Capítulo 10

Ela trabalhava em três empregos de meio período por dia, mas os salários não eram altos. Incluindo a comissão por vender bebidas à noite, o máximo que Su Yubing conseguia ganhar num único dia era cerca de trezentos yuans. Ainda assim, precisava arcar com a própria mensalidade da faculdade e com as despesas do dia a dia, além de todos os gastos com o bebê — sem contar as despesas médicas quando ele ficava doente de tempos em tempos. O pouco que ganhava era simplesmente insuficiente.

O trabalho era cansativo, os estudos exigentes e ela ainda precisava cuidar do bebê. Às vezes, Su Yubing ficava tão exausta que nem conseguia produzir leite suficiente para alimentá-lo. Mas comprar leite em pó com frequência era caro demais. Só restava preparar mingau de painço. Felizmente, o bebê era tranquilo e tomava o mingau com gosto, mesmo sendo algo tão simples.

Se não fosse pelo dinheiro emprestado pelas colegas de quarto, Su Yubing já teria abandonado a faculdade. Já que Mo Yuxin havia mandado aquelas coisas por hipocrisia, ela simplesmente aceitaria. De qualquer forma, ela sabia muito bem que tipo de pessoa Mo Yuxin era e definitivamente não amoleceria o coração de novo.

Su Yubing tirou a roupinha do bebê do saco. Era um macacãozinho rosa de ursinho, bem delicado. No entanto, comparado ao tamanho do bebê, estava muito grande. Não era que Mo Yuxin tivesse comprado o tamanho errado — o problema era que o bebê estava um pouco desnutrido e crescia muito devagar. Por isso, não era do tamanho esperado para um bebê de quatro meses.

Fu Zhitao olhou para a roupa, claramente grande demais para o bebê, e reclamou:

— Essa Mo Yuxin não presta atenção em nada mesmo. Comprou uma roupa enorme comparada ao tamanho do bebê.

Yao Qian puxou discretamente a blusa de Fu Zhitao, indicando que não deveria dizer coisas que deixassem Su Yubing triste.

Fu Zhitao também percebeu que havia falado demais e imediatamente abaixou a voz para se desculpar:

— Yubing, me desculpa. Não foi minha intenção mencionar ela.

— Eu entendo. E o que você disse é verdade também. Se ela realmente se importasse com o bebê, como é que não teria perguntado nada sobre ele até agora, com quatro meses? — disse Su Yubing com uma expressão surpreendentemente calma, como se Mo Yuxin realmente não tivesse mais qualquer ligação com ela.

Su Yubing pegou uma lata de leite em pó e preparou uma mamadeira com água. Pingou algumas gotas no dorso da mão para checar a temperatura antes de ir até a caminha verificar o bebê.

Um bebê de poucos meses na verdade não chorava com tanta intensidade. A maior parte do tempo comia, dormia e depois comia novamente ao acordar. Tinha um bom apetite, mas o leite materno de Su Yubing já não era suficiente. Ela olhou para o celular e estimou que o bebê já estava prestes a acordar. Sentou-se na beirada da cama e esperou. Como esperado, pouco depois o bebê abriu os olhos.

Era bem pequenininho. Abriu os olhinhos enevoados sem chorar nem fazer birra. Seus olhos grandes ficavam rolando para os lados e os bracinhos curtos se agitavam, como se procurassem alguma coisa.

Ao ver que o bebê havia acordado, Su Yubing se aproximou para checar. Quando o bebê viu que a mamãe tinha chegado, os bracinhos se agitaram ainda mais. A boquinha se abria e fechava, querendo dizer algo, mas ele ainda não sabia falar — só conseguia fazer sons ansiosos como “ah, ah, ah”.

Somente ao ver o bebê, Su Yubing abriu um sorriso no rosto. Pegou-o nos braços e o embalou com carinho:

— A nossa Pequena Lua tá com fome de novo, é? Bebê bonzinho, vamos comer, assim você cresce mais rápido.

Su Yubing olhou para a mamadeira, o olhar escurecendo por um instante, mas mesmo assim pegou o frasco e começou a alimentar o bebê.

Os olhos grandes do bebê fixaram-se naquele objeto. Ele não sabia exatamente o que era, mas entendia que era algo que dava comida. Depois de mamar, a barriguinha não ficaria mais roncando.

Assim que acordou, o bebê já queria comer. A mãozinha se esticava com vontade, tentando alcançar a mamadeira. Su Yubing riu, divertida:

— Tá bom, tá bom, guloso. Não precisa ficar com tanta pressa. Já vou te dar.

Enquanto falava, levou o bico da mamadeira até a boquinha do bebê. Ele abriu o bocão e abocanhou com força. Começou a sugar o leite com empenho, segurando o frasco com as mãozinhas. Quando cansava, fazia uma pausa para respirar e logo voltava a mamar.

A expressão do bebê era tão fofa que derreteu imediatamente os corações das quatro garotas do dormitório.

Fu Zhitao se aproximou sorrindo e olhou para o bebê com carinho, dizendo com uma risada:

— Nossa Pequena Lua é mesmo um amor. Até mamando ela é uma gracinha.

— Claro! A nossa Pequena Lua é o bebê mais comportado do mundo — Yao Qian completou, o rosto repleto de um sorriso maternal.

Su Yubing olhou para suas colegas de quarto e balançou a cabeça com um sorriso, mas por dentro o coração estava apertado. Agora que o bebê ainda era pequeno, dormia a maior parte do tempo. Mesmo assim, Su Yubing sempre sentia que estava incomodando as colegas. À medida que o bebê crescesse, chorar e fazer bagunça seria inevitável. Ela precisava ganhar dinheiro o quanto antes. Seria melhor se conseguisse alugar um lugarzinho perto da universidade.

(…)

Do outro lado, depois de entregar as coisas para o bebê, Mo Yuxin voltou ao dormitório e começou a organizar os pertences da antiga dona do corpo, planejando jogar tudo fora e comprar novos.

Um dos motivos era que Mo Yuxin se sentia desconfortável usando as roupas da antiga dona. O outro motivo era que os gostos dela eram completamente diferentes. Para manter a imagem de fria e distante, a antiga dona seguia um estilo de moda juvenil japonesa. Mas, em sua vida anterior, o estilo de Mo Yuxin era mais maduro, elegante. Agora que estava vivendo nessa nova realidade, ela tinha certeza de uma coisa: precisava ser ela mesma. E seguir seus próprios gostos era essencial.

Considerando que o dinheiro que tinha no celular não era muito, Mo Yuxin foi contida ao comprar roupas. Comprou apenas alguns conjuntos e calçados, gastando menos de dez mil yuans. Pagou uma taxa de entrega ao lojista e pediu para que mandassem os itens até a entrada do prédio do dormitório, para que ela mesma os levasse até seu quarto.

Inicialmente, o ato de Mo Yuxin sair carregando um monte de roupas já foi o suficiente para deixar as pessoas confusas. Jiang Qian e as outras pensaram que Mo Yuxin ia se mudar para morar com alguma mulher rica. Mas, duas horas depois, ela voltou trazendo várias sacolas grandes de volta. O sorriso no rosto de Jiang Qian desapareceu imediatamente. Então ela não ia se mudar? Tinham se alegrado à toa.

Mo Yuxin tinha um leve transtorno obsessivo-compulsivo. Suas roupas e demais pertences precisavam estar todos bem organizados e categorizados. Depois de arrumar tudo, pegou uma das roupas novas e foi tomar banho.

Chen Ge se aproximou e puxou Jiang Qian pelo braço.

— Ei, o que será que ela está aprontando agora? Ouvi dizer que ela foi até o dormitório das ômegas à tarde e entregou duas sacolas para o dormitório da Su Yubing. Já postaram fotos no fórum da escola. Parece que era leite em pó.

— Leite em pó? Aquela cretina não vivia dizendo que o filho não era dela? Será que está tentando atrapalhar a Su Yubing de novo? — Jiang Qian respondeu, com vontade de invadir o banheiro e partir para cima de Mo Yuxin. Embora toda essa história não tivesse nada a ver com ela, não significava que não odiasse Mo Yuxin do fundo do coração.

Chen Ge a segurou:

— Calma, não vai agir por impulso. Parece que ela só foi mesmo entregar as coisas. Nem chegou a ver a Su Yubing. Quem recebeu foi uma das colegas de quarto dela.

— Que estranho… Ela teve coragem de mandar as coisas assim, na cara dura? Não tem medo de que todas aquelas mulheres ricas descubram? — Jiang Qian também achou aquilo esquisito.

As duas se encararam por um bom tempo, mas não conseguiram entender o que Mo Yuxin estava tentando fazer.

(…)

Mo Yuxin, por sua vez, não se importava com nada daquilo. Tomou um banho bem relaxante. Vestiu uma camisa de gola alta limpa por cima e uma calça jeans flare de tom claro por baixo, combinando com um par de tênis totalmente brancos. Seu estilo agora era completamente diferente de antes. Além disso, também passou uma maquiagem refinada, e sua aparência não tinha mais nada do temperamento frio da antiga dona do corpo.

O rosto atual de Mo Yuxin era realmente muito bonito, mas a antiga dona geralmente usava maquiagem suave e discreta. Já a maquiagem que Mo Yuxin passou era mais encantadora e sedutora. A garota pura e inocente de antes virou uma mulher madura sexy e preguiçosamente charmosa.

Tanto que, quando Mo Yuxin saiu do banheiro, Jiang Qian chegou a pensar por um instante que estava confundindo ela com outra pessoa.

Mo Yuxin olhou com divertimento para suas três colegas de quarto, que a encaravam fixamente, e piscou, dizendo em tom de provocação:

— Eu sei que sou perfeita, mas também não precisam me encarar assim, né?

— Cai fora! Mesmo que eu fosse cega, ainda não me interessaria por você — Jiang Qian quase revirou os olhos até o céu.

Ao ver que tinha irritado Jiang Qian, Mo Yuxin logo abriu um sorriso vitorioso. Essas colegas de quarto até que eram bem interessantes — e não eram más pessoas. Mesmo que tivesse ocorrido algum desentendimento, isso estava mais relacionado à antiga escrota que habitava aquele corpo, não a ela.

Mo Yuxin pegou o celular e se sentou à escrivaninha embaixo da cama, rolando as mensagens. Estava se preparando para registrar uma conta de transmissão ao vivo. Quando comprasse o equipamento no dia seguinte, já começaria a ganhar dinheiro com as lives — dinheiro para leite em pó.

Na vida passada, ela sempre foi solteira. Por um lado, achava que era perfeita demais para qualquer pessoa. Por outro, sentia que relacionamentos davam muito trabalho. Era melhor brincar com pedras, comer, beber e aproveitar a vida. Por isso, nunca teve a intenção de namorar ou se casar. E nesta vida não seria diferente. Agora que tinha um bebê a mais, cuidaria dele no caminho, limparia a bagunça deixada pela antiga escrota e então poderia viver uma vida despreocupada.

Mo Yuxin procurava um fórum de transmissão ao vivo. O que ela não sabia era que o fórum da Universidade Xining já tinha travado quatro ou cinco vezes naquela tarde — tudo por causa dela. Várias pessoas enfrentaram bugs e não conseguiam acessar. Na tela aparecia: O fórum está muito popular, tente novamente mais tarde.

Li Xinjie finalmente conseguiu entrar e viu no topo um post fixado em vermelho com o título: “A bela e deslumbrante alfa do campus já tem filho?! E a mãe da criança é ela!!”

O fórum da universidade era anônimo. A publicação estava fixada com a palavra explosivo escrita em vermelho ao lado.