Capítulo 46

A leve fragrância de maracujá, sambando pelas suas narinas, o instiga mais.

Os olhos claros ficaram mais incandescentes como um intenso incêndio florestal, imaginando encostar seu nariz em seu pescoço para absorver mais dessa essência artificial que combinou.

Também imaginou, caso usasse um perfume de rosas, porém com leve essência cítrica, como a bergamota.

Rapidamente, lembrou de uma marca de perfume que sua esposa apresentou há muito tempo, apesar de não ter lhe agradado, o que fez Latifah aposentar esse produto.

Nesse instante, imaginava nesse corpo.

Igual ao maracujá, sendo um fruto azedo, fica ótimo em doces e alguns pratos salgados, como peixe.

A essência de bergamota seria ideal, com a presença de rosas que quebra um pouco a acidez do fruto, mantendo o status feminino, porém ousado e dinâmico, como presumiu através dos relatórios.

Desenhou tendo uma noite quente, onde estava banhado nessa infusão, e explorando cada área, beijando sua casca, lambendo o doce suco cítrico de sua essência…

Resumidamente, é semelhante a um delicioso chocolate meio amargo com notas frutadas.

Bruna, alheia às palavras vivas e ricas do romance, sentiu que algo ao seu redor não estava certo, como um banhista que aprecia a boa luz solar do tempo bom, mas instantaneamente algo bloqueia esses raios quentes que serviriam para ter o bronze ideal.

Mesmo estando em uma área coberta, feita pela enorme estrutura metálica de uma cobertura transparente, de alguma forma, a luz que vinha em sua direção estava bloqueada por algo grande e largo.

E, querendo saber o que estava acontecendo, tira os olhos da escrita e encara a realidade. De primeira, só checaria se tinha alguém próximo que gerou esse alerta invisível e depois retornaria ao que estava fazendo.

No entanto, foi bem pior.

Não tinha ninguém próximo, que pudesse estar ali ao acaso e depois se afastaria, e sim um completo desconhecido, sentado na mesma mesa que ela, admirando com um semblante analítico e divertido.

Se fosse só isso, era só trocar de lugar e estava tudo bem, mas além de estar olhando fixamente bem fundo dos seus olhos, o filho da puta é parecido com um personagem que tanto critica.

Automaticamente, algo que socou bem no fundo da sua mente, para nunca ter a audácia de repetir, mas observando os detalhes, esse sonho volta, causando gastura.

Apesar da dotada beleza, aparentando ter um ótimo físico, para ela é desgostoso mirar, como uma arte horrível.

Bruna ama yaoi e gosta dessa cultura desde que foi apresentada aos 15 anos, porém, com o passar do tempo, as obras do gênero decaíram, principalmente com a ascensão das obras coreanas.

O que fez parar de ver tudo o que era relacionado, fazendo assim um retiro espiritual, retornando às suas origens, as histórias heterossexuais.

Ainda que fosse difícil no início, dado que foram anos mergulhados nessa categoria, só agora, após insistir muito para voltar a apreciar esse tipo de arte, sente as velhas sensações.

Todavia, havia uma obra que odeia com todas as forças.

Seu lançamento foi em 2023, depois que a autora da antiga e memorável obra retornou depois de flopar com o gênero shoujo.

Portanto, na tentativa de ser o centro das atenções como antigamente, voltou a fazer conteúdo yaoi, todavia, com todos os tipos de estereótipo de seme babaca e escroto.

O famoso ‘tóxico’, aclamado pelo público oriental e ocidental.

No entanto, em vez de seguir a linha de algumas novels que retratam o próprio chorume de algo bem ruim.

O que foi oferecido é um seme com carisma de uma porta, que só tem um pau grande, e muito mal fez questão de caprichar nas cenas hot.

Fazendo valer a péssima fama pela sua ineficiência sexual.

Cavalo ou JJ, são alguns dos apelidos carinhosos dados pela comunidade ocidental latina, pela sua semelhança com o cavalo da animação ‘Spirit’, que rende até hoje, vários memes com montagens engraçadas.

Sendo o alívio cômico dessa obra intragável que a autora acha que está abafando.

“JJ… Cavalo… Sonho…”

Todas essas palavras soltas e desagradáveis fizeram mudar a feição como se estivesse degustando uma comida extremamente azeda.

Apesar das semelhanças, tinham peculiaridades que esse nunca conseguirá ter, e que a autora morrerá em tentar reproduzir.

Era esse ar pesado ao seu redor, seus olhos, sendo tão claros quanto mel, brilham intensamente como barras de ouro, diferente do filme Crepúsculo, que tentaram chegar perto, percebendo artificialidade.

