Capítulo 79

Mohammad conduzia em plena felicidade ao lado de quem gosta mais de andar de carro do que de bens materiais, a expressão é completamente oposta da presenciada, talvez faça isso com mais frequência.

 

Em Dubai, há muitas paisagens para se admirar, revelando cada canto para receber mais dessa fisionomia.

 

A música ‘While My Guitar Weeps’, cantada por Indie.Arie, pertencente ao artista Santana, soava alto e, não sabendo o idioma, balançava a cabeça e cantava certos refrões em silêncio, como se sentisse em sua alma.

 

Seguindo em frente, a música trocada mantém no artista, a ‘The Game of Love’.

 

Quando chega ao ápice, é a parte favorita.

 

“[…]Você me enrola. Me controla. Me consola. Por favor, me abrace. Você me guia. Me divide[…]”

 

O erro gramatical não era o foco, o ideal é a sensação da velocidade do vento, espalhando seu véu para perto dele, que precisava se concentrar na estrada e não se deliciar com o cheiro suave dessa fragrância.

 

A canção diz muito sobre eles, que estão em sintonias diferentes.

 

Ao passo que para o jovem é apenas uma nostalgia adolescente, para o homem é atual sobre o que de fato estava acontecendo.

 

Queria muito que as palavras dela fossem realmente verdadeiras sobre seus sentimentos.

 

Todavia, entende que demorará para dizer essa doce declaração, com a real intenção que o ‘eu lírico’ transmitia.

 

Apesar do gosto eclético, em sua maioria, são sempre bem românticas, como se a alma apaixonada não tivesse perecido completamente, como a usuária tenta admitir.

 

Já é algo positivo, mostrando que pode estar aberta a um novo amor, e isso é bom.

 

Na verdade, é ótimo.

 

Ao sair do Elevado, entra mais uma vez em outro túnel que finalmente demonstrava que o fim estava próximo.

 

“Estamos chegando.”

 

“Ah… Tão rápido.”

 

Batendo de frente com a Av. Ivan Lins, logo vem a Av. Armando Lombardi que interliga a Av. das Américas.

 

Ao som de ‘Party’ da Beyoncé, a SUV entrou num dos shoppings da região. Embora o Village Mall seja considerado o melhor da redondeza, com aglomeração de várias lojas de grife internacional, aqui tinha o necessário.

 

A qual é a loja oficial.

 

Lá, encontraria os modelos de roupas que possam agradá-la, principalmente se tratando de calça, moletom e top de academia, que são superiores ao que costuma usar.

 

E mesmo que não pratique exercícios, comprará alguns shorts e calças de malha.

 

Esperava que possa se divertir nesse esporte, não intensificando a apreensão pelos preços.

 

O estacionamento subterrâneo, com mais de 1500 vagas, mostra capacidade para abrigar carros de diferentes tamanhos e modelos, para o cliente se sentir acomodado e não passar dificuldade.

 

Nem em dias movimentados, como finais de semana ou épocas festivas, costuma captar um número maior de clientes que geram verbas para as lojas e praça de alimentação.

 

O preço por vaga é ‘aceitável’, após meia hora é cobrada uma taxa adicional, o que não é tanto, no qual estava acostumado o triplo por meia hora.

 

Bruna percebeu a diferença entre os extremos, e isso já implicava os veículos estacionados.

 

Longe dos populares, alguns esportivos de marcas conhecidas enfeitam esse terreno, igual vitrine de lojas.

 

Nem a BMW remove o brilho de outras que, aos seus olhos ignorantes, eram dignas da elite brasileira.

 

Pena que a jovem ainda não compreendeu que a elite não se limitava a somente cédulas.

 

O vidro fechou, e somente quem estava dentro previa o que acontecia do lado de fora.

 

Mesmo que estivesse rolando um clima quente, os espectadores só poderiam sentir o gosto.

 

E por causa disso, lembrou de vários lemons em automóveis de luxo, em que a maioria é gigante para comportar um seme que media no mínimo 1,95 m.

 

Olhando para Mohammad, que tem mais de 2 metros, seria um tanto complicado, pois mesmo o interior sendo grande, faltaria espaço para fazer posições mais simples.

 

E, por pensar nisso, uma curiosidade pintou por sua cabeça: será que esse gigante já fez sexo no carro?

 

Sondando a mente, criava um certo veredito de que homens grandes podem fazer sexo em posições que mostram nas obras.

 

Contudo, é impossível, contentando-se em ficar no imaginário.

