Capítulo 6

Depois que a água ferveu, Mo Yuxin colocou o remédio para ressaca em um copo e o dissolveu com a água quente. Ela deixou o copo de lado para esfriar um pouco antes de dar a bebida a Su Yubing.

Ajudou Su Yubing a tirar os sapatos, levantou-a para que pudesse repousar a cabeça no travesseiro e a cobriu com o cobertor. Depois de fazer tudo isso, Mo Yuxin estava tão exausta que desabou na cama ao lado dela.

Ela realmente não tinha parado um segundo o dia inteiro. Primeiro, viveu uma transmigração. Depois, caiu no corpo dessa canalha. Passou o dia todo no mercado de jade e conseguiu seu primeiro pote de ouro. À noite, seguiu as instruções da página do livro em sua mente e evitou com sucesso que a protagonista fosse intimidada. E agora ainda tinha trazido a bêbada da Su Yubing de volta para cuidar dela. Mo Yuxin sentia que estava quase virando uma super-heroína. Pensando bem, ela estava realmente muito cansada.

Depois de mais de dez minutos, calculando que o remédio já havia esfriado, Mo Yuxin ajudou Su Yubing a se sentar e apoiou o corpo dela no seu. Aos poucos, foi dando o líquido morno na boca de Su Yubing. Ela parecia com sede e não rejeitou o líquido que lhe era oferecido, apenas franziu um pouco o cenho, achando que o gosto da água estava estranho.

Su Yubing sentia tontura e não tinha forças nem para abrir os olhos. Depois de engolir o líquido, adormeceu novamente.

Vendo que Su Yubing estava bem, Mo Yuxin finalmente soltou um suspiro de alívio. Pegou um roupão e foi tomar banho. Depois de secar o cabelo, deitou-se na cama e salvou uma cópia de segurança do vídeo gravado no bar na nuvem.

Olhando para a lista das Ricas Número 1 até a Número N no celular, pensou que, ao voltar para a escola no dia seguinte, teria que se apressar para devolver o dinheiro dessas pessoas. Felizmente, a antiga dona do corpo tinha um caderno com senha, onde estava anotado quantos presentes cada rica havia dado e quanto dinheiro cada uma tinha emprestado. Se não fosse isso, Mo Yuxin só poderia chorar.

Ela largou o celular e apagou o abajur. Repensou mentalmente tudo o que havia acontecido naquele dia. A página do livro que havia aparecido no bar permanecia gravada em sua mente. O texto original havia sido apagado e reescrito com tudo o que acontecera com ela até então.

Mo Yuxin ainda queria refletir sobre aquilo, mas o sono a dominou rapidamente e ela adormeceu.

Às seis da manhã, Mo Yuxin acordou pontualmente. Não que tivesse esse hábito em sua vida anterior, mas o corpo que ocupava agora ainda conservava parte da memória muscular da antiga dona.

O motivo pelo qual a antiga dona do corpo acordava às seis da manhã com certeza não era para estudar, e sim para paquerar. Todos os dias, ela se vestia impecavelmente, sentava-se no banco comprido ao lado da pista de corrida fingindo ler, e com isso criava uma imagem fria e estudiosa. Quando começavam a aparecer mais pessoas pela pista, ela começava a correr. Seu corpo já era naturalmente muito atraente, e muitos admiradores se reuniam só para vê-la correndo.

Mo Yuxin ficou deitada com os olhos abertos. Ela realmente não entendia. O que havia de tão bom em se envolver com tantas mulheres ricas? Não seria melhor virar uma mulher rica por conta própria?

De qualquer forma, não conseguiu voltar a dormir. Trocou de roupa, pegou o cartão do quarto e foi tomar café da manhã no refeitório do hotel. Pensou que poderia levar algo para Su Yubing comer depois.

Algum tempo depois que Mo Yuxin saiu, Su Yubing abriu lentamente os olhos. Sua cabeça doía um pouco, mas nada muito grave. Ao perceber que estava em uma cama de hotel, Su Yubing ficou tão nervosa que quase gritou.

Ela se forçou a manter a calma e verificou seu corpo, confirmando que não havia sido tocada por ninguém. Só então respirou aliviada. Mas ao ver o cobertor todo bagunçado do outro lado da cama, seu coração disparou novamente. Alguém havia dormido naquele quarto com ela na noite anterior.

