Capítulo 81
O fato de nunca ter tomado essas preocupações foi devido à sua estética que é bem mediana para medíocre.
Desse modo, ninguém ia se interessar, e essa ideia vem sendo moldada ao longo de sua vida desde o nascimento e o seu papel feminino na sociedade.
E, por causa desse padrão, conforme as décadas vão passando, entendeu que não se encaixava nessa regra, pela beleza, que não corresponde ao que a sociedade pede.
Não se preocupando de fato com esses detalhes, diferente de sua irmã, que corresponde ao padrão dito, pelo fato de ser bem ‘cavalona’.
E, pelo seu relacionamento, é claro que devia se ‘preservar’ como uma mulher ‘comprometida’.
Mas Bruna acreditava no ditado popular, ‘se olhar não arranca pedaço’, e por ‘n’ fatores faz com que tenha essa despreocupação e até uma certa ignorância em relação ao seu físico.
No quadro depressivo, que passou por verdadeiras transformações e aumento de peso expressivo, fugiu do idealizado, portanto, não geraria um grande alarde ou sequer uma consequência da sua parte.
E, por conforto derivado da situação, determinou não usar um suporte que oculte essa área, e estava confiante na vestimenta e somente usaria se saísse de casa.
Talvez a sua zona de conforto, mesmo não mostrando nenhum perigo, possa causar certo impacto e prejudicar sua imagem física e mental.
Entrando no contexto da beleza, a atração física é realmente algo subjetivo.
E, por causa desse comentário, jogado da boca de um cara que demonstrava um certo interesse, fez sua cabeça funcionar.
Ainda assim, queria defender essa tese.
“Ninguém olha pra mim com esse tipo de olhar, nunca ocorreu nada do que possa acontecer.”
“Isso não quer dizer que não pense, não saiba o que se esconde, e por causa dessa característica, a seu ver, é algo normal, pois seu corpo em si não provoca nada ao outro.”
“Só que…”
“Mas, infelizmente, é o contrário. Pensamentos criam ideias e ideias formam um plano e desse plano formam ações, e essa ação pode ser positiva ou negativa. E sabe muito bem as consequências negativas, né?”
A Vênus de Willendorf, do período antigo, antes mesmo de Cristo, definiu o padrão de beleza naquela época, em que o ser humano sobrevivia da agricultura, e os alimentos eram determinados pelas estações.
Portanto, a limitação, a escassez e a fome eram grandes durante essa era, o que causou uma mudança abrupta sobre o que de fato era determinado como fator de beleza.
Em que a mulher gorda era considerada o padrão ideal, pois aquilo significava fartura em alimento e até um status social e ‘financeiro’.
Pois casar com uma, em que a maioria da sociedade vivia na margem da miséria, é tão semelhante ao ficar com uma Virgínia Fonseca.
Todavia, hoje, mesmo com esse problema, o padrão não se adequa como há mais de 20 mil anos.
Porque a humanidade e a sociedade ‘desvincularam’ desse fator, não sendo o foco, e sim uma vertente da consequência do sistema capitalista.
E, por qual, ditam as regras sobre o que é considerado beleza, principalmente se tratando da estética feminina, que sofre e sempre sofrerá com mudanças anualmente.
Por entender que, mesmo estando desse jeito, sendo um ponto que não deveria existir, um ser desprezado, atiça o desejo masculino, retratando esse que é o ideal, fez repensar se realmente pertence à classificação dos rejeitados.
Ou a tal liberdade em quebrar certos dogmas, não se limitando ao pudor e à vergonha.
Será que necessita se autopreservar, mesmo não fazendo parte desse meio?
“Nunca pensei nisso, estranho.”
Revisitando esse questionamento, jamais acreditaria que poderia ser desse jeito, e nisso, cogitou que realmente deveria prestar mais atenção a esse detalhe, que causaria um problema.
Talvez a mudança, a ponto de ignorar a vergonha, seja prejudicial.
E como iniciar esse novo recomeço, que seria chato e incomodante?
Simples, do mesmo modo que com a chegada do novo integrante na família, aplicaria essa regra, no início, será estranho, mas avançando, vai se acostumar, se habituando a não andar 24h/48h.
E, por causa disso, repensou sobre a ideia.
Mohammad, ao ver o conflito gerado, nunca usado na vida, notou que, com essa, não deve ser violento e rude, como um ditador que comanda severamente seus habitantes.
Deve ser suave, caso contrário, poderá fugir e até reagir negativamente por esse regime de censura.
Não precisava ser escroto, a dona do próprio corpo e ideias, e sim, começar pelas beiradas a ponto de notar o que era comum e aceitável, ocorrer certas consequências.
A sua censura em não querer que seja mostrado, a não ser para ele, tem que fluir por essa via.
É benéfico estar disponível pra ele e para mais ninguém.
E, por causa desse objetivo mascarado de preocupação, ditará certos tipos de regra nas suas vestimentas a ponto de ocultar verdadeiramente o que já estava oculto.
Então, começará gradualmente na zona de conforto, depois dentro de sua casa.
Mas só poderá ter um maior controle quando tiverem um nível de envolvimento profundo.
Enquanto só permeava no campo da amizade, fará com que não tenha esse tipo de comportamento fora da residência e inconscientemente usará um suporte que oculte os belos seios.
“O que acha de tentar aos poucos? Os tops dessa marca são bem confortáveis e não causam nenhum incômodo. Pode se sentir livre onde quiser, até se locomover para fora de casa.”
