Capítulo 49
Mesmo a fisionomia relaxada, de alguma forma ficou um pouco retorcida, e uma leve sensação de medo pairou sobre si.
Parecia estar de frente a um vilão de filme slasher, mas quando concluía a sintonia, formulava o que realmente estava acontecendo.
O rosto de Mohammad transfigurou, dando confiança, como o dito não é nada, podendo acreditar nele.
A jovem, em transe pela descarga de adrenalina liberada pelo hipotálamo, começou a diminuir o nível, e seus músculos, ora rígidos, relaxaram como se escapasse da morte iminente e encontrado um local seguro.
Até um leve suspiro de alívio saiu minimamente, seu peito afundou com a sensação de segurança novamente.
“Venha, tá? Esperarei no mesmo lugar.”
“Sim… tá bom.”
Como sinais iniciais de Estocolmo, retribuiu positivamente baixa e tímida, como se o acontecimento passado fosse apagado e só restasse esse.
E, quando virou para continuar seu caminho, o horário marcado estava gravado no subconsciente, programado para obedecer esse compromisso que antes era espontâneo.
A verdadeira vida adulta, no início do real amadurecimento de um ser humano, é marcada por decisões que não se devem fazer imaturamente, tem que ser bem planejada e no alto da razão.
Pois, caso não faça, o que ocorrer hoje pode se tornar uma consequência no futuro e acompanhar até o final de sua vida.
Bruna estava caminhando e só tinha 31 anos, a fase dos vinte e poucos anos que ainda reside dentro de si começava a ser lapidada.
Entretanto, toda decisão tomada será sua estrada que seguirá pelo resto da existência.
Não somente ligado à vida profissional.
Boletos para serem quitados, sobrevivência básica ou à posição no relacionamento, que contribui para o que de fato está vivendo a maturidade.
E sim, as escolhas, que nos beneficiam, mas também nos prejudicam.
Através disso, o destino vai moldando até que esteja pronta para o mundo, por ser dali que saímos de vez do ninho de nossos pais e aprendemos a sofrer como adultos.
Logo, com a velhice, quando o cristal precisa ser quebrado, passam-se todas essas experiências para a futura geração que carregará seu código genético, indo pelo mesmo caminho que ela.
Completará 32 anos em julho, época favorita devido ao inverno e ao festival de São João.
Todavia, por mais que completará mais um ano nessa nova fase, a sua decisão em abrir espaço para esse desconhecido, e o fato de permitir que entre em sua morada particular, terá consequências graves.
Por mais que possa andar tranquilamente para sua casa, pensando que a pior coisa era o fato de não conseguir fazer seus deveres de casa, não mensura o quão grave foi sua atual decisão.
Nisso, já não pertence à sua família, nem a essa cidade ou ao país em que foi gerada e cresceu.
Agora é propriedade de Mohammad bin Ali AI Haroon.
Sua família, os que ama, naturalidade e nacionalidade é onde está e quem permitirá conviver.
A jovem convidou um vampiro a entrar em sua casa e agora terá que viver em seu mundo sombrio.
Como Hades, lhe dará a semente da romã, fazendo com que nunca saia do submundo.
Assim que perdeu o alcance, Mohammad muda o figurino e se torna a criatura assustadora que é.
Os seguranças, que davam cobertura, surgiram como ninjas, como animais que usam seu corpo para se camuflar no ambiente em que vivem.
Esses se travestiram e se misturaram à paisagem ao seu redor, como simples cidadãos que estão aqui.
A SUV que o trouxe já esperava logo à frente, com a porta aberta.
O outro automóvel estava no local de origem, somente esperando a dama passar e seguir seu caminho para casa.
Quando se senta, faz um pedido peculiar.
“Ligue o rádio.”
Sam, o qual é o motorista oficial, faz a ação sem pensar e liga o aparelho que nunca é usado, apenas algo decorativo como um item adicional.
Enquanto o carro ganha partida, a estação é mudada até o dono mandar parar.
A configuração estava em FM, onde havia uma grande variedade de rádios mais seculares, para informar e relaxar o ouvinte.
Quando chega ao ápice, manda parar.
Nesse instante, a rádio JP FM estava tocando uma música dos anos 80, do ‘The Police’.
Enquanto rolava, a letra especificava o que Mohammad sentia sobre esse novo comportamento.
Que é forte, intenso e doentio.
Tão fatal quanto um câncer em estágio terminal, mas desbravador quanto um europeu entrando numa terra desconhecida.
“[…]Oh você não vê. Que você pertence a mim? Como meu pobre coração dói. A cada passo seu[…]”
A música ‘Every Breath You Take’, narra a história de um louco que tem um amor obsessivo por sua parceira. É tão denso cada formação que só poderia viver no imaginário dos maiores pensadores.
O que está acontecendo nesse instante.