Quem será que foi? A única coisa de que ainda se lembrava eram as palavras humilhantes de Wei Shiqi na sala privada. O que aconteceu depois disso estava completamente em branco.

Justamente quando Su Yubing estava tomada de preocupação, Mo Yuxin voltou do café da manhã. Abriu a porta com um “bip” usando o cartão e deu de cara com Su Yubing, que estava em pé ao lado da cama, completamente em pânico.

Ao ver Su Yubing, Mo Yuxin ficou um pouco sem jeito. Sorriu de forma constrangida e a cumprimentou:

— Bom dia, Yubing.

Su Yubing sentiu como se tivesse caído em um poço gelado. Como pôde acabar junto com essa canalha? Como se tivesse ativado um gatilho de trauma, Su Yubing apontou para Mo Yuxin e disse:

— Fica longe. Tô mandando você se afastar.

— Tá bom, tá bom, eu me afasto. Yubing, não entenda mal. Ontem à noite, você bebeu demais, então eu te trouxe de volta. Quando voltamos pra escola, já tinha passado da hora do dormitório fechar. Eu só consegui um quarto aqui perto da escola. Juro que não fiz nada além disso. Até trouxe café da manhã pra você. — Ao dizer isso, ela levantou a sacola de comida na mão. Considerando o histórico da antiga dona do corpo e seus incontáveis comportamentos canalhas, Mo Yuxin só pôde se defender primeiro. Mas, obviamente, a protagonista não acreditava muito nela.

— Chega! Quem precisa da sua falsa gentileza? Mo Yuxin, você sabe melhor do que ninguém que tipo de pessoa você é. Eu já não sou mais aquela senhorita da família Su. Não tenho nada pra te oferecer. Não precisa ficar toda atenciosa comigo. Vai atrás das suas ricas — disse Su Yubing friamente. Se não fosse por sua boa educação, ela teria avançado naquela canalha da Mo Yuxin.

O coração de Mo Yuxin gelou. A antiga dona daquele corpo era mesmo uma canalha até o último fio de cabelo. Parecia que todo mundo sabia que ela adorava se envolver com mulheres ricas. Mo Yuxin suspirou. Tudo bem… quem mandou eu ocupar o corpo dessa canalha agora?

— Yubing, eu realmente mudei. Não vou mais atrás de mulheres ricas. Eu sei que, não importa o que eu diga agora, você não vai acreditar, mas eu vou te provar. Tudo o que eu disse é verdade. E quanto ao bebê… eu vou criar esse bebê com você. — Mo Yuxin ainda tentou se explicar, mesmo que de forma hesitante. Ela tinha salvado a protagonista na noite passada. Não queria ser mal compreendida de novo.

Su Yubing cruzou os braços diante do peito e soltou uma risada fria.

— Criar o bebê? Com o quê? Com o dinheiro das suas mulheres ricas?

— Yubing, não fala assim. Eu já encontrei uma forma de ganhar dinheiro. Vou trabalhar duro. Enfim, tanto faz, você não vai acreditar mesmo. Come pelo menos o café da manhã. Você bebeu ontem, e não comer de manhã faz mal pro estômago — disse Mo Yuxin, colocando a comida sobre a mesinha de centro, bem próxima à porta do quarto.

Ao ouvir isso, o rosto de Su Yubing esfriou por completo. A amargura que ela vinha engolindo desde o fundo do coração transbordou de uma vez. O próprio corpo dela? Será que Mo Yuxin se importou alguma vez? Naquela época, o bebê já tinha sete ou oito meses. Ela nem tinha dinheiro suficiente guardado para ir ao hospital dar à luz.

Trabalhava todos os dias em lojas de conveniência para juntar dinheiro para a internação. Até o momento em que foi hospitalizada, vivia apertada. Se não fossem suas colegas de quarto emprestando dinheiro, ela nem teria conseguido ir ao hospital. E onde estava Mo Yuxin nessa hora? Estava flertando com ômegas ricos recém-conhecidos.

Depois de dar à luz, ela só descansou por duas semanas antes de voltar a trabalhar. Não tinha como pedir mais dinheiro emprestado para as colegas, e também não tinha cara para voltar pra casa. Mas a vida tinha que continuar, e criar um bebê custava caro. Até hoje, além das aulas obrigatórias, trabalhava em dois ou três bicos diferentes por dia. E onde estava Mo Yuxin durante tudo isso? Agora vinha fingir ser uma boa pessoa diante dela. Su Yubing só conseguia achar aquilo tudo ridículo.

