Capítulo 9

Mo Yuxin olhou para a tia do dormitório e forçou um sorriso.

— Obrigada, tia. Vou esperar aqui na porta por um tempo.

A tia a encarou e balançou a cabeça. Jovens hoje em dia realmente faziam tudo o que dava na telha.

Mo Yuxin folheou o livro original. No livro, depois de dar à luz, Su Yubing saiu para trabalhar meio período apenas duas semanas depois. Seu corpo não recebeu os nutrientes necessários, e, como ela já era um pouco desnutrida, sua produção de leite não foi suficiente. O bebê teve que tomar fórmula. Mas uma boa fórmula era muito cara. Su Yubing já devia bastante às colegas de quarto. Quando saía para trabalhar, eram elas que cuidavam do bebê. Às vezes, até compravam coisas para a criança. Como Su Yubing poderia ficar tranquila assim? Só pôde fazer um pouco de mingau de painço no dormitório, com uma panelinha elétrica, para alimentar o bebê quando não podia comprar fórmula. Su Yubing jamais imaginou que seu filho não teria acesso nem ao leite que precisava.

Mo Yuxin pensou que o bebê devia ser mesmo um serzinho muito miserável agora. Queria esperar mais um pouco. Talvez Su Yubing aceitasse as coisas? Mesmo que fosse com má vontade, tudo bem.

Do outro lado, no dormitório de Su Yubing, Fu Zhitao, Yao Qian e Zhang Xiaoqi estavam todas reunidas ao redor.

— Yubing, o que houve? Aquela canalha quer arrumar confusão de novo? Não se preocupa, estamos aqui. Ainda tem a cara de pau de ligar? — Fu Zhitao parecia prestes a sair pelo telefone para dar uns sopapos em Mo Yuxin.

— Exato. Com certeza não é por coisa boa. Yubing, nem dá bola pra ela — disse Yao Qian, franzindo a testa.

As três tinham visto de perto todo o sofrimento de Su Yubing. Não podiam deixá-la ser enganada por aquela canalha de novo.

— Ela disse que comprou coisas como leite em pó e fraldas pro bebê, e queria que eu descesse pra pegar. Também disse que não vai disputar a guarda da criança e só quer criar ele junto comigo — disse Su Yubing, achando tudo aquilo ridículo. O bebê já tinha quatro meses, e agora que ela pensava em fazer isso? Onde estava Mo Yuxin quando ela sofria? Onde estava Mo Yuxin quando o bebê teve pneumonia com um mês de vida?

Agora queria compensar tudo com umas coisinhas baratas? Para Su Yubing, aquilo só tornava Mo Yuxin ainda mais repugnante.

— Yubing, mesmo que a gente ignore essa canalha, sendo bem sinceras, a Mo Yuxin deveria, sim, assumir a responsabilidade pela criança. Pelo menos pagar parte do leite é o mínimo. Que tal nós três irmos lá embaixo dar uma olhada? Se ela vier empurrar qualquer porcaria pra gente, a gente xinga até não sobrar um fio de cabelo. Se as coisas estiverem boas, levamos pro bebê. Afinal, é o que ela devia fazer mesmo — sugeriu Zhang Xiaoqi, depois de pensar um pouco. Sabia o quanto era difícil para Su Yubing criar a criança sozinha. Uma garota rica que tinha caído ao ponto de se preocupar com o básico da vida, trabalhando em três empregos de meio período e mal conseguindo dormir.

— Isso mesmo. O bebê é nosso sim, mas aquela escrota não pode sair ilesa. Vamos ver o que ela tem a dizer — Yao Qian assentiu. Também achava que não deviam dar mole pra canalha. E com as três descendo juntas, não correriam risco algum.

Fu Zhitao deu um tapinha no ombro de Su Yubing para confortá-la.

— Yubing, fica tranquila. Se aquela escrota fizer qualquer coisa, eu mesma rasgo ela com as próprias mãos.

Su Yubing pensou por um momento, apertou os lábios e olhou para o bebê dormindo tranquilamente no bercinho. Por fim, assentiu. Se aquela escrota realmente pudesse providenciar algumas coisas para o bebê, não deixaria de ser algo bom. Só não queria ter qualquer contato pessoal com Mo Yuxin.

— Então, vou incomodar vocês de novo. Não quero ter mais nenhum vínculo com ela — disse Su Yubing, olhando para as três colegas com um olhar de desculpas. Aquelas três tinham realmente ajudado demais, feito muito por ela.

