Capítulo 61

O pão de queijo tem o sabor de uma realeza, feita pelo seu antigo emprego, foi urgente sem ao menos terminar a lista.

 

“Hum…”

 

A mandíbula não cansava de mastigar e engolir o suco natural de melancia.

 

“Gostou?”

 

“Com certeza.”

 

Empurrando a salada de fruta, observava a deglutição, meio bruto, escutando o mastigar, mesmo com a boca selada durante todo o procedimento.

 

O fetiche por ASMR em mukbang nunca foi um atrativo, ouvir isso era grotesco, subindo um calafrio a ponto de agredir quem estivesse cometendo o erro.

 

Isso implica a todos, seja pelo contexto cultural ou não, o silêncio nas refeições é uma lei primordial.

 

Contudo, a dama continuava a soar essa aberração a ponto de o engolir ser farejado por sua audição sensível.

 

“Perfeito.”

 

Talvez a magia do amor iniba todas as coisas.

 

“Por que não comeu nada?”

 

“Bem, é que não imaginava que demoraria tanto.”

 

Não deveria ter aceitado essa gentileza, mesmo concordando em ser algo limitante, é um estranho e homem.

 

E a lei básica é: sempre temer os que comandam esse planeta.

 

Homens nunca gostaram de mulheres, aqueles que são heterossexuais, na verdade, gostam da companhia de outro macho e usam suas parceiras como buraco de sinuca do prazer.

 

Ou, procriar mais deles para povoar e manter o controle do resto da população.

 

“Agora já era.”

 

“Coma isso também.”

 

Oferecendo salada de fruta, percebeu alguns morangos que, durante as colheradas, eram lançados para um guardanapo de papel.

 

“Não gosta?”

 

“Fruta não, mas em vitamina e outras coisas sim.”

 

“Tudo bem.”

 

Pela gentileza exercida, acha que é assim com quem tem apreço, todavia não é bem assim.

 

O mundo só o conhece pelo punho de pedra.

 

Nem para a própria esposa alivia, onde tudo que tem, é oriundo de seu suor que pela carteira de seu esposo.

 

E o contrato de casamento explicitava que, após um divórcio, essa não teria direito algum à montanha dourada.

 

Latifah concordou, pois tinha fé no seu dom e esforço, o que resultou num sucesso, apenas usufruindo das mordomias da mansão, fora dela, é cada um por si.

 

“Vai comer não?”

 

Bruna ergueu o saco de pão de queijo fresco abarrotado. Ao redor, os meninos reconhecem que o patrão rejeitaria, pois não aceitava nada de ninguém.

 

“Obrigado.”

 

Mergulhando suas mãos, sente a casca do produto e, como hábito, pega e começa a comer.

 

E foi daí que o estômago roncou de uma fome nova.

 

Estava faminto por tudo que vinha de suas mãos, nem que lambesse, ainda comeria satisfeito.

 

“O presidente está sério nisso.”

 

“Só está queimando em sua loucura.”

 

“Paixão.”

 

Devorando a maioria, o estômago dela se encheu rápido como o de um pássaro pequeno.

 

Deixando-a mais fofa ainda.

 

“Toma o remédio.”

 

“Tá…”

 

Contra vontade, essa metformina é de longa duração, causando menos efeito colateral que o de liberação imediata.

 

“Não quero ver mais nada.”

 

“Tudo bem, agora deixa eu ver esse machucado.”

 

Não trouxe somente o alimento sagrado, mas um kit completo para analisar essa ferida assustadora.

 

O algodão — mesmo em embalagem esterilizada —, o contato com a mão crua, faz as bactérias que vivem sob a pele migrarem diretamente para o ferimento aberto, causando uma infecção que, para quem tem comorbidades, pode até ser fatal.

 

“Onde se machucou?”

 

“Tsk….. Com a faca. Detesto, é péssimo quando é pra cortar carne, mas para cortar um dedo é uma maravilha. O pior é que tá latejando muito, quase não consegui dormir de tanta dor.”

 

O semblante despreocupado respondeu tranquilamente ao corte embalado improvisadamente, no entanto, não gostou nada, principalmente por saber que a dor era constante, indicando um quadro infeccioso.

 

“Posso ver?”

 

Essa simples pergunta não é um pedido, mas uma ordem gentil.

 

Olhando com receio, porque estava doendo, queria repetir o mesmo procedimento para interromper a dor que, por incrível que pareça, não passa.

 

“Posso ver?”

 

Mais sério, fez erguer a mão esquerda, que foi tocada com delicadeza e leveza.

 

Avisando, teve o maior cuidado para remover esse embolo de várias voltas que deixou mais ereto que seu pau.

 

Com agilidade, foi tirando cada parte grudada uma na outra, enquanto reclamava silenciosamente.

 

Ao abrir, viu um corte de 4 cm, desde o início do dedo até um pouco abaixo da linha divisória vertical.

 

“Tô falando que essa faca me ama.”

 

O riso aliviador, dado para não gerar alarde ou preocupação, deixou-o mais aflito.

 

Apesar de ocorrer tudo bem com o ferimento, seguindo direitinho, ao tocar, sentiu uma leve quentura, e ao redor estava avermelhado, indicando que fez um bom trabalho.

 

O que de fato aliviou muito.

 

“Como fez a limpeza?”

 

“Ahn… Primeiro passei o restante do soro que havia sobrado desde o ano passado, depois limpei com sabonete líquido antibactericida e, por último, uma pomada.”

 

Conhecia bem, um procedimento básico que funciona na maioria das vezes. Só teve receio pelo soro vencido.

 

Entretanto, não causou nada de ruim.

 

“Que bom.”

 

Disfarçando bem para não causar um clima ruim, ao sentir sua pele foi como provar êxtase.

 

“Tão macio.”

 

“Tá tudo bem?”

 

Despertando, viu o tempo exagerado com uma posse que nem é sua, o que fez o outro lado desconfiar de sua ação.

 

“Desculpe. Fico contente que soube agir bem, mas vou melhorar para ter uma maior mobilidade.”

 

“Tá bom.”

 

Por mais que elimine as bactérias, o pH corporal é diferente em cada ponto, e isso influencia muito no tipo de corte e na região afetada.

 

Ao retirar a mão da outra pequena, perguntou como aprendeu isso.

 

“Após pegar erisipela. Nunca mais deixei de fazer isso, não quero ficar com aquilo nunca mais.”

 

“Como pegou?”

 

“Bem, foi um ferimento superficial, era minha folga e na época o meu terceiro namorado me visitaria e foi quando tudo aconteceu…”

 

“Comeu algo remoso?”

 

“Sim, mas antes de comer a pizza de camarão já estava mal e rodeado de pus. Depois disso, só lembro que fiquei com muita febre e…”

 

Não completou, pela recordação horrível, logo, o nojo alastrou.

 

Inclusive agora, que tem compreensão do quanto desesperada e carente foi.

 

Mohammad percebeu o arrependimento nítido e um certo asco do passado.

 

No entanto, antes de falar alguma coisa, uma pergunta que fez por anos, e teve resposta recentemente, a rodeia como um espírito obsessor.

 

“Por que, quando estamos desesperados e carentes, aguentamos situações humilhantes para sermos queridas e amadas?”