 

Agora, com os pés no concreto, sentiu falta do seu velho celular e do fone de ouvido.

 

E, como a bateria estava viciada, tinha que deixá-la no carregador portátil do carro, recuperando a energia para mais três horas de uso.

 

O fato de ter carros não estava lotado, gerando um certo alívio.

 

Mohammad notou o desconforto, no Parque Lage, o nível de nostalgia fez ignorar o resto, oferecendo um relaxamento igual em sua residência, inibindo a existência de apagar os que rodeavam.

 

Já aqui, o isolamento por não pertencer a esse degrau diminuiu seu ânimo, querendo voltar para o carro.

 

Assim, pega seu celular e o fone bluetooth e coloca no streaming de música para acalmar sua agonia.

 

“Toma.”

 

“O que?”

 

Ainda assim, não entendeu o motivo de oferecer o celular, algo particular que não se deve entregar para um estranho.

 

“Plugue um fone e escute música, vai ajudar durante o tempo que estivermos aqui.”

 

“…Obrigada.”

 

Não recusou, sendo essencial, com todo cuidado, segura o objeto sem uma capinha, mas é limpo e sem uma mancha, como se nem tivesse impressão digital.

 

O streaming aberto queria conectar na sua conta, porém escolheu uma que agradasse e deixou no volume aceitável, repetindo infinitamente até enjoar.

 

Com o mau hábito de colocar tudo nos seios, tentou o gesto, todavia, quando percebeu, mirou para o dono desse aparelho, observando-o de forma peculiar.

 

No entanto, não mostravam uma certa repreensão ou estranheza e sim, quente como se transpassasse de sólido para um líquido em segundos, quente demais.

 

E, mesmo não sabendo o que de fato seria essa sensação, entregou de volta.

 

Que pegou e colocou de volta em seu bolso, e assim foi em direção ao elevador para chegar à loja.

 

O centro comercial tinha quatro andares e mais de 120 mil m², englobando mais de 700 lojas.

 

Ali pertencia ao primeiro andar, chamado de ‘Rose’.

 

A loja esportiva fica nesse andar, exatamente no 122E.

 

Não foi muito difícil, apesar do fluxo, dava para caminhar confortavelmente, sem ficar esbarrando a cada dois passos, como acontece na Uruguaiana ou em Madureira.

 

E, por ser um estabelecimento na área nobre, achou que os consumidores se vestiam simples, mesmo que cada item fosse mais caro que um salário mínimo.

 

Avaliando que os pobres gostam de se sentir ricos, enquanto os ricos se fantasiam de ‘pobres’.

 

É um tanto engraçado, se bem que as classes se divergem, uma tenta ocupar o espaço da outra.

 

A diferença é que a classe trabalhadora nunca conseguirá esbanjar o que os mais privilegiados têm.

 

Isso é uma jogada e tanto, apesar de que o sistema dá a ilusão de que somente através do consumismo podem alcançar os dedos da elite.

 

Refletindo sobre o aumento dos falsificados, porque creem que um ignorante não conseguiria diferenciar ambos os lados.

 

Devido a isso, o deslocamento ampliou, claramente mostrando que veio da sarjeta que só adquire vestimentas que aparentam luxo.

 

Todavia, como tantas, é a falsificação dessa riqueza em tecidos de má qualidade.

 

Não havia palavras para seu convidado, a riqueza estava cravada em seu DNA, mesmo em trajes baratos, ainda exalaria como magnata.

 

E era bizarro, pois essa característica é a maquete ideal que separava a elite da riqueza.

 

O poder é semelhante ao buraco negro massivo que engole e comanda toda riqueza e humanidade ao seu bel-prazer.

 

“Que bizarro, me sinto a Maria do Bairro ao lado de Luiz Fernando.”

 

Pessoas com dinheiro reconhecem seus semelhantes ou até mais, como um formigueiro, conhecem a posição só de vislumbrar, e do mesmo jeito que reconhecem, distinguem um pobre sem ao menos piscar.

 

Cada canto coberto já declarava a situação social, e mesmo usando um perfume caro, ainda assim, permanecia com seu status de pobreza.

 

Não diferenciando da nova onda de ‘ricos’ no terreno nacional e internacional.

 

Principalmente, os que fazem músicas para o ‘povo’.

 

Onde a posse de carros luxuosos, as vestes originais e as joias verdadeiras, para a alta cúpula, continuam sendo ralos, ou pior, uma ‘classe média’.

 

Atraindo oportunistas, que procuram sugar desse indivíduo todos os nutrientes que os beneficiem, incluindo a socialite.

