Capítulo 67

Lá, estavam as que fazem parte também do grupo, até as que ficam em silêncio.

 

Cumprimentou educadamente e sentou no banco de madeira semelhante aos das praças antigamente.

 

O calor atingido fez a testa acumular gotículas de suor, onde caçava por um ambiente fresco para se aliviar.

 

As duas responsáveis por guiar e conduzir as consultas esperavam ter acesso à sala.

 

Uma delas, que é bem novinha, é enfermeira que lida com assuntos mentais e a outra, bem mais velha, é a assistente social, que também é especializada nesta área.

 

Diferente das consultas privadas, que acontecem em períodos esporádicos para reunir a avaliação de cada paciente ao longo das consultas desse grupo.

 

A reunião é totalmente oposta à consulta individual.

 

Entretanto, como precisava evoluir, participava duas vezes por mês.

 

E mesmo que não fale tanto, gostava de estar nesse meio, para entender o comportamento humano diante de situações e complicações desse estado que interfere no âmbito profissional e pessoal.

 

Devemos entender que não há culpa, nem pelas manifestações que apresentou no momento delicado que dura atualmente.

 

As únicas que estavam conversando são as responsáveis pela reunião, fora isso, todos permaneceram calados, como estranhos que nunca interagiram na vida.

 

Mesmo conhecendo os segredos sórdidos e dolorosos.

 

Bruna esperava retornar para casa, fazer suas coisas e almoçar. Imaginou se o plano de sexta estava de pé.

 

Sendo propício, colocar uma pedra em cima e seguir sua nova caminhada, sem as amarras do passado.

 

Cogitou em conversar antes de falar com a família, devido ao passado quando corria o risco do quadro suicida.

 

Só quer ver o local onde jogou as cinzas da mãe e agradecer por tudo que fez por ela, mesmo não estando presente.

 

Esse ato difícil e corajoso será o pontapé para ter um recomeço e seguir a estrada que o destino deixou para ela.

 

E faria todo um ritual especial, mostrar que estava bem.

 

Pela primeira vez, o vestido comprado ano passado, com a maquiagem e o salto plataforma, será usado em homenagem a uma pessoa que merecia somente o melhor.

 

“Gente, vamos lá? Conseguimos a chave para acessar a sala.”

 

Comunicou à enfermeira, que nunca gravou o nome.

 

A assistente social estava abrindo a porta de vidro para organizar o ambiente e ligar o ar-condicionado para dispensar esse calor que assola o RJ.

 

Dessa vez, o atraso só durou 15 minutos, fazendo entender que terminará no mesmo horário iniciado.

 

O número de pacientes é variado, tem as que vêm sempre e aquelas que faltam uma e vão na outra, e até as que perderam as vagas por não irem em nenhuma reunião.

 

Dando espaço para outras que precisam dessa ajuda.

 

A sala é pequena e desordenada, só que não é organizada certamente, e sim para todas sentarem e aproveitarem o frescor da máquina artificial, colocando para fora o que aconteceu no ano passado.

 

Tirando aquele acontecimento chato da parte de seu irmão, as comemorações foram normais.

 

Como sempre gostou do Natal, se divertiu nesse dia e, no Ano Novo, dormiu antes mesmo das boas-vindas.

 

A diferença foi conhecer um estranho, que se prontificou a auxiliar a sua saúde em frangalhos, e a decisão de visitar o túmulo da mãe.

 

Tirando isso, nada.

 

“Vamos iniciar a primeira reunião no grupo das mulheres de 2024. Quero parabenizar a todas que estão presentes, e aquelas que não puderam vir, e desejar meio tarde um bom ano novo.”

 

“…”

 

“Queremos saber como foi essa passagem para todas, e como estão sendo estas primeiras três semanas do ano.”

 

Ela tem uma voz calma que deixa qualquer um à vontade.

 

“Alguém quer começar?”

 

Incentivou a outra, o silêncio reinou, como se quisessem jogar no colo da outra para tomar a responsabilidade para iniciar.

 

Mesmo tendo esse empecilho, as responsáveis não apressaram e deixaram que ocorresse naturalmente sem pressionar.

 

Logo, a que sempre iniciava a sessão contando suas experiências e sentimentos, abriu a boca para falar sua visão do que passou no final de ano e o início desse.

 

Como essa paciente é funcionária da clínica, incentivava as outras que estavam caladas a começarem a divagar suas perspectivas desses acontecimentos.

 

Do outro lado da cidade, na área nobre que é o cartão-postal do estado e o ponto turístico de outras partes do mundo, na melhor suíte, usava o celular no aplicativo que capta as escutas colocadas.

 

Ouvia relatos de mulheres que passaram por momentos delicados, contando como foram as festas de final de ano e o início desse, que traz um mar de sentimentos bons e ruins.

 

Contudo, não estava interessado nos dilemas das outras, e sim, apenas de uma.

 

Que, até o momento, não falou nada.

 

No entanto, sabia que poderia acontecer, mesmo faltando cinco minutos para a reunião terminar, ia dar seu relato.

 

O clima de hoje seria o oposto dos dias anteriores, porque não se deslocaria até lá para vê-la.

 

Os trâmites para retirar o último modelo da glândula artificial, com lances acima dos 40 milhões de dólares, agora pertenciam a outra pessoa que não pagou um único tostão para conseguir o privilégio.

