Capítulo 71
“Tem certeza?”
“Sobre o meu amor?”
As roupas em frangalhos, a cama que era forrada com palha, ocasionavam um desconforto ao dormir e trabalhar, observava se esse cara não estava louco das ideias.
“Com certeza.”
A nudez, que o tecido velho tentava ocultar, não funcionava, aquecendo esse jovem rapaz, que para a garota não vê mais problemas nisso.
Todos já viram e tocaram.
“Sim, mil vezes sim.”
“Humpt!”
“Não brinque, é sério.”
“Então, se me amas tanto, beije meus pés.”
Um ato incomum, que de sua posição renegava fazer, só que não remediou ou sequer buscou o raciocínio entre o certo ou dominação.
Simplesmente fez.
Tornando-se comum ao longo desse relacionamento.
***
Bruna riu ao ouvir o seu questionamento, não queria soltar, mas como foi, agora é lidar com as consequências, caso não aceite, tudo bem, é normal, todos têm limites, o problema é aceitar.
Logo, para provocar e saber se gostava tanto de si, a ponto de submeter-se a esse nível, deixou seu pé na direção certa para receber uma saudação carinhosa com esses lábios perfeitos.
“Não disse que gosta de mim? Então, beije meu pé.”
“…”
Estava quente e o tempo aberto, céu limpo, sem nuvem.
A meteorologia explicitou a onda de calor que atingiria a capital e todo o centro-sudeste do país. Portanto, sua fobia estava mais atacada que nunca, por odiar ficar coberto de suor.
Mesmo em climas amenos a frios, já não gostava, pois o número de banhos era um tanto reduzido, o que o fazia mal-humorado.
E, por ver essa cena, deveria mexer com esse lado, pois além de atingir seu lado dominante, ainda cutuca com vara curta sua fobia.
Duas fórmulas perfeitas para agredir essa mulher.
Nem quando uma dominatrix, muito famosa no Reino Unido, responsável por dominar grandes figuras políticas e magnatas, não suportou a dominância natural que Mohammad tinha.
Ao cogitar algo que não foi proposto, pois só queria sua habilidade na cama sem esses joguinhos, acabou recebendo uma gratificação na cara.
O que, além de deixar uma marca feia, terminou diminuindo seu papel perante a comunidade masculina.
Pois, nem todos eram suscetíveis aos seus ‘encantos’ e se ajoelhariam aos seus pés.
Assim, acabou tomando um papel que não usava há tempos, e durante o ato, se contentou em ser uma submissa.
E agora, a cena se repete, mas feita por outra criatura pobre, de personalidade dominante, que pede algo simples, que no passado foi rejeitado.
Só que, ao ver desse louco, não é repugnante, é o céu.
E mesmo não sendo seus lábios ou sua buceta, já se equipara como tal e como um súdito perante a sua deusa, pega com toda delicadeza e aproxima de seus lábios.
Os homens quase caíram para trás e cogitaram se é o mesmo presidente que conhecem ou se é um sósia.
“Que… O que está acontecendo?”
Perguntou Charlie a Alex, que entendia o português também.
“Não sei, eu… Estou tão chocado quanto.”
Em sincronia, todos se olharam, questionando em silêncio o que porra estava acontecendo.
Ver o presidente beijar os pés de outra mulher, onde reivindicava seu papel, deixou-o desnorteado, imaginando que poder essa pessoa tinha sobre ele.
“Presidente…”
“É uma bruxa.”
“Não, é uma sereia, e daqui a pouco levará para o fundo do oceano para nunca retornar.”
“Se deixar entrar nesse mar.”
Nesse papo e indignações, o outro depositava vários beijos nos pés inchados e nem ligou se estavam limpos o suficiente para seu gosto.
Eram cheirosos, macios como pétalas de rosas.
Queria tratar com tanto carinho quanto o corpo todo e, por ver uma pequena brecha de sua área íntima coberta, foi além e usou a língua para lamber entre os dedos.
O que causou um mix de sentimentos estranhos, que não conseguiu segurar um singelo gemido.
“!!”
Por estar em local público, tampo a boca para não sair mais enquanto seu pé direito é atacado por uma boca voraz, imediatamente um leve sentimento de arrependimento foi aceso.
