Capítulo 45
A criação desse modelo de espionagem facilitou muito e fez abandonar métodos que estavam obsoletos e cheios de aberturas, fazendo ficar fora do ar ou perder a conexão.
E agora, é de ultraimportância, pois precisava ficar de olho durante 24 h, principalmente enquanto não tiver contato direto.
Até conseguir implantar um rastreador em seu corpo.
O ponto vermelho ganhou um apelido amoroso de ‘Cordeirinho’, tal dado desde a primeira vez que a viu.
O motivo desse doce apelido é sua ingenuidade, ficando exposto aos perigos do mundo, espalhando sua inocência por todos os poros.
Mesmo que não a conheça, reconhece que é bondosa e gentil, que conseguiria defender os mais fracos e necessitados, como os comentários feitos em páginas e grupos do Facebook.
Porém, havia um conflito, não era um cordeiro com pelagem branca, e sim de coloração escura como as trevas, temida por todos.
Se tornando, futuramente, uma ovelha negra.
Seu posicionamento e pensamentos a fazem ser uma deísta nata. Sendo contrário ao divino, criado pela humanidade ao longo dos séculos.
Por sua crença, no futuro causaria um burburinho a união a uma não religiosa, contrariando todos os ensinamentos do Alcorão.
Basicamente, casar com alguém assim é dar um tapa na cara de seu Deus e do profeta mais importante para a religião islâmica.
Mas esse discípulo está pouco se importando, se vai ou não criticar e até amaldiçoar.
Para ele, o importante é ficar ao seu lado. Caso morresse e fosse para o inferno, faria companhia pelo resto da eternidade, mesmo que esse lugar fizesse queimar e torturar pelo resto da sua existência.
Essa ligação que os uniu de certa maneira não se romperá, nem a morte se atreveria a afastá-los.
Descendo pela longa rua, a luz solar é bloqueada pelas enormes árvores que roubavam esse prazer para fazer sua função.
Diferente do final da tarde, quando há uma movimentação ‘maior’ no tráfego dessas ruas, esse horário é mais calmo.
Como se convidasse os moradores a aproveitar a paisagem abundante e a viva mata que luta para continuar sobrevivendo.
O CO₂, liberado pela respiração celular e pelos tubos metálicos dos carros, é suave, reinando o ar puro.
Esse clima, indicado por muitos para fazer um passeio e deixar os raios quentes da estrela mãe entrarem nas camadas da derme, é relaxante.
Com a intensidade diminuída pela metade, pela dissipação da frente fria no final de semana, é propício para todas as idades que querem abastecer seu corpo com vitamina D.
A natureza é algo complexo e surpreendente, mesmo com a intervenção humana criando vários métodos para manter a longevidade e a saúde, a própria já faz esse trabalho por bilhões de anos.
Nem a estrela mais temida, que pode causar grandes desastres aos seus habitantes, é através dela que consegue uma importante substância, e totalmente gratuita.
Finalmente, na praça, de frente para a lanchonete que instigou seu desejo na infância, passou pelo poste de energia tão temido de seu passado.
Atravessando a rua, como se abrisse uma nova porta de novidades, fechou o velho livro que assombrou por anos.
De alguma forma, mesmo não gostando de climas quentes como o verão e o fenômeno El Niño, não tira a posição que traz paz e calmaria.
Independentemente de que seja o primeiro mês do ano, em que muitos estão enfrentando o baque no aumento do salário mínimo e nos preços de tudo consumido pelo setor terciário.
Ainda assim, consegue ver a magia do som da felicidade que emana no seu bairro.
Cada canto mostrava uma ação positiva, até a segurança formada por policiais estava sorrindo, curtindo essa bela manhã calorosa, como se todos estivessem na mesma sintonia.
Desconhece outros pontos, considerados mais ‘perigosos’ daqui, mas por enquanto, essa utopia estava ótima, agradando ainda mais o seu humor.
Bruna não mexeu no celular desde que saiu, a música instrumental de seu shoujo favorito rolava ininterruptamente e constantemente, como um toca-fitas de só uma única canção.