Com a criação do romance erótico, a janela para os obsessivos com passados questionáveis se abriu, onde narram a sua fixação por uma mulher que está ‘fora da curva’, porém ainda se encaixa nos padrões sociais.
Então, só de tocar, o mundo vira de cabeça para baixo e esse interesse se transforma em algo danoso, só que é enfeitado com várias flores belas e cheirosas, para açucarar a podridão que somente um ser em decomposição pode ter.
Essa categoria é o tipo ‘ideal’, e dela surgiram vertentes que são várias anomalias com temas variados, mas com a mesma formulinha clichê.
Fazendo o espectador compreender que o amor cura e salva até os mais enterrados na escuridão, e no final…
Felizes para sempre, que somente as histórias de contos de fadas podem proporcionar.
Mas esqueceram de uma coisa: assim como todos os sentimentos, o amor não é passível de ser imaculado, e como tudo, possui variantes e, dentre elas, há defeitos grotescos.
Como subjugar quem aceita seus maiores erros, por mais degradantes e vils que fossem.
A certeza de que pode retornar para esse colo reconfortante e puro faz todas suas vestes banhadas a sangue inocente brilhar e renovar.
Para mais uma vez voltar a fazer coisas mais repugnantes de novo e de novo.
Logo, o usuário que detém esse presente sempre perdoará e o amará acima de tudo, limpando e deixando tão puro como a neve.
Nesse sentido, deve ser guardado e escondido sob uma senha que ninguém possa ter acesso.
Porque esse mesmo ‘amor’ poderá ser compartilhado para outros, e isso, Mohammad não quer fazer.
O acolhimento e esse corpo puro só devem pertencer a ele e a mais ninguém, somente podem ter suas vestes limpas depois de um dia sangrento e caótico.
A imagem da Bruna simboliza a virgem Maria, a mulher que concebeu o salvador cristão.
Todos que buscam redenção e afagam seus pecados, vêm chorar e se confessar. No final, a sua alma sai limpa como um recém-nascido.
Entretanto, para esse homem, em vez da imagem da santa, é essa que vislumbra.
Transvestida com um manto azul e a túnica vermelha, e seu belo cabelo escuro está solto em cachos perfeitos, forrando suas costas e indo até a altura das costas.
A bela cor negra de sua pele só revela a pureza das suas intenções, tornando-o mais branco.
E é nesse colo que quer afagar e derramar seus pecados.
“[…]A cada movimento que você fizer. A cada passo que você der. Eu estarei te observando.[…]”
Terminando a última estrofe, repetia para dar ênfase ao significado dessa loucura.
Era só um lembrete do que consegue fazer para ter o que quer.
Assim que termina, outra é reposicionada, mas dessa vez não é direcionada a ele e sim à jovem.
‘Secret Garden’ é uma canção sobre o quão difícil e maravilhoso é entrar no coração de uma mulher, e avisa para aqueles que tentarem essa chance.
Além desse coração, relata a permissão certa para ter acesso às maravilhas que tem em seu corpo.
Pela primeira vez na vida, diante de tantos corpos usados e que não faziam a mínima questão de se importar, diante de si, há um jardim secreto e mágico, como a criação do próprio Éden.
E, com seu corpo nu, poderá explorar cada canto.
“Eu te amaldiçoo, Mohammad! Eu te amaldiçoo por toda eternidade! A minha alma, depois que partir, vai lhe assombrar pelos restos dos seus dias!”
No meio da canção, essa memória vem à mente, igual a agiota cobrando sua dívida.
Ocupa toda parte, cada célula faz retornar a esse dia chuvoso em seu carro, era o grito desesperador e triste de uma alma contaminada com sua escuridão.
Barulho de revólver, muito sangue e um corpo morto ao seu lado.
Uma beleza morta, de cabelos loiros, que somente tinha 22 anos, a mesma que tinha na época.
Não interrompeu sua histeria ou quando colocou a arma em direção à sua têmpora.
Tão pouco, quando atirou e perfurou o crânio.
Não sentiu nada quando a viu sem vida, e o interior de seu carro com respingo de sangue e massa cefálica.
Sem nojo ou indignação.
Apenas observou essa figura, num lindo vestido vermelho que acentua bem suas curvas, parecia a Marilyn Monroe no filme ‘Os homens preferem as loiras’.
Após apreciar a beleza da morte, abriu a porta do passageiro e jogou numa rua escura e fria, como um objeto que perdeu sua utilidade.
Independente de não se importar ou qualquer coisa relacionada aos seus interesses sexuais, a frase dita por essa antes de encerrar sua vida ficou gravada em seu profundo subconsciente como um aviso de que sua alma será vingada.
