Capítulo 58

“Esse.”

 

O secretário estava com um mostruário de magníficas joias, pulseiras adornadas em diamantes, safiras e jades.

 

O subtom neutro faz encaixar em qualquer cor confortavelmente, dando o poder da escolha caso queira ser quente ou fria.

 

Claro, poderia flutuar entre ambos os lados.

 

O empregado nunca imaginou que fosse tão forte assim, a ponto de gastar seu precioso capital com outro, e não somente a si.

 

Brinquedos sexuais e camisinhas não contam.

 

“Sim, presidente.”

 

Para reles mortais, é caro, contudo, esse bilionário é como bijuteria.

 

Sendo posto numa caixa bonita com o logotipo da marca, que arrancaria os suspiros de qualquer dama ao ser retribuído com tanto amor.

 

***

 

Takano, que está ao seu lado, não tem o conhecimento profundo dessa língua, segunda materna que adotou para não usar o idioma natal onde nasceu.

 

No entanto, sabia que é um mau presságio, o olho de vidro ardeu um pouco, o que fez fechar um lado para o organismo lubrificar e não precisar usar o colírio.

 

Depois dessa frase, com apenas cinco palavras, Dmitri voltou a ficar em silêncio, e só Deus sabe quando falará novamente.

 

Mohammad, acostumado a ter tudo sem fazer o mínimo de esforço, ficou pensativo.

 

Não é difícil atrair a atenção de qualquer ser humano que queime de desejo ou inveja pelo que é, e abundantemente.

 

Lembra do período louco, e só pelo fato de expressar sua vontade sem a dificuldade de ter encontros, as mulheres caíam aos seus pés, como se fosse a personificação da luxúria.

 

As com filhos abandonavam suas crias sozinhas para ter uma noite de prazer com ele.

 

As casadas que cuidavam do lar largavam tudo para chupar um pau encapuzado em fina camada de látex.

 

Que amaram intensamente, sucumbiram à loucura porque não podiam ter o que tanto desejavam.

 

Agora, que sente isso, a ponto de querer beijar seu corpo, lamber seus pés como um discípulo louvando sua deusa, e não saber da camisinha, ter como companheira de longa data e aventuras, para gozar eternamente dentro dessa água cristalina…

 

Simplesmente amar de forma doentia e obsessiva a ponto de querer se matar caso não exista nesse plano carnal.

 

Principalmente para alguém que nega sua existência e despreza tudo que o compõe como homem e ser humano.

 

Realmente, essa mulher é uma divindade que saiu de seu pedestal para brincar de ser humana.

 

E não vai desistir, essa recusa só atiçou mais ainda sua vontade de tê-la, e conquistar não só o corpo, mas a mente e coração.

 

Para somente ser digno de amá-la e adorar essa santa que usa um véu escuro como a noite.

 

Desse modo, saiu de seu posto e foi em direção a quem não o suporta.

 

Sorrindo fracamente, afirma que não vai desistir até ver usando um vestido de noiva e entrando pela porta da frente de sua nova mansão em Palm Jumeirah.

 

Afogada na leitura, demorou a achar seu caminho, extasiada de que aquele cara não apareceu, entendendo o recado.

 

A música foi trocada e repetia sem parar, até o estômago roncar ou a bateria viciada estar no limite entre vida e morte.

 

A sensação de conhecer Logan e Beth deixa seu coração derretido e, de alguma forma, queria ter a chance de viver uma coisa assim.

 

Contudo, homens assim só existem nos imaginários dos autores e nos corações aflitos e esperançosos das carentes ou machucadas, como ela.

 

Desse modo, sabia que o que ficava na ficção permanecia ali.

 

Separando da ilusão.

 

Quando chegava na parte considerada boa que surge no filme, a mesma sombra que bloqueou ontem retorna.

 

Dessa vez, seu organismo das ideias reconheceu quem é por trás dessa sacanagem.

 

Se fosse antes, seria suscetível a qualquer criatura que o importunava ou que simplesmente queria algo, mesmo rejeitando a situação.

 

Saboreando o não prazer sexual em todos os relacionamentos depois da perda da virgindade.

 

Dá gastura de tantas ocorrências.