 

Seu secretário, que estava a par de tudo e dos lances altos dos mais poderosos para ter essa iguaria rara, ficou confuso quando o presidente interrompeu a venda para dar a alguém que não trará nenhum benefício.

 

Esteve ao lado de Mohammad desde que completou seis anos, sabia de sua natureza gananciosa.

 

Não encaixava o fato desse cara desistir de ganhar muita grana para distribuir gratuitamente, algo que não mostrava interesse de sua parte.

 

Sabia desse fascínio e obsessão por uma jovem que é pobre e não tem onde cair morta, só que não há ponto de renegar o que mais aprecia, para ajudar essa a ter mais tempo de vida.

 

Isso é duvidoso, se tratando de quem conhece ao longo dos 32 anos.

 

Se fosse o contrário, e a senhora Latifah passasse pelo mesmo infortúnio, com certeza não ajudaria e ainda cobraria um preço elevado para seu sogro auxiliar a sua própria esposa.

 

Assim, Ahmad bin Awad, que perdeu seu sobrenome de família depois que foi comprado pelo pai de Mohammad para ser seu escravo, nunca viu uma bondade para com outro ser humano, a não ser si próprio.

 

O fato de essa mulher ter vários problemas físicos e mentais e passar por um momento de transformação em que abandona sua antiga identidade para transitar para o que está sendo hoje.

 

Receber essa carga pesada de afeto de quem nunca quis conhecer o amor e vivia só pelo prazer das conquistas é algo notável e perigoso.

 

Não para a dama, mas para os que estão ao redor, pois se algo acontecer, todos pagarão pela dor que sentirem dessa situação trágica.

 

Por isso, nunca quis que amasse, e preferia que tivesse a vida atual, com atitudes monstruosas e sua gana em ganhar mais poder, enquanto bebe do sangue dos inocentes que cruzam seu caminho.

 

“Não quero lembrar daquele olhar….. Ela e o sangue….”

 

Recordou de algo que tentava apagar.

 

Porém, essa criatura acabou experimentando o que é o amor, e não desistirá de ter esse objeto que é mais valioso do que tudo.

 

E moverá fundos para proteger esse ser, que teve o azar de cruzar seu caminho, e todos que têm um contato podem ser penalizados positivamente ou negativamente.

 

“Por que tinha que se apaixonar? Por que resolveu experimentar algo que sempre desprezou? A vida, que já era difícil, ficará pior.”

 

Caso esse objetivo se conclua, e casar, gerando futuros descendentes, esse cara concluirá o que foi estabelecido pelo antigo patriarca, e não quer que suas futuras gerações sejam escravas eternas da família Haroon.

 

“Que dor de cabeça, não estou preparado para esse pesadelo enfeitado com um céu azul e arco-íris.”

 

Entretanto, mesmo temendo por esse acontecimento que é irredutível e sem escapatória, tinha que seguir ordens, será até o último fôlego de vida escravo de Mohammad bin Ali AI Haroon.

 

E todo fruto do seu DNA continuará sendo cativo da geração masculina dessa família.

 

Só é um animal condenado a servir como mula de carga e um reprodutor, para gerar outros animais semelhantes, e ser usado para servir eternamente a eles.

 

O objeto que definiria a vida de alguém, que estava passando por ‘n’ situações complicadas e consegue adquirir o produto, foi retirado e guardado para ser transplantado numa jovem.

 

Logo, pelo que brincou e usou tantas para o bel-prazer.

 

Que fez presenciar as cenas aterrorizantes dos animais de estimação sendo mortos, para fazer parte da sua experiência da criação de vários tipos de venenos possíveis.

 

O mesmo, que mandou sodomizar o gerente deste lugar pelo mísero erro na sua lista de protocolo.

 

Está apaixonado e amando outro ser humano.

 

“Deus, por favor, entorpeça minha alma com a droga mais forte para não sentir o caos e toda dor que enfrentarei daqui para frente. Amém.”

 

Infelizmente, sua divindade escolheu tampar os ouvidos para os clamores desse servo que sofre pela mão da criatura que fabricou.

 

Isso fez questionar se a proibição fez afastar-se de Si, tudo para se dedicar às 24h e 365 dias no ano, ao único ser oposto.

 

Tuuu…..Tuuu…

 

A chamada telefônica ligava para a pessoa mais importante do mundo, que é o responsável pelas cirurgias e o pesquisador-chefe do projeto iniciado pelo avô de Mohammad.

 

E pisaria em solo brasileiro pela primeira vez.

 

Esse é o diretor do hospital universitário e da instituição Health na Suíça.

 

Teria que utilizar suas melhores habilidades, sem causar danos ou efeitos colaterais.

 

Caso não, o tão importante e renovável médico e pesquisador, desapareceria desse universo, com toda sua descendência.

 

[Bom dia, secretário. No que posso ajudar?]

 

O número pessoal estava atento a qualquer ligação do presidente, colocando como prioridade, estando acima até dos seus entes queridos.

 

O homem, que soube de antemão da retirada da venda no leilão, perguntou o que estava acontecendo com a ação abrupta do produto que valeria milhões de dólares.

 

“Dr. Aubinet, tenho uma missão importante de nível 4.”

 

O senhor de 60 anos, com um sobrenome que não é usado desde a era medieval, ouviu uma ordem de nível supremo e que tem um peso gigantesco.

 

E só é usado em casos extremamente delicados para os patriarcas.