Os 1 minuto e 46 segundos se transformavam em 5 ou até mais, tantas que são rebobinadas.
Não enjoava que uma determinada melodia se repetisse, principalmente se estava fazendo alguma atividade. Deixava repetir até o limite e colocava outra que terá a mesma função.
Igual a um mantra, que ajudava a afastar os pensamentos nocivos da sua fobia, era seu alicerce e sua muleta.
Então gostava de ficar sozinha quando queria fazer as suas coisas, sem alguém conversando ou interrompendo sua linha de raciocínio.
Dando espaço para o organismo se reorganizar e se estabelecer, para, sim, como está agora, voltar a encarar e viver em sociedade.
O lugar que escolheu como seu está vago, esperando a sua chegada, perto da Lourenço Filho, e à sua frente havia um grande círculo, muito usado de passagem e para as crianças brincarem.
O chão, do mesmo design das famosas calçadas de Copacabana, dava um ar de pertencimento à capital carioca.
Como é cedo, é preenchido por idosos que saem de suas cavernas e vêm sentir o ar natural.
Quando não está havendo uma aula gratuita de ginástica para seu público, ficam vagando por aí, observando o quanto a geração atual mudou e como sente falta de certas coisas no passado.
Essa mistura de nostalgia e tecnologia causava certo estranhamento, mas também a possibilidade de postar uma foto ao alcance da sua mão para enviar no grupo de família no WhatsApp é sedutora.
A tecnologia para esses anciões foi um baque forte, como o impacto de uma bomba estourada no chão.
Contudo, gradualmente, podiam se comunicar com as pessoas ao redor do mundo, das esferas de seu agrado e com familiares com quem não possuíam contato há anos, pegando essa estranheza e decorando como sua casa.
Por isso, é comum ver muitos com roupa de ginástica e um celular plugado com fone numa extremidade, acompanhado de uma bela pochete.
Assim que vê esse movimento da terceira idade, lembra dos memes postados nos reels, sobre o que acontece nos principais horários da academia.
Como se fossem três universos diferentes, mas em um único espaço.
Sentando no banco duro de concreto, apoia os cotovelos paralelamente e, assim, abre sua literatura norte-americana, com uma ótima tradução da editora ‘Novo Conceito’.
Viajava na música repetida e nas palavras pensadas e imaginadas pelo autor.
Enquanto todos esses acontecimentos se esvaíam, o homem, que usava um traje informal típico norte-americano ou um personagem foda de algum manhwa coreano.
Atravessava a rua com um boné de aro redondo preto, com o logotipo da marca mais famosa do momento.
É uma vestimenta simples, uma camisa dri-fit branca e uma calça de moletom da mesma marca.
Basicamente, estava patrocinando a Nitan de graça, coisa que não é acostumada a fazer hoje.
Entretanto, para se aproximar dessa pessoa, tinha que voltar às raízes da fase universitária, onde era mais livre para usar o que quisesse, sem se preocupar se o mercado de alguma coisa subirá ou não.
Contudo, o motivo é aparentar o mais simples possível para não causar estranheza em alguém que viveu na pobreza desde que veio ao mundo.
Andando despreocupadamente, como um cidadão comum que veio apreciar a natureza farta dessa área.
Em ritmo leve, seus pés calçam o chinelo brasileiro popularmente conhecido internacionalmente, não se intimidando em ir em direção à bela moça desacompanhada, que lia seu livro em paz.
Em meio a tantos lugares que poderia sentar e ficar próximo dela, queria, na verdade, iniciar seu plano depois de quase doze dias esperando.
Mirou que o lugar habitual só tinha mais uma cadeira reserva, que ficava de frente para ela, impossibilitando outros tomarem lugares, devido à destruição feita pelos arruaceiros.
Nesse momento, Mohammad agradeceu aos baderneiros que facilitaram o processo de captura de seu pássaro.
