Capítulo 41

Uma pasta grossa estava sob a mesa dele, que se deliciava com um belo café da manhã de sua terra.

 

O expresso estava do jeito que gosta e pronto para alertar para o dia inteiro de uma agenda cheia.

 

É sábado, dia 13, sua estadia no RJ completou uma semana.

 

Os documentos em sua mesa são o serviço que pediu ao líder na semana passada.

 

Antes, já havia o produto com tudo ordenado.

 

Diferente das informações colhidas pelo secretário, esse é robusto e pesado, com várias fotos e anotações feitas pelos guarda-costas.

 

O leilão será amanhã à noite, regado a um belo jantar similar a entretenimento para pessoas ricas.

 

Mohammad participaria, para matar o tédio nos dias que passa neste lugar, já que nunca frequentou, somente enviava o secretário que se encarregava do serviço.

 

Além do mais, a compra é sua, então não precisaria comparecer de fato, só enviar terceiros para ficar brincando de levantar a placa dando lances absurdos e caros ao decorrer que ia esquentando, e a brincadeira ficasse animada.

 

Embora fosse uma festa de divertimento e poder, Mohammad estava mais animado com o que tem dentro desse conteúdo.

 

Como uma criança que acaba de ganhar um presente na manhã de Natal, devorou os alimentos e pegou o tesouro.

 

A pasta está repleta de informações secretas que poderiam ser usadas para obter algum recurso, na verdade, só queria ter uma garantia caso o plano original não desse certo.

 

E, como é precavido, queria memorizar tudo que pudesse para se certificar da cartada final e obter seu prêmio.

 

As imagens que a revelam o fizeram palpitar como um viciado experimentando a droga pela primeira vez, a maioria não a via sorrir ou expressar felicidade.

 

Sempre muito séria, como se o mundo fosse cinza sem a presença de alguma cor.

 

Fora que sempre estava desacompanhada, constantemente sozinha fazendo suas atividades diárias, o segurança sublinhou as saídas nos dias úteis e no mesmo horário, às 7h.

 

Não demorou, voltando pouco tempo depois, mas no dia 10, a rotina foi quebrada e desceu pelo mesmo caminho, seguindo reto em direção a Verdum.

 

Havia diferença de horário, não o costumeiro, mas sim, às 9h.

 

Nisso, foi em direção à Praça da Viúva, atravessando o pequeno pedaço da Barão de Mesquita, onde não havia faixa de pedestre.

 

Os carros iam nessa direção para acessar Vila Isabel e Méier.

 

Quando chegou do outro lado, entrou em uma loja de produtos para cabelos, simples e pequena, com pouca variedade de cosméticos, mas supria as necessidades precisas.

 

Do mesmo jeito que entrou, saiu com o produto em mãos, uma sacola branca e fina com um pote de cilindro grande para pentear os cabelos.

 

Depois, foi à farmácia e lá apenas comprou dois sabonetes íntimos que estavam na promoção por R$9,99.

 

Como uma cliente antiga, os atendentes a cumprimentam com um sorriso enquanto passam suas coisas.

 

Ainda que o método de pagamento usado seja ultrapassado, perguntou: qual pessoa em sã consciência usaria o dinheiro em espécie para fazer compras?

 

Sim, somente quem recusa usar a tecnologia.

 

“Essa grana é de providência ilegal?”

 

Mais a fundo, descobriu que na sexta, último dia da missão, vislumbrou o seu sorriso. Estava acompanhada da irmã, e o modo de se portar e vestir é bem distinto.

 

Enquanto Bruna usava o mesmo tipo de uniforme, sua irmã aparentava ser vaidosa apesar da modéstia, bem mais feminina que a mais velha, que poderia ser muito bem confundida como mais nova.

 

Mesmo nas fotos tiradas com um semblante contido e despreocupado, quando sorri, se torna mais iluminado, igual a uma adolescente em seu ápice de amadurecimento.

 

Qualquer ser humano que visse não diria que a da esquerda completaria 32 anos, e que a caçula tem cinco anos de diferença.

 

Independentemente de estar com um fone plugado, quando estava ao lado de quem confia, era outro indivíduo, sendo mais leve e bonita.

 

Em prática, queria causar essa sensação, assim como faz com a irmã.

 

As duas foram caminhando até o supermercado atacadista, um varejista famoso no Brasil.

 

O retorno foi de carro, usando o popular frete que cobrava 26 reais para levar aonde quisesse.

 

Quando passou por todas as fotos e informações, recolheu as fraquezas que podia ter.

 

O principal é sua família, quem considera e ama, sendo sua maior queda.

 

Qualquer risco que possa ocorrer com essas pessoas, a jovem seria altamente infligida, ficando assim, suscetível a qualquer pressão ou ameaça para ver o bem-estar e sua segurança também.

 

Claro, inicialmente ofereceria todo conforto para eles, no qual começariam a confiar e lentamente depender mais dele, vendo assim, como único porto.

 

Ofereceria seu cuidado e amor, montando uma gaiola na qual tenha a falsa sensação de liberdade.

 

No final, mesmo que solte por alguns instantes, sempre retornará para ele.

 

Essa tática demoraria, sendo um processo um pouco mais lento, mas tinha um prazo para concluir e tê-la para sempre.

 

Dizem que o melhor caçador é o mais feroz e rápido na captura de sua presa, mas isso não se adequa à sua concepção.

 

A paciência é uma das virtudes de um caçador, ao se misturar em meio ao ambiente onde mescla, e a presa não percebe sua presença, relaxando cada vez mais, acreditando não haver perigo à sua volta.

 

Até ficar demasiadamente confiante, para ser capturada.

 

Quando perceber, já será tarde e estará sob seu domínio, sem chance de escapar.

 

E no seu território, perante avisos externos para fugir, o pássaro não fará, ficando em sua gaiola para todo sempre.

 

No seu poder, poderá apenas o amar e o desejar, ninguém, nem o fruto do seu sangue e carne, poderá romper esse ligamento que construirá com ela.

 

“Não importaria que tivesse que matar nosso próprio sangue, caso tente nos afastar.”

 

Será sua esposa e futura mãe de seus descendentes, e nem que a morte tente levar seu suspiro de vida, irá até o submundo para resgatar sua alma como o mito de Orfeu.

 

Ninguém, aqueles que tentarem, morrerão.

 

“Se tiver que destruir algo para ser minha, não hesitarei.”

 

Do mesmo jeito que foi paciente ao eliminar o pai, será para tê-la.

 

***

 

Em pleno domingo, o Rio de Janeiro está nublado, a frente fria que originou na manhã de sábado não foi embora, continuando o mesmo clima pesado numa noite glamorosa.

 

O salão alugado para fazer o leilão é digno de um festival de Oscar, muitas figuras importantes estavam esbanjando seus melhores trajes e joias, aqui a atmosfera era outra.

 

Diferente dos festivais, que promovem o entretenimento, em que há muita jovialidade transbordante por cada poro, transformando-se em informal.

 

Aqui é o oposto.

 

Os mais abastados são compostos por velhos, que lutam constantemente contra o tempo, em sua linha evolutiva, análoga a uma empresa com rotatividade alta.

 

As marcas das duras batalhas vencidas estampam seus rostos como uma cicatriz de um velho guerreiro. A sabedoria dos convidados dava um pesar a mais.

 

Se o peso gravitacional na Terra é de 9,8 m/s², aqui é semelhante a uma colher de chá da estrela de nêutrons.

 

Um espaço rico para a arrogância e o prazer pelo dinheiro.

 

As conquistas feitas são como escolher o look usual para ir à padaria, não é nada para os que estão aqui.

 

Só mais um grão, incrementado à sua torre alta de areia, assim como Mohammad, todos têm intenções maliciosas com essa venda.

 

Por ser um país latino-americano, livre para transportar tudo que se pode imaginar e aproveitar dos que tentam usar esses meios, é muito vantajoso para quem tiver posse.

 

Muitos dos mais ricos empresários do século têm ligação com a ilegalidade, isso pode variar entre drogas, armas ou até tráfico humano.

 

Todos se beneficiam de uma ou de todas as ilegalidades para engordar sua conta bancária.

 

Não é à toa que existem paraísos fiscais em várias regiões para garantir o acúmulo de riqueza.

 

Só o poder aquisitivo que tem nessas contas paradisíacas é o triplo do seu patrimônio líquido.

 

Sim, é mais rico do que o resto do mundo sabe.

 

Apesar de ter isso, não é tocado.

 

Não pelo fato de ser pego ou preso, porque possui métodos para usar essa grana totalmente lícita.

 

Mas pelo fato de que não vê necessidade de romper esse patrimônio trilionário com coisas que seu faturamento lícito pode oferecer.

 

Portanto, fica acumulando durante os 22 anos, como uma obra de arte para um único espectador.

 

Embora não signifique que esteja morfando.

 

A ilegalidade não se limita ao tráfico de drogas e armas, mas também a empréstimos a juros altíssimos para a criminalidade e entre outras desesperadas.

 

Em que ‘facilita’ esquemas para qualquer negociante diante do governo, como órgãos de fiscalização, de serviço de espionagem e a Interpol.

 

Basicamente, é como Moisés que abre o caminho para que os cidadãos não sucumbam à horda do exército faraônico.

 

E qualquer problema que tiverem, será o salvador e fará seus sonhos deslanchar como um mar sem ondas com tempo favorável.

 

Por causa dessa ‘facilidade’, é requisitado pelo mundo todo, então negocia com inimigos e aliados.

 

Não importando quem será lesado ou morto, o principal é que, no final do prazo, o dinheiro será depositado nessa conta.

 

Mohammad olha seus guarda-costas, que se misturam ao ambiente, e vê de relance Dmitri, seu fiel e leal cão de guarda.

 

Dmitri, um dos mais massivos que compõem a segurança privada, conheceu aos 18 anos, quando teve as primeiras férias da faculdade.

 

Nessa época, Mohammad já lidava com a importação e exportação de armas e drogas, como cocaína, metanfetamina e alguns opioides.