Contudo, o desejo de sentir essa sensação que formigava até seu baixo ventre e queimava sua vagina, deixou continuar.
O pênis, que não é nada discreto, ficou mais nítido à medida que fazia o ato e ouvia contidamente os seus gemidos.
A calça, com a cueca box, não segurou o dragão de aparecer e querer sair de sua caverna.
“Tão bom…”
Seus olhos se tornaram líquidos e ficaram tão provocativos e bonitos quanto antes, a submissão seletiva apenas acendeu sua beleza onde a dominância ocultou.
“Até que, para um lobo selvagem, está tão bonito quanto um cão domesticado.”
Sam, que ouviu essa falácia, numa voz carregada de poder e sensualidade sutil, sentiu o pênis endurecer.
Diferente de Mohammad, que detestava qualquer coisa ligada à submissão, o filhote é oposto e ama mulheres com atitudes, e isso faz até ser melhor no campo sexual.
“O que está acontecendo? Ela é feia, e… não posso reagir diante desse troço!”
Como um canhão, o golpe atingiu pontos que as belezas seletas possuem.
E isso o matava por dentro.
Diante disso, virou junto com o restante para evitar problemas, porque entenderam que no final o castigo será tão doloroso quanto foi no primeiro líder.
“Os caras não vão acreditar nisso, vão achar que sou louco.”
O maior fofoqueiro, que enviava sempre notícias quentinhas aos seus outros irmãos não presentes, desacreditaria no fato de uma mulher, de beleza mediana, submeter não só o presidente, contudo, queimar sua boca por tamanho desrespeito.
***
Ao acordar dez minutos antes das 5h, seu pai estava se aprontando para mais um dia de trabalho e curtir finalmente o final de semana, que infelizmente termina mais rápido que ejaculação precoce.
Viu o semblante da filha de extremo cansaço, dado que não é o horário habitual de despertar.
Soube disso ontem, ficou temeroso, até sua irmã e cunhado ficaram com o pé atrás.
Pois antigamente, quando precisava ser monitorada pelas tentativas falhas de suicídio, relatou à irmã que pretendia se matar onde sua falecida mãe descansava.
E, por causa dessa declaração, não permitiu que saísse e completasse o ato.
No entanto, estava ficando melhor e acreditava que foi pela sua fé e nas campanhas que fazia todo domingo na igreja que frequentava no centro da cidade.
E só isso, segue em frente, fazendo entender que é algo muito importante e precisava ser feito. Portanto, não impediu, apenas pediu para acender pela primeira vez uma vela para a alma da falecida.
Mesmo não acreditando nisso.
No entanto, fará, não pela superstição, mas para definir que estava pronta nessa decisão, além disso, acenderá para o tio.
Em agradecimento por tudo que fez por ela.
Com as mãos ocupadas, já que lavaria a cabeça, coloca na mesa os produtos usados para besuntar seu longo cabelo, deixando-o controlado e com uma boa definição.
Não amarrará após seco, assim como gostava.
Um creme de hidratação que pertence à Lola, o ‘Dream Cream’, seu favorito, ajudava muito a hidratar, permitindo que ficassem macios e tão belos quanto ele é.
Uma colher de plástico, para não contaminar o produto com sua mão nua.
E tudo é apoiado num balde gasto de estender roupa.
As roupas já foram separadas e seu pai estava passando o vestido que tinha intenção de usar ano passado.
Só que, no final, resolveu mudar para o velho uniforme.
Os saltos também estavam lá para fazer parte desse destino e não se repetirão mais.
Seu pai cantarola uma música, do presente que o destino lhe deu. E isso, só tem de agradecer a Deus e insistência na cura dela.
O chuveiro, no modo inverno, foi aberto em sua totalidade, ficando agradável. Seu cabelo emaranhado perdeu força quando o abundante líquido caiu sobre si.
Mostrando o verdadeiro tamanho desse véu, imaginou que deveria voltar a pintar como antigamente, e pediria à irmã para fazer porque é ótima com essas coisas da área da beleza.
