Capítulo 54
Automaticamente, a ação causada na frágil dama, que estava caída com a mão onde foi atingida, é retorcida num cenário gore.
Bruna podia ver a fina linha de sangue que escorria dos lábios dela.
E imaginou que terminaria ali mesmo, mas não!
Ficou bem pior.
Sem pena, agarrou um tufo de cabelo macio que urrava de dor, erguendo e lançando várias sequências de tapas, igual a uma prostituta barata.
Foram tantos que era incompatível com o término dos gemidos de dor e súplicas.
Os homens permaneceram em seus postos, apreciando a cena horrorosa e a violência brutal.
Apesar de serem tapas, a ação lançada é semelhante a socos.
As duas bochechas estavam tão ressaltadas que um dente escapuliu com o líquido gosmento avermelhado.
“Por… Nã-! Para Mohammad!”
A agredida, sem qualquer auxílio, tentava, através dos seus olhos, pedir socorro, mas ninguém a livrava desse inferno.
Bruna estava com as duas mãos na boca, em choque, nunca tinha visto uma agressão, isso só era noticiado na TV que reportava a maldade dos algozes.
Uma coisa que nem na TV é mostrada, é feita bem diante de si.
Os seguranças não podiam interferir quando Mohammad estava disciplinando. Se passassem por cima de sua ordem, quem sofreria seriam eles.
E apenas ignorou o fato.
No meio da sala, na barbárie interminável, foi em direção para apartar e impedir que conclua o feminicídio.
Surpresos, seus peitos afundaram porque não queriam que uma adolescente fosse outra vítima nas mãos do seu senhor.
Com seus braços roliços, sua pequenez adentrou nessa atmosfera sombria, enfrentando esse dementador que sugava os resquícios de fôlego dela.
O que gerou um interrompimento, quase imediato, a mão punitiva pronta para continuar pairou no ar para não acertá-la.
Nisso, num impulso, fez o empurrão ser mais doloroso que a surra em Karen.
“Senhor!”
Foi automático, Mohammad foi derrubado por uma mulher que mal bate em seu peito.
“Ham?”
Deixando atordoado.
Em fúria e indignada por tamanha brutalidade em um ser mais fraco, gritou com toda força, demonstrando sua repulsa.
“Tá maluco?! Que porra é essa? Seu resto de aborto!”
“…”
“A mãe desse puto deve ter jogado o embrião fora e criado a placenta!”
Xingamentos como: ‘filho da puta’, ‘filhote de satanás’ e o melhor:
“Sua certidão é um pedido de desculpa da indústria de preservativos, seu bosta!”
Mohammad nunca encontrou ninguém tão criativo para desferir uma raiva descomunal.
O pior é que, apesar de ser humilhado, permitiu que todo esse palavreado fosse jogado.
E antes que mandasse, Takano, que misteriosamente sabe sua posição, queria salvar aquela criatura.
Ocasionando uma das piores reações.
“Tira a mão dela!”
Karen, que estava colada ao chão pelo trauma e dor incapacitante, se assustou pelo tom reverberado no espaço.
Igual a um macho protegendo sua fêmea.
“Sen..”
“Se der outro passo, te mato.”
“Que caralho tá acontecendo?”
Retrocedendo, a saliva mal desceu pela garganta, presenciando um castigo severo.
Dmitri manteve o silêncio, mas, através daquele olhar, nota o aviso implícito de sua atitude estúpida.
Em inglês britânico, não distinguiu, e a Karen soube do que se tratava.
“Quem é essa garota?”
Não é pelo ciúme ou inveja, mas por conhecer que esse ogro jamais se importou com ninguém que não seja seus interesses.
“Droga… Essa doeu de verdade.”
O pescoço estala para eliminar a tensão gerada dessa rejeição.
“Vamos sair daqui, pedir socorro e denunciar esse cara… Esse filho da puta precisa morrer da pior maneira possível.”
Bruna, que dava assistência à vítima, tentava dialogar e erguer para fugir dali, entretanto, era impossível.
“Erro de principiante, não deveria deixar ver isso.”
Observando a ação, achou fofo, a ponto de penalizar por quase encostar em sua pele.
“Por quê?”
Relaxando, analisa como um cientista faz com uma amostra, lançando as ofensas pela janela.
Enquanto tentava ajudar Karen — pois estava costurada —, lentamente o afastamento colidiu ao ponto de brincar com uma mecha.
Impossível acordar uma mulher paralisada pelo pânico.
Entende que, caso não fizesse nada ou fugisse, entraria na estatística das que enfeitam as páginas policiais que alertam contra esse mal.
“Não. Não, não!”
Bruna não queria ter sua foto naquele mural, nem servir de mostruário para alertar outras desse crime hediondo.
Logo após o que passou, a luta pela perda da identidade, que a fez cortejar a morte.
“Mas não posso deixar sozinha…”
Se conseguir escapar, poderá falar com o síndico ou porteiro.
“Me perdoe, por favor.”
