Capítulo 33

“O que está fazendo?”

“Estudando.”

Uma mesa simples de madeira, sem muito esmero, num luar no qual as estrelas se tornaram o palco principal.

A casa era numa localidade distante da alta classe, e esses jovens viviam algo único.

“Pra quê?”

“Quero ser poderoso.”

“Haha…”

Não entendia, a família desse já era bem vista, claro, desconhece-se se vai além dessa fronteira, o que fez questionar a razão.

“Quero me tornar poderoso, rico já sou, mas preciso do máximo para conquistar o impossível.”

“Hum.. Por quê?”

Virando, admirou os olhos castanhos de sua amada, revelando a razão.

“Para te proteger.”

***

Calado, apenas encarou como um predador olha sua presa que cada vez se afasta, assim como um item raro de grande desejo.

Seus pés criam vida própria, caminhando na mesma direção da sua obsessão.

“Será que…?”

Longínqua, perto de uma casa com um enorme pé de figueira de frente a uma encruzilhada, dali virou em outra rua que dá acesso à praça, sem perceber que um lobo astuto a seguia.

Os seguranças fizeram igual, hipnotizado por algo que não sabiam o que era.

Esse tipo de comportamento só é visto quando ficava fascinado por algo e queria adquirir de qualquer jeito.

Na verdade, só é direcionado para bens materiais que poderiam gerar algum lucro.

Sem questionar, prosseguiu com o trabalho, atentos a qualquer sinal de perigo. As armas estavam prontas em seus paletós para serem sacadas e usadas.

Como possui pernas longas e é ágil, não demorou para alcançar e ficar a uma boa distância dela, que estava alheia ao seu redor ouvindo música.

Normalmente, o ser humano possui um sensor indicando quando está sendo perseguido.

É um instinto primitivo, levado em seu código genético por milhares de anos através da seleção natural.

Porém, dessa vez, o da mulher não ativou, similar a um herbívoro que se alimenta tranquilamente sem perceber a emboscada inimiga.

O homem mais poderoso do planeta seguia uma pessoa com quem jamais teria contato, mas foi através de seus olhos que mudou sua atitude.

O breve embate fez perceber que não é o único objeto de desejo; a jovem é uma delas.

Assim que lançou, viu o desinteresse e o desprezo da outra parte, idêntico a uma simples folha que cai da árvore.

Sendo único.

Entretanto, fazia tempo que não desejava com tanta força ter algo, e como conseguia tudo que queria, não importando como, a queria de qualquer modo.

Fazendo parte de sua coleção, mas também havia outra nuance, que não sabia nomear, sendo desconhecida por si só.

Não a queria por uma noite, semanas ou anos, mas para a vida toda.

Prender esse belo pássaro em sua gaiola e, se for preciso, faria igual a Hades com Perséfone, tiraria de sua terra à força e levaria para seu mundo e nunca mais escaparia.

Mesmo que faça perder o movimento das pernas para não fugir dele.

Assim como um psicopata, observa friamente, vendo os movimentos, seguindo caminho reto, indo diretamente à praça.

Na mão, segura um livro velho que é relativamente fino.

Quando parou, tirou o fone de ouvido para observar se algum carro estava se aproximando e, com segurança, atravessou para o outro lado, chegando ao começo do destino.

Cheio, a maioria era idosa e famílias com crianças pequenas que procuravam desestressar o dia em um espaço tranquilo.

A lanchonete Girão, um dos lugares mais caros do Grajaú, estava aberta, mas, como sempre, vazia, esperando algum cliente.

Ficou parada ao lado do poste de luz, em que chorou abundantemente pela morte da mãe há quase cinco anos.

Apesar de não lhe trazer um sentimento conflitante, ainda é guardado dentro de seu peito para nunca esquecer que amou e sofreu com sua perda.

Essa estrada, que tem um formato de um grande círculo, fez parte da sua infância, quando inúmeras vezes pegava a condução para ir a uma ONG social, que ajudava crianças e jovens a desenvolverem talentos em várias áreas artísticas.

Foi sua mãe que a inscreveu, pelo benefício ganho de cem reais por mês.

Nunca de fato viu a cor do dinheiro, mas não ligava, era divertido e podia aprender muitas coisas curtindo a infância convivendo com outras crianças.

Essa antiga facilidade de estar em meio à multidão sem ter os problemas atuais é igual a ver outro universo paralelo.

Antes de atravessar, olhou para toda a extensão, havia um grande fluxo de policiais, dando tranquilidade e segurança a quem vive por aqui.

Dali, vê os bancos de praça e mesas feitas de concreto prontos para serem utilizados.

Não podia ficar na área coberta, pois é moradia dos sem-teto, então resolveu ficar em uma destinada aos jogadores de dama.

O 608 estava saindo e aguardou para concluir o desafio.

Ao lado do ponto final, havia uma escola municipal que não funcionava devido às férias de verão.

Portanto, não haveria nenhum jovem saindo por aquele portão azul, matando aula e ficando a tarde toda aqui.

No entanto, apesar de não ter adolescentes trajando a farda escolar, há muitas crianças no centro jogando futebol com outras que curtiam as férias.

Os pais observam cada passo dos pequenos enquanto conversam com outros adultos.

Admira a capacidade sociável de seu povo com qualquer estranho, mesmo não sendo amigos íntimos. Esse calor é uma característica rara e deve ser cultivada por um largo século.

Ainda que houvesse várias mesas de concreto, alguns não tinham apoio para sentar, já que uns idiotas destruíram certas cadeiras, diminuindo o número a ser utilizado.

Trazer de volta a esse lugar e sentar nessas cadeiras, volta ao ápice do fim da adolescência aos 19 anos, quando era cheio de desejo com seu segundo namorado.

E igual que foi bom descobrir que não era culpada por tudo que passou no antigo namoro, também a corrói por dentro.

Se pudesse, cortaria a fita do trajeto de toda a adolescência e ficaria com a infância e a fase adulta.

Senti vergonha e arrependimento por suas atitudes mesquinhas do passado e não quer repetir.

Ao olhar para a mesa entalhada, com o padrão do tabuleiro de dama, riscado e deteriorado pela corrosão do tempo, colocou o livro em cima e respirou fundo.

Resolveu tirar o celular do top para selecionar outra canção e escolheu uma bem romântica, para acompanhar a leitura clichê.

Enquanto isso, Mohammad seguiu até aqui, estava sozinho, longe de sua guarda que esperava alguns metros atrás da lanchonete, isso foi uma ordem para não atrair tanta atenção e afastar seu objeto de fixação.

No entanto, é extremamente bonito, o que fez os transeuntes olharem descaradamente para seu porte.

Tendo o embate misto de desejo e inveja, cogitaram que acontecia um ensaio fotográfico ou a gravação de uma novela.

Tudo pela presença que não combinava com os habitantes, igual a um extraterrestre ou um deus que resolveu mostrar sua magnitude.

Acostumado a isso, atravessou similar ao modelo desfilando na passarela, em nenhum momento precaveu se vinha algum carro e apenas confiou em seu instinto.

Concluindo, sabia onde estava, sentada, focada no objeto.

Dessa forma, sua presença era irrelevante, em razão da leitura, os fones bloqueavam qualquer som externo.

Assim, percebem-se algumas emoções expressadas.

A primeira, e mais predominante, é cansaço, como se o ato não agradasse e tivesse que se esforçar ao máximo para manter o ritmo.

Isso retrocedeu à época escolar, em que alunos desinteressados nas matérias esforçavam-se absurdamente para memorizar o que era ensinado, não gostando do conteúdo.

Apesar de ser um romance clichê, que facilmente agradaria qualquer tipo de garota, fechou em sinal de desistência e ficou observando fixamente um único ponto qualquer.

Depois, retorna, buscando alguma força desconhecida para prosseguir, e, por incrível que pareça, consegue e se mantém firme com um semblante relaxado.

O ato durou pouco, apenas 15 minutos, e logo se levantou para se retirar.

Mohammad pegou o celular e descaradamente tirou várias fotos do rosto e corpo dela.

Sem perceber, seu stalker estava a poucos metros de distância, que vê com nitidez.

Logo, não a seguiu, apenas acompanhou até a silhueta sumir do raio de visão.

E, pela primeira vez, um leve sorriso verdadeiro pincelou em seu rosto moldado.

O pequeno diabinho não sabia, mas, graças à sua travessura, ajudou a movimentar uma velha roda encalhada há anos.