Capítulo 53
Ao lado do lavabo, fica a lavanderia que dava livre acesso a quem estivesse ali.
Assim como o resto, é grande, com máquinas de lavar profissionais enormes, muito utilizadas por lavanderias residenciais, todavia, diferente de sua casa.
Esse é o modelo antigo, e a porta fica no centro, onde as roupas postas são assentadas num único ponto, enquanto é girada em sentido horário como um relógio.
E a outra é uma secadora de mesmo design.
As funções estavam em inglês, não o americano, e sim um bem culto.
Ambas possuem legendas, essa legenda que apertou o peito, como se estivesse longe o bastante para ir de barco ou num avião.
Apesar de ser o sonho de qualquer suburbano, parece inutilizado, tão novo quanto toda a mobília.
O cesto vazio não realizava sua função.
Tudo é tão igual, como se ninguém morasse aqui.
Lembrando muito uma cantiga infantil escrita por Vinícius de Moraes.
Contudo, diferente do proposto, essa tem tudo, mas é inabitada, igual a uma casa à venda.
Tentou acessar as outras partes, jurando serem os quartos, mas não conseguiu, as duas portas estavam seladas a vácuo.
Por serem ocas, a barreira do som facilitava uma sonoridade alta.
Ao pôr o ouvido, a vibração conhecida treme levemente, indicando que o ar-condicionado estava ligado. Desse modo, resolveu arriscar, para tirar desse hospício.
Bam, Bam, Bam!
As três batidas eram suaves, só que, segundos se passaram e ninguém escutou, tentando outra vez com urgência.
“Oi? Tem alguém aí? Por favor, estou trancada aqui, não sei o que está acontecendo! Por favor, me ajude!”
Não adiantou, os desferimentos eram socos no rosto que em vão foram desperdiçados.
Em tom mais elevado, demonstra o quanto é ruim a solidão.
Palavras sem sentido e aterrorizantes invadem outra vez, a perturbando.
Sentiu saudade de casa, do seu pai e da sua irmã, até do cunhado e irmão.
Achou ser um sonho, pelo filtro de cores, mas ao fazer o teste, beliscando a pele fina, doeu.
“O que..?”
Em sonhos, não existe sensação de dor, e também não é real como esse, como aquele último sonho…
“..!”
Em sua cabeça, a sensação de ser raptada e levada para longe causou um pavor.
Mas, como? É ela, todavia, diferente do futuro.
“Será que fiquei inconsciente por tempo demais? Será que tive o mesmo destino que aquelas novels de transmigração?”
Instantaneamente, recordou-se de uma série BL coreana.
Relatando sobre um personagem, tirado de sua realidade, e transmigrado para um livro de um romance gay que envolve o universo omegaverse.
Conhecido como ‘Obsessão Aconchegante’.
Bruna não entendeu a tradução do título, mas, como gostava dos que envolviam um ambiente tóxico, comprou no site e passou a dedicar-se à leitura.
A história narra um romance conturbado de um alfa dominante e um ômega também dominante.
O alfa, chamado Chai Heon, é o líder da maior organização criminosa da Coreia, cruel e insensível, que vai a um leilão clandestino para comprar um certo ômega dominante, chamado Seo Hee-min.
O objetivo da compra é devido a uma antiga vingança feita pelo pai desse ômega na época em que ambos eram colegiais.
Chai Heon amava Seo Hee-min, a ponto de perdoar pela traição feita pelo pai dele, que no dia do encontro, para lhe dar o perdão, foi brutalmente espancado por homens contratados pelo pai desse ômega.
A armadilha feita veio através do ômega, que concordou em se encontrar naquele local.
Depois desse acontecimento, Chai Heon perdeu tudo, a empresa do pai, o dinheiro e o próprio pai, que cometeu suicídio.
Sem nada, se juntou à organização criminosa que pertencia ao tio materno e lá, alimentou seu ódio contra a família do ômega, principalmente de Seo Hee-min, que o colocou nessa situação.
Para crescer, sujeitou-se a tudo e manchou suas mãos com o sangue das vítimas, dos inimigos e até de membros da mesma organização que cobiçava o cargo.
Tornando-se o presidente e líder supremo da organização.