“Quê?”
“Vou trazer reforços.”
Karen não fala o português, mesmo em contato com latinos, esse idioma mal despertou interesse, que mal codificou a frase, no entanto, soube pela resposta corporal.
“Ela vai chamar a polícia?”
Bruna acionou a estamina e ergueu, escapando com facilidade entre os dois brutamontes, semelhantes a leucócitos, furando a parede dos vasos sanguíneos.
“Seus filhos da puta!”
Para todos os males, há sempre males.
O tamanho e a leveza da fugitiva permitiram que desviasse a ponto de não acionar o elevador, mas ir pela escada de incêndio.
Ludibriado, a reação foi relâmpago, contudo, Karen se jogou para o atrasar.
“Sai!”
Um único murro fez a barragem se lançar longe, chocando na parede e ficando quase sem ar.
Não deseja repetir os erros do passado; conseguiu uma nova chance de ser feliz e superar todas as merdas que iniciaram em 2018.
Quer viver, saber o gosto e tudo que está ao seu redor, a morte não faz parte de seu cardápio, não por enquanto.
Incluindo pelas mãos desse demônio.
TAP, TAP, TAP!
Os seguranças têm uma boa condição física, e perseguir uma não-atleta gordinha escada abaixo seria moleza, no entanto, o ditado popular foi rasteiro.
Os anjos auxiliaram tanto que até Mercúrio chorou pela performance da mulher.
“Que porra! Desde quando fiquei tão lento?”
Dmitri sente igual, o assistente não estava, o que facilitaria na recaptura.
“Droga.”
Na cobertura, faltavam anos para chegar ao inferno e sentir o vento fresco da liberdade.
Contudo, para pegar essa santa, precisa de outro ser mitológico tão capacitado.
Em que, sobrenaturalmente, Mohammad lançou-se do precipício a ponto de cortar caminho.
Abismado pela agilidade, força e coragem em fazer uma imprudência fatal, alertando a emergência da situação.
Caso atinja o objetivo, seu patrão, que se livrou de inúmeros crimes, poderia encontrar o fim tedioso.
Ao respirar fundo, impedindo que o horror fosse mostrado, não chorou, pois não está sozinha.
Há outra vítima, e precisa ser forte por essa também.
Assim como ela, tem família, amigos e sonhos para serem realizados.
“Quero acordar!”
Não acabava, quanto mais descia, mais surgia, igual ao jogo da cobrinha que morderá sua cauda ou chocará contra um muro.
Mohammad entrou num vórtice de caos e medo, algo que jamais o contagiou, porém, presenciando a fuga dessa galinha de ouro, o peito congelado amoleceu.
A ponto de seu desaparecimento ser um castigo cruel. Fora o clima glacial para o tipo de país e a vestimenta.
Ela estava quase lá, e assim que cortou o trajeto, saiu pela porta, na qual a luz foi seu repelente.
“Merda!”
O lobby é espaçoso, e mal tinha uma alma viva, que questionou se era o Brasil.
Todavia, o design carregado e belo o bastante se fez distanciar do calor carioca e, muito menos, das cores que sua bandeira representa.
“O que?”
Paralisada, a energia que ajudou a fugir se esvai, fazendo-a amolecer, no entanto…
“Volta aqui.”
Não gritou, e a entonação parecia branda e preocupada, como um marido diante de uma esposa no ápice da loucura.
“…”
Restando o que não foi desperdiçado, avançou até a entrada, faltava pouco, sem barreira, a porta giratória deu capacidade da mão dele não encostar.
Cruzando o outro lado do oceano.
A chuva, que parecia suave, era forte, cortante como canivetes, restando o sabor dessa vitória com a friagem nunca sentida.
“Aqui não é RJ nem fudendo!”
Não sabia, parecia menos de 12 °C e desolada num bairro nobre com arquiteturas majestosas que lembravam os cenários encantados dos filmes de J.K. Rowling.
Sem o peso fantasioso, é silencioso demais a ponto de recorrer à perturbação da paz de sua morada.
O cachorro latindo ou som de algum forró eram trilhas sonoras aos seus ouvidos.
Era belo, porém deprimente.
Caindo em si, foi parar numa terra alternativa à sua realidade.
Por isso, seus pés tomaram a frente, caminhando rumo ao ardor da estrada lisa.
A chuva molhou por completo a ponto de a definição de seus cachos desmanchar, e tudo que fazia era chorar.
Era plausível para sua desgraça, entretanto, sem o instinto de autopreservação, não viu a SUV vindo em sua direção.
O motorista era tão inconsequente a ponto de atingir o alvo e continuar na sua loucura, mas o psicopata a salvou.
Não correu, apenas esperou desistir para se render aos seus braços.
“Calma, vai ficar tudo bem.”
Assim é fácil, uma tática que qualquer predador conhece, que é aproveitar as chances que a vida dá.
No final, esse cordeiro aceitou o envolvimento dessas algemas.
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Capítulo 54
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Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...