Nem com os arranca-rabos, depois daquela conversa ano passado, melhorou um pouco, mesmo com atitude mandona e às vezes controladora.
Entretanto, quer ver a mudança positiva para caminhar nessa trilha sem se ferir com os cacos que a mesma lançou na estrada.
A água agradável escorria por seu corpo, que implorava por uma luz solar pela palidez, tornando-se um pouco menos escura que a mãe.
Descendo por toda a extensão, fez recordar da barriga flácida e isso incomodava.
Mesmo aceitando como é e não se importando em usar roupas que escondam, acreditava que se despir na frente de qualquer um é um desafio que martela constantemente.
O amor-próprio é bom, mas às vezes devemos reconhecer nossas falhas, e isso inclui fisicamente também. Sentir vergonha ou não gostar de uma certa área conflitante não diminui o seu amor por si.
“A magreza é mais pela estética do que para a saúde.”
Sim, reconhecer que errou com algo que deveria ter cuidado não é pecado, e não devemos ser orgulhosos e arrogantes.
“Eu quero ser saudável.”
Esse argumento é igual a um pêndulo num relógio antigo, demorou para fazer efeito, e hoje, quando bateu as horas certas, compreendeu que um corpo magro nem sempre é sinônimo de saúde.
Até porque…
“Você é perfeita.”
Essa declaração acentuou que a imperfeição estava em seus olhos, contudo, a vinda dessa borboleta negra em direção ao seu jardim incomoda.
Ainda assim, sente culpa, mesmo que não tenha, por fazer isso consigo mesma.
E agora, com a ajuda desse amigo, auxiliará seu templo da melhor maneira e aceitará essa imperfeição, pedindo desculpa ao próprio organismo que lutou bravamente durante cinco anos.
O xampu anticaspa, posto somente no couro cabeludo, é o principal integrante para controlar esse mal que assola desde os 10 anos.
A espuma que começou tímida rapidamente ficou abundante e cremosa, atingindo essa parte, deixando agir por alguns minutos para passar a máscara de tratamento.
Às vezes, não entendem e até brincam pelo fato da mulher demorar anos-luz no banho.
E até entender isso, foi barra pesada.
Principalmente quando ficou doente, em que não conseguia aguentar nem cinco minutos.
Entretanto, desde a recuperação, passou a gostar de banhos demorados para sentir que a camada superficial estava sendo limpa, e o cabelo lavado remetia à purificação de um pano novo.
E queria incrementar mais a esse ritual, igual ao passado quando trabalhava, era bastante elogiada por seu ótimo cheiro e seu capricho por sua pele, que era mais acentuada que atualmente.
A sensação de passar por aquele corredor, entrando na área de carga e descarga, fazendo qualquer um parar de fazer seus serviços para sentir o odor, tomava uma pequena dose da vaidade.
E quer retornar, não para agradar aos outros, e sim a si própria.
Pensando nisso, enquanto remove toda a espuma, imaginou reservar no máximo 100 reais da mesada e comprar alguns produtos de autocuidado.
E talvez, até um perfume que seja só seu, como Beatriz grifa, fazendo notar que essa fragrância só lhe pertence.
“Não, usar o mesmo não tem graça…”
Logo, lembrou do Thaty quando seu saudoso amigo deu de presente no seu aniversário.
E depois, passou a amar e mesmo comprando vários e gostando de alguns, o cheiro desses deixou-a encantada, e queria realmente ter para si e adotar como único, igual a uma assinatura.
“Como é bom estar de volta.”
A frase dita pela personagem Clara, de ‘O Outro Lado do Paraíso‘, ao retornar à sua antiga terra, iniciando seu plano de vingança com todos que a fizeram experimentar o inferno, fez tanto sentido.
Com vários defeitos estéticos, precisava recuperar a feminilidade perdida e finalmente ser bonita e autossuficiente. Quando sair por essa porta, vestirá este traje e se pintará para se preparar para a guerra.
Espero que o novo ciclo esteja cheio de coisas belas e amargas, como deve ser a vida de um adulto.
Comentários no capítulo "Capítulo 71"
COMENTÁRIOS
Capítulo 71
Fonts
Text size
Background
As Mil e uma noites Dela com um espírito Obsessor
Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...