“É…”
“Só tente, vai perceber que nem precisa pensar muito, e vai se habituar a essa nova rotina.”
“Verdade…”
Como diabo, que induz sua vítima a fazer coisas que não estão nos mandamentos divinos, esse ser maligno começa a entrar na cabeça da mulher.
Induzindo-a a ter certas atitudes que nem um namorado ou marido tem.
Limitar, e só se guardar para ele, mesmo não possuindo nenhum tipo de vínculo afetivo, é uma tentativa clara de censurar esse pássaro selvagem, podando suas asas levemente para não perceber que está cedendo seus voos.
A tesoura de Mohammad já começou a fazer o trabalho sutilmente, e quando notar, sua liberdade será limitada e poderá apenas voltar para o dono.
Infligindo a tal ‘falsa liberdade‘.
Bruna, que olhava algumas camisas, começou a aderir à ideia como prática, e com o tempo, tornará comum.
Enquanto isso, introduz outro assunto para distraí-la e essa questão se fundirá ao seu interior, mudando totalmente o sistema comportamental.
“Não quer levar mais nada para sua irmã e cunhado?”
“Como o quê?”
“Não sei, não disse que ela faz exercícios físicos e reclama do calçado, por gerar muita dor?”
“É, né? Minha irmã tem isso, seria bom comprar um tênis.”
“Vamos ver alguns modelos?”
“Tá bom.”
Ao chegar à seção de calçados, ajudou a escolher o melhor tipo de modelo.
Mesmo não sendo um grande conhecedor de moda como sua esposa, sabe o que é realmente bom para proporcionar conforto.
Na hora de pagar, os funcionários responsáveis pelo caixa ficaram surpresos com o tanto de coisa, são muitas bolsas lotadas, selecionadas e pagas por esse super sugar daddy supremo.
Nessa hora, ficou apreensiva, pela força do hábito cultivado desde que atingiu a fase adulta, no entanto, mesmo tentando alertar e levar somente o essencial, foi acalmada com palavras mansas de segurança.
E, no final, estava realmente certo.
Todas as cinco bolsas foram passadas e o valor da compra foi pago com o cartão black, arcando com valores absurdos.
A caixa responsável por esse ato raro percebeu que esse cliente não era qualquer coisa, e sim um consumidor da alta cúpula.
Sem parcelamento, como se estivesse comprando num brechó.
Ao sair, um ser misterioso, apelidado de mordomo, auxilia o casal a carregar os milhares de sacolas, que já achava um absurdo.
Como não tinha as camisetas, tiveram que ir a outro andar onde possui uma pequena loja especializada para esse tipo de gosto.
Nunca foi de acompanhar o universo feminino, na verdade, jamais ocorreu, os motivos eram o desinteresse e por não lhe atrair sobre o planeta dos que não estejam em seus corpos.
Porém, dessa vez desbravaria esse mundo para entender melhor os gostos dela.
Assim como o Sr. Darcy, de ‘Orgulho e Preconceito’, a explícita condição financeira dela é bem nítida, nem que a chame com palavras rebuscadas de pobre e relaxada, ainda admira e a ama ardentemente.
Entretanto, com várias imperfeições pelos produtos baratos e ao não preparo decente, continua linda.
Igual ao protagonista, irredutível com seus sentimentos e desejos, sabe que com uma única palavra soltada dessa boca carnuda que assemelha uma maçã suculenta, mudaria o ritmo de tudo, até o percurso de cada ato feito futuramente.
Simplesmente, essa jovem nascida da lama e pobreza pode alterar tudo que passou a seguir e planejou durante uma vida toda.
“Vim a Rosing somente para vê-la. Luto contra meu bom senso, as expectativas da minha família, a inferioridade de seu nascimento, minha posição… mas estou disposto a colocá-los de lado e lhe pedir que dê um fim na minha agonia….”
“Eu não entendo.”
“Eu te amo. Ardentemente.”
Essa fala, que na época passou despercebida quando resolveu dar uma chance, sem nada para o entreter, a declaração de um elitista a uma mulher pobre como a heroína, foi dada como ridícula e até impossível.
Pois, na sua visão, quem preza pelo seu status social nunca deveria se envolver com o proletariado e em condições inferiores aos considerados nada mais que vermes.
Manchando assim a condição atual, abrindo espaço para que os da base possam imaginar que possam ter uma chance com pessoas como ele.
Apesar da maioria que passou como um cometa pelo céu, todas não eram pobres e tinham uma condição média para boa em questão financeira.
Até a Lauren e a Karen, que trabalhavam num bar estilo alemão, podiam arcar com as despesas de um bom apartamento e ter acesso a compras em lojas de luxo.
Nisso, Mohammad nunca se envolveu com quem tivesse condição inferior à de Bruna, e por causa dessa atração e desse amor por alguém que em condições de sobriedade e raciocínio nunca existiria, não sabia o que fazer.
Mas, cada pedaço que tem, seja físico e até mental, o atrai a tal ponto de ignorar seu enorme preconceito contra latinos, inclusive brasileiros e pobres.
“Você enfeitiçou meu corpo e alma. Eu te amo… Eu amo… Eu te amo. Nunca mais quero estar longe de você de hoje em diante.”
Esse pequeno momento, dito pelo personagem, é uma declaração vitalícia e sua derrota diante do amor que julgou nunca sentir, seu caminho foi programado, nada impediria que esse roteiro saísse dos trilhos, mas saiu.
E esse marco se chamou Elizabeth Bennet. Assim como é para Mohammad e Bruna.
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Capítulo 81
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No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...