Capítulo 35: Perdidos no Labirinto dos Nove Palácios
O “Portão da Morte” estava localizado no Palácio da Terra entre os nove palácios, posicionado a sudoeste. Gu Fuyou guiou o grupo pelo corredor labiríntico pela sexta vez, retirou um talismã e disse:
— Sudoeste.
O talismã se dobrou no ar e flutuou como uma borboleta amarela, agitando suas asas de papel.
Era um talismã de orientação. Ele voava apenas em uma direção específica. Como aquele corredor não apontava diretamente para o sudoeste, o talismã continuou voando rente à parede.
Após passarem por duas bifurcações e caminharem mais um pouco, o talismã virou e conduziu o grupo até um beco sem saída.
Gan Fengzhong comentou:
— Como assim não tem caminho?
Gu Fuyou se aproximou da parede de pedra, sentiu sua superfície e mediu algo com os dedos. Depois de um tempo, colou outro talismã no canto da parede e instruiu:
— Tio Gan, acerta bem aqui.
— Certo — disse Gan Fengzhong, avançando. Reuniu sua energia no punho e desferiu um soco contra a parede de pedra.
Gan Fengzhong era um cultivador externo no estágio da Alma Nascente. Ao contrário de outros que cultivavam com espadas, lâminas ou música, ele focava exclusivamente no fortalecimento do próprio corpo. Com seus mais de dois metros de altura e um corpo tão resistente quanto metal, quebrar uma parede de pedra — ou mesmo perfurar aço — não deveria ser problema para ele.
No entanto, a parede permaneceu intacta. Embora Gan Fengzhong não tivesse usado toda a sua força, o resultado foi inesperado. Não apenas ele ficou surpreso, como também Si Miao e Gu Huaiyou.
Reunindo energia mais uma vez, Gan Fengzhong desferiu um soco ainda mais forte. Com um estrondo, surgiu apenas uma pequena rachadura.
Gan Fengzhong não podia acreditar que estava sendo superado por uma simples parede. O orgulho inflamou-se dentro dele, e ele passou a golpeá-la com força contínua, fazendo o chão tremer.
As rachaduras aumentaram e se multiplicaram. Finalmente, com um estrondo, a parede se despedaçou, tendo como centro o talismã que Gu Fuyou havia colado, revelando o mundo por trás dela.
Gu Fuyou sorriu:
— Viu? Agora temos um caminho.
Do outro lado da parede havia escuridão total. Uma lanterna de vaga-lumes foi lançada para dentro, revelando um penhasco não muito distante. Do outro lado do penhasco, havia outro corredor.
Assim que o grupo se aproximou da beirada, foram imediatamente atingidos por um cheiro forte, úmido e fétido — como peixe e camarão podres sob o sol, misturado ao odor de lama de pântano.
Ao olharem para baixo, não conseguiam distinguir o que havia no fundo.
Embora pudessem voar até o outro lado, temiam o que pudesse estar espreitando abaixo. Depois de alguma consideração, decidiram que seria mais seguro construir uma ponte.
Entre todos, Gan Fengzhong era o de cultivo mais elevado, mas como cultivador externo, não era versado em feitiços. As magias de Gu Huaiyou e Si Miao, baseadas em seus respectivos atributos espirituais, não eram úteis naquela situação, e eles não tinham domínio sobre outras magias. Todos os olhares se voltaram para Zhong Michu.
Sem dizer uma palavra, Zhong Michu deu um passo à frente e canalizou sua energia, criando uma ponte de gelo que se estendia até o outro lado.
Ao ver isso, Gan Fengzhong não pôde deixar de comentar:
— Belo trabalho.
O feitiço foi executado com rapidez e estabilidade. Se não tivesse ouvido Gu Huaiyou falar sobre Zhong Michu antes, Gan Fengzhong teria pensado que ela possuía uma raiz espiritual mutante de gelo. Não esperava que alguém com raiz espiritual de água pudesse manipular feitiços de gelo com tanta facilidade.
Zhong Michu nem sempre dominara tão bem os feitiços de gelo. Sua proficiência vinha de um artefato único que Gu Fuyou havia obtido no núcleo da formação da Donzela de Pedra em Xian Luo. Esse artefato, envolto em energia espiritual pura e incontáveis fios de gelo, fora absorvido por Zhong Michu, o que não apenas elevou seu cultivo, como também aprimorou suas técnicas de gelo como se ela realmente possuísse uma raiz espiritual de gelo.
Gan Fengzhong pisou na ponte e disse:
— Senhorita Terceira, vou na frente verificar o caminho.
Atravessou a ponte com passos firmes e logo chegou ao outro lado sem incidentes.