Mas na hora do leilão, quem estava lá não era o ‘Seo Hee-min’ que traiu Chai Heon, e sim o Seo Hee-min da realidade, que vivia em uma família formada por mulheres.
Não é o ômega, e sim uma pessoa normal.
No instante em que foi comprado, pela quantia de 5 bilhões de wons. O maior lance dos leilões clandestinos.
Percebeu que sofreria a fúria e o ódio acumulados durante os dez anos no lugar do verdadeiro traidor.
Seu sistema, que não estava habituado ao tema escolhido, e os cheiros desconhecidos de vários feromônios dos alfas ao seu redor, caiu em desespero e chorou.
Bruna não sabe o restante da história, porque parou no capítulo 10 e nunca mais retornou, mas naturalmente era para Chai Heon ser assassinado e Seo Hee-min, cometer suicídio.
Claro, nunca acontecerá, pois todo romance exige um final feliz, nem que seja bizarro o meio para se tê-lo.
E toda essa lembrança, nos capítulos traduzidos, deixou um frio amedrontador em seu estômago, como se algo muito ruim fosse acontecer.
Não quer encontrar um Chai Heon, e muito menos se matar como Seo Hee-min.
Apenas retornar para sua casa, sua antiga vida com os que ama, e finalmente se ver livre dessa maldição denominada de doença.
Só isso.
Entretanto, quando julgou o fim, ouviu barulhos de tranca, como se tivesse tentado abrir com a chave.
Esse só durou dois segundos e duas voltas.
Assim que a maçaneta foi para baixo e a enorme porta foi aberta por completo, duas criaturas emaranhadas, como se nascessem grudadas, entravam despreocupadamente, como se tivessem com pressa de saciar seus desejos.
Bruna, que estava no meio do espaço, não entendia o que de fato estava ocorrendo, duas criaturas aparentemente bonitas em seus momentos primitivos de prazer, se engolindo loucamente.
A mulher, alta, usava um lindo vestido curto e justo na coloração negra, sendo devorada, desconhece a feição do outro pois não conseguia visualizar a reação.
Igual a um filme de terror.
É estranho, num borrão, ocultando sua culpa.
Enquanto a outra, é nítida como a transparência da verdade, o cabelo longo e liso batia um pouco abaixo das costas.
Os dois continuaram a se pegar como se a casa estivesse vazia, nesse instante cogitou em ser um fantasma, pelo fato de ser ignorada.
No entanto, o instinto desse animal era mais forte, interrompendo o ato e, em câmera lenta, virou o rosto.
Fitando.
Na entrada, dois homens num lindo terno escuro, revelando seus atributos sobressalentes, tinham o mesmo mistério que o dono.
“Por que esse cara tá me encarando?”
Tardiamente, relatou o óbvio.
“Senhor, tem alguém na casa.”
Esse apenas virou para aqueles que deram o aviso, fazendo arrepiar a espinha.
“Merda!”
Isso tudo, num momento menos oportuno.
Essa frase, que soou como um leve aviso por uma voz grave, era indecifrável.
Porque não era seu dialeto.
O fogo inicial se extinguiu, a mulher, embriagada de prazer, retornou à realidade e desapontada pela dúvida.
O pescoço virado em sua direção causou um misto de sentimentos confusos, deixando a vítima no meio do oceano sem um farol.
“Ué? Eles podem me ver?”
O sensual foi substituído pelo silêncio.
Até a mulher, de feição feroz, encarou incrédula.
Mesmo assim, o parceiro ao seu lado continuou, como se houvesse algo conflitante ali.
“Mohammad, trouxe outra mulher?”
Assim que deixou o corpo morto de Lauren na rua chuvosa, ligou para Karen, informando que pegaria no local de sempre para levá-la até sua casa.
A garçonete, que também é aluna na mesma universidade e melhor amiga da falecida, tinha um caso quente com ele desde que saía com Lauren.
Ambas saíram dos EUA, da Carolina do Sul, e conquistaram o sonho de estudar na tão famosa universidade de Londres, entretanto, se depararam com o mesmo demônio bonitão.
Sendo encantadas e seus corpos, ao mesmo tempo, usados.
Lauren, não sabia dessa pequena traição, pois escondia esse segredo, e sempre entrava no apartamento assim que saía pelo lobby.
