Capítulo 02
Precisavam de uma chance para expandir relações, adquirir mais poder e atingir pontos inalcançáveis, ser o primeiro ou o único a ter o prêmio; essa era uma oportunidade valiosa.
O patriarca estava disponível por poucas horas, esse curto período era decisivo para definir a vida dessas pessoas.
Caso obtivesse sua atenção, era metade do caminho cruzado. Caso saísse com uma confirmação, havia o risco do sucesso.
Homens e mulheres estavam atentos a cada brecha para adentrar e trocar cinco minutos para prender sua atenção.
Mas era uma tarefa árdua e complicada, pois Mohammad não gostava de conversar com ninguém, a não ser se fosse extremamente necessário, como com seu sogro.
No qual, possui uma ligação mais contratual que familiar, e estar casado com sua filha não significa que sejam unidos de fato.
Além do que, mantém o mínimo de contato com a família Khalid, mesmo no Eid al-Fitr.
Esse é um importante feriado islâmico que encerra o jejum do Ramadã, realizado uma vez ao ano e comumente celebrado em família. O homem fica em sua propriedade enquanto Latifah vai celebrar com o pai.
E isso se repete há quase dez anos.
Fadel só vê seu genro duas vezes ao ano; fora isso, costuma se comunicar através do seu secretário particular.
Portanto, não pode reclamar, uma vez que não se deve mexer num vespeiro.
Antes da decisão, apesar da riqueza, não era poderoso e visto como um simples lojista ligado ao ramo da perfumaria.
Não frequentava eventos de grandes renomes, não era tão importante.
A família Khalid não possui um histórico relevante, era apenas filho de pais libaneses pobres que sobreviviam da criação de ovelhas.
Fadel era o quinto filho de oito irmãos homens, no qual sabia que não herdaria nada, estava destinado a ser mais um escravo dos seus irmãos mais velhos.
Dessa forma, ao completar 16 anos, roubou uma parte da herança destinada ao primogênito e se mudou para a Arábia Saudita.
Iniciou como mercador de especiarias ligado aos cosméticos que comprava de uma distribuidora.
Contudo, não era qualquer um, apesar de não concluir os estudos, tinha aptidão para o empreendedorismo e, em dez anos, construiu seu pequeno reinado, sendo categorizado como ‘homem rico’.
Só que queria mais; é ávido e suas atitudes são semelhantes a uma víbora.
Com ligações, conseguiu contato com um contrabandista de diamantes com negócios no continente africano, que por sua vez encontrou um ótimo terreno para extração da pedra valiosa.
O negócio levou boa parte do seu patrimônio, no entanto, foi considerado um ótimo negócio.
Pelo fato de o contrabandista ser viciado em drogas e estar morrendo contaminado com o vírus da AIDS após comer carne de chimpanzé contaminada.
Apesar da perda, investiu em mão de obra e máquinas para a escavação, conseguindo recuperar os ganhos rapidamente com o garimpo, passando de comerciante de perfumaria para um joalheiro de luxo.
Nisso, saiu de lá e procurou oportunidade nos Emirados Árabes, que estavam em desenvolvimento volátil com o plano grandioso futurista, dando oportunidade no seu novo empreendimento.
Sendo uma tacada de mestre, além da modernização, o local se tornou o epicentro globalizado, com grandes chances de crescer financeiramente, sendo mais favorável que o antigo país.
Com regras mais ‘brandas’ para turistas, os Emirados se tornaram o point ideal para curtir as férias e gastar dinheiro. Assim, os negócios cresceram mais e ficaram conhecidos pela área.
Mas tinha um problema: as duas filhas e nenhum filho para herdar seus negócios.
Além de ser velho, descobriu a infertilidade, impossibilitando-o de ter um herdeiro com sua atual esposa.
O ano era 2008, e, mediante um amigo que fazia parte da cúpula política do país, conseguiu um valioso convite para o evento beneficente produzido pela família Haroon.
Fadel sabia quem eram os membros dessa família, antes de pôr os pés na Arábia Saudita, já tinha conhecimento da magnificência e poder desse conglomerado.
