Capítulo 21
Como sair do oceano, respirou.
Expandidos e apavorados, sofreu uma das experiências mais bizarras já presenciadas na sua existência, era vívido e real.
O quarto que dividia com o pai estava vazio, é feriado do primeiro dia do ano.
Assim como tudo, despertava num espaço escuro, através da antiga janela, entrava um flash de luz solar, deixando um pouco iluminado.
O som característico do ar-condicionado, trabalhando a todo vapor para manter uma temperatura ideal, afasta o calor extremo do verão.
O edredom verde-musgo, comprado por sua mãe há mais de seis anos, mantém o calor gostoso e equilibrado contra o exterior.
Estava alheia, apenas absorvendo tudo que aconteceu em seu sonho.
Odiava isso, principalmente quando fazia sentir todas as sensações que lutou para afastar.
“Ah! Estou viva, então.”
Queria socar a parede, só que desistiu, agora estava aqui.
Não havia mais o que fazer, já passou e não poderá voltar ao que era antes.
O seu celular, carregando, repousa em cima do móvel velho, que possui seus descendentes.
A princípio, era para guardar roupas, mas foi virando um depósito de tralhas velhas que hoje não sabem a função de se guardar.
Como é velho, desde a falecida, resistiu à sua maneira.
Sua estrutura, embora inteira, está torta, suportando o peso da TV grande que não é utilizada há séculos.
E embaixo, há apenas três gavetas que estão tortas, já que não se encaixam mais devido à soltura dos ferros.
Na primeira parte, a mais estável, tem vários sacos com papéis antigos sem serventia. Apesar da mania de limpeza e organização dela, era uma acumuladora de papéis.
Principalmente no passado, quando a tecnologia não era tão forte como agora.
Nisso, acumulava todos os tipos que julgava importantes em um único ponto, se transformando nisso.
Antes ficavam debaixo do colchão, nas antigas camas que não eram boxes.
E foi por causa disso que perdeu sua primeira carteira de vacina.
“Até hoje continua a mesma porra.”
Por sorte, os documentos importantes, como certidão de nascimento, estão intactos, claro, menos o da sua irmã, com a cópia bem deteriorada.
Logo, ao completar o primeiro mês de morte, os acumulados mantiveram-se dentro de várias sacolas de mercados, e com o tempo foram se juntando mais até se impossibilitar de abri-la.
Com isso, quando foi preciso procurar alguns documentos dela para conseguir dar entrada em sua aposentadoria, Bruna eliminou boa parte e deixou alguns, por certa dúvida, diminuindo muito.
Junto a várias folhas de sulfite usadas durante o período da faculdade.
Ficando apenas o essencial.
Por outro lado, esse ano tem eleição, isso desanimou porque não gostava das eleições estaduais.
Na verdade, odeia eleição como todo mundo, é muita poluição visual com vários candidatos se digladiando para conquistar os votos daqueles que esquecem por quatro anos inteiros.
São semelhantes àqueles ‘pais ausentes’, que só lembram do filho para criar engajamento e ‘likes’, se autointitulando como ‘pais do ano’.
No entanto, não se importam em saber o aniversário e reclamam da ‘pensão’ dada, por achar que a progenitora está ‘luxando’ com os míseros R$ 250 por mês.
Esse é o governo do Rio de Janeiro, todos são ‘pais ausentes’ para seus ‘filhos’ que os visitam esporadicamente para usurpar, e ainda reclamam da ‘gorjeta’ dada à população mais carente.
Julgando a situação precária, como se fosse culpado e garantindo que estava fazendo um ‘favor’ para essa parte não morrer de fome.
Na época da pandemia, com o governo negacionista e genocida do ex-presidente, a mísera gorjeta dada era um ‘cala boca’ para as atrocidades que estavam acontecendo, e com as mortes generalizadas causadas pela Covid.
Com lockdown — para barrar o quadro epidêmico — e tentar frear o alto índice de mortalidade diária.
