Capítulo 57
Assim que vestiu o uniforme, estava pronta para realizar mais uma rotina.
Com a consulta no grupo de mulheres, não poderá realizar a prática.
O cabelo, não molhado, estava preso firme bem no alto, a frente esticada para ocultar alguns fios brancos que seu pai cisma em tirar, o que não agrada.
A blusa preta não tinha um símbolo de uma banda de rock ou outra coisa relacionada à música, e sim um personagem icônico e aclamado do universo do quadrinho da DC.
O inimigo mortal e também querido do universo Batman.
Bem mais insano do que alguns filmes adaptados.
A compra foi com as outras camisas na época em que trabalhava, e como gostava muito dos desenhos desse herói, adquiriu também, no intuito de agradar ao ex-crush que tinha na época.
Bem, não faz diferença, já passaram quase seis anos e os sentimentos evaporaram, sendo sugados com outros bons pelo vórtice negro da depressão.
E passou a gostar porque, diferente das outras, é a melhor para sair, já que é bem mais longa e larga.
Se estivesse limpa, usaria sempre, não dentro de casa, porque tomou como uniforme vitalício para essa situação.
Bruna, que saiu de casa com apenas um achocolatado no estômago, não tomou a metformina para não causar um efeito adverso e ter que expulsar a única glicose do corpo.
Em sua mente, planejou não demorar, no máximo, vinte minutos, porque precisava colocar algo no estômago.
Também limpou e passou a pomada, devido ao corte feio em seu dedão esquerdo.
Que estava enrolado numa típica gambiarra, já que a família não tinha um band-aid.
Deixando duro, perdendo a mobilidade na região, pela fita adesiva ser larga, que continha algodão para manter quente e úmido, e acelerar o processo de cicatrização.
O importante não é o tipo de procedimento para envolver o machucado, e sim a limpeza e manutenção da ferida, porque contraiu erisipela de um machucado superficial, após limpar o ventilador de casa.
Após experimentar uma doença horrível, que quase evoluiu para algo pior, não chegando à sepse, soube o quão importante é o cuidado num machucado, mesmo sendo algo simples.
E, além disso, é diabética, portanto, qualquer corte ou ferimento, não importando a gravidade, tinha que ser imediatamente estancado para haver a coagulação e depois lavado com algum sabonete antisséptico.
Uma boa pomada impedia a proliferação de bactérias.
Foi chato estar limitado a usar os dedos ontem? Sim, mas é melhor do que arrancado por necrose.
Com o único fone de ouvido e seu livro habitual em mãos, desceu as escadas numa velocidade normal.
Mesmo os alertas sobre a presença daquele ser, Bruna garante que sua vida não rodará em torno desse sistema, e seguirá como sempre foi.
O Cover Girls cantava suavemente ‘Wishing on a star’, uma das favoritas, fazendo sucesso num filme desconhecido no Brasil.
Contudo, foi trilha sonora da novela escrita por Glória Perez, ‘De Corpo e Alma’, que teve participação de sua filha Daniela Perez.
Que, no mesmo ano, foi brutalmente assassinada por seu colega de trabalho e par romântico, Guilherme de Pádua.
A jovem de 22 anos foi perfurada 22 vezes no peito.
O crime foi noticiado e repercutiu por muito tempo.
Mesmo 31 anos depois da morte.
O fim de seu assassino, que faleceu em casa após um infarto fulminante, no mesmo dia em que a novela escrita também pela mãe da vítima, ‘Explode Coração’, estava comemorando 27 anos.
Encerrou o ciclo de mais uma vítima vingada pelas mãos do destino.
Nisso, não tinha ciência do procedimento da música, pois quando o crime aconteceu só tinha 5 meses de vida.
Passou a saber há uns dois ou três anos, num documentário que relatou sobre esse crime tão bárbaro acometido por um obsessivo.
Relaxada, a jovem passa pela rua de acesso, avistada pelos seguranças que suavam frio, pelo atraso proposital.
“Ela é maluca, ou se faz?”
Questionou Smith.
“Não sei, mas pelo menos, nos livramos de uma dor de cabeça.”
Oliver, apenas ouvir a confirmação do primeiro líder, que está monitorando toda a área.
A canção continuava a tocar, até chegar à praça.
Observando o atraso de quase quinze minutos, Bruna recorda que precisa comprar fones novos.
“Aqui é mais caro.”
No seu top, barra, bolsa de colo, tem as notas de dez e cinco reais para comprar um novo artefato tão valioso.
As coisas continuavam as mesmas, somente um sinal sutil de uma raiva adquirida de um sonho embaralhado.
Mapeando, sabia que em seu lugar de origem estava aquele ser.
“Porra, buceta cabeluda.”
Sentado no lado oposto dos únicos bancos daquela mesa, estava lá, parado como se esperasse alguém, enquanto mexia em seu celular despreocupadamente.
Enojada, pois a paz foi roubada por um bonitão desnecessário.
Ver alguém, alto, corpo atlético, considerado quase divino, usando um boné do mesmo modelo que seu pai, na coloração azul-marinho, foi um tanto antinatural.
“Cara, por que não consigo sentir atração?”
Por que, mesmo usando rouparia simples, com sua calça de moletom e uma t-shirt de alguma marca esportiva cara e um chinelo havaiana nos pés, potencializou a sua estranheza nesse lugar simplório?
Semelhante a um rei andando em meio aos plebeus.
De alguma forma, rejeitava de todas as formas, e o que deveria ser natural numa garota que se identifica com a sexualidade, não vem, como se estivesse oco.
“E se fosse mais magro?”
Cogitou num momento em que tenta encaixar esse deus no seu livro seleto dos mais apetitosos.
