Capítulo 36 - Íris Alemã

No momento em que He Jingming saiu, An Jie empurrou Mo Cong para longe da maneira que alguém destruiria uma ponte depois de cruzar um rio.

Seu rosto estava de um branco pálido, mas seus olhos não. Por alguma razão, Mo Cong viu uma emoção reprimida ali: uma que seus instintos lhe diziam ser algo extremamente perigoso.

Mesmo assim, Mo Cong ainda tocou cuidadosamente em seu ombro. “Como você está?”

“Estou bem”, disse An Jie levemente. Sua expressão era um pouco estranha, sorrindo, mas sem sorrir, algo brilhando em seus olhos, sua voz baixa na garganta. “Melhor do que bem.”

Mo Cong franziu a testa e, de repente, puxou a mão de An Jie do bolso. Havia muita força por trás de sua ação e não foi apenas a mão de An Jie que ele puxou, mas também uma faca extremamente afiada. An Jie nem percebeu que a estava segurando com tanta força que a lâmina havia ficado esculpida em sua palma. Ele só sentiu a dor depois que Mo Cong a puxou e ele inconscientemente a soltou. A faca caiu no chão, sangue saindo de sua mão como se não custasse nada.

Mo Cong respirou fundo, pausou, então espremeu uma frase entre os dentes. “Você… seus reflexos podem ser mais lentos?”

“Hiss…” An Jie subconscientemente retraiu sua mão e gemeu baixinho, como se estivesse voltando à vida.

“Não se mexa!” Mo Cong olhou para ele e verificou cuidadosamente seu ferimento. “Então você sabe o que significa dor?”

An Jie franziu a testa. Seu cérebro havia parado de funcionar por um tempo; ele acabara de voltar do modo devaneio. Mo Cong estava segurando sua mão como uma espécie de antiguidade inestimável, tratando sua ferida com todo o cuidado do mundo. Isso fez com que An Jie se sentisse um pouco culpado, pois devido ao seu tratamento implacável, a atitude de Mo Cong era como retribuir queixas com virtude.

Mantendo sua posição ambígua, os dois ficaram em silêncio por um tempo.

“Por quê você está aqui?”

“Por que você está com He Jingming?”

Mo Cong e An Jie abriram a boca ao mesmo tempo. Mo Cong fez uma pausa e imediatamente abaixou a cabeça. Se não fosse por suas roupas de inverno o envolvendo bem, An Jie seria capaz de ver um toque de vermelho nas orelhas deste jovem inocente… mas An Jie provavelmente teria deduzido que era do frio.

An Jie riu com raiva. “Você não sente vergonha de me perguntar isso? Mo Cong, o que eu disse a você? O que está acontecendo entre você e Zhai Haidong?” A névoa branca de sua respiração flutuava por suas bochechas magras, fazendo-o parecer mais gentil e delicado. “O quê, você quer fazer barulho sob os olhos do Velha Arma Zhai e o substituir como rei? Livrar-se dele para sempre?”

Mo Cong baixou os olhos e disse com indiferença: “Eu pagarei minhas próprias dívidas, limparei minha própria bagunça…”

An Jie puxou a mão para trás ferozmente e baixou a voz. “Limpar sua própria bagunça?! Você sabe com o que está lidando?” Ele havia planejado originalmente fazer Zui She sair se tudo mais falhasse; o Velho Leão pelo menos lhe venderia um favor e não se importaria com esse pirralho, o obrigaria a fazer o que outros de sua idade fariam. Quem diria que antes que qualquer coisa acontecesse, esse pirralho iria pular ele mesmo?! “Você realmente esqueceu a dor antes mesmo de a ferida cicatrizar…”

Mo Cong não sabia se ria ou chorava. Essa pessoa que acabara de ser enterrada em seus braços, despertando seu desejo de proteger, agora o repreendia como um pai. Ele levantou a mão e interrompeu An Jie. “Você veio para Pequim por causa do meu pai?”

An Jie fez uma pausa.

Mo Cong abaixou a cabeça ligeiramente e riu. “Por causa do meu pai… eu realmente não pensei que meu pai seria capaz de conhecer alguém tão poderoso quanto você.”