O restante do grupo o seguiu — Gu Huaiyou na frente, Gu Fuyou e Si Miao no meio, e Zhong Michu fechando a formação.
No meio do trajeto, Gan Fengzhong do outro lado gritou de repente:
— Algo está vindo!
Assim que suas palavras ecoaram, uma sombra negra saltou do abismo sob o penhasco, atravessando a ponte de gelo. O cheiro podre de peixe se intensificou.
Enquanto a sombra se movia, um líquido espesso escorria dela. Todos se esquivaram rapidamente para não serem atingidos. Quando a substância caiu sobre a ponte de gelo, produziu um chiado e começou a derretê-la.
Gan Fengzhong pegou a lanterna de vaga-lumes e, com sua força, lançou-a contra a sombra.
A sombra recuou de volta ao abismo em meio a um clarão. Por um breve instante, todos puderam ver claramente a cena abaixo.
A escuridão do abismo não era pela falta de luz, mas pela presença de incontáveis enguias negras, gordas e entrelaçadas, conhecidas como Enguias Wangyue.
Essas bestas espirituais vivem na lama e adoram consumir impurezas. As Enguias Wangyue são ainda mais extremas — se alimentam de cadáveres em decomposição, habitam locais mórbidos e exalam uma aura de morte.
O fedor que todos sentiam vinha dessas enguias.
Gu Fuyou não gostava de bestas espirituais aglomeradas, tampouco suportava ver centenas de criaturas viscosas emaranhadas.
Ela estremeceu, sentindo um arrepio percorrer o corpo, e seus pelos se eriçaram:
— Vamos embora. Rápido.
Como se respondessem às suas palavras, várias Enguias Wangyue saltaram para cima.
Gan Fengzhong encarou com ferocidade:
— Bestinhas insolentes!
Socou a parede, controlando a força para apenas estilhaçar a rocha. Depois, levantou uma enorme pedra e a lançou com facilidade. Ao cair, o impacto foi como um trovão, esmagando a cabeça de uma das enguias.
Seguiram-se vários ataques rápidos, com pedras caindo como chuva, repelindo as enguias de volta ao abismo. No entanto, com centenas delas surgindo do fundo, pareciam não ter fim.
Cada vez que uma enguia caía, sua gosma corrosiva pingava como chuva, corroendo a ponte de gelo até que ela finalmente se quebrou.
Gu Fuyou perdeu o equilíbrio e caiu. Si Miao, que estava próxima tentando se proteger da chuva corrosiva, não conseguiu segurá-la a tempo e gritou:
— Ah Man!
Antes que as palavras saíssem por completo de sua boca, um brilho de espada surgiu, envolvendo Gu Fuyou.
Gu Huaiyou exclamou, aflito:
— Irmã Sênior, leve Ah Man para um lugar seguro primeiro!
Si Miao ordenou:
— Tio Gan, abra caminho para Ah Man!
Gan Fengzhong assentiu e lançou pedras, esmagando as enguias ao redor de Gu Fuyou, garantindo sua passagem segura.
Sem hesitar, Zhong Michu reconstruiu rapidamente a ponte de gelo, e os três atravessaram às pressas.
Gu Fuyou permaneceu sentada obedientemente sobre Gengchen e não desceu.
Gu Huaiyou perguntou:
— Você se machucou?
Gu Fuyou balançou a cabeça. Si Miao sorriu:
— Se não está machucada, então desça.
Gu Fuyou pulou obedientemente, mas suas pernas estavam tão fracas que quase caiu de joelhos. Felizmente, Zhong Michu a amparou a tempo.
Embora não estivesse ferida, Gu Fuyou claramente estava abalada.
O grupo retomou a caminhada, e Gu Fuyou insistiu em permanecer ao lado de Zhong Michu. Sem alternativa, o grupo deixou Zhong Michu na dianteira, com Gan Fengzhong cobrindo a retaguarda.
Gu Fuyou praticamente se colou a Zhong Michu, querendo ficar o mais próxima possível, quase como se quisesse se grudar nela como um talismã.
Finalmente, Zhong Michu disse:
— Assim não dá pra andar.
Gu Fuyou estendeu a mão:
— Então… pode segurar a minha?
Zhong Michu a encarou em silêncio, sem responder. Gu Fuyou disse:
— Eu tô com medo…
Zhong Michu claramente não acreditou. Alguém que ousou extrair um núcleo de uma fera do estágio Vazio Sagrado e permaneceu calma diante de situações de vida ou morte… ficaria com medo só porque quase caiu num poço cheio de enguias?
As pálpebras de Zhong Michu baixaram levemente, sinalizando dúvida.
