde tinham vindo. Gu Fuyou ficou parada por um instante e, de repente, teve um pensamento, murmurando:
— Ah! Irmã sênior Zhong é habilidosa em domar bestas. Talvez ela consiga uma besta espiritual voadora de algum lugar!
Quanto mais pensava, mais sentido fazia.
Naquele momento, o sino que convocava os participantes para a linha de largada tocou.
Gu Fuyou hesitou um pouco, respirou fundo e decidiu seguir para o ponto de partida.
O ponto de largada ficava na ponte arqueada da Caverna Wangyue. Uma enorme rocha conectava as duas extremidades do desfiladeiro, formando uma ponte natural de pedra.
Quando Gu Fuyou chegou, todos os participantes já estavam prontos na ponte de pedra, sentados com orgulho em cima de suas bestas espirituais. Essas bestas voadoras eram ferozes, majestosas ou deslumbrantes, prontas para agir na ponte.
O oficial responsável perguntou:
— Terceira Senhorita, onde está sua besta espiritual?
Gu Fuyou respondeu:
— Ah… ela vai chegar logo.
— Certo então.
O oficial permitiu que ela subisse na ponte de pedra. Enquanto todos os outros orgulhosamente montavam suas bestas espirituais, ela era a única que caminhava a pé pela ponte.
Ela pretendia ficar discretamente à margem para não chamar atenção. Inesperadamente, pisou acidentalmente em uma pena da asa de uma besta próxima. A besta rugiu, e ela continuou andando para evitar o animal, mas acabou sendo empurrada para o centro da ponte.
Risos daqueles sentados em suas bestas chegaram aos seus ouvidos:
— Não é a Terceira Senhorita? Por que ela está aqui para a corrida?
— Cadê a besta espiritual dela?
— Dizem que ela é meio doida, imprudente. Vai correr com os próprios pés contra a gente? Haha.
Eventualmente, Gu Fuyou encontrou um espaço livre bem no meio da ponte e parou.
Ela ouviu alguém perguntar:
— Quem é a Terceira Senhorita?
— Ah, essa é a Terceira Gu, da Cidade Xiaoyao, filha do Gu Wanpeng.
— Ah, aquela, conheço, conheço.
Gu Fuyou apertou as roupas contra o vento forte que soprava na ponte, fazendo sua cabeça girar.
— Ouvi dizer que ela é a razão da morte da Lady Gu no parto.
Gu Fuyou franziu o cenho, pensando que esses homens tinham língua mais afiada que as fofoqueiras lá de casa.
— É ela mesmo. A Lady Gu era uma beleza e muito habilidosa. Que pena ter morrido ao dar à luz uma filha medíocre. Gu Wanpeng perdeu a esposa e ganhou uma filha medíocre.
Outro homem riu baixinho:
— Se quem causou a morte da própria mãe tivesse talento, esse mundo não teria justiça.
O rosto de Gu Fuyou ficou pálido, uma dor profunda lhe apertou o peito, e sua testa ficou coberta de suor frio; a respiração ficou difícil.
Sem pensar, ela se virou e chamou, fraca:
— Irmão…
Mas não havia ninguém atrás dela.
Então ela percebeu que Gu Shuangqing não tinha vindo e que não teria ninguém para segurá-la e confortá-la como de costume, tampando seus ouvidos para bloquear aquelas palavras dolorosas.
Aquelas palavras ecoaram claramente em seus ouvidos. Ela quis rebater, mas quando abriu a boca, nenhum som saiu.
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The Dragon
Todos dizem: “Tal pai, tal filha”, mas Gu Fuyou tem um talento medíocre. Tão medíocre que, ao vê-la, as pessoas zombam, se perguntando como Gu Wanpeng poderia ter uma filha...