Capítulo 47
Mohammad não entendeu o significado dessa pergunta direta e conflitante, percebendo que não o vê como ser humano.
E isso, de certa forma, foi divertido, abriu suavemente seus lábios mostrando seus dentes perfeitos.
Essa simples ação faria qualquer mulher ou apreciador de uma boa arte derreter, provavelmente se tirasse uma foto, venderia por milhões de reais.
Entretanto, pareciam os dentes de um predador, verdadeiramente o que o Edward de Crepúsculo não conseguiu expressar, esse fez com esplendor, causando uma agonia como se estivesse encarando um animal feroz e perigoso.
Apesar de ser uma criatura conflitante, que não se encaixa com a espécie Homo sapiens sapiens, sua linguagem é como tal, como qualquer ser humano na face da Terra.
“Sim, falo perfeitamente o português, inclusive sei falar outros idiomas.”
“Mentira.”
Acusou preconceituosamente.
“Sim, minha língua materna é árabe, mas sei falar outras e o português brasileiro é um deles.”
Bruna notou que não é um nativo desta terra, só que não conseguiu entender: como consegue ser tão fluente na língua portuguesa igual a um vivente desse país?
A maioria que tenta aprender o português sempre se ferra, por sair embaralhado e ser nítida sua origem, pelos enrolados linguísticos que somente o brasileiro sabe, fazendo assim, o gringo de palhaço.
Assim, soltou outras das suas pérolas que não foram freadas pelo bom senso.
“Prove.”
Como um réu que sabe da sua inocência pelo crime ocorrido, Mohammad fala.
“Você será minha de um jeito ou de outro.”
Essa mesma frase, falada em dez idiomas diferentes, deixou-a confusa, como se entrasse em um brinquedo que gira o tempo todo, a deixando tonta.
Durante esses emaranhados linguísticos, só conseguiu identificar dois: o espanhol e o inglês.
Mesmo assim, não soube diferenciar se era alguma coisa, porque usou um termo coloquial e informal, como gírias de cada nacionalidade presente.
Portanto, foi difícil saber o que de fato foi dito.
“Droga.”
Soltou, querendo sair, mas impedida devido à gravidade que é similar à de Júpiter, continuou com as mãos em seu peito, demonstrando um ligeiro desconforto em compartilhar o mesmo ambiente que esse estranho.
Se não fosse pelo fone plugado, a situação pioraria, podendo ter uma crise de pânico.
Mohammad viu que não estava bem com sua presença, então resolveu abordar de outra maneira para deixar um pouco mais à vontade.
“Que tal aproveitarmos esse momento e conversarmos?”
“Por quê?”
“Será divertido, e gostei do seu jeito, e queria isso.”
Automaticamente, criou uma grande incógnita.
Caso esse mesmo cavaleiro surgisse no ápice da sua adolescência e durante a juventude até os 29 anos, ficaria animada por um cara tão bonito fazer questão de falar com ela.
Mas agora, que chegou no começo do amadurecimento, na fase dos 30 anos, tudo parecia bizarro.
E, como não queria socializar, não aceitou o convite de bom grado.
“Não falo com estranhos.”
Mohammad, que nunca foi de receber uma rejeição, sorriu pela situação presente.
Antes de conhecer seu interesse, era muito fácil conquistar uma mulher, mesmo que fosse direto e delimitar que só era sexo, essas nunca se renegavam e sempre se entregavam, servindo como um brinquedo sexual.
E, pela sua trajetória até o momento atual, ouvir uma coisa dessa não o deixou furioso, mas encantado.
“Então, por que procura um atendimento de saúde? E, por que vai a algum comércio fazer seus pedidos?”
“Isso não tem nada a ver, são profissionais que trabalham com isso.”
“Mas não deixam de ser estranhos, ou a senhorita tem vínculo afetivo com essas pessoas?”
“….!”
“Vai se foder, vai se foder!”
Essa pergunta pegou de surpresa, apesar de não ter nada a ver com nada, não deixava de ser verídica. Como pode dizer isso, porém, quando precisa, é com estranhos que tem que falar?
É com estranhos que abre suas pernas e deixa olhar suas partes íntimas para analisar se sua saúde está ok.
Complicado, nesse momento, experimentou a mesma sensação das que julgavam o seu questionamento, nunca pensou que teria todas suas palavras refutadas jogadas em seu rosto.
E por mais que tente explicar, não mudaria o fato da sua hipocrisia, como um ignorante defendendo sua ideia falhada.
Logo, teve que se render.
“O que quer?”
“Conversar.”
Bruna, que tinha o livro em mãos, respirou fundo e mentalizou que, depois disso, nunca o verá novamente.
Esse mantra alastrou por cada parte do cérebro, a tranquilizando, fazendo não acionar o alarme, ainda.
