Capítulo 34 - O Vento Sobe

An Jie admitiu que, para evitar problemas, ele assumiu mais ou menos o papel passivo, seja em seus planos ou em suas ações. Mas isso não significava que ele não tivesse nada a dizer, caso eles se aproximassem de sua porta.

Zui She o ajudou a contrabandear alguns brinquedos de metal não tão amigáveis, incluindo a arma de bolso que ele dera a Mo Cong. Mesmo que ele ainda tivesse suas suspeitas sobre esse velho amigo que não via há muitos anos, ele já estava pensando em jogar aquelas crianças problemáticas para ele, se necessário. 

‘Mesmo que ele ainda tivesse suas suspeitas’ – An Jie sorriu em auto zombaria. Ele suspeitava de  todos. 

Ele afundou no sofá desconfortável. Ele não sabia se era sua postura ou se a conversa com Mo Cong o tinha incomodado, mas An Jie teve uma noite agitada.

Era como se tiros soassem constantemente em seus ouvidos, seu campo de visão manchado de vermelho; muitas pessoas que uma vez olharam para ele com respeito total agora se lançavam sobre ele com olhos vermelhos… A emboscada na ‘villa’, An Jie pensou em transe.

Depois foi um amplo campo de azáleas florescendo febrilmente, vermelhas como se tivessem sido sufocadas em tinta, e aquela figura que se forçou em sua visão, o sótão pequeno e sufocante… An Jie pensou que seu peito devia estar preso por seu braço na vida real, caso contrário, por que ele sentiria uma sensação tão realista de ser sufocado?

Essa sensação claustrofóbica o acompanhou durante a maior parte de sua vida. Sua liberdade, presa naquele pequeno sótão por três anos inteiros, mais de mil dias e noites – seu psiquiatra havia lhe dito que talvez fosse por isso que ele era tão inflexível em viajar por todo o mundo, constantemente em busca de seu próximo destino. 

Porque ele queria liberdade: liberdade absoluta e sem mediação. Como uma criança faminta que nunca desperdiçaria comida. 

Isso era um sonho… Isso era um sonho…

Então o sonho mudou novamente. Aquele rosto que ele segurou por incontáveis ​​anos apareceu na frente dele com aquele sorriso imutável de suas memórias e aqueles olhos grandes que se curvavam em duas luas crescentes quando ela sorria – os constantes lembretes de An Jie para si mesmo de que isso era apenas um sonho de repente pararam. Ele tremeu incontrolavelmente quando estendeu a mão para tocar aquele rosto.

Mas a figura dela foi ficando cada vez mais distante, o sorriso naqueles olhos que o olhavam lentamente se desvanecendo, substituído por lascas de tristeza. Ela disse: “Yin Hu… O que você me prometeu, Yin Hu… O que você me prometeu…”

Sua paz de espírito foi repentinamente quebrada por um furacão de vento forte. An Jie sentiu como se seu coração estivesse prestes a se abrir. Ele queria gritar, mas nenhum som saiu. A sensação de sufocamento ficou mais forte. O rosto de Mu Lian desapareceu rapidamente. Outro par de olhos apareceu na frente dele – estranhos olhos azul-acinzentados. 

Ele não conseguia se lembrar quando tinha visto tal par de olhos, mas uma onda quase incontrolável de malícia surgiu em seu subconsciente… junto com o desejo de matar.

Mesmo que ele não pudesse se lembrar, ele conhecia aqueles olhos.

O corpo de An Jie estremeceu violentamente e ele abriu os olhos suando muito. Do lado de fora da janela, um fraco amanhecer acabara de romper. 

Ele moveu os olhos para a porta do quarto ligeiramente aberta e os chinelos que Mo Cong havia colocado no final da cama – ele havia prometido a Mu Lian ser uma pessoa gentil e então viver feliz. Ela disse que apenas aqueles que eram gentis e aqueles que tentavam ao máximo ser gentis receberiam a verdadeira felicidade.

An Jie fechou os olhos, cansado. Sim, ele havia prometido. 

***

No dia seguinte, Mo Cong arrumou suas coisas e voltou para casa de manhã cedo. Claro, ele também fez uma série de atos supérfluos, como colocar um bom copo de água para An Jie na mesa de chá ao lado do sofá, colocar um café da manhã simples no microondas para o manter aquecido e escrever um lembrete de que havia refeição para o dono da casa. E depois de assediar o dono da casa por tanto tempo, suas ações até eram permitidas…

An Jie tinha hábitos terríveis. Ele não sabia disso antes, mas depois de viver com ele por tanto tempo, percebeu que essa pessoa tinha pouco senso de regularidade. Ele vivia como queria, comia quando tinha fome e dormia quando estava cansado. 

Mo Cong até arrumou cuidadosamente o quarto antes de olhar para a pessoa enrolada no sofá, um pequeno sorriso de prazer puxando inconscientemente os cantos de sua boca quando ele se virou para sair.

No momento em que ele fechou a porta levemente, An Jie abriu os olhos, olhou para o relógio na parede com olhos nebulosos, murmurou: “Finalmente foi”, rolou desconfortavelmente e voltou a dormir. Ele não era um alguém que dormisse profundamente. Qualquer tipo de ruído irregular o podia acordar, sem falar nos inúmeros ruídos que Mo Cong fazia com o que ele pensava ser um ‘andar leve’.

Tudo bem – pelo menos ele tinha consciência.

Quando Mo Cong voltou para casa, apenas Mo Yu estava lá. Mo Jin tinha ido assistir a uma aula particular de tutoria organizada por sua professora, saindo cedo e voltando tarde com aquela bolsinha dela. 

Mo Cong acenou para a jovem e começou a trabalhar na ‘bagagem’ falsa que trouxera da viagem matinal. Enquanto trabalhava, ele conversava distraidamente com Mo Yu. “Sua irmã trabalhou duro durante todo o feriado; como é que você não mais se parece com uma estudante de honra?”

Não houve resposta. Mo Cong olhou para Mo Yu. Aquele único olhar lhe deu sustos; ela olhou para ele com aqueles seus olhos grandes, como se dois dentes-de-leão tivessem surgido em sua cabeça de repente.

“Xiao Yu?”

“Ge, você foi embora por tanto tempo, você trouxe alguma coisa?”

Mo Cong gaguejou e olhou para ela. “Trazer alguma coisa? Eles não vendiam nada. A última vez que fomos a isso, onde foi mesmo? Sua irmã trouxe duas camisas tão seriamente, dizendo que eram lembranças, mas ela não as comprou no zoológico?” – Na verdade, ele estava de olho em um souvenir do lugar que ele foi, mas o souvenir que ele estava de olho nunca aceitaria ser embalado…

“Oh,” Mo Yu respondeu devagar, então falou lentamente, “Na verdade, roupas do zoológico também são boas; elas são baratas e usáveis. Você realmente devia ter trazido algumas e dito que as comprou em algum lugar longe. Ninguém saberia, certo?”

Mo Cong largou as coisas em suas mãos e franziu a testa. “Xiao Yu, o que você está tentando dizer?”

“Não estou tentando dizer nada. Ge…” Mo Yu mordeu os lábios. “Onde você foi?”

Mo Cong se levantou e se sentou no sofá enquanto olhava para sua irmã excessivamente intuitiva e sussurrou: “O que aconteceu?”

Mo Yu lentamente puxou uma caixa preta lindamente embalada e a empurrou na frente de Mo Cong. “Foi enviado para nós. Você não estava aqui e pensei que fosse de Li Biyun, então abri.” Sua pequena mão levantou a tampa. Mo Cong viu seu conteúdo e suas pupilas se contraíram… 

Dentro da caixa havia uma adaga dentro de uma bainha preta pura. Parecia que tinha sido amolada, suas bordas terrivelmente afiadas. Ao lado da adaga havia um papel timbrado, levemente perfumado com sândalo, um caractere caligrafado assinado no topo – Zhai.

O Zhai Velha Arma.

Mo Cong olhou para cima de repente. “Xiao Jin sabe?”

Mo Yu balançou a cabeça.

Mo Cong soltou um pequeno suspiro. Ele desabou no sofá e olhou para sua irmã, que o olhava com curiosidade e apreensão. Ele considerou a questão – o significado do Zhai Velha Arma era claro, ele não podia ficar enrolado para sempre. Respirando fundo, Mo Cong limpou a garganta. “Xiao Yu… eu provavelmente fiz algo errado…”

Mo Yu olhou para ele com os olhos sem piscar.

Mo Cong disse: “Então, tenho que enfrentar isso agora, caso contrário, isso pode colocar vocês em um perigo ainda maior.” O jovem irmão mais velho finalmente deixou de lado seu ódio depois que seus pais desapareceram há muito tempo e enfrentou suas responsabilidades. Mesmo que ele realmente estivesse atrasado.

Ele suspirou. “Daqui a um tempo, posso ter que sair com frequência. Se você não puder me encontrar, você pode encontrar An Jie Gege.” Já que aquela pessoa tinha as coisas de seu pai… ele devia ser alguém a quem ele poderia deixar suas irmãs.

Xiao Yu se recusou a responder. Depois de um longo tempo, ela finalmente perguntou em voz baixa: “Ge, você está… em perigo?” Seus olhos se moveram para aquela adaga negra emanando uma aura sinistra. 

Mo Cong riu. “Não.”

A jovem finalmente soltou um suspiro. Ela parecia estar preparando seu coração há muito tempo, um medo indescritível em sua cautela. 

Olhos negros piscaram na escuridão, mas jamais estariam dispostos a buscar a luz, como aquele poeta que se enterrou, preparando-se para o fim da vida. Todos tinham seu próprio método de sobrevivência – neste mundo que parecia tão glorioso, todos pagavam o mesmo preço de maneiras diferentes. 

***

Mo Cong foi e encontrou Zhai Haidong com aquela adaga preta. Os dois conversaram por uma tarde inteira em um pequeno Siheyuan. Ninguém sabia do que eles falaram. Seu único público era um único golden retriever. 

O cadáver de Xu Si foi encontrado duas semanas depois em uma sarjeta e se tornou um caso não resolvido nos registros policiais. 

Logo, os envolvidos com a máfia obtiveram a informação de que o Chanceler havia curvado a cabeça para Zhai Haidong, e o império clandestino foi agitado mais uma vez. Chen Fugui percebeu com surpresa que o Zhai Velha Arma havia ficado mais forte na velhice; ele parou de tentar limpar seus negócios na tentativa de fingir ser um homem de negócios, mas em vez disso veio ficar com ele. A combinação de habilidade e astúcia se formou sem dúvida. O Chanceler caminhava entre eles com facilidade, às vezes na luz, às vezes na escuridão.

An Jie sabia que Zhai Haidong não fazia tudo isso apenas para estabelecer sua autoridade. Algo deve ter representado uma ameaça potencial para o velho leão. 

Uma figura brilhou fracamente em sua mente, mas ele não a conseguiu captar.

E apenas meio mês após o início das aulas, o aluno de honra da turma de formandos, An Jie, foi encontrado pelo problema que ele tão desesperadamente desejava evitar. 

Assim que ele saiu da escola, ele viu as pessoas reunidas em frente à escola olhando para um Lamborghini ostentoso. Ele estava prestes a contorná-las quando a porta do carro se abriu e um jovem com luvas brancas saiu. Ele se curvou na direção de An Jie.

An Jie franziu a testa e olhou ao seu redor. Não havia outras pessoas suspeitas ao seu redor. 

Então, outra pessoa saiu do carro, atordoando An Jie. 

He Jingming – Du Lang. (NT: Lobo Vnenoso)

Deus era um tolo amante do drama. 

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O autor tem algo a dizer

Deixem-me tomar um fôlego – 

Depois disso, são eles flertando no meio da batalha… tudo bem, na verdade é apenas um flerte unilateral de Mo Cong. Aqueles que gostam do Tio He, logo perceberão que He Jingming é um psicopata.