— Que nada, Yubing. Seus problemas são os nossos, ainda mais quando se trata de lidar com canalha — respondeu Yao Qian imediatamente, acenando com a mão.

— Isso aí. Somos todas madrinhas do bebê. O que é seu, é nosso também — completou Zhang Xiaoqi.

Fu Zhitao se animou:

— Yubing, só espera nossa boa notícia. Não se preocupa com a gente. Só cuida do bebê.

As três desceram para o primeiro andar de elevador, furiosas. Olharam ao redor do saguão, mas não viram Mo Yuxin. Yao Qian cutucou as outras duas e apontou para debaixo da árvore na entrada do dormitório.

— Olha, não é ela ali?

— É aquela canalha. Vamos ver o que ela quer — disse Fu Zhitao, arregaçando as mangas, nada parecendo uma ômega frágil.

Antes mesmo que as três se aproximassem, Mo Yuxin já as tinha notado — principalmente porque reconheceu Fu Zhitao. Além disso, as três vinham em sua direção com raiva evidente. Mo Yuxin supôs que vinham encontrá-la.

Endireitou-se e sorriu para elas de forma amigável. Disse para Fu Zhitao:

— Te vi da última vez, colega. A Yubing mandou você, né?

Fu Zhitao soltou uma risada fria:

— Nem vem se fazer de íntima. Fala logo, o que você quer dessa vez?

Mo Yuxin pegou as duas sacolas grandes ao seu lado e mostrou para as três.

— Isso aqui são fraldas pro bebê. Essa outra tem leite em pó e um conjuntinho de roupas pequenas. Não vi o quanto o bebê cresceu, então perguntei pra vendedora e comprei roupa pra idade de quatro meses. Podem entregar pra Yubing por mim? Fiquem tranquilas, só vim deixar as coisas. Não quero nada além disso. Agradeço a ajuda de vocês.

Dizem que não se bate em quem está sorrindo. Fu Zhitao e as outras duas tinham descido prontas para brigar com a canalha, mas Mo Yuxin estava sendo tão educada — e as sacolas realmente continham coisas para bebê — que elas não conseguiam simplesmente começar a xingar.

Fu Zhitao olhou para Mo Yuxin, desconfiada, e abriu as duas sacolas. Por causa do bebê, as três já tinham adquirido um bom conhecimento sobre fraldas e leite em pó.

Yao Qian pegou uma lata de leite em pó e a examinou. Ao ver que Mo Yuxin havia comprado uma marca relativamente de alto padrão, pegou também as fraldas para conferir. Eram de uma marca bem conhecida no mercado atual. Sua raiva se dissipou mais da metade, mas ela ainda ergueu o queixo e disse com firmeza:

— Mo Yuxin, é melhor você não tentar nenhuma gracinha. Fica longe da Yubing e do bebê. Se a gente descobrir qualquer intenção errada da sua parte, não vai acabar bem pra você.

— Exato. A gente não é igual ao seu fã-clube. É bom você se comportar — Zhang Xiaoqi olhou diretamente para Mo Yuxin e advertiu.

Mo Yuxin manteve um sorriso gentil.

— Colegas, eu realmente não tenho nenhuma segunda intenção. Só quero facilitar um pouco a vida da Yubing. Muito obrigada por terem descido hoje. Se não fosse por vocês, a Yubing nem atenderia minhas ligações. Alguma de vocês poderia me passar um contato? Da próxima vez que eu trouxer coisas, não quero incomodar a tia do dormitório de novo. Muito obrigada, de verdade.

Ela juntou as mãos em gesto de agradecimento e repetiu “obrigada” algumas vezes. Parecia bastante sincera.

Mas as três não ousaram baixar a guarda, porque Mo Yuxin havia sido escrota demais no passado. Fu Zhitao soltou um resmungo frio:

— Quer um contato? Beleza, vou te passar o meu. Mas se ousar tentar qualquer coisa, eu mesma vou acabar com você!

— Eu não me atreveria a fazer nada, de verdade. Só vou incomodar a Colega Fu, então. No futuro, por favor, me ajude a entregar as coisas pro bebê. Agradeço demais o trabalho.