Se os adolescentes que danificaram sua propriedade fizessem isso, em vez de ter sequelas físicas e psicológicas pelo resto da vida, ganhariam uma quantia generosa de dinheiro.
Claro, várias prostitutas de luxo para curtir uma noite na melhor suíte do seu resort.
Idêntico a um tubarão, vendo sua vítima distraída se debatendo, sem imaginar o perigo que a ronda, esse predador vai furtivamente até lá para abocanhar.
A jovem, que estava imersa em seu próprio universo, não percebeu um cara de 2,06 m que desvergonhosamente sentou no banco à sua frente.
A distância entre eles é próxima, mas devido ao desconhecimento, é igual, está em duas extremidades distintas.
Literalmente, é como se Bruna estivesse em sua cidade e Mohammad em Dubai — pelo horizonte que os afasta — que estão apenas 71 cm de diferença.
Que, em pé, já é imponente, sentado deixou mais assustador.
Seus músculos, que a camisa tenta moldar, eram como letreiros em L.A. numa noite suave, seus braços avantajados e muito bem-feitos estavam relaxados como um caçador paciente, e seus olhos só miravam um único ponto.
Ao contrário das outras vezes, em que eram presentes o desprezo e o desdém, hoje está cálido, esperando seu objeto de afeição perceber sua presença.
Bastante paciente, ficou parado em silêncio enquanto a via devorar as páginas.
Percebendo o jeito de se portar em um ambiente vivo e movimentado, fez recordar a época da faculdade.
Via várias que não despertavam o interesse sexual, porque não tinham os atributos certos para atiçar o desejo masculino.
Permaneciam sozinhas, usando uma roupa mais relaxada que não destacava suas curvas e cabelos desgrenhados, presos de qualquer jeito como se estivessem sempre atrasadas para a aula.
Se perdendo nas pilhas de livros que precisavam aprender para aplicar nas provas e na futura vida profissional.
E mesmo quando tinham tempo extra para relaxar, era nos livros que encontraram a paz, só que não os acadêmicos e sim aqueles que narram histórias fantásticas de um mundo que nunca pertencerão.
O mesmo olhar ávido e gentil mostrado pela pessoa à sua frente era o mesmo visto por aquelas que tinham um ciclo social mais fechado.
Pessoas como Bruna, que encontram a paz interior em várias aventuras e conhecimento intelectual, são sempre as mais rejeitadas pelo público majoritário.
Ao contrário dos filmes de comédia romântica, onde a nerd e excluída consegue conquistar o garanhão do colégio.
Na realidade, acabam solitárias por um bom tempo, até alguma divindade querer mudar esse evento, colocando alguém na vida delas, para dar mais cor à sua realidade imaginária.
Mohammad ignorou a vida toda mulheres como ela e ainda não entende o porquê de se interessar depois de muitos anos.
Talvez, a maturidade seja igual ao vinho, no início não é aquelas coisas, mas quando vai passando, sente a verdadeira essência e o sabor escondido depois de uma longa maturação.
Todos esses pensamentos causariam um certo nervoso e um recuo por falta de coragem, que o tempo fez questão de lembrar.
Mas não, queria pegar esse prêmio e sumir desse fim de mundo para não retornar mais.
Mohammad ainda desconhece caso consiga tê-la.
Entretanto, sente que ficará pior que atualmente, provavelmente pode fazer questão de trancar-se em sua casa e de usar uma burca.
Não por questões religiosas, mas pelo fato de não querer que ninguém a veja ou a toque. Nenhum outro a tocará mais, ou ficará a menos de dois metros de distância.
No entanto, isso só é uma hipótese, não diminuindo em nada o fato de querer acorrentar dentro de sua mansão.
O bom é que sua propriedade tem de tudo, e caso queira ver o ar puro, será sob sua presença ou permissão.
Nessas horas, agradeceu pelo sistema patriarcal remanescente da cultura árabe em relação às mulheres, mesmo que no Alcorão não seja tão pesado assim.
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Capítulo 45
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As Mil e uma noites Dela com um espírito Obsessor
Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...