Capítulo 20
Igual aos raios solares no verão.
Era ela… Automaticamente, a melodia ‘You’re Alive’, da trilha sonora da saga Crepúsculo, veio à sua mente.
Assim como Edward, que estava prestes a se matar após saber da suposta morte de Bella, ao sentir-se chocado com seu gelado, o calor de sua amada transpassando, percebeu a mentira.
Foi exatamente o que aconteceu agora.
Cogitou que a morte foi uma mentira, uma brincadeira maldosa do destino para moldar seu caráter e assim, a recompensar, trazendo-a de volta à vida, similar a um prêmio por concluir todas as fases e derrotar o chefão.
A felicidade de vê-la bem, forte e brilhante foi o motivo de todas as suas perguntas, caso sobrevivesse àquele incidente.
Sim, ficaria alegre com esse prêmio.
“Eu estou tão feliz, você voltou.”
Espontaneamente, a filha entrou em um terminal de choro.
Como se retornasse, quando derramou toda a dor da perda durante o percurso de ida até o velório.
Entretanto, as lágrimas derramadas não eram dolorosas e sim de alívio, como se o familiar tivesse sobrevivido a uma enfermidade gravíssima.
Sua mãe embalou-a em seus braços, e aqueles finos e reconfortantes fizeram-na retornar muitas vezes.
“Mãe, eu morri? Estou morta?”
Incrédula, por ver e sentir o ser amado após tantos anos afastado, achou que faleceu igual ao seu tio e agora estava em outro plano e finalmente pode encontrá-la.
Contudo, toda a teoria de que não existia nada após a morte deixou-a insegura. Será que sempre existiu vida após a morte? Estava errada esse tempo todo?
Pensou em seu divã, procurando qualquer divindade para confirmar sua tese, mas neste momento só estavam aproveitando o conforto.
Desse jeito, antes de encarar qualquer coisa, aproveitou esses segundos com quem mais ama.
“Bubuzinha, está tão bonita.”
“Mãe…”
Essa a voz que o cérebro tentou apagar, a sensação que procurava desde a perda, era sua mãe, o amor da sua vida.
Ouvir novamente chamando pelo apelido, que deu carinhosamente assim que nasceu, fez mais viva do que os últimos quatro anos de terror.
Automaticamente, amaldiçoou seu sistema por tentar apagar a razão dela amar, por causa disso não perdoaria a si própria.
“Que nada, tô só o pó. Desde que se foi, perdi a única fonte de calor e luz e permaneci num sistema sombrio e frio.”
“Você foi tão forte… Tenho tanto orgulho de você.”
Orgulho? Julgou ironicamente, sua vida ainda é um caos, estava se recuperando após ficar em meio a um furacão de categoria mais elevada.
Fora que não tinha mais renda por conta própria e não sabia como retornar ao mercado de trabalho, ainda morava com seu pai e sobrevivia através dele.
Isso não é motivo de orgulho, não quando foi ensinado por uma mulher forte.
“Haha.”
Riu em meio aos soluços e choros, as lágrimas desciam mesmo que o rastro deixado em seu rosto estivesse seco.
E agora não poderia se preocupar, já estava morta!
Portanto, o que tinha para se importar pelo que passou em vida?
Quando se afastou para olhar, notou a diferença da última vez em vida.
Seu rosto estava mais cheio, ganhou peso, é bonito e jovem.
O cabelo é semelhante ao que usava henê, volumoso, encorpado num preto brilhante.
Era a mulher radiante de sua infância.
Assim, as palavras que sua madrinha inundou.
“Vi sua mãe com aquele seu tio que morreu há muito tempo na Bahia. Estava linda, com aspecto jovem e muito feliz.”
Recordando, gargalhou, caindo em si.
No momento, ficou irritada e levou como doidice.
Porém, ao vê-la, mostrando as mesmas características que disse, não conseguiu acreditar.
Era verdade, estava muito bonita, semelhante ao seu tempo áureo de beleza e vaidade. E o principal, feliz.
Contudo, apesar do belo sorriso sereno, sentia que não era bem-vinda, como uma intrusa no paraíso. Assim, começou a suspeitar do seu estado.
“Você está muito bonita, bem mais do que lembro. E muito feliz….”
Dizer essa última frase doeu profundamente, que não foi verdadeiramente feliz quando viva, e a fisionomia explicitava tudo.
Uma alegria nunca presenciada. Isso reacendeu a culpa cultivada durante o luto.
“Eu sei. Aqui sou muito feliz.”
A confirmação é igualmente receber a sentença de morte.
Queria chorar de desgosto.
De não conseguir fazer isso a quem ama, isso doía muito, bem mais que sua perda.
Mas deixou seu egoísmo de lado e tentou realmente ficar bem com a situação dela.
Simplesmente merecia tudo que está tendo, mesmo que isso não venha provindo dela.
“A senhora lutou muito e, durante um bom tempo, merece repousar em seu campo de Elísio.”
Sorrindo e confusa com as palavras da filha, não entendeu o que estava querendo dizer.
Como sempre, era a mais inteligente, desse modo compreendeu esses termos difíceis.
E queria deixar o seu recado, enquanto é permitido.
“Bubu…”
Bruna estava sob o efeito anestésico da felicidade e saudade, instantaneamente ficou alerta, apesar do tom manso, entendeu que havia algo por trás, e se preparou para escutar.
“Seja feliz.”
“O que?”
Estava confusa com a conclusão de suas palavras. Não morri? Como assim? Que palavras de despedida são essas?
“Preste atenção, seja feliz. Verdadeiramente feliz, tenha sua vida. Faça como sempre desejei pra você e seus irmãos. Lembre de que criei para o mundo.”
“…”
“Então viva nele, não fique presa e deixe tudo passar. Tem algo muito especial aguardando vocês, especialmente você, Bruna.”
“Mãe… não morri? Que papo doido é esse?”
Eliana sorriu mais uma vez, de forma ampla e divertida, como se estivesse pregando uma peça.
Dali percebeu que algo não estava certo, e por isso captou que realmente é uma invasora no mundo dos mortos.
E isso a deixou triste, pois precisava sair antes que uma força maior a expulsasse.
Como última tentativa, tentou tocar, mas sua mão passava direto, igual a tocar o ar, e isso a apavorou.
E sua crise de ansiedade retornou com força, como se o ambiente não tivesse as moléculas fundamentais para a respiração humana.
Ofegante e com suas mãos trêmulas, seu coração trabalha em dobro com alta descarga de adrenalina no sangue.
Não acreditava nesse afastamento, não depois de tanto tempo sem nada.
Fitou novamente e, de alguma forma, estava brilhando à medida que sorria docemente, o mesmo usado quando passava por dificuldade, era positivo, com uma mensagem benéfica.
Tranquilizador.
O brilho intensificou ainda mais, sentia lentamente a sua expulsão. E, como última opção, perguntou sobre seu tio.
“Está tudo bem. Amo muito você e seus irmãos. Fala para eles que nunca esquecerei ou deixarei de amar.”
“Mãe….”
“Adeus, Bruna.”
Igual a uma lâmpada que perde sua funcionalidade, foi desse jeito que elas se despediram.
O escuro a cercou e, rapidamente, acordou.
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Capítulo 20
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Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...