Ter em suas mãos o convite não era pouca coisa, tinha que arriscar.
Nesse evento estava o antigo patriarca, Ali bin Youssef, um homem majestoso e 21 anos mais velho que Fadel.
O filho único não estava presente, e era esperado, já que estava cursando economia em Londres.
Apesar da sua excelência, Ali era extremamente arrogante e bastante suscetível a elogios, o que o tornava uma presa fácil.
O joalheiro tinha experiência de uma raposa e conviveu em meio a tantas relações interpessoais, tendo a experiência certa para engabelar indivíduos iguais a esse magnata.
E não foi complicado, em apenas uma hora de conversa descobriu que Ali procurava a candidata ideal para casar seu filho, nesse exato momento viu que era a chance de ouro.
E que apenas um acordo comercial não geraria tantos frutos quanto um casamento.
Com o matrimônio, seu nome se tornaria grande e amplamente conhecido, deixaria de ser apenas um comerciante para ser um magnata, com grande peso na indústria do comércio.
E a ligação com os Haroon renderia muita influência.
Caso conseguisse, e de quebra sua filha desse um herdeiro, quão vantajoso seria?
Assim, o sobrenome Khalid seria reconhecido na história por ser responsável por gerar futuros descendentes dessa família.
O seu sangue circularia nas veias dos futuros herdeiros desse império.
Mesmo notando a alta expectativa e os ganhos colhidos dessa tentativa, Fadel entendeu que não era o único sábio dessa informação, muitos queriam o mesmo, e até mais poderosos que ele.
Semelhante a uma oferta escassa, porém ótima, com muitos concorrentes, precisaria agir rápido.
Assim que voltou para casa após uma noite proveitosa, comunicou à sua esposa sobre sua intenção, que captou imediatamente.
A única que poderia fazer isso era Hana, a caçula que na época tinha 15 anos.
O motivo de não escolherem Latifah era devido ao problema, é infértil devido a uma doença grave contraída após a menarca aos 12 anos.
Que atingiu o útero em desenvolvimento, prejudicando o sistema reprodutor, resultando em falência ovariana precoce.
Por isso, desistiu dela para obter um bom casamento.
No entanto, Hana era saudável e não apresentava problema algum desde a sua primeira menstruação.
Além disso, é bonita, não tão bela quanto a mais velha que tinha a beleza da mãe. Entretanto, dava para usá-la e seduzir pelo menos o patriarca.
E assim foi feito, Fadel ia a muitos encontros onde Ali estava e introduziu lentamente seu plano.
Em 2013, após terminar o mês do jejum, foi descoberto o câncer de Ali, e logo em seguida a decisão de seu filho em querer casar com Latifah e não com Hana.
Fadel não entendeu a decisão, apesar de ter ficado contente com o contrato, sente que deu o tiro no próprio pé, já que o objetivo não seria concretizado.
Pois pode se casar com outra mulher e ter descendentes com essa, e seu plano de participar de alguma forma implícita na árvore genealógica da família Haroon foi arruinado.
Ainda mais, o nome de Latifah não foi registrado no livro dourado, fazendo da outra a oficial matriarca.
Todavia, já se passaram quase dez anos e Mohammad não casou novamente, não havia também nenhum rumor de algum acordo matrimonial com alguma outra família.
Na verdade, Fadel não sabe nada que acontece na vida dele como uma incógnita, mesmo obtendo informação com sua filha, não demonstra estar infeliz.
Logo, afirma não querer filhos no momento.
Diferente dela, Hana tem gêmeas que completam oito anos e são filhas do primogênito de um banqueiro.
Contudo, isso não significa nada.
Não tem ninguém para cuidar dos seus negócios, e isso o apavora.
Ter um neto homem é bastante significativo para as famílias locais, sua cultura, e seria ótimo se não fosse impossível ter um sucessor de Mohammad.
Enquanto isso, o presidente estava sentado em uma cadeira selecionada por ele. Durante quase duas horas de festa, não tocou em nada, não colocou nenhum alimento na boca.