O governo ‘cristão’ ocasionou não só mortes pelas atitudes negacionistas contra os métodos de prevenção expedidos pela OMS, mas também a corrupção e o atraso nas vacinas, ceifando mais ainda.
Esse caso foi exposto por meio da CPI da Covid, revelando a podridão do que de fato aconteceu na campanha contra a pandemia no antigo mandato.
Sendo assim, Bruna começou a ter desgosto pela política e decidiu não votar, estando sob efeitos das emoções.
Pois, pelo ato cego, colocou um mercenário no poder que matou mais de 700 mil vidas.
Tais vidas, que acreditaram em suas palavras em sua campanha. Vidas que não poderão mais voltar, assim como a sua mãe.
Portanto, a culpa invadiu por financiar os assassinatos de todas aquelas pessoas enterradas como indigentes, só para ocultar os dados podres da ascendente mortalidade causada pela doença.
Durante o período das trevas, potencializado com o caos, aprendeu coisas valiosas e assuntos novos que fizeram diferença.
Hoje, tem prazer em adquirir conhecimento de fontes confiáveis que se preocupam de fato em passar um conteúdo sério e de qualidade, envolvendo críticas socioeconômicas e políticas públicas.
Deixando de ter partido político, focando na população.
Inclusive, os que mais sofrem com as variantes adversas causadas pelas consequências desses políticos que visam o próprio umbigo, pincelando atitudes imundas e hipócritas para demonstrar ser do ‘povo’.
Também foi pelo impacto gerado nas eleições de 2018 e ascensão ao trono desse governo.
Que a fragmentação derivada da política americana transpassou para o Brasil numa rinha no passado, se tornando hoje, em dois blocos, os de ‘direita e esquerda‘.
O partido ‘verde-amarelo’ contra o ‘partido vermelho’ causou o caos entre a população nativa, que, como consequência, teve a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, logo após a posse oficial do governo opositor.
E sabe que só terá fim quando surgir uma ‘nova onda’ que apagará o que ocorreu no passado.
Tudo é questão de esperar, o tempo é o efeito corrosivo que extingue eras e até apaga certas histórias.
E essa nova onda política não será diferente, estão tão suscetíveis quanto antigos impérios que passaram pelo mundo.
O tempo é a verdadeira corporação com grande rotatividade.
Sem partido e religião, a jovem segue apenas vendo e se indignando como isso afeta de forma direta e indireta os mais carentes.
Que são usados como peças num xadrez global, para os poderosos brincarem de ganhar dinheiro ao mesmo tempo que tiram o tédio de suas vidas.
Ao pegar o celular, que ganhou em 2020 do pai, com carga completa, percebeu que esse estado não significa durabilidade, pela bateria estar viciada, perecendo rapidamente.
Mesmo assim, não queria trocar, em razão de possuir plena função para suas exigências pedidas.
O smartphone, com a carcaça traseira vermelha, custou menos de mil reais, pago à vista com o dinheiro de ambos.
Na época, já era um modelo desatualizado, e seu intuito mirava na classe mais pobre que precisava de um celular ‘bom’, sem desembolsar mais que mil e duzentos.
No lançamento, foi bacana, era para os que queriam algo para improvisar no intuito de apenas usar algumas redes sociais importantes, sem necessariamente precisar baixar aplicativos ‘pesados’.
E esse é o intuito, de não ser para essa parcela e sim ‘basicão’ para os menos ‘exigentes’ que precisam somente desse nicho para curtir certos vídeos com uma boa qualidade de imagem.
Tudo isso estava bem para a moça, que apenas ouvia música e mexia no Facebook, onde expressava suas opiniões em um perfil fake, para acessar tranquilamente em grupos de conteúdo fujoshi.
Também usava sua rede para migrar entre várias páginas e grupos diversos, expressando suas opiniões, o que sempre causava um certo caos.
Todavia, hoje é o primeiro dia do ano, um novo recomeço, e todos nesse exato momento estão curtindo antes de enfrentar as bombas lançadas durante o ano todo.
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Capítulo 21
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As Mil e uma noites Dela com um espírito Obsessor
Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...