Capítulo 8

Mo Yuxin entrou na sala de aula e sentou-se em seu lugar, sentindo-se muito mais aliviada. Planejava voltar mais tarde para se livrar de todas as coisas que aquelas mulheres ricas tinham dado à antiga dona do corpo e então comprar algumas novas.

O curso da antiga dona na universidade era finanças. Aquela era uma aula geral para todo o departamento de finanças. A sala grande acomodava mais de duzentas pessoas. Mo Yuxin não entendia nada de finanças. Planejava apenas garantir o diploma. Para ganhar dinheiro, ainda teria que contar com suas próprias habilidades.

Por isso, muitos ômegas viram Mo Yuxin deitada sobre a mesa, mexendo no celular.

Vale lembrar que a antiga dona era especialista em manter uma boa imagem. Mesmo sem entender nada, ela se sentava ereta durante as aulas. Era a alfa dos sonhos de muitas ômegas do departamento. Mas hoje, parecia que o sol tinha nascido no oeste. A estrela acadêmica estava… jogando no celular?

Mo Yuxin percebeu que muitos a olhavam discretamente, mas não ligou. Em sua vida anterior, seu rosto era ainda mais estonteante do que o que tinha agora — este que se parecia noventa por cento com o antigo. Naquela época, havia ainda mais pessoas interessadas nela, mas Mo Yuxin recusava todas. Sempre acreditou que era bonita demais para pertencer a alguém. Beleza única, incomparável. Por isso, as palavras com que acabara de recusar as outras não eram completamente falsas.

O professor no púlpito lecionava com empolgação. Mo Yuxin estava deitada sobre a mesa, pesquisando informações sobre jade na internet. Na vida anterior, era justamente por ter um rosto tão bonito que ela se tornou um dos principais nomes da indústria de escultura em jade. Muitos assistiam suas lives apenas por causa de sua aparência. Talvez fosse uma boa ideia voltar a fazer lives de escultura pra ganhar dinheiro…

O que Mo Yuxin não sabia era que seu comportamento de mexer no celular em sala de aula havia despedaçado a admiração de várias ômegas pela sua persona acadêmica fria e reservada. Era como se seus sonhos tivessem se quebrado.

Chen Ge cutucou Jiang Qian ao lado e murmurou:

— Olha pra Mo Yuxin… por que ela tá no celular agora? Não era ela quem mais gostava de bancar a séria?

Jiang Qian olhou imediatamente para o lado onde Mo Yuxin estava e a viu deitada sobre a mesa, preguiçosamente mexendo no celular. Jiang Qian franziu o cenho. Ela não entendia… Mo Yuxin andava esquisita demais ultimamente.

Mo Yuxin, por sua vez, mexia no celular com a consciência tranquila. O professor, no entanto, também tinha notado seu comportamento. Não podia culpá-lo — o fato era que muitas pessoas naquela sala enorme olhavam para Mo Yuxin com frequência. E como ela tinha um rosto marcante, o professor acabara por guardar sua imagem. Antes, aquela aluna sempre se sentava com postura em suas aulas. Mesmo que não entendesse a matéria, sempre parecia muito séria.

Mas hoje… toda vez que olhava, Mo Yuxin estava no celular. Então, o professor simplesmente chamou-a para responder uma pergunta.

Naquele instante, todos os olhares se voltaram para Mo Yuxin. Feng Yueyue queria mandar a resposta por mensagem, mas ao abrir o WeChat… descobriu que já tinha sido bloqueada.

Mo Yuxin, no entanto, permaneceu calma:

— Professor, desculpa, eu não entendi.

O professor acenou com a mão, sinalizando para que ela se sentasse.

— Se não entendeu, preste atenção na explicação.

— Tá certo, professor.

Depois de responder, Mo Yuxin se conteve um pouco. Abriu, com relutância, o livro que nem tinha tocado até então, apoiou o celular sobre ele… e continuou mexendo.

Afinal, ela não entendia nada daquilo e não tinha o menor interesse por finanças. As personas da antiga dona não tinham nada a ver com ela. Essas máscaras falsas fracassam cedo ou tarde mesmo. Era melhor ser sincera e mostrar quem realmente era. Pelo menos sou uma pessoa decente — já é mil vezes melhor que aquela canalha original.