Todo ano, durante nove anos desde o surgimento do evento, nunca experimentou os alimentos servidos aqui, pois só de observar tem noção de que eram péssimos.
Fadel não se preocupa com a qualidade, não havia uma seleção minuciosa para a preparação de cada prato; apenas é algo bonito para seduzir a multidão.
Seleciona um chefe qualquer que esteja fazendo sucesso na internet e põe para fazer o jantar do evento.
O resultado é uma culinária desastrosa, na qual é comparada a um monte de bosta enfeitada.
Se limitava a degustar o champanhe, que era a única coisa suportável na ocasião.
Ao observar ao redor, analisando minuciosamente, vê que o ambiente a cada ano decai bastante, não que os primeiros anos fossem os melhores, porém era suportável permanecer por três horas.
Agora está preenchido daqueles que não agregam valor, usando joias e relógios de baixa qualidade com prostitutas que se intitulam digital influencers, que desfilam com marca de grife comprada num brechó.
Mohammad estava com seus guarda-costas que impediam o avanço até si, alguns observavam de longe, mas a maioria arriscava sua sorte para falar com ele, exibindo sorrisos ensaiados e semblantes piedosos.
“Que horas são, líder?”
“Pouco para meia-noite.”
Damian, que devido ao imprevisto teve seu horário de serviço alterado, tendo que cobrir dois turnos.
“Não reclame.”
Alfinetou Alex, que faz parte do turno noturno.
“Essa hora estaria numa bela orgia e comendo bolo.”
Logo, era irônico ver a humilhação na tentativa de ter a chance de provar o sucesso — só que em vão — e, depositavam sua atenção na esposa, que é mais acessível e educada.
Porém, não era idiota e sabia das intenções deles em rodeá-la.
Apesar da gentileza, Latifah era curta e direta, diminuindo as chances de conseguirem algo através dela.
Nesse casamento, alguns vínculos de amizade tiveram que ser podados, não porque foi imposto por ele, mas pelo simples fato de conhecer bem o ser humano.
Se não fosse casada com um Haroon, seria apenas uma sombra de tudo que a sociedade impôs ao longo das eras, já que nunca poderá se tornar mãe.
Contudo, como a situação é oposta, entende-se que muitos poderiam usar para obter benefícios, pois nesse casamento é apenas um peão para chegar ao rei.
Assim, tornou-se fria e distante, até com seus parentes que constantemente perguntam mais sobre seu marido.
Sua irmã fazia presença, estava cercada de mulheres que a adornavam, diferente dela, que não possuía um círculo de amizade grande.
Hana era distinta, puxou o lado sociável de seu pai junto com o orgulho e arrogância, tornando-o insuportável.
Vive um casamento conturbado, em que tudo é mantido nas aparências.
Seu esposo, por sua vez, é herdeiro direto do banqueiro que opera nas principais Emir, tendo vários casos extraconjugais, em sua maioria estrangeiras.
Eles mal se veem, ficam fora de casa, tornando-se solitários, negligenciam os cuidados das filhas, deixando-as com as babás.
Entretanto, possui um perfil revelando seu cotidiano e a vida ‘perfeita’, sendo o exemplo da esposa ‘ideal’ perante a sociedade, inclusive na religião.
Ela oculta sua ausência e suas traições para manter a condição criada ao longo dos anos de casamento.
Ambos se favorecem dessa vida artificialmente construída para ganhar mais prestígio perante a alta cúpula e, consequentemente, dinheiro.
Hana saiu do meio do grupo e foi em direção à sua irmã, ambas usavam abayas muito bonitas, adornadas com cristais que refletiam a luz, em contraste com seus longos vestidos.
Latifah estava conversando com uma modelo ucraniana que faria parte do desfile de moda em Paris.
Naturalmente, a modelo ficou um pouco sem graça, pois havia ficado com o esposo de Hana semana pas
sada, no hotel do cunhado dela.
Ao observar o semblante indiferente da traída, manteve o controle.
Latifah entendeu o que estava acontecendo e conhece o intuito da meia-irmã vir até aqui.
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Capítulo 02
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