Capítulo 06

Muitos morreriam para ver essa visão, entretanto, a dama não sentia nada, não possuía nenhuma atração sexual.

Para ela, é igual a corpos que desfilam nas passarelas, todavia, o motivo de sua presença era o fato de uma repressão.

É um tipo que preza e respira elegância e bom gosto, não é à toa que a educação é digna de uma dama da realeza.

E, por estudar moda e estar por dentro do que é novo nessa indústria, é referência na moda contemporânea e a estilista pessoal da família Haroon, que decide cada item usado por seu marido.

Escolhendo e comprando, até aprovando ideias únicas para cada evento, nem que seja o mais simples.

Tudo é pensado de forma estratégica, para continuar ganhando dinheiro.

Fora que julga o estilo dele como o mais cafona do mundo, pois, se dependesse, só usaria calça de moletom, blusa de malha e kandora por tamanho desleixo que tem com a própria imagem.

Na época de faculdade, parecia um largado, já que, além da altura, era largo por causa da musculatura desenvolvida.

A única qualidade que se destacava era sua beleza, que rendia vários elogios femininos, no entanto, é preguiçoso nessa questão.

O que mudou depois do casamento, jogou todas as suas antigas roupas fora e reformulou o closet, dando um ar equilibrado e másculo, passando autoridade devido ao peso que carrega e sua profissão.

Quando o alarme da banheira soou, indicando o fim do procedimento, Mohammad levantou, mostrando sua estrutura, que desinteressava.

“Esse tipo de iate não me apetece.”

Pegou uma toalha nova e jogou na direção dele, que pegou, e imediatamente o sistema iniciou o esvaziamento.

Dentro, só se ouvia o barulho do escoamento da água para o ralo.

“Por que não esperou preparar suas coisas para a viagem?”

“Não há necessidade. Quando perceber, já estarei na aeronave voltando para Dubai.”

“Às vezes é displicente para o grande peso que sua família carrega, a fase rebelde na faculdade terminou. Precisa levar essa questão a sério.”

“É só roupa, qualquer coisa indo para aquele fim de mundo é vista como um alto padrão.”

Despretensioso e arrogante.

“Sei que o Brasil possui muitos defeitos, isso não posso discordar. Mas tem que passar uma imagem impecável, é uma figura pública muito importante e tudo que gira em torno de você pode definir muita coisa.”

“Hum…”

“Inclusive a mensagem que queira passar.”

“Não vem dizer essa porcaria de ”humildade” e ”empatia”, que faço engolir pela garganta.”

Enrola a toalha em volta da cintura e vai para frente do enorme espelho, pegando uma escova de dente e aplicando um pouco de força no tubo plástico da pasta bucal, espalhando uniformemente nas cerdas macias.

Um som melodioso sai entre os dentes de Latifah, achando graça pelo desgosto por esses princípios.

“Não, Habib, não tem nada a ver com isso. Só estou dizendo que tudo que vestimos diz muito sobre nós mesmos e o que pensamos.”

“…”

“E se depender, seu estilo pereceria em um eterno playboy de péssimo gosto que só se importa com a logomarca e não com estilo. Entendeu?”

“Hum.”

“Logo, é para isso que estou aqui. Para tornar-se um ser culto que transpareça suas melhores qualidades.”

Mohammad cospe a mistura de espuma dental e saliva na pia, a qual é automaticamente ligada para limpar o resíduo na bacia cara.

Iniciando o mesmo procedimento, sabendo que repetiria pelo menos mais uma vez, estava acostumada com o critério rígido de limpeza que fazia diariamente.

Desse modo, apenas balança a cabeça levemente, dando autorização para trocar todos os itens que tem na mala.

A elegante mulher sai dali, fechando a porta sem causar barulho.

Quando foi ao closet, percebeu que o ambiente era pequeno demais para a quantidade de vestimentas, assim como ele sofre com TOC em um grau mais leve.

O que faz detestar ver desordem.

Antes de pegar na mala de viagem, que estava num canto bem à mostra, passeia observando cada um.

Em sua mente programada, tem um mapa mental dos tipos de tecidos apropriados para o clima, umidade, situações e emergências que poderiam ocorrer.

Assim, em cada repartição, colocava as peças selecionadas, apoiando em seu antebraço como uma vendedora experiente.

Só precisava tocar numa pequena parte, para distinguir se era adequado.