Todavia, esses eram naturais, combinavam com sua face, harmonizando as qualidades que o sondam.

Embora a fisionomia do JJ seja de um moleque, esse não, lembrando um homem maduro, sem um pingo de imaturidade.

Idêntico aos personagens favoritos, ao mesmo tempo que mistura a aura do conflitante Elsie, também vai pelo livro que está lendo… Logan Thibault.

Recordar desse gosto particular, aposentado e cheio de poeiras, fez voltar quando tinha vinte anos, e sonhava em encontrar um amor, um parceiro que fosse digno de tê-la.

Ver o filme ‘Homem de Sorte’, não tinha noção de que era uma adaptação do seu autor favorito, que fez se maravilhar com a história de amor intenso de ‘Allie e Noah’.

Na época, estava no último ano do ensino médio e o ‘Telecine Touch’ passava esses tipos de filmes mais açucarados com carga dramática forte.

Foi assim que esse filme capturou sua atenção e reformulou suas preferências amorosas.

Consequentemente, se apaixonou pelas características equilibradas de Logan, mas, ao mesmo tempo, amoroso com quem ama.

Fazendo querer ter alguém assim: sério, mas não rígido, calmo sem perder autoridade, intenso, não exagerado como outros semelhantes.

Logan é o oposto de Noah.

Era nítido ver quando o personagem ficava com raiva ou alegre, tudo é intenso demais, assim como sua companheira Allie.

Contudo, o Logan era enigmático, não podia decifrar suas ações e emoções direito, porém, apesar dessas características darem errado, na verdade, tornou-se único e conquistou o coração da jovem sonhadora.

Desde aquele dia, quando assistiu, o parâmetro idealizado eram as características e personalidade de Logan Thibault.

E vendo esse cara na sua frente, fez seu pobre coração doer, por ir a um passado que não queria pisar — em que, antes, era nostalgia gostosa pelo fato da sensação da ficção ao ler —.

Na cabeça dela, sonhos são para idealizadores que têm condição física e financeira para conquistar, entretanto, na sua situação, só restava a realidade.

E foi por isso que parou de sonhar em buscar o amor que sempre quis.

Depois de quatro relacionamentos fracassados, movido a isso e à impulsividade, acabou enterrando essa ideia e a andar na estrada dura com vários perigos sem calçado.

Não queria que ocorresse novamente, além do que, criaturas bonitas como essa nunca se apaixonam ou se relacionam com mulheres como ela, que tem uma beleza mediana que não se destaca nesse universo.

Como vários amores platônicos doces, que experimentou somente o fel.

Queria sair dali, mas não porque achava que se apaixonaria e recomeçaria esse inferno novamente, porque não queria perder tempo como antes.

Prometeu a si que viveria sozinha e cuidaria de seu pai, e depois pereceria consequentemente sozinha, como um solitário que não tem por onde escapar.

Então, seria perda de tempo.

O homem, que desconhece o nome e nem de onde saiu, analisa de cima a baixo, e de alguma forma podia ver uma certa apreciação como se estivesse admirando uma bela flor.

Aquilo não lhe fez bem, incomodou muito.

Quando levantaria, finalmente as palavras saíram de sua bela boca.

“Vai fugir?”

Essa frase é constituída por dois verbos, onde um está conjugado no indicativo no presente, representando uma ação que será feita ou já foi feita, já o outro, não está conjugado e em sua forma natural no infinitivo.

Apesar de serem verbos pequenos, formulando uma construção verbal, aquilo denota um certo medo.

E, para piorar, saiu no português perfeitamente, desacreditando que tal criatura falasse seu idioma natal.

Isso é bizarro, porque achava que demônios só ficavam se contorcendo, babando e falando grosso burramente, como os shows protagonizados pelo movimento neopentecostal.

Mas esse é um demônio católico — o que é mais assustador — porque não tinha um padre norte-americano para exorcizar esse mal, logo, ficou sozinha para lidar com esse câncer que a sociedade cisma em acreditar.

O pior é que, além de não gostar da Bíblia Sagrada, é também uma deísta fervorosa, desejando migrar para o ateísmo.

Tudo do jeito que os planos divinos amam, um descrente presenciando um fenômeno sobrenatural.

O fato de considerar essa criatura um vilão mitológico cristão é pelo fato de mexer com coisas que não quer lembrar, em uma época que sofreu muito.

Só podia fazer a única coisa que conseguiu escapar por sua boca.

“Você fala meu idioma?”

Essa frase, algo natural das ideias conflitantes de sua mente, não aguentou ficar somente no campo das ideias e criou vida, expulsa através de seus lábios.

Rapidamente, se arrependeu de falar o que só se vê em filmes norte-americanos de ufologia.