“Você…”

“An Jie.” Os olhos negros de Mo Cong encontraram os de An Jie e ele olhou para ele com uma expressão solene. Ele disse: “Então meu pai disse a você que eu sou gay?”

An Jie sentiu como se tivesse ficado do lado errado de Pikachu e tinha sido nocauteado por um raio.

Mo Cong levantou a mão e gentilmente acariciou seu rosto, então sorriu com um pouco de auto zombaria e amargura impassível. “Especialmente… com homens bonitos.”

Dizendo isso, ele levantou a gola, colocou a arma no bolso do casaco e se virou para sair.

An Jie ainda estava atordoado. Em poucos instantes, duas pessoas já haviam tocado seu rosto com aquelas mesmas linguagens e gestos ambíguos… ele pensou, se aquelas duas pessoas não fossem homens, então hoje teria sido um sonho molhado de inverno.

Infelizmente, para An Jie, agora, era puramente um pesadelo invernal.

Ele xingou baixinho, mas acabou o seguindo – humanos, eles eram tão flexíveis. Quem sabia quantos outros truques Mo Cong tinha na manga.

Além disso, An Jie tinha muitas perguntas a fazer. Por que He Jingming veio para Pequim; por que Zhai Haidong se intrometeu em seus assuntos; por que Mo Cong aparentemente sabia que ele estava no carro de He Jingming? Ele abriu o telefone e estava prestes a ligar para Zui She para perguntar quando foi inesperadamente bombardeado por um frenesi de vibrações e mensagens de texto que saltaram sobre ele como peidos.

An Jie fez uma pausa e percebeu que as duas chamadas perdidas não vinham de Mo Cong, mas de Zui She. A série de textos também vinha dele–

“Onde você está? Por que você não está me respondendo?”

“Você viu He Jingming? Ele está em Pequim?”

“An Yin Hu!! Se você está vivo, diga alguma coisa!”

“Liguei para Shui Shi! Não aja por impulso, impulso é o diabo!”

……

Porra, quanto mais ele lia, menos sentido fazia! An Jie cerrou os dentes enquanto rolava. Ele pressionou a última mensagem em que Zui She disse: “Estarei aqui em breve.”

An Jie ficou chocado. Ele não acreditava que uma conta amarga como ele fosse suficiente para esses três chefes se reunirem aqui… então… para que eles estavam aqui?

Essas pessoas de seu passado poderiam manter a paz enquanto estivessem espalhadas por cada canto do país, mas se estivessem juntas, era uma tragédia destrutiva tanto visual quanto factualmente.

Mo Cong não parecia querer falar com ele, mas também não queria que ele fosse embora. Ele permitiu que An Jie se pavoneasse atrás dele à distância; o seguidor o fez abertamente, o seguido ficou em silêncio. Depois daquele discurso surpreendente de Mo Cong, An Jie pensou que era estranho, não importa como ele olhasse para isso.

Eles caminhavam, um atrás do outro, exatamente como um… uh… casal em desacordo.

An Jie ficou atordoado consigo mesmo; em um flash, ele se foi. Mo Cong deu mais alguns passos antes de se virar para olhar e, como esperado, o que estava atrás dele não estava mais lá. Ele não pôde evitar deixar escapar um pequeno suspiro, uma pitada de decepção e solidão em suas sobrancelhas.

Mo Cong não andava muito rápido. Seu coração estava uma bagunça completa. Ele não disse essas palavras para An Jie por impulso. Se eles continuassem assim, An Jie passaria o resto de sua vida em algum tipo de mentalidade ridícula de ancião. Ele nunca tinha visto alguém tão capaz de agir como um ancião, e tão repetidamente, como se estivesse viciado naqueles cenários terríveis.

Toda vez que ele via aquela expressão, Mo Cong tinha o forte desejo de dar um tapa nesse cara até as Ilhas Nansha, tanto para autorreflexão quanto para ensinar aos outros ao seu redor… Ele olhou para a palma da mão e balançou a cabeça em auto zombaria. Era apenas um pensamento, ele nunca teria coragem de fazer isso.