Mas Gu Fuyou não estava mentindo. Ela estava realmente assustada — ou melhor, enojada. Era algo mais insuportável do que a própria morte. Preferia morrer ali mesmo a ter que rolar no meio daquelas enguias.
Isso a fez se lembrar dos caranguejos com rosto humano que havia encontrado em Xian Luo — um horror profundo que ainda a assombrava. As enguias eram ainda piores.
Saber que Zhong Michu era do clã dos Dragões significava que certos animais espirituais evitavam se aproximar dela. Isso garantia que quem estivesse ao seu lado ficava a salvo de bestas ou demônios nojentos.
A voz de Gu Fuyou carregava uma súplica sutil, da qual ela mesma talvez nem tivesse consciência — e um toque de provocação:
— Irmã Sênior Zhong…
Após um breve silêncio, Zhong Michu não disse nada, mas segurou a mão de Gu Fuyou.
Com o coração em paz, Gu Fuyou seguiu em frente.
Dentro da formação das Nove Residências e Oito Trigramas, os oito portões cercavam o palácio central. Se aquela formação estivesse protegendo algo, esse algo provavelmente estaria no palácio central.
Gu Fuyou não tinha certeza se todos estavam dentro do palácio central, mas sem nenhuma pista, essa era sua melhor opção. Acreditava que alguém devia ter um motivo para montar aquela formação na base da montanha. Precisavam visitar o palácio central para descobrir o mistério.
Guiados por Gu Fuyou, passaram por inúmeros obstáculos, até finalmente chegarem ao destino.
Mais uma parede de pedra bloqueava o caminho.
Gan Fengzhong perguntou:
— Senhorita Terceira, quebramos essa também?
Gu Fuyou soltou a mão de Zhong Michu por um momento, tirou um talismã e disse:
— Não precisa, isso aqui é só uma ilusão.
Ela esfregou o talismã e o colou na parede de pedra, murmurando:
— Abre-te com boa sorte, abre-te com boa sorte…
Aquilo não era uma propriedade do talismã, apenas uma frase de sorte que ela estava recitando.
Ela pressionou a mão contra a parede de pedra — que desapareceu instantaneamente, revelando um caminho à frente.
Gu Fuyou sorriu:
— Viu? Sumiu.
Mas quando se virou, não havia ninguém atrás dela.
Para sua surpresa, em vez de um corredor escuro, havia uma sala de aula.
O cenário era vívido, com flores coloridas, salgueiros verdes e o canto suave de pássaros.
No pátio, um grupo de crianças trajando roupas luxuosas — todas de famílias prestigiadas — brincava alegremente.
Atraída pela cena, Gu Fuyou deu um passo à frente e foi imediatamente transformada em uma criança de aparência delicada.
Com as mãozinhas levemente rechonchudas apertadas com nervosismo, ela se aproximou e perguntou:
— Posso brincar com vocês?
Um dos meninos a empurrou:
— Sai, sai. Você nem consegue canalizar energia espiritual. Se se machucar, o professor vai pôr a culpa na gente.
Outros concordaram com frases parecidas. Todas aquelas crianças já haviam iniciado a prática da cultivação, menos ela, que ainda não sabia canalizar energia espiritual.
Era como se houvesse uma barreira invisível separando-a deles — e ela não conseguia atravessá-la.
Mesmo assim, Gu Fuyou não foi embora. O menino disse:
— Vamos brincar em outro lugar.
E o grupo o seguiu, deixando-a para trás.
Gu Fuyou sentiu-se isolada e triste. Voltou para a sala de aula e, ao sentar-se, percebeu que os assentos ao redor estavam ocupados por pessoas mais velhas, com traços mais maduros.
Atrás dela, vozes sussurravam:
— Ouvi dizer que o Senhor da Cidade favorece ela acima de todos. Nem mesmo Gu Shuangqing recebe o mesmo tratamento. Chegaram até a entregar a ela aquela pílula espiritual especial para refinar as raízes.
— Sério? Então por que ela ainda está no estágio inicial de Prática do Qi? Se fosse o Gu Shuangqing a receber esse tesouro espiritual, já teria avançado com certeza.
Outra pessoa riu:
— Nem os melhores tesouros espirituais compensam a falta de talento. Não entendo por que o Senhor da Cidade ignora o filho talentoso e prefere essa filha inútil.
— Eu já a vi se esforçando muito, sempre em reclusão.
— Vive em reclusão, mas ano após ano continua no mesmo estágio.
— Ha, desse jeito, até sinto um pouco de pena dela.
Incapaz de continuar ouvindo, Gu Fuyou levantou-se bruscamente e saiu correndo.