Selecionando peças adequadas para cada ocasião, conforme o ambiente propício, também dois conjuntos de ternos informais que só usará em apenas duas ocasiões, claro, com tecidos apropriados para o clima quente e úmido do Rio de Janeiro.

Já os pijamas foram, segundo o gosto usual dele, uma cueca e uma calça de moletom largo de comprimento reto.

Após, colocou tudo em cima da enorme mesa de vidro, iniciando a separação para organizar, e o funcionário responsável pelo hotel colocar de forma prática, evitando amarrotá-las.

Após tirar tudo da antiga mala, guardou novamente e pegou mais outras, pois a quantidade e o volume eram maiores e precisava de malas com boas divisórias.

No total, foram selecionadas três para uma estadia de três dias completos, possuindo peças para todas as situações sem precisar repetir.

Após colocar as novas malas em um local visível, saiu do closet e viu que estava deitado na cama com as luzes fracas.

Indo em direção ao seu aposento, onde faria seu ritual da beleza antes de finalmente descansar.

***

“Está desenvolvendo sentimentos por essa imunda? Por essa cachorra?”

Fogo.

“Vou matá-la, caso não apague sua existência da mente, não darei apenas um fim à sua vida, mas farei sofrer tanto, antes de decretar o fim…”

Matá-la… Cachorra…

O alarme soou, com a melodia baixa do segundo movimento ‘Andante con Moto’ de Beethoven, da 5ª sinfonia em dó menor.

Enquanto aumentava, atingia os quatro cantos do quarto, fazendo o hospedeiro despertar e descobrir o grosso edredom.

Desconcertado, como se o ar não existisse.

O alarme foi desligado.

Depois de perceber a movimentação, a luz, que estava apagada, acendeu, ficando forte para estimular o cérebro a acordar e entrar em alerta para as atividades do dia.

As enormes janelas de vidro reforçado, que possuem um sistema tecnológico que bloqueia qualquer claridade externa, funcionavam na madrugada, na verdade, faltando trinta minutos para as 5h.

Acordava sempre nesse horário, para se preparar para o salat do dia, o fajr.

Apesar de não concluir as horas programadas de descanso, não possuía dificuldade depois de dormir em escassez, apenas tomava uma quantidade maior de café no desjejum.

Vestindo a roupa habitual para orar, continuava no mesmo espaço porque havia um local apropriado para as orações do dia.

Esperando dar o horário certo da alvorada.

Latifah sempre fazia isso em seu quarto e depois voltava a dormir.

Após iniciar as orações, que são precedidas por uma ablução, indispensáveis porque é nesse momento que o crente entra no espaço sagrado de Deus.

É acostumado desde os 6 anos, quando iniciou a prática.

A ablução é um ritual tão sistemático e repetido que não exige muito esforço, sendo natural e espontâneo.

Após isso, pisa no tapete de oração, repete as prostrações indicadas, que eram duas hakats e sukuts.

Tudo foi feito com o sentimento de aflição, cogitou procurar resposta, mas abandonou, não tinha isso há anos, na realidade desde os 12 anos.

Era por isso que o ódio pelo pedido da mãe incendiou mais, querendo estrangulá-la, até seu rosto ficasse translúcido e seus lábios roxos.

Após terminar, inicia seu segundo ritual antes do desjejum.

Troca de roupa e veste um calção de banho para natação e se aquece na piscina coberta de 25 m que tem no condomínio.

A piscina é usada somente para exercícios ou hidroterapia, sendo necessário marcar horário para usá-la, diferente das outras áreas, onde é permitido um número maior de pessoas sem necessidade de programação.

Mohammad tinha o horário fixo diário, a temperatura também é modificada e o funcionário programava deixando mais frio que o habitual, beirando aos −5 °C.

Ideal, pois testava os limites, adquirindo resiliência e autodisciplina.

Praticando desde os 5 anos, quando seu pai alterou a temperatura da antiga mansão para o jovem lutar contra os instintos de fuga, adquirindo controle para enfrentar situações extremas.

Assim, repete durante os 31 anos.

Usando um roupão de banho e um chinelo antiderrapante, rasteja até a entrada.

“O Pumpkin é um saco.”

“Já é a sexta mensagem, não suporto quando cisma com essa mediunidade.”

Oliver, segundo na linha de frente, ignora o doce da criança que abriu a boca por não ser selecionado para ir ao Brasil.

“Só vai ser três dias. Ainda acha que será divertido.”

Bocejou, Smith.

