Capítulo 85
Seu cunhado, que não retornou do serviço, levou o único guarda-chuva pertencente ao casal e não tinha jeito, já enfrentou clima pior quando estudava à noite e ficou bem, não seria agora que ocorreria alguma coisa.
O único problema será o cabelo e o creme escorrendo pelo rosto, se garantindo no capuz para proteger.
O conselho do pai, que instruiu a se autoproteