Capítulo 22

— Que programa? Como assim a escola foi parar num programa sem mais nem menos? — perguntou Jiang Qian, intrigada.

Mo Yuxin assentiu e respondeu:

— Digamos que não foi exatamente sem motivo. Fui eu quem chamou os repórteres.

Ao ouvir aquilo, Jiang Qian quase cuspiu a água que estava bebendo. Sua voz até subiu uns bons tons de tanto choque:

— O quê? Você chamou eles? Não, pera… por que você chamou repórteres aqui?!

Mo Yuxin exibiu um sorriso gentil.

— Claro que foi pra divulgar que os líderes da nossa escola gostam de ajudar os alunos e que todos nós somos unidos e amigáveis. Afinal, eu sou uma pessoa tão correta e bondosa. Nunca faria nada absurdo.

Vendo o sorriso “bondoso” de Mo Yuxin, Jiang Qian se arrepiou inteira. Fez um bico de desdém e retrucou:

— Bondosa? Você tem alguma relação com essas duas palavras? Vou abrir o programa também.

No fim das contas, todo mundo adora ver uma fofoca. As outras duas do dormitório também abriram o Xining Consultation para assistir.

Mo Yuxin se sentou na cadeira, interessada, olhando para a tela à sua frente. Depois de dois vídeos de atualidades locais, finalmente chegou a vez do quadro sobre a Universidade de Xining.

Ao mesmo tempo, no dormitório de Su Yubing, alguém mandou no grupo da turma o link do Xining Consultation. Assim que Fu Zhitao clicou, logo viu Mo Yuxin aparecer na TV.

Fu Zhitao ficou surpresa por um instante antes de falar para as colegas de quarto:

— Ei, meninas, cliquem rápido no link do grupo. A Mo Yuxin tá na TV!

— O quê? Mo Yuxin de novo? O que foi que ela aprontou agora? — Yao Qian perguntou curiosa, correndo para abrir o link. Não era de se estranhar: Mo Yuxin vinha chamando bastante atenção ultimamente.

Su Yubing, por sua vez, não queria assistir. O bebê tinha acabado de acordar, e ela o embalava nos braços, brincando. Mas as palavras de Yao Qian ficaram ecoando na sua cabeça. A curiosidade venceu. Segurando o bebê, Su Yubing pegou o celular, abriu o link, colocou no mudo e conectou aos fones Bluetooth. Olhou de relance e viu que as colegas estavam distraídas assistindo também, sem reparar nela. Só então soltou um suspiro de alívio.

Não é que eu queira ver a Mo Yuxin… é só curiosidade mesmo.

No vídeo, Mo Yuxin primeiro explicou o caso do fórum anônimo da outra vez e, em seguida, começou a elogiar com bastante emoção os líderes da faculdade. Depois, acompanhou os repórteres pelo campus da Universidade de Xining, onde entrevistaram alguns estudantes. Todos demonstraram forte repulsa contra quem difamava os outros no fórum anônimo.

A cena mudou, mostrando Mo Yuxin com os repórteres no escritório do reitor Xiang Siyuan. Ela se aproximou e começou a enaltecer a escola: desde a preocupação dos líderes até o apoio que recebeu para usar a lei em defesa dos seus direitos. Se não fosse pelo fato de todos estarem presentes no escritório naquele dia, vendo a atuação emocionada de Mo Yuxin, quase poderiam ter acreditado nela.

Mas a atmosfera daquela vez tinha sido bem diferente: tensão, como se flechas estivessem prestes a ser disparadas. O reitor queria claramente que todos cedessem para evitar maiores problemas. Só que, dessa vez, Mo Yuxin trouxe repórteres e colocou a escola contra a parede. Agora, não só não poderiam impedir que ela processasse os agressores do fórum, como ainda teriam que dar total suporte e punir os alunos envolvidos conforme as regras.

Su Yubing sorriu. Não esperava que Mo Yuxin fosse tão astuta. Conseguiu driblar a escola e a polícia ao mesmo tempo, ainda por cima entregando aos repórteres uma pauta quente. Essa realmente foi uma jogada em que todos saíram ganhando.

O bebê, que havia dormido a tarde inteira e acabado de tomar leite em pó, estava cheio de energia. Seus olhinhos grandes piscavam, fixos na pessoa da tela. Quando se animou, esticou a mãozinha gordinha e apontou para Mo Yuxin na TV, balbuciando alegremente:

— Ya ya ya, ya ya~

Su Yubing riu da cena fofa, mas logo que seus olhos recaíram sobre Mo Yuxin na tela, sua expressão voltou a esfriar. Pensar que o bebê já tem quatro meses e Mo Yuxin ainda não o viu nem uma vez… Um aperto tomou conta do peito de Su Yubing. Abraçou o bebê e o embalou, mas a cabecinha teimava em se virar para a tela, enquanto a mãozinha continuava apontando para Mo Yuxin.

Balançando o bebê nos braços, tentando distraí-lo, Su Yubing falou baixinho:

— Pequena Lua, brinca com a mamãe. Não olha pra aquele grande vilão, tá bem? Aquele vilão é muito mau. Vamos ignorar ela.

O bebê deu uma risadinha “hehe”, com o bocadinho sorrindo como uma flor.

Su Yubing acabou se contagiando com a alegria do filho. Olhou para Mo Yuxin na tela e, aproximando o bebê, disse:

— Pequena Lua, tá vendo? Aquela mulher na tela é uma super vilã. Ajuda a mamãe a dar uns tapinhas nela, tá bom?

O bebê, sem entender o significado, apenas olhava para a mamãe com grande interesse.

Su Yubing apertou a mãozinha rechonchuda do bebê e a levou até a tela, fazendo-o bater no lugar onde Mo Yuxin aparecia. Enquanto isso, ria e dizia:

— Bate no vilão, a nossa Pequena Lua tá ajudando a mamãe a bater no vilão.

O bebê se divertiu tanto que não parava de rir “gege”. Sua mãozinha gorda batia de vez em quando na tela, acompanhada de balbucios incompreensíveis:

— Ya, ya ya, ya ya ya!

Su Yubing riu junto:

— Isso mesmo, bate, bate no vilão, no grande vilão.

O bebê estava radiante. Quando a cena mudou para outra pessoa, ainda quis bater mais algumas vezes, mas Mo Yuxin já não estava lá. Olhou para a mamãe, confuso, como se pedisse que ela explicasse para onde a pessoa tinha ido.

Su Yubing achou a expressão fofa demais e caiu na risada, balançando o bebê nos braços para brincar.

No dormitório, Mo Yuxin terminou de assistir ao programa, sentindo-se leve e revigorada. Mas, no momento seguinte, espirrou várias vezes seguidas.

— Atchim, atchim, atchim! Quem será que tá pensando em mim agora?

O que ela não sabia era que alguém de fato estava pensando nela — só que pensando em bater nela.

Ao mesmo tempo, Yan Fangping, o responsável pela postagem no fórum anônimo, não conseguia mais ficar parado. Ele não esperava que a situação do fórum fosse explodir tanto. Não esperava que Mo Yuxin não apenas chamasse a polícia, mas também trouxesse gente da TV. O repórter ainda havia dito que continuaria acompanhando o caso. O rosto de Yan Fangping escureceu na hora, e até suor frio escorreu por sua testa. Nesse ponto, só podia sonhar que a polícia não conseguisse recuperar esses dados.

Depois que a delegacia aceitou dar entrevista, o andamento da investigação e da coleta de provas acelerou bastante, com ainda mais gente sendo designada para cuidar do caso.

Após assistir ao programa, Mo Yuxin lembrou da aula de Cálculo Avançado na tarde seguinte. Ela realmente não queria repetir a disciplina. Afinal, se reprovasse, teria que refazer a prova, e isso era bem trabalhoso. Ainda precisava correr atrás de dinheiro para o leite em pó do bebê, não tinha tanto tempo para desperdiçar com recuperação. Mas suas colegas de dormitório tinham um nível acadêmico parecido com o dela, o que deixava Mo Yuxin preocupada.

Ela pensou nas pessoas que conhecia na escola. As jovens ricas que a dona original costumava acompanhar estavam fora de cogitação. Suas próprias colegas de quarto também não serviam. Dos outros dormitórios, ela só conhecia Su Yubing e as colegas dela. Se eu pedisse pra Su Yubing me dar uma aula particular… será que ela recusaria?

Mo Yuxin pegou o número de Su Yubing e ficou olhando por um bom tempo, até decidir ligar. Em relação aos estudos, não tinha em quem confiar além dela. Talvez Su Yubing esteja de bom humor depois de ver o programa de hoje à noite?

Mo Yuxin discou o número. O telefone tocou algumas vezes antes de Su Yubing atender:

— Mo Yuxin? O que você quer?

O tom de Su Yubing era frio e indiferente. Mo Yuxin fez bico. Eu realmente assumi um peso enorme por causa da dona original.

— Yubing, é sobre a aula de Cálculo Avançado de hoje. Eu realmente não entendi nada. Se amanhã de tarde eu for chamada pra responder e não souber, vou acabar reprovando.

Su Yubing já tinha entendido a intenção de Mo Yuxin naquele ponto, até porque há pouco tempo deixara o bebê bater várias vezes na tela do celular onde aparecia Mo Yuxin. Estava de bom humor naquele momento e não desligou na cara dela, apenas manteve o tom indiferente:

— E daí? O que eu tenho a ver com a sua reprovação?

— Yubing, por favor, me ajuda a revisar aquelas questões de ontem amanhã de manhã. Eu ficaria muito grata, de verdade. Eu realmente não tenho outra saída. Yubing, pensa bem, eu trouxe a TV pra escola, fiquei correndo de um lado pro outro… só me ajuda a revisar essa aula. Yubing, eu tô quase chorando. — disse Mo Yuxin, no tom mais lastimoso que conseguiu.

Su Yubing cobriu o microfone do celular e riu baixinho antes de responder com a mesma frieza:

— Quer que eu te ajude?

— Uhum. — disse Mo Yuxin, cheia de expectativa.

— Não é impossível… mas então chora aí pra eu ouvir. Se você chorar bem alto, eu te ajudo. — Na verdade, Su Yubing já planejava concordar. Estava de bom humor naquele dia, não apenas por causa dos repórteres, mas também porque tinha deixado o bebê “bater” em Mo Yuxin por bastante tempo. Pensou que Mo Yuxin insistiria um pouco mais, e então ela aceitaria. Afinal, Mo Yuxin ter sido chamada para responder perguntas também tinha relação com ela.

No momento seguinte, começaram a vir sons de “wuwuwu” do outro lado da linha?

Su Yubing levou um susto tão grande que estremeceu, com medo de Mo Yuxin começar a soltar algum som estranho. Apavorada, disse depressa:

— Tá bom, tá bom, eu aceito. Te ajudo a revisar o conteúdo da última aula amanhã cedo. Oito e meia, na entrada da Sala de Estudos nº 6. Te espero lá.

— Beleza, obrigada, Yubing. — respondeu Mo Yuxin, feliz da vida.

O bebê ainda estava no colo de Su Yubing nesse momento. Vendo a mamãe falar com aquela caixinha quadrada, também quis participar. Sua mãozinha gordinha se esticou em direção ao celular, enquanto abria a boquinha e gritava:

— Ya ya ya~

Mo Yuxin ainda não tinha desligado. Ao ouvir a vozinha leitosa, perguntou, empolgada:

— Yubing, foi o bebê que falou agora?

Su Yubing afastou o bebê um pouco e respondeu com frieza:

— Tô te avisando: não tenha ideias sobre o bebê. Até amanhã de manhã. — E desligou na hora.

Quando Su Yubing fez a ligação, suas colegas de dormitório estavam, na verdade, ouvindo escondidas. Não era que gostassem de se meter na vida alheia, mas Su Yubing tinha sofrido tanto antes que todas se preocupavam com ela.

E, como esperado, a ligação era mesmo de Mo Yuxin. Mas o surpreendente foi que Yubing não desligou na hora ao ver o número, e ainda conversou por um bom tempo?

É verdade que todas achavam que Mo Yuxin deveria dar algum dinheiro, já que nunca tinha feito nada pelo bebê nem por Su Yubing. Mas também não queriam que Yubing tivesse contato demais com ela, com medo de que caísse novamente na armadilha.

Elas trocaram olhares, até que Fu Zhitao falou:

— Yubing, era a Mo Yuxin agora há pouco?

— Uhum. Ela me pediu ajuda pra revisar a aula de Cálculo Avançado de hoje. Disse que não quer reprovar. Eu aceitei dar uma aula particular amanhã cedo.

Vendo as expressões sérias das colegas, Su Yubing sorriu e continuou:

— Fiquem tranquilas. Não vai acontecer nada entre mim e ela. Só quero ver até quando Mo Yuxin consegue sustentar essa pose de boazinha, e qual é a intenção dela de verdade. — Isso, de fato, era algo que Su Yubing nunca tinha conseguido entender sobre Mo Yuxin.

Ao perceberem que Su Yubing estava bem racional, Fu Zhitao e as outras suspiraram aliviadas e disseram, sorrindo:

— Você quase matou a gente de susto, Yubing. Só estávamos com medo de que aquela canalha te enganasse de novo.

— Relaxem. Eu não sou mais a mesma de antes. — respondeu Su Yubing com um sorriso. Mas, por trás desse sorriso, estava a resposta que só tinha conseguido alcançar depois de sofrer demais.

No dormitório de Mo Yuxin, do outro lado, todos também foram atraídos pela ligação dela. Principalmente porque, se não tinham prestado atenção no começo, com certeza ficaram incomodados depois com a sequência de “wuwuwu” que Mo Yuxin soltou. Todos ali eram alfas de verdade, com personalidades bem diretas. Eles realmente não aguentavam o “wuwuwu” dela de agora há pouco.

Jiang Qian esfregou os braços, arrepiados, e disse com desdém:

— Mo Yuxin, eu te imploro. Pode parar de fazer esse som delicado? Eu estou realmente assustada.

Mo Yuxin piscou para Jiang Qian e respondeu em tom manhoso:

— A Yubing pediu pra eu chorar pra ela ouvir, então eu fui lá e fiz wuwuwu.

— Cai fora. A Su Yubing nunca faria isso. Não joga suas esquisitices nos outros. — Jiang Qian suspeitava que Mo Yuxin tinha sido possuída recentemente pelo espírito da atuação exagerada.

— Tá bom, tá bom. Eu acabei de implorar pra Yubing me ajudar a revisar Matemática Avançada. Se não fosse por isso, antes mesmo da prova final, eu já estaria reprovada amanhã. — Desta vez, Mo Yuxin teve um pouco de consciência e não assustou as colegas de quarto com aquele tom meloso.

— Ainda bem. — Só então os arrepios no braço de Jiang Qian diminuíram. Ao mesmo tempo, ela ficou um pouco intrigada com o fato de Su Yubing ter concordado em dar aulas particulares para Mo Yuxin. Na verdade, hoje ela até deixou Mo Yuxin se sentar com ela.

Jiang Qian não sabia que Su Yubing tinha feito isso de propósito para cortar o caminho financeiro de Mo Yuxin de ficar atrás de mulheres ricas. Porém, não adiantava, porque a atual Mo Yuxin já não corria atrás de mulheres ricas.

O objetivo de Mo Yuxin agora era se tornar ela mesma uma mulher rica. Aliás, a voz do bebê ao telefone de agora há pouco era realmente fofa. Mo Yuxin pensou que seria maravilhoso poder ver o bebê com mais frequência. O pequeno deve ser macio e adorável. O que ela não sabia era que aquele bebê já tinha dado uma surra nela.