Fu Zhitao estava cheia de raiva, sem ter onde descarregar, mas Mo Yuxin estava sendo tão educada que ela ficou apenas encarando por um bom tempo, sem conseguir achar uma desculpa para xingá-la. Ao lado, Yao Qian e Zhang Xiaoqi estavam na mesma, com o rosto corado de tanto conter a vontade de retrucar. Todas as palavras boas tinham sido ditas por Mo Yuxin — e como prezavam pela aparência, não conseguiam xingá-la.

No fim, Fu Zhitao só conseguiu dizer, com secura:

— Tá bom, tá bom, entendi. Que faladeira você é… Vou anotar seu número. Se tiver qualquer coisa, eu passo pra Yubing. Só não incomoda mais ela.

Mo Yuxin exibiu um sorriso doce.

— Colega Fu, e vocês duas também, muito obrigada. Fiquem tranquilas, eu vou ligar antes de trazer qualquer coisa. Prometo que não vou incomodar no dia a dia.

Enquanto falava, Mo Yuxin ligou para Fu Zhitao.

— Colega Fu, esse é meu número. Se acontecer qualquer coisa com a Yubing ou com o bebê, é só me ligar. Agradeço o trabalho.

Fu Zhitao queria soltar umas boas verdades, algo como “e o que a Yubing e o bebê têm a ver com você?”, mas foi interrompida pela frase final de Mo Yuxin — “agradeço o trabalho” — e engoliu o xingamento. Achou aquilo estranho. Aquela canalha sempre foi tão arrogante… Quando foi que ficou tão educada assim?

Por isso, as palavras que estavam prestes a sair como bronca só conseguiram dar meia-volta e se transformar em:

— Tá bom, tá bom… Que chata.

Depois de falar com Mo Yuxin, Fu Zhitao disse às duas colegas:

— Pronto, pegamos as coisas. Vamos voltar pro dormitório.

— Uhum, vamos — concordaram as duas, sem nenhuma intenção de continuar interagindo com Mo Yuxin. Fu Zhitao ainda lançou um olhar ameaçador para Mo Yuxin, como um aviso para ela se comportar e não causar confusão.

Mo Yuxin apenas manteve um sorriso gentil no rosto, sem mostrar o menor sinal de irritação. Ainda ficou olhando enquanto as três entravam no prédio do dormitório.

Já dentro do prédio, Yao Qian logo perguntou às duas ao lado:

— O que vocês acham, será que a Mo Yuxin tomou remédio trocado? Ela tá… como posso dizer… tão educada?

— Também achei. Antes ela fingia que a gente nem existia quando passava por nós. E agora teve a cara de pau de trazer essas coisas e ficar esperando lá embaixo do dormitório. Ela não negava com todas as forças que o bebê era dela? Morria de medo de que as ômegas ricas não gostassem dela. E agora tá vindo entregar coisa? Isso aí não é o mesmo que admitir, indiretamente, que o filho é dela? — analisou Zhang Xiaoqi.

— Pois é, o que será que ela tá planejando? Pensando logicamente, se ela tá tentando fisgar ricas, a criança só atrapalha. E ainda rejeitou várias ômegas ricas hoje — completou Yao Qian, sem conseguir entender o que Mo Yuxin estava realmente tentando fazer.

Fu Zhitao deu um aceno de mão.

— Quem liga pra ela? De qualquer forma, dessa vez ela fez uma baita promessa. Se tiver alguma coisa, agora é ela quem tem que ligar e avisar. Por que a Yubing teria que aguentar tudo isso sozinha?

— Exatamente — Yao Qian concordou com a cabeça.

Enquanto conversavam, o elevador já havia chegado ao sétimo andar. As três subiram de volta até o Dormitório 702 com as sacolas nas mãos.

Su Yubing olhou para os pacotes e já entendeu tudo em seu íntimo.

Enquanto tirava os itens das sacolas, Fu Zhitao comentou:

— Yubing, a Mo Yuxin parece que tomou remédio trocado. Estava tão educada que dava até pena. E a gente conferiu tudinho. Não tem nenhum problema. O leite em pó é até mais caro do que o que a gente comprava antes. Também vieram vários pacotes grandes de fralda, tudo de marca. E ainda tem uma roupinha pro bebê.

Su Yubing apenas assentiu com calma. Mesmo que ela tenha enviado as coisas, e daí? O que a Mo Yuxin fez comigo não pode ser compensado com essas coisas.

— Não importa como ela esteja agora, isso não tem mais nada a ver comigo nem com o bebê. Já que dá pra usar, então guarda.