Quando se ajeitou para ficar confortável num banco duro e tirou o boné para ajeitar os fios negros e lisos, ativou a velha lembrança de algo detestável.
“JJ!”
Parece que enquanto Mohammad estava no ritmo de ‘Street’ de Doja Cat, Bruna muda para um ‘Needed Me’ de Rihanna, formando um dos melhores mashups.
Recapitulando cenas passadas, deixou meio puta, não que antes não estivesse, só que esse playboy estava pisando num terreno errado e deveria mudar a rota.
E degustar um cardápio com carnes nobres, e não essa carne de pescoço.
“Foda-se, vou comprar meu fone.”
Dar a volta é custoso e mais longo que atravessar reto, e por não ligar, guiou seus passos para longe desse caos.
Mudando o repertório para uma OP de anime Evangelion, fez andar em linha paralela, ignorando esquerda e direita.
Mohammad encarou que o ponto vermelho estava ali, ignorando a promessa, pois o instinto falou mais alto, a ponto de se comportar no seu lugar e esperar.
E isso foi engraçado, aguardando o primeiro movimento para decidir de fato se iria em sua direção ou não.
Como previsse o oposto, a bela que vestia a mesma camisa no fatídico dia na véspera de Natal de 2017, passa longe.
Séria, a surpresa veio quando seus olhares se chocaram e a mão levantou numa ação bastante ofensiva, que relata um xingamento sem sair dos lábios.
“!!!!”
“Ela tá oferecendo o dedo do meio para o presidente?”
“Nath, calma.”
Joe reconhece que, apesar da amizade de longa data, esse é mais fiel que toda a tropa, e não se importaria em dar um soco nessa mulher.
“Se tentar, o presidente fará sumir do mapa.”
Nathaniel, que não é tolo, reviu a resposta do seu senhor, que tinha uma feição estática pela audácia dela.
“Que bonitinho.”
Sim, achou uma gracinha essa ofensa grave que já fez atirar numa pureza coreana.
Fazendo isso, considerado o símbolo da perdição, glorificado por inúmeras e considerado melhor que um Casanova, experimentar o ardor do desprezo.
Logo por quem nem chega ao dedo dos pés das belezuras, que decoravam sua cama como pétalas de rosas.
Não desanimando, mas injetando adrenalina a esse vício recente.
Como se o desafio de tê-la ficasse mais interessante do que no passado.
Escondida nessa vestimenta, impediu-os de saber o seu íntimo.
O short de malha, muito usado em academia, é curto, e pelas suas coxas grossas, a parte interior enrolava para cima, porque não aguentava a fricção cessante protagonizada pelo andar.
O livro é carregado pela mão direita, enquanto a esquerda balança para gerar equilíbrio.
Havendo um curativo bizarro, feito de qualquer forma com fita crepe e amontoado de algodão, dando uma certa rigidez nesse membro.
Queria saber como se machucou a ponto de adotar algo que não é aconselhado por profissionais da saúde.
À medida que se afastava, foi em direção ao outro lado, onde ficam localizados dois camelôs.
Juntos, com distanciamento de uma rua, vendem o comum, entretanto, outro oferece um serviço diferente, ligado ao conserto de celular.
De alguma forma, a distância lhe causou paz.
Os seguranças espalhados viram a atitude corajosa e burra dela em quebrar um sistema programado para acontecer.
E também não entendeu a razão daquele ato fatal.
Anotando que nem todos são suscetíveis ao encanto e à aura escura do presidente.
“Por favor, quais são os fones de quinze reais?”
“Ah, sim, temos esses modelos aqui…”
Takano e Dmitri, sabiam que durante os seis dias da semana, levavam uma mulher diferente para seu quarto.
Era uma rotina normal, ver seu chefe emaranhado numa beldade toda noite, e quando eram as férias universitárias, como julho e setembro, era praticamente o dia todo a entrada e saída dessas.
Todas que entravam por aquela porta, com cheiros maravilhosos, roupa e cabelo impecáveis, saíam tortas, com vestidos amassados, maquiagem borrada e com cheiro forte de camisinha e sexo.
Por isso, acabou se acostumando que o presidente conseguia tudo o que queria.
Não importava se era solteira, comprometida, mãe ou prostituta, se eram mulheres e tinham o interesse sexual, conseguiam obter apenas com sua beleza e dinheiro.
Fora que é bem falado por todas que tiveram envolvimento.
Todas, todas, sempre voltavam para repetir o mesmo resultado de um orgasmo intenso, e até raro de acontecer.
Basicamente, o apelido não foi dado à toa.
Entretanto, um fenômeno raro passa diante de seus olhos: uma mulher, que possui desejo mais intenso do que qualquer outra na face do planeta, não foi seduzida pela sua beleza divina e seu cheiro forte de riqueza.
Enquanto isso, com um rosto sério, mirou somente à frente como se quisesse ignorar esse projeto propositalmente com uma mensagem explícita negativa.
Com o toque de seu pequeno dedo roliço, determinou por todos os poros a sua opinião.
“Vai se foder, cachorro velho!”
Deixando o resto chocado.
Mas, em vez de ficar puto, a ponto de ignorar o que não suporta, num idioma que despreza, atravessando a linha extrema, não aconteceu.
É inacreditável, se tratando de um xenofóbico e elitista como ele.
“Não vai ser nada legal.”
Dmitri, que vive de lábios fechados do que bebendo, proferiu após noventa dias calados.
O tom grave e sem emoção, num polonês perfeito igual ao nativo, explicitava o que poderia acontecer daqui para frente caso a mulher continuasse a evitar o presidente.
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Capítulo 57
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As Mil e uma noites Dela com um espírito Obsessor
Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...