 

Após passar por um período doloroso, onde somente os que estavam ajudaram, e quando não podiam fazer nada, suportando sozinha a não se jogar no objeto cortante mais próximo.

 

Analisou que, durante 27 anos, doou-se aos outros, que ditavam seu comportamento e emoções, e até a vestimenta para sentir o conforto da aceitação social.

 

Porém, não estavam presentes.

 

Dependia dela para manter a sanidade, que os remédios fortes inibiram, deixando-a mais dopada que um louco descontrolado no Pinel.

 

Ouvir vozes incentivando a se matar não é legal, tomar ácido valproico para uma suposta doença que nem tinha, não é legal.

 

Ficar sob o efeito horrível da risperidona para controlar as alucinações auditivas e olfativas é pior ainda.

 

Ser a ceia dos que a crucificaram serviu para compreender que o mundo está pouco se fodendo contigo, principalmente em momentos frágeis.

 

Agora, que passou por todo o tormento sozinha, e finalmente conseguiu sair desse oceano sombrio, respirando pela primeira vez o oxigênio a que os meros mortais têm direito, não vai repetir a dose.

 

Não vai ser submissa a uma sociedade que virou as costas quando mais precisava.

 

Nisso, mandará qualquer um tomar bem no olho do cu e expressar verdadeiramente os sentimentos que sente em relação aos de fora.

 

E isso inclui esse cara que não deixava viver pacificamente, o qual lutou para ter durante 31 anos.

 

O rosto feliz, ao ler uma cena romântica, foi trocado por uma fechada que bloqueia qualquer intenção.

 

“O que quer?”

 

O céu azul foi substituído por nuvens carregadas de trovões, pronto para pegar um distraído que se meter em sua frente.

 

Mohammad viu a reação negativa que, ontem, não era tão expressiva, a palavra dura como aço e fria igual a um iceberg é lançada sobre si, que só queria ver aquela reação das filmagens.

 

Isso doeu de certa forma, a ponto de continuar permanecendo até conseguir ver a expressão carinhosa e sorridente, somente para ele.

 

“Quero conversar.”

 

Assim como Doutor Estranho, que retrocedia no tempo para enlouquecer Dormammu, dizendo a mesma frase de barganha, é desse jeito que se repetia na frente de Bruna.

 

“Converse sozinho.”

 

Curta e cirúrgica, não abrindo espaço como ontem.

 

Portanto, retornou ao seu hábito, ignorando o belo Adônis.

 

Mohammad sorriu, achando graça nos seus ataques, realmente parece um cordeiro, aprendendo a se defender dos perigos do lado de fora da cerca.

 

“Quero conversar com você, se quisesse falar sozinho, é só pegar meu telefone e ligar para um desconhecido qualquer.”

 

“Se tem tanta gente para fazer isso para digníssimo, então não gaste saliva com quem quer ficar sozinha.”

 

Sam, que trabalha há 4 anos e entende o idioma pelo laço sanguíneo por parte materna, ouviu essa resposta ríspida para um cara como esse, fazendo imaginar a mão indo no rosto dela antes mesmo de voltar à sua leitura.

 

Pois, esse já fez muito por quase nada, e esse atrevimento poderia ter o mesmo triste fim que uma atriz asiática quando xingou esse demônio.

 

O barulho dos ossos do antebraço da delicada flor se rompendo em três partes, onde o pulso foi deslocado por sua mão poderosa, faz ter pesadelo até hoje.

 

Mesmo que gostasse e sentisse muita atração, não se veria livre das repreensões.

 

Contudo, o que não sabe é a imensidão do amor que esse cara tem por essa mulher, a ponto de suportar os ataques e as ironias ácidas, para nunca machucá-la.

 

Realmente, se fosse outra no lugar, a praça de uma cidade tranquila e parada veria um verdadeiro show de horror sendo aplicado a uma mulher, a ponto de nem os policiais poderem interromper.

 

Entretanto, como é o ser mais importante, então é tolerável suportar.

 

E por mais que suas palavras sejam de rejeição, só filtra a grande cama, pura como o céu da manhã, coberto com belas pétalas de rosa-damascena enquanto estão suados.

 

E os gemidos suplicantes dela, clamando seu nome enquanto cavalga por cima, e seu pênis quente como brasa, entrando e saindo de seu buraco estreito.