No momento em que ele chegou para relatar ao Velho Arma Zhai, era óbvio pela situação caótica e pelas expressões hostis de todos os presentes que os dois velhos amigos, Zhai Haidong e He Jingming, não estavam em condições muito agradáveis. He Jingming se comportava como um veterano experiente, sentado firmemente com as pernas cruzadas, apesar de todas as armas apontadas para ele, tanto abertamente quanto em segredo. Seus olhos só se contraíram quando ele viu Mo Cong entrar.

Mo Cong não disse nada. Ele acenou com a cabeça para Zhai Haidong, então parou em um canto e acendeu um cigarro para si mesmo.

He Jingming olhou de soslaio para ele e rosnou: “Zhai Shui Shi, é verdade que o novo substitui o antigo por você; ele é o primeiro a ousar roubar alguém de mim.”

“O Chanceler é jovem, ele nem me escuta. Ele está acostumado com a ilegalidade e não tem visto muitas pessoas; não tenha muita má vontade com a geração mais jovem… Além disso.” O sorriso de Zhai Haidong parou, um colar de contas budistas girando em suas mãos. “Você tem sido um velho amigo de Zui She. Não é razoável que você leve o homem dele para o meu território, não é?”

He Jingming cerrou os dentes, forçando cada sílaba. “Esse é meu problema…”

Zhai Haidong acenou com as mãos. “Não importa de quem seja o problema, a postura de Zui She também é essa. Não me esforcei tanto para convidar você aqui apenas para repassar velhas questões. Convidei você apenas para mostrar uma coisa…” Ele fez um gesto com a mão e Bai Zhihe entendeu imediatamente. Ele disse algo para a pessoa ao seu lado e, em pouco tempo, alguém entrou com uma bandeja, um pano cobrindo seu conteúdo.

Os olhos de Zhai Haidong estavam cegos, então seu olfato estava correspondentemente mais aguçado, e ele cobriu o nariz nervosamente. He Jingming olhou para a bandeja, um pouco confuso. A atenção de todos foi capturada; até Mo Cong deu uma olhada de seu estado distraído.

“O que é aquilo?” O cheiro de podridão se espalhou pelo ar. He Jingming também torceu ligeiramente o nariz.

Bai Zhihe deu um passo à frente e tirou o pano da bandeja. Alguém soltou um grito baixo e assustado.

Na bandeja havia uma cabeça humana de uma cor cinza desagradável. Como se tivesse sido sugado por alguma coisa, todo o seu cabelo havia sumido, suas feições horrivelmente retorcidas. He Jingming franziu a testa. “O que isso significa?”

Bai Zhihe disse baixinho: “Diretor He, este era um irmão sem talento sob meu comando. Ele desapareceu aleatoriamente há alguns dias e foi encontrado nos esgotos de uma boate que frequentava. Havia apenas uma cabeça, o corpo ainda está faltando. Isso não seria algo que merecesse a atenção do Diretor He, mas…” Ele calçou um par de luvas e virou a cabeça para que a parte de trás ficasse voltada para He Jingming.

“Diretor He, por favor, olhe para isso.”

A respiração de He Jingming falhou, as contas na mão de Zhai Haidong girando cada vez mais rápido – havia uma óbvia tatuagem de íris na parte de trás da cabeça do homem morto. Era tão brilhante e precisa que era como se todos os nutrientes da cabeça tivessem sido sugados por esta flor, demoníaca e encharcada com uma aura inquietante.

Zhai Haidong disse com uma voz fina: “Você se lembra? Na linguagem das flores, a Íris Alemã significa…”

“Santidade”, disse He Jingming. Ele olhou fixamente para a tatuagem na cabeça dele, como se fosse olhar até que seus olhos saltassem.

O autor tem algo a dizer

 Ahem, desculpem a atualização ter atrasado esta noite, eu tive que queimar um pouco de incenso… As marcas no papel-moeda estavam na casa das dezenas de bilhões e eu não pude deixar de suspirar, a inflação lá é tão ruim.

Os gênios econômicos provavelmente já reencarnaram, não há ninguém para cuidar do mercado.