Ela faltou às aulas e correu para casa. Ao entrar, um homem com roupas leves se virou para ela:
— Ah Man, voltou.
Ele fez uma pausa e então acariciou sua cabeça com suavidade, dizendo com carinho:
— Por que está chorando? Alguém te incomodou?
— Irmão… eu sou burra?
— Irmão, eu sou muito burra?
— De jeito nenhum. Ah Man é a garotinha mais esperta que existe.
— Mas na escola… meu cultivo é o mais lento. Todos riem de mim.
— Ah Man, algumas pessoas cultivam assim mesmo. Leva tempo. Se você se esforçar, um dia vai alcançá-los.
— Mas… e se eu não conseguir? E se, por mais que eu tente, nunca conseguir alcançá-los?
Gu Fuyou enxugou as lágrimas, sentindo-se um pouco perdida. Se o destino era nunca ter sucesso, então de que adiantava todo o esforço?
O homem engasgou, com o rosto tomado pela tristeza, e ficou sem conseguir responder por um bom tempo.
Naquele dia claro, quando Gu Fuyou voltou a si, estava agachada no chão, observando uma formação simples que havia montado com pedras.
Um grupo se aproximou, liderado por um jovem confiante. Ele lançou um olhar em sua direção e zombou:
— A Terceira Gu está brincando com formações de novo.
— Ouvi dizer que ela valoriza essas coisas demais e que está tentando desenvolver uma formação que permita a cultivadores do estágio inicial enfrentarem alguém no estágio da Alma Nascente.
Ao ouvirem isso, todos caíram na gargalhada.
Achavam aquilo engraçado e ridículo. Querendo zombar dela, caminharam até Gu Fuyou, fingindo respeito:
— Mestre Gu, que tipo de formação maravilhosa está desenvolvendo?
— Saiam daqui.
O grupo riu e provocou:
— Vamos, mostre pra gente a formação que pode enfrentar alguém no estágio da Alma Nascente.
Corada de vergonha, Gu Fuyou os observou enquanto continuavam rindo. Apontaram para as pedras que ela havia organizado no chão e perguntaram, zombando:
— É essa aqui?
Um deles chutou as pedras, espalhando-as. Fingindo sentir dor, segurou o pé e riu com escárnio:
— Que formação poderosa! Ai, meu pé, meu pé…
As risadas aumentaram. O rosto de Gu Fuyou ficou vermelho como um tomate. Tomada de vergonha e raiva, retrucou:
— Vocês não entendem nada!
Ao vê-la perder a compostura, eles riram ainda mais.
— A formação criada pelo grande gênio Gu… é claro que nós, pessoas comuns, não entenderíamos.
As risadas continuaram, cortantes.
— Isso mesmo! Meus pensamentos geniais! Vocês nunca vão entender! Porque são todos idiotas! — gritou Gu Fuyou, tomada pela frustração.
Diante daquela reação, o grupo parou de rir e fez uma cara de desdém.
— A gente só te provocou um pouco, e agora você acha que é algum tipo de gênio? Nunca vimos um “gênio” como você antes.
— Eu sou um gênio, tem algum problema com isso?
— Eu sou um gênio!
— Eu sou um gênio! — Gu Fuyou continuou a gritar, cada vez com mais convicção.
Não eram palavras vazias. Pareciam ancoradas em alguma verdade, com um peso real por trás.
Gu Fuyou ficou momentaneamente atordoada, murmurando para si:
— É isso… Eu sou um gênio. Eu sou um gênio…
Um som claro e ressonante ecoou em sua mente.
De repente, ela despertou, percebendo que ainda estava no túnel escuro sob o solo — e se ouviu sussurrando:
— Eu sou um gênio.
Um arrepio percorreu sua espinha ao perceber que havia sido presa por uma ilusão.
Atrás dela estava a entrada do palácio central — mas Zhong Michu e os outros continuavam desaparecidos.
Gu Fuyou pensou que, se ela havia caído em uma ilusão, os outros também deviam estar presos em ilusões parecidas. Eles não podiam estar longe e talvez estivessem por perto.
Enquanto chamava:
— Irmã Sênior Zhong, Gu Huaiyou, Si Miao, Tio Gan…
Ela olhava ao redor e adentrava o palácio central pela entrada, procurando por eles.
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Capítulo 35: Perdidos no Labirinto dos Nove Palácios
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The Dragon
Todos dizem: “Tal pai, tal filha”, mas Gu Fuyou tem um talento medíocre. Tão medíocre que, ao vê-la, as pessoas zombam, se perguntando como Gu Wanpeng poderia ter uma filha...