— Sai daqui. Ouvir essas coisas que você fala me dá enjoo — disse ela. A boa educação que recebera desde pequena a impedia de soltar palavrões como uma descontrolada, mas também não queria gastar mais palavras com aquela canalha da Mo Yuxin. Até estar no mesmo cômodo que ela já era motivo de repulsa.

— Tá bom, tô indo agora. Mas Yubing, você ainda precisa comer. Olha, faz o seguinte: considera que eu tô te vendendo isso. Cinco pãezinhos e uma tigela de mingau, dá dez yuans no total — disse Mo Yuxin. Achava que a protagonista provavelmente não queria ter qualquer vínculo com ela, então preferiu vender a comida. Assim, não deviam nada uma à outra, e a protagonista poderia comer com a consciência tranquila.

Su Yubing ficou atônita com o que ouviu. Essa canalha queria mesmo que ela pagasse uns trocados pelo café da manhã? A amargura que sentia até então nem parecia mais relevante. Agora, o que ela queria mesmo era perguntar se Mo Yuxin ainda era um ser humano.

— Eu não tenho trocado comigo — disse Su Yubing entre dentes cerrados, mesmo com toda sua boa educação.

Mo Yuxin assentiu e nem foi embora. Disse com consideração:

— Sem problema. Pode me transferir pelo WeChat ou outro método. Qualquer forma serve.

E, dizendo isso, ainda mostrou o QR code do próprio WeChat com todo cuidado. Afinal, se a protagonista não pagasse, certamente não comeria nada daquilo. Ela realmente tinha pensado em tudo.

A essa altura, Su Yubing estava tão furiosa que queria gritar. Pedir pra escanear o código pra pagar? Isso é coisa de gente?! Como é que meus olhos foram tão cegos no passado, a ponto de me apaixonar por uma mulher tão miserável, mentirosa e mesquinha, que ainda por cima pechincha por dez yuans?!

A raiva era tanta que sua mão tremia enquanto segurava o celular. Ela lançou um olhar fulminante para Mo Yuxin e escaneou o código, transferindo os dez yuans. Mo Yuxin ainda teve a ousadia de continuar sorrindo para ela. Su Yubing sentia que sua cabeça ia explodir de tanta indignação por causa daquela canalha.

— Transferido. Agora dá pra você cair fora? — ironizou Su Yubing.

Mo Yuxin não se irritou nem um pouco. Sorriu para ela e disse:

— Tá bem, tô indo agora. Yubing, vou deixar o cartão do quarto aqui. Não esquece de devolver na recepção quando sair.

Dito isso, sob o olhar gélido de Su Yubing, Mo Yuxin desapareceu de sua vista.

Naquele momento, a cabeça de Su Yubing ainda latejava um pouco. Olhou para o copo com tampa sobre a mesinha de cabeceira. Havia um pequeno bilhete preso embaixo dele.

「Tem remédio pra ressaca aqui dentro. Se ainda estiver tonta, por favor, me beba~」 — Mo Yuxin ainda desenhou um rostinho engraçado no final.

Su Yubing tocou no copo. A parede ainda estava morna, indicando que o líquido lá dentro ainda estava quente. Ela olhou também para a lixeira e viu que realmente havia uma embalagem de remédio para ressaca ali. De qualquer forma, agora não restava mais nada que Mo Yuxin pudesse usar para enganá-la. Sua cabeça estava péssima e ela ainda tinha três bicos pela frente naquele dia. Não dava pra continuar assim. Olhando para o remédio no copo, Su Yubing o pegou e bebeu tudo de uma vez só.

Ao lado, havia outro copo com tampa, e outro bilhete estava preso embaixo.

「Se estiver muito amargo, então beba a mim~」 — smiley face jpg.

Já que aquela canalha da Mo Yuxin não estava mais aqui, mesmo se ela bebesse, ela não veria. Su Yubing pegou o copo com água clara e deu alguns goles. Ao entrar na boca, tinha um dulçor refrescante. Provavelmente havia açúcar cristal ali.

Se fosse no passado, talvez ela se deixasse enganar por esses pequenos gestos de novo. Mas agora, ao olhar para tudo isso, Su Yubing só conseguia achar ridículo. Ela odiava Mo Yuxin. E odiava ainda mais a si mesma, por não ter conseguido enxergar quem ela era de verdade naquela época.