A aula terminou, e Mo Yuxin saiu da sala. Muitas ômegas ainda a olhavam com mágoa e ressentimento.

Mo Yuxin, por outro lado, saiu com expressão tranquila. Para manter a imagem acadêmica, a antiga dona costumava conversar com os professores após a aula. Fazia isso tanto para deixar uma boa impressão quanto para permitir que as ômegas apaixonadas por seu rosto pudessem admirar por mais tempo. Isso ajudava na missão de conquistar mais mulheres ricas.

Mas Mo Yuxin não precisava mais disso. Ela podia se tornar uma mulher rica por conta própria. Pra que se preocupar tanto com os outros?

Ela saiu rapidamente do campus e pegou um táxi até uma loja de produtos para mães e bebês. Comprou três latas de leite em pó apropriado para a idade da criança, um monte de fraldas e um conjuntinho de roupas para bebês de alguns meses. Pensando bem, ela nem sequer tinha visto o pequeno ainda… Será que um bebê de quatro meses era tão fofo quanto uma bonequinha?

Depois de comprar tudo, Mo Yuxin voltou correndo para a escola. Sabia que o bebê estava sempre com Su Yubing no dormitório.

O dinheiro que Su Yubing ganhava não era nem de longe suficiente para alugar um lugar. Além disso, por ter confiado nas pessoas erradas, Su Yubing não tinha coragem de voltar para casa. Desde que engravidou, cuidava sozinha do filho. As colegas de quarto também eram bem gentis e ajudavam muito.

Mo Yuxin, parada na entrada do dormitório das ômegas com duas sacolas enormes nas mãos, chamava atenção de todos. Muita gente a observava em segredo. Em sua vida passada, Mo Yuxin era ainda mais deslumbrante. Estava mais do que acostumada com olhares alheios. Pegou o celular e vasculhou sua lista de contatos, mas por mais que procurasse… não encontrou o número de Su Yubing. Aquela canalha deve ter apagado o contato dela, não é?

Mo Yuxin suspirou e olhou para o alto prédio do dormitório. Alfas não podiam entrar no prédio. E agora, sem conseguir contato com Su Yubing, ela rapidamente direcionou o olhar para a tia do dormitório.

Carregando as duas sacolas, Mo Yuxin se aproximou da mulher com um sorriso gentil:

— Tia, eu trouxe duas sacolas com coisas que quero entregar pra uma amiga minha, mas a gente brigou e eu perdi o contato dela… A senhora poderia, por favor, verificar o número da Su Yubing, do quarto 702? Ou, se não se sentir confortável, poderia ligar pra ela e pedir pra descer?

A tia do dormitório sorriu. Já estava acostumada com esse tipo de situação e achou que se tratava apenas de uma briga comum de casal. Não queria se meter naquele assunto.

— Não, isso é um assunto particular seu. Além do mais, e se acontecer alguma coisa depois que eu chamar a pessoa pra descer?

— Tia, eu tô mesmo um pouco ansiosa. Essas duas sacolas são todas coisas compradas pro bebê. A senhora sabe que tem um bebezinho no quarto 702, né? — Mo Yuxin explicou de novo, num tom agradável.

A tia do dormitório pensou por um momento. Ela realmente sabia que havia um bebê no quarto 702. Na época, aquela estudante quis criar o filho no dormitório e isso causou bastante alvoroço. Não ficou claro quem era a mãe do bebê, mas foi assunto quente na escola por um tempo. As outras meninas do dormitório é que tinham um bom coração. Todas imploraram à direção para não obrigar a aluna a abandonar os estudos, prometendo que cuidariam bem do bebê e que isso não afetaria os demais. Só assim a questão foi resolvida.

A própria tia do dormitório já tinha visto o bebê algumas vezes quando fazia inspeção nos quartos. Era uma criança adorável, mas muito pequena e magrinha — dava dó só de olhar. Ela até chegou a pegar o bebezinho no colo duas vezes. Agora, ao ver a garota diante dela, que não parecia estar mentindo, a tia a observou com mais atenção e perguntou:

— Qual é sua relação com a mãe do bebê? Colega de classe? Amiga?