Ao sair, já entraram em alerta.

O barulho característico da porta principal revela a primeira atividade do dia.

Desse jeito, Oliver e Smith vestem o característico terno preto, bem ajustado e reto como pedaços de madeira, suas respirações travam, pois a primeira coisa é a avaliação de seus perfis.

A roupa não deve estar torta ou desalinhada, os botões da camisa social e o paletó devem permanecer abotoados sem estar estufados, amassados ou sujos, apresentando uma coloração viva.

A calça deve se adequar perfeitamente ao molde da perna, e os sapatos não podem ter nenhum arranhado ou qualquer outro defeito.

A higiene é essencial e obrigatória, especialmente nas mãos e unhas.

Os cabelos devem estar arrumados e alinhados, e não se deve exalar um cheiro forte de perfume, devendo ser neutro.

Caso o indivíduo não cumpra com essas regras, será penalizado.

Os seguranças ficam em posição frontal, virados em direção à porta com as mãos à mostra, posição essa obrigatória para inspeção.

Assim, veem o homem de 2,06 m, vestindo um roupão de banho branco.

O decote meio aberto revela um peito liso e forte.

Rapidamente, os olhos críticos de Mohammad observam as figuras em posição usual.

A avaliação é rápida, durando no máximo 5 segundos.

Assim que termina, segue o caminho para o elevador.

Numa distância de um metro, formando um triângulo exato, acionam o botão.

Lá, as luzes brancas e estéreis estão acesas, dando um clima nada acolhedor.

A decoração é prática como qualquer recinto aquático usado exclusivamente para treinamento, as cores cinza e azul-escuro contornam a área, trazendo uma falsa sensação de tranquilidade.

Não havia ninguém, nem o zelador ou o pessoal da limpeza.

A água é translúcida e limpa, não havendo nenhum objeto ou sujeira.

Mohammad vai a uma mesa branca onde disponibiliza, numa caixa transparente, vários testes de medição de pH e alcalinidade da água.

Abriu um novo, removeu uma tira e foi até a borda da piscina, mergulhando até o limite estipulado, contando até 3.

Depois, retirou e esperou o tempo limite.

Após isso, o teste mostrou a alcalinidade ideal em 90 ppm e o pH em 7,2, indicando um parâmetro bom para o uso.

Os guardas ficaram a uma distância considerável para fornecer privacidade e segurança, ficando em alerta para qualquer movimento suspeito.

No início da piscina, havia um medidor digital da temperatura da água.

Normalmente, fica sempre entre 25 a 28 °C, porém, como somente usa nesse horário e exige uma diferenciada para sua prática de natação, regula uma hora antes de descer.

Removendo o roupão, deixou-o em cima da espreguiçadeira de aço.

A piscina, igual à profissional, não dispõe de trampolim ou nivelador de profundidade, sendo relativamente funda, onde alguém do seu tamanho fica submerso até a altura da axila.

Instantaneamente, sente leves choques que se espalham, é uma reação normal por causa da temperatura corporal estar elevada comparada com a água.

Em nado livre para se aquecer, pratica duas voltas completas, após o aquecimento inicia pelo estilo favorito: borboleta.

É a modalidade mais difícil e não indicada para iniciantes, necessitando treinar a resistência.

Como estava acostumado, fazia várias voltas até chegar ao limite. Após isso, voltava para o nado livre, só que mais rápido e curto.

Os movimentos dos braços funcionavam como um motor de barco elétrico cortando a água.

O corpo estendido abria caminho assim como Moisés abriu o mar vermelho, a força gerada pelos movimentos é forte, destacando a musculatura do braço e costas.

A pele branca brilhava na imensidão da piscina como um luar numa noite limpa.

Os seus movimentos eram tidos como imponentes e belos.

O relógio biológico percebe que bateu o tempo limite e se prepara para sair da piscina.

Com um único impulso, sobe na borda, empurrando para baixo e volta a se equilibrar. Fazendo movimentos para relaxar a tensão muscular, verificando se entrou água no ouvido.

Assim, tomou um aspecto renovado e leve.

Ao vestir o roupão, não se seca e as gotas escorrem e caem no piso impermeável, que absorve a água, prevenindo acidentes.

Durante a volta, um dos responsáveis pelo monitoramento da sala de vigilância do condomínio interrompe seu caminho, impaciente, atrapalhando o cronograma.

Quer subir para tomar um banho e remover o cloro da piscina e iniciar o café.