 

“Ah…. assim, mais fundo… uhhhh…. tão grande…. eu te amo, te amo tanto, Mohammad…..”

 

Não entende por que tem essas fantasias loucas que nunca ligou, coisas que remetessem a algo romântico, como pétalas de rosas, flores e palavras doces.

 

Não sabia o que era de fato o amor, e o que fazia com aqueles que viviam nesse estado.

 

Apesar de, no dia do seu casamento em 2014, ter sido uma comemoração histórica, com mais de mil convidados e tudo que remetesse ao amor, na verdade, sua alma não estava ali.

 

Porque odiava toda aquela atmosfera melosa que somente um pode demonstrar.

 

Quando os convidados brindavam em nome do amor, como se a história mostrada ali fosse tirada de algum conto de fadas produzido pela Disney.

 

Na realidade, era um contrato entre dois adultos, do qual outros adultos mais velhos se beneficiaram com essa união.

 

O futuro filho é só um mero detalhe para manter o status de importância e poder das famílias, não era amor.

 

E sim, algo racional para gerar mais grana e poder.

 

Todavia, com essa não, quer viver o verdadeiro romance que um casal pode ter.

 

Dar flores, presentes caros, fazer várias aventuras sem sentido e guardar todas essas lembranças no álbum de fotos, como na casa dos pais de Victória.

 

Quer relatar e manter os momentos que puder ter ao seu lado em vida, presenciar sua gravidez e todo o processo da geração da criança depois, filmar o nascimento dessa criatura que compartilha o DNA deles.

 

Ver amando tudo que for dado por ele, mal espera de pôr um anel de noivado bem chamativo, do jeito que planejou em sua cabeça nesses 12 dias.

 

Quer o mesmo vestido de noiva que alucinou.

 

Seus delírios não são carnais, instinto primitivo reprimido durante quase dez anos de abstinência, e sim o puro e doce sentimento de amor.

 

Não importava se fosse magra ou gorda, se tinha estria ou celulite, espinhas ou um rosto desconfigurado.

 

Nada importa, o que vale mesmo é somente amá-la, inclusive com esse rosto amarrado e guarda alta, barrando suas tentativas de tê-la.

 

E viver tudo que desprezou, somente ela pode ser a dona do seu amor e adoração.

 

“Por que rejeita a aproximação das pessoas?”

 

Bruna parou e tirou a atenção do que estava tentando ler, olhou nos olhos daquele que quer tirar sua paz, imaginando o que o alecrim estava querendo.

 

Descartou algum tipo de interesse sexual, já que o produto não é nada cobiçável para um interesse masculino.

 

E só tinha essa teoria, portanto respirou fundo e falou a verdade, a razão de não se aproximar muito das pessoas, inclusive de homens, e no caso desse, bonitos demais.

 

“Sou diagnosticada com fobia social, fora que, detesto falar com o sexo oposto, ainda mais deslumbrantes e bonitos como você.”

 

“Hum…”

 

Terminando, sem importar se estava ligando ou não, só queria permanecer em seu espaço para trabalhar o corpo e a mente que ainda se recuperavam.

 

Entretanto, em vez de afastar ou bancar o oportunista para conseguir alguma coisa, Mohammad se manteve igual, querendo entender mais e ajudar de alguma forma.

 

“O que mais?”

 

Direto, já que é bastante sincera no quesito de assuntos delicados, que normalmente ninguém gostaria de tocar.

 

“Estresse pós-traumático, que evoluiu para um quadro depressivo e de ansiedade.”

 

Antigamente, no meio do tormento, tinha vergonha e até certo temor de falar sobre sua doença abertamente, escondendo o diagnóstico.

 

Pois estava sob cordas assim que entendeu o que era o convívio coletivo.

 

Só que está melhorando desse terrível quadro, e passou a enfrentar de peito aberto e aprender com todos os momentos horríveis que passou.

 

Expressando, sem sua mente enviar alerta, ou servir como coitadinha que tem um passado traumático.

 

Hoje, assim como tudo, mudou e dessa mudança quer se tornar melhor.

 

Muito mais do que antes.

 

Mohammad viu que a mulher à sua frente não expressa nada, à medida que fala sobre o diagnóstico horrível, como se tivesse superado e encarado a vida como é.