Mo Yuxin olhou para a tia e respondeu com sinceridade:

— Eu sou a mãe do bebê.

Os olhos da tia do dormitório se arregalaram. Aquela menina não tinha dito que a mãe do bebê tinha morrido? Então entendeu. Provavelmente o jovem casal tinha brigado, e por isso a menina dissera aquilo.

Na verdade, não era como se nunca tivessem espalhado rumores na escola sobre Mo Yuxin ser a mãe da criança. Mas a antiga dona era boa demais em fingir. Contava para várias ômegas ricas que Su Yubing estava inventando histórias sobre ela, só pra forçá-la a assumir um filho de origem desconhecida. As ômegas ricas tinham conexões fortes dentro da escola. E como a antiga Mo Yuxin sempre foi muito popular entre as ômegas — tanto homens quanto mulheres —, todos a viam como a alfa ideal. Quem ia acreditar que ela tinha um filho?

No fim, quase todos os dedos se voltaram contra Su Yubing.

Diziam que ela era grudenta, promíscua. Espalharam tudo o que era boato desagradável. Pouquíssimos se manifestaram a favor dela.

As colegas de quarto de Su Yubing até tentaram defendê-la, mas logo diziam que elas eram parciais. Já as colegas de quarto de Mo Yuxin afirmaram que o filho era dela, e então diziam que elas estavam com inveja da sorte da Mo Yuxin com as ômegas. No fim, a antiga Mo Yuxin era sempre a certa — e Su Yubing, a errada, junto com qualquer um que tentasse apoiá-la.

Com o tempo, mesmo que Su Yubing tivesse parado de argumentar sobre isso, ainda recebia olhares frios das outras ômegas na escola. Se não fossem suas três colegas de quarto, ela mesma não sabia se teria conseguido sobreviver até dar à luz.

Quanto ao motivo de não ter abortado a criança… isso também dizia muito sobre o quanto a antiga Mo Yuxin era canalha. A original achava que, mesmo que Su Yubing tivesse cortado laços com a família, os pais não a ignorariam se ela estivesse grávida. Então, fingiu até a criança completar seis meses — quando já estava formada no ventre. Ao ver que a família de Su Yubing não pretendia mesmo assumir nada, a antiga Mo Yuxin chutou Su Yubing de casa sem cerimônia no dia seguinte… e foi procurar outras ômegas ricas, espalhando ainda mais boatos sobre a garota.

Naquele ponto da gravidez, Su Yubing já sentia o bebê, aquela vida ligada a ela de forma tão íntima. Simplesmente não conseguia abrir mão da criança. Além disso, abortar um feto tão grande traria sérias consequências para o corpo dela. Depois de pensar muito, ela decidiu dar à luz.

A tia do dormitório pensou no bebezinho indefeso e, enfim, usou o telefone fixo para ligar para Su Yubing.

— Aluna Su, tem uma colega aqui embaixo do prédio. Ela diz que é a mãe do bebê e quer entregar umas coisas pra ele. Você quer descer pra encontrá-la?

— Obrigada, tia. Diga a ela que eu não preciso dessa falsa bondade — disse Su Yubing, prestes a desligar.

Mo Yuxin rapidamente pegou o telefone da mão da tia.

— Yubing, espera um pouco. Eu só quero dizer algumas palavras. Eu comprei leite em pó e fraldas pro bebê, são coisas do dia a dia. Eu também tenho responsabilidade por essa criança. Não estou querendo tomar ele de você, só quero ajudar a criá-lo com você. Criar um filho custa caro. Você não devia carregar isso sozinha…

Mo Yuxin ainda queria falar mais, mas a ligação já havia sido encerrada. Ela suspirou e ignorou as ômegas que olhavam para ela de vez em quando.

Ela entendia completamente a reação de Su Yubing. Só de pensar nas atitudes da antiga dona do corpo já sentia nojo — quem dirá a protagonista, que tinha sofrido tanto. Naquela noite no hotel, o fato de Su Yubing não ter partido pra cima dela só podia ser creditado à sua boa educação. Se fosse comigo… eu já teria xingado faz tempo.