Compartilhavam o mesmo pau e a cama desse demônio.
A camisinha jogada fora, com lubrificante vaginal de Lauren, era substituída por outra para transar com Karen.
Mas, ao contrário de Lauren, que nutria um amor louco por Mohammad, Karen só queria se divertir e achou um parceiro sexual perfeito para afagar as noites entediantes e chuvosas de Londres.
E hoje não seria diferente.
No entanto, surgiu um pequeno imprevisto, e esse estava no meio da casa, usando um vestido florido e descalço, como se fosse dona desse apartamento.
Com apenas 1,52 m contra os 1,75 m de Karen, Mohammad só percebia a tampa de garrafa que tinha um brilho estonteante.
Sem a resposta, e ignorada, Karen iniciou um escândalo, achando uma tremenda sacanagem trazer uma adolescente.
“Mohammad, está maluco? Trouxe uma menor de idade para sua casa? O que tem nessa cabeça de merda? Quer ser preso?!”
Longe de seus braços, ficou furiosa com a audácia do parceiro, que também a prejudicaria.
Balançava e empurrava com mãos delgadas, com unhas postiças pintadas de vermelho-sangue.
Enquanto o outro paralisou, igual a um poste fincado ao chão, a bela esbravejava pela falta de esclarecimento.
Contudo, estava sob o efeito do feitiço forte que aquela garota emanava.
Então sorriu fracamente, um sorriso de felicidade nunca visto na vida.
“Seu… uhh! Por que está sorrindo? Tá doido? Vamos ser presos, faça seus seguranças levarem para os pais dela.”
Falando sozinha, Bruna não entendeu a linha de raciocínio, em que o idioma utilizado é fora de contexto. Deixando a fofoca menos interessante que o medo de estar longe de casa.
O pedido de ajuda travou na garganta, sendo segurado por algo invisível.
Pesando como uma rocha recém-montada.
“Isso não vai acabar?”
A parceira que veio de uma fábrica de top model, exibindo o molde nesse vestido nascido para essa categoria.
Tem seios fartos demais para sua estrutura, e não naturais, notando o formato perfeito de uma bola.
Junto com outros atributos, esses olhos claros garantem uma estrada de sucesso caso seguisse carreira.
O salto alto dava o toque de um artista em sua melhor criatividade, que beirava entre 23 e 25 anos.
Ainda que tenha tudo isso, a humana recordava as atrizes e coadjuvantes de algum besteirol.
Enquanto o outro… Sem questionamento, padrão com toque de impossibilidade.
Como qualquer personagem de manhwa coreano.
Entretanto, o que realmente atraiu a atenção foi a região do quadril: no meio da pelve, um volume exagerado e bem esculpido de seu membro.
Achou um absurdo, sendo reservado à ficção.
Ao relembrar dessas obras, o fator comum para impor o poder de um seme é o pênis avantajado e bem desenhado sob uma camada de roupa um pouco justa, impactando as fujoshis que amam ver uma rola grande.
No entanto, para uma apreciadora, é legal porque dava certa potência de masculinidade em um ativo, sendo um sinal de que o cara transava bem e poderia arrancar orgasmo nos ukes.
Inclusive em seu gênero favorito, o omegaverse.
Porém, ver algo reservado nos traços e nas imaginações das autoras, em um ser humano real, de carne e osso, é assustador.
Não é prazeroso, e sim de puro pavor.
Aquele dragão, contido numa calça jeans, fez-se arrepender de amar os roludos penetrando no cu apertado dos ukes.
A realidade tende a ser cruel.
Principalmente para ela, que prefere paus medianos de no máximo 15 cm.
Uma estaca dessas, em quem não sente nenhum prazer, machucaria, inclusive sendo grosso dessa maneira.
Apesar do espanto pela genitália bem-dotada, a maior preocupação é sair daqui e voltar para casa.
Para a sua família.
“Mohammad, tá me escutando?! Seu puto desgraçado! Filho da puta, o que está havendo?”
Velozmente saiu de seu transe, como se a palavra mágica fosse acionada, e a mão pesada bateu com força na bochecha esquerda dela, que tropeçou no salto e caiu no chão por falta de equilíbrio.
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Capítulo 53
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As Mil e uma noites Dela com um espírito Obsessor
Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...