 

Que os manipulam para cativar a base nessa manutenção escravista.

 

Logo, o que os rodeia, em que as letras e pensamentos são baseados e dirigidos à base da pirâmide, na verdade, era nada mais que marionetes ilusionistas e manipuladas por alguém acima deles.

 

“Ainda assim, não isenta da culpa.”

 

Era isso que mais odiava e desprezava nessa perseguição ao dinheiro.

 

Enquanto seu pai gastava uma pequena fortuna fazendo jogos de loteria na chance de ganhar pelo menos 1 milhão, na esperança de viver ‘melhor’ no asfalto.

 

Havia quem patrocinasse esses tipos de jogos, e outros com polêmicas mais pesadas, ganhando milhões por dia e utilizando a fama para gerar mais capital de giro em cima de outros que mal têm o que comer.

 

Entende que a riqueza e exposição explícita ao público, principalmente em redes sociais, eram nada mais que prisões.

 

Grandes gaiolas de ouro onde quem estava acima dita as regras sobre toda a vida desse ser humano, que acaba cedendo para continuar tendo essa falsa sensação de reconhecimento, acolhimento e uma vida financeira estável.

 

De modo que ama o anonimato.

 

É dali que possui a verdadeira identidade e a opinião com sinceridade sem precisar pisar em ovos, ou lidar com certas situações em que a sinceridade não é aceita.

 

É o correto e até menos indolor do que o universo de mentiras, em que era proibido ser verdadeiro consigo mesmo e se limitando a usar uma máscara para o resto da vida.

 

Ou até o momento em que o show acabe, e tem que sair de seus palcos.

 

Na mente dela, não despreza o dinheiro em si, não é isso, reconhece que oferecia grandes oportunidades, dando a chance à igualdade social.

 

Porém, não significa tudo, casos de suicídios entre esse meio e principalmente os influenciadores, oriundos da depressão, relatavam que a grana e fama não se resumem a tudo.

 

Parece engraçado e até irônico, mas Anitta relatou um dos motivos essenciais dessa busca pelo algoritmo.

 

A necessidade de ser amado é real.

 

Não é à toa que existe a ‘carência emocional’, onde o nível de atenção do próximo, seja um familiar, companheiro e até um certo ‘fandom’, não alcançou a expectativa sugerida.

 

O reconhecimento é a manivela essencial para gerar comportamentos positivos e negativos, principalmente se essa pessoa tem tudo.

 

E, quando não consegue obter algo dado facilmente, gera um desequilíbrio mental.

 

Mesmo que todos possam amá-lo e adorá-lo intensamente, caso uma única pessoa não lhe dê isso, já é motivo de desestabilização.

 

Que desenvolve quadros obsessivos que não mostram uma expectativa tão igual ao resto da sociedade.

 

O pior é que quem estava nesse círculo nunca notaria que sofre disso e ainda, os de fora conseguem até vislumbrar, mas não têm força ou não desejam alertar o indivíduo desse mal.

 

Uma máquina perfeita que a burguesia utiliza esplendidamente.

 

“É uma caça, e sempre será a vez do caçador.”

 

Por isso, aprendeu a não mendigar pela atenção alheia.

 

Fazia mal a ponto de o exterior ditar o que pensar, as ações, até o tipo de emoções e sentimentos demonstrados.

 

Esse ciclo acabou quando notou a melhora, claro, não está 100%, pois até então, o ser humano é uma criatura sociável e necessita disso.

 

Entretanto, a jovem compreendeu que tudo tem um certo limite, e que de fato não precisava usar seu passado ou a condição de saúde para causar pena e adquirir esses benefícios.

 

Sua história não deve ser usada para ganhar algo em troca, e sim para ensinar a ser melhor que o ontem.

 

Assim, visualizou as cordas dessa marionete maldita, que, por vários fatores, são bem mais danosos do que suas ações atuais.

 

Logo, se esforça ao máximo em ser sincera, alcançando o que um dia tentou ter a força, sem precisar ser controlada por nada.

 

Ser verdadeira e sincera com ela e aqueles nesse círculo.

 

Portanto, não tinha medo desse convidado quando desejava expressar o que acha e sente, nem que seus olhos estejam tão vermelhos quanto os de um homicida.

 

Porém, esse magnífico convidado não encostará o dedo para machucar ou obrigará a fazer algo sem a permissão.

 

De qualquer forma, se acontecesse, saberia como se defender e fugir para longe de quem parece um anjo com o interior correndo trevas.