“Eu te amaldiçoo! Te amaldiçoou a amar uma mulher, tanto que beira a insanidade! Tudo que tem não conseguirá superar esse amor que sentirá por ela… todo seu dinheiro, arrogância, orgulho e frieza…”
“…”
“Hahaha… nada disso será maior que ela na sua vida! E, quando acontecer, o destino vingará a minha alma e fará de tudo para arrancar da sua vida.”
E teve mais.
“Onde, no final, acabará sozinho e sucumbindo à loucura, assim como estou..!”
“[…]Ela deixará você entrar no carro dela. Para ir dirigindo por aí. Ela vai deixar você entrar nas partes de si mesma. Isso vai te derrubar. Ela vai deixar você entrar no coração dela. Se você conseguir um martelo e um torno. Mas em seu jardim secreto, não pense duas vezes […]”
A bela canção se difunde com as palavras de fúria e tristeza de uma mulher sem sorte, alertando que esse dia chegou, o dia em que Lauren Sullivan terá sua vingança.
Mas dessa vez, não fará como antigamente.
Nesse fatídico dia, apenas retornou para seu apartamento e transou com sua melhor amiga a noite toda.
A sensação boa de enfiar seu membro na vagina lubrificada e apertada de Karen fez esquecer que uma moribunda se suicidou ao seu lado.
Os gemidos de prazer de uma que estava de quatro impediam de sentir qualquer remorso, e cada penetração forte e constante filtrava somente as suas últimas palavras.
“Ah…..hummm… mais fundo… Assim…!”
Pedia no auge do prazer, então a lembrança de onde fodia a garçonete de um bar é substituída pela Bruna.
Seu corpo estava na mesma posição, repetindo o mesmo que a outra, mas dessa vez e pela primeira vez, Mohammad foi carinhoso e beijou com delicadeza e ternura.
As estocadas mudaram de ritmo, atingindo pontos específicos de prazer dela.
Sua mão pegou seu farto cabelo crespo e envolveu, puxando para si e beijou seu rosto, enquanto sua mão livre deslizava por sua barriga para apertar a carne sobressalente e farta.
Seus dedos chegam a afundar entre as dobras enquanto movimentam sem parar seu quadril.
Sua língua lambe o lóbulo de sua orelha, fazendo-a ter um novo tipo de gemido.
Esse é o único momento carinhoso com outra pessoa.
Por mais que esteja fazendo algo primitivo, não deixa de glorificar a deusa que faz seu coração frio derreter como ferro fundido à alta temperatura.
O prazer em seu corpo tomou outra coisa, que não sabia nomear, e nesse instante, disse o que nunca falou para ninguém.
“Eu te amo… somente posso ser digno do seu amor, ninguém vai tirar você de mim! Nem Deus, a morte ou a vadia da Lauren Sullivan!”
Assim que soltou, para arrancar a camisinha que o sufocava de sentir sua pele, como duas almas que se unem em um único ser, a imagem é trocada.
Voltando a ser Karen que implorava enquanto chegava ao ápice de prazer, tendo um orgasmo intenso.
Momentaneamente, a visão da sua pessoa transando com outra mulher o deixou paralisado, mesmo que a graciosidade caísse sob os lençóis anestesiados com a sensação do orgasmo tido.
Foi então que percebeu que essa visão não passou de uma ilusão, na verdade, foi uma criação de sua cabeça misturando o passado e o futuro, formando um efeito Mandela.
A mulher, que estava na sua cama sob seus lençóis com resíduos de sua lubrificação, foi sempre a Karen, e não a Bruna.
Nessa época, não sabia de sua existência. E se fosse, só teria 18 anos, no alto da libertação da metamorfose.
Nesse tempo, estava com outra pessoa, para dizer a verdade, com seu primeiro namorado.
A imagem de Karen, em sua cama, toma proporções estranhas e muda rapidamente para Lauren, depois para todas que tiveram um envolvimento até seus 25 anos.
Quando se mudou de Londres e foi para a terra natal para casar com sua atual esposa.
Mas durante essa transição, em que vários corpos nus são passados ao lado da sua cama, estava a imagem dela, usando uma bela veste branca de noiva.
Um fabuloso e mais belo vestido que já viu na vida combinava com seu corpo e com seu rosto jovem, semelhante a uma adolescente de 16 anos.
E mesmo diante dessa cena em sua cama, não teve nojo ou repulsa, e sim, docemente sorriu.
Como se tivesse perdoado todo seu passado e removido o lodo que o acumulou durante aquele tempo.
E instantaneamente, a imagem em preto e branco ganha cor, bem vibrante e viva como a visão de um ser humano.
Desse modo, aquelas mulheres que estavam em sua cama desapareceram, e um novo destino está à sua frente.
A imagem é apagada ao noticiar a chegada no hotel.
Tudo que foi repassado, como um filme, deixou para trás e assim, saiu.
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Capítulo 49
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As Mil e uma noites Dela com um espírito Obsessor
Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...