Presumindo que, assim como tantas outras que trocaram duas ou mais palavras, não retornaria, fazendo sua mente jogar esse detalhe no lixo durante a fase do sono profundo.
E deixou seu livro, que esqueceu de marcar, em cima da mesa cimentada.
Como um trabalhador insatisfeito com seu ambiente de trabalho, espera o outro falar alguma coisa.
Como vitorioso, que venceu uma maratona, sorri presunçosamente.
“Viu que não é difícil? Como você está?”
“…. Bem, você?”
“O mesmo.”
Bruna, tem um ligeiro arrepio que não acontece desde os 17 anos, é uma sensação boa como um prazer que irradia por toda estrutura, isso tudo pela sonoridade de sua voz.
Firme e grave, sem mostrar insegurança, como se soubesse o que quer e tivesse aquilo que deseja.
De alguma forma, esse tipo seria perfeito e a favorita através do telefone, tornando-se sedutora.
Sem querer, imaginou falando em seu ouvido enquanto desce por suas costas e, no meio onde fica sua vértebra, beijaria, atiçando a sensibilidade adormecida.
Instantaneamente, um leve ardor pairou sob sua vagina, fazendo seu estômago borbulhar como várias borboletas voando em um local pequeno e perigoso.
Essa pequena sensação só surgia a cada final de mês, quando chegavam os três dias que antecedem a menstruação.
“Vai tomar no cu! Nem fudendo que vou permitir essa presepada!”
Bloqueando qualquer sensação de prazer oriunda desse cara.
Tentou mudar de assunto para esquecer o fenômeno desagradável.
“É daqui?”
“Não, só estou de visita.”
“Hum… Então é árabe mesmo.”
“Sim, desde que me entendo por gente, sempre fui de lá.”
“Sente falta de casa?”
“Sim, nada melhor que nossa casa, né?”
Deu um breve sorriso, confirmando o que dizia, não importa o quão bom seja o lugar, a nossa casa é a morada, nossa essência e é onde fincamos a raiz de nossas vidas.
Não conseguiria viver em outra atmosfera, do que seu belo e conhecido Grajaú, no complexo onde nasceu e vive até hoje.
Mas Mohammad explicou sobre sua vinda e revelou a razão de sua permanência.
Claro, excluindo os objetivos para não assustá-la, mas foi implícito, sendo bem subjetivo, sem dar nome real ao significado de sua permanência.
Prepararia o terreno, antes de voltar para sua pátria, e continuaria montando sua gaiola para receber o animal que irá se abrigar nele.
De alguma forma, as frases curtas se tornaram maiores, e quanto mais conversava, mais curiosa ficava, como um pequeno animal que vê um fruto estranho que não faz parte da sua natureza.
E quanto mais à vontade, mais envolvia em sua teia, arrancando-o de sua zona de conforto.
Bruna percebeu que não era aquilo tudo que pensava, claro, continua sob o conceito de achar um demônio e um crime ao seu passado dolorido.
De alguma forma, pensou que esse belo rapaz é comprometido, todavia, em suas mãos não havia um anel que denotasse tal coisa, apenas um relógio bem bonito.
Entretanto, não tirou seu receio, já que detestava falar com comprometidos por respeito à companheira.
Porém, não fez a pergunta que poderia sanar a dúvida, com receio de concluir a tese e nunca mais se falarem.
“Cheira a riqueza.”
“Por quê?”
Fez um semblante incrédulo, não acreditando na pergunta tola desse cara.
Qualquer um na Terra sabe quando uma pessoa é privilegiada.
E esse pertencia a tal categoria, apesar de o seu traje simples, as marcas por cada parte diziam seu status financeiro.
Mesmo que veja vários cantores da atualidade com roupas quase tão semelhantes, e até usufruindo da mesma marca, parecia estranho e esdrúxulo como um pobre que tenta parecer legal, mas só intensificava a sua origem.
Já esse não, havia algo distinto e elegante, como se nascesse para vestir tal coisa.
Ainda que fosse o oposto, não tiraria a essência que só a fartura demonstra.
“Tu tem cara de nepo baby.”
“Haha”
Esse sorriso espontâneo tem a mesma função de uma estrela em plena juventude, queimando o que passasse, como um sorvete de casquinha sob o sol quente.
É assim que se sentia perante essa felicidade saltada para fora.
Imediatamente, engoliu saliva e respirou fundo.
Diferente das outras vezes, em que sua timidez extrema impedia de ficar perto de quem atraía, dessa vez não aconteceu, não havia problema em olhar em seus olhos ou ficar no mesmo ambiente.
Como se estivesse zen, logo, relaxou.
Compreendendo que não sente nenhuma atração física ou sentimental por ele.
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Capítulo 47
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