Capítulo 39
Havia carpaccios, hassomakis, nigirizushi e muitos outros. Defumado, maçaricado e crus de textura fresca e lisa.
Cada peça brilhava, pelo teor de gordura natural produzido pelas especiarias, provando sua qualidade. Ao lado, cada um recebeu um pouco de wasabi verdadeiro ralado na hora.
Wasabi é uma raiz forte muito consumida com os pratos japoneses, sendo caro e difícil de produzir, o preço elevado por kg pode ultrapassar uns 200 dólares, sendo algo requerido em culinárias luxuosas.
Mohammad reconheceu a veracidade, pelo modo produzido e ralado.
Normalmente, o utilizado por vários restaurantes é semelhante a uma massinha de modelar, e ao pegar com o hashi percebe-se a dureza que não se desmancha com facilidade.
Ao contrário do original, onde se notam as lascas raladas.
Fora que o verdadeiro é um pouco úmido, podendo umidificar levemente o hashi.
O gosto é único, com a picância suave que se espalha gradativamente pelo nariz e na parte superior da boca.
Tendo ciência, sempre experimenta para saber de fato se é natural ou simplesmente uma imitação quase perfeita.
Quando pegou os hashis embalados, tirou uma porção e colocou em sua boca como se experimentasse um filé suculento.
Rapidamente, sua papila presenciou todos os sabores que somente uma raiz forte é, sendo instantaneamente dissolvida em sua boca, como um cubo de açúcar.
Os funcionários esperam a aprovação para deixarem sozinhos novamente.
Assim que viu pegando um sashimi de atum rosado, todos respiraram em paz e pediram licença ao se retirar.
Santoro, como um bom brasileiro, foi na opção frita, o hot roll, o gosto é divino e derretia, não tornando pesado e oleoso demais.
Enquanto saboreiam a refeição em silêncio.
Ambos enchem seus pequenos copos com bebidas alcoólicas de duas civilizações que já foram inimigas por muitos anos.
E confraternizam sob o sangue dos antepassados durante a Segunda Guerra.
Ao concluir essa parte, Santoro se enchia à medida que o anfitrião estava nem perto de se saciar.
É nisso que odiava fazer negócios nos horários das refeições, já que pessoas normais não aguentam por tanto tempo.
“Um desperdício.”
Após limpar os lábios com um dos guardanapos, finalmente começaram a falar sobre o assunto principal, e qual esquema adotado para que o Haroon seja o novo dono de outra propriedade.
“Hum… Como sabe, Sr. Haroon. Nesse leilão, haverá muitas corporações poderosas que almejam essa fatia. O Galeão, após Guarulhos…”
Ouvindo a homologação das características do aeroporto, bebia seu álcool sem pressa, analisando suavemente.
Apesar de que nesse meio de conversa, migrou para aquela mulher que enfeitiçou seus sentidos.
Já imaginava quem estaria por trás dessa fatia, mas o objetivo maior é a facilitação da carga e descarga de drogas.
A cocaína continua sendo um produto dourado e muito requisitado no mundo todo, e o que de fato move a economia mundial, mais do que os negócios lícitos.
Por causa disso, a frouxidão da fiscalização brasileira facilita de certa forma esse produto, o que rola muita grana por baixo dos panos por parte desses para transportar para a Europa.
E nem todos estão dispostos a colaborar com a propina recebida.
Fora o ganho adquirido por kg levado por outras facções, que precisam usar esse meio para levar suas coisas também.
O presidente do leilão tem conhecimento, mas como é apenas um negociador, não importa em nada o que é feito com a instituição.
Contudo, não sabia da ilegalidade que possui, desse modo acha que apenas deseja adquirir mais um brinquedo em sua enorme coleção acumulada no período de quase uma década.
“Alguma dúvida, Sr. Haroon?”
Mohammad não diz nada, apenas pega um guardanapo e uma caneta de seu jaleco.
Normalmente, não é de usar esse artifício, pois tudo é resolvido tecnologicamente, e escreve algumas palavras para concluir o assunto.
Quando o guardanapo chega até o leiloeiro e vê o que estava escrito, sua fisionomia se espanta com tamanha perspicácia.
Incrédulo, caiu em si que a inteligência para os negócios com doutorado em economia não é brincadeira.
“Como conseguiu fazer isso apenas com as informações que lhe passei?”
“Nada foge de mim, sei que recebeu outras propostas que querem o mesmo, mas creio que a minha seja mais vantajosa, não é?”
“Bem… Não se pode ter todos os dias, mas como sabia que o governador estava por trás?”
“Não é meio óbvio?”
Quando foi lançada, um sorriso mostrando seus belos dentes brancos e alinhados fez acreditar que nada, nada consegue fugir dele.
Nem uma palha ou folha de uma árvore.
Similar a um deus onipresente, mesmo estando em um único ponto, principalmente quando algo o interessa.
Santoro se posiciona tentando um jeito de se esquivar, mas não consegue, tudo que estava no papel é real, podendo se dar muito mal caso discordasse.
Não só ele, mas os políticos.
“Agora, Sr. Santoro, a proposta está na mesa e sei que vai concordar, entretanto a pergunta é… Será que o valor que pede se comporta com os requisitos que propõe?”
“O que?”
Ficou mais confuso do que o descobrimento de toda a podridão envolvida.
E sentiu que seus 50 milhões estavam em risco, e não tinha como escapar, é lutar ou sair de mãos vazias.
No entanto, queria, pelo menos, não sair de mãos abanando, não quer perder o único pássaro e sair com uma pequena porcentagem.
“Digo, me pede 50 milhões, mas acredito que, depois do que tem no papel, nem valem os 10% do que tenta me subornar, não é?”
“…”
“10% de 50 milhões, na moeda brasileira, continua sendo um trocado de ‘pinga’ para mim, mas como um bom economista e amante do dinheiro, deve saber da minha fama um tanto muquirana.”
“Merda!”
“E, para lhe dar essa graça, mereço uma avaliação. Não acha?”
“Avaliação? O senhor deseja uma avaliação da minha pessoa?”
“Sua? Hahaha… sinceramente, concordo que o humor brasileiro continua sendo o melhor… realmente, macacos sabem entreter bem o público….”
“Que filho da puta.”
O xingamento, que não pode sair, teve que ser controlado, pois estava sob a sola do calçado desse cara, então, todo cuidado é pouco.
“Saindo do humor e indo para coisas sérias, estou lhe informando que, se de fato vale 5 milhões, farei uma avaliação do produto para, pelo menos, merecer um pouco dessa recompensa, que tal?”
“Irá fazer o mesmo que fez com o gerente do Belmopan?”
“Hum?”
“Acredito que as bocas miúdas já sabem o que aconteceu, então não é difícil adivinhar qual será essa tal ‘avaliação’, o que custa acreditar.”
“…”
“Sr. Haroon é homofóbico e, mesmo assim, fez questão de ver toda a sodomia contra outro homem.”
Mohammad, ao ouvir tudo aquilo, sentiu seu interior borbulhar de alegria.
É contagiante quando uma presa tenta dialogar com seu predador, o modo como morrerá.
Chegava a ser fofo, diga-se de passagem.
Portanto, pegou seu cigarro, acendeu e uma gargalhada escapou por ela, é verdadeira e sincera quanto ao seu interior podre.
Uma coisa gostosa de ouvir, havia uma boa sonoridade que combinava com todo o resto.
Belo, magnífico e estonteante.
Contudo, perturbador demais.
O imperador sentiu que estava conversando com uma criança sobre a funcionalidade da vida, e como funciona de fato.
Sim, é homofóbico, e se pudesse expor sua carteirinha para todos, veria o quão orgulhoso é em tê-la desde a concepção.
E o fato de presenciar cenas assim diz muito sobre sua perversidade em degradar a dignidade humana.
Nada mais prazeroso que torturar o outro e, para isso, usa métodos que vão além de objetos cortantes.
O verdadeiro torturador entra na cabeça da vítima e modifica seu código genético, mexendo com seu psicológico.
Seu prazer é ver que o torturado lembrará até após a morte, e temerá mesmo em outra vida, levando consigo não momentos bons, mas as horas em que seu algoz o fez sofrer.
Essa é a verdadeira arte da tortura.
Nisso, achou engraçado ser chamado de enrustido por alguém que possui um fetiche em crianças de 10 anos.
“Realmente é digno de sua inteligência, não esperava muita coisa, mas ainda assim, me decepcionou.”
“!!”
“Tem certas coisas, criança, que seus pais ainda não lhe ensinaram. Mas, o avô explicará um pouco sobre meu posicionamento em relação a isso tudo.”
“O quê? Vai me dizer que é por diversão?”
“Huh? Claro. Do mesmo modo que se diverte tendo aquelas fitas de pornografia infantil.”
“…”
“O que, Sr. Santoro? Achava que iria para a batalha sem armas? Pensa, está falando com quem? Com um soldadinho de brinquedo?”
Foi dali que percebeu a derrota, não pode se comparar com um general que luta há décadas. Sendo assim, perguntou novamente.
“Será que realmente foi uma boa ideia tentar chantagear essa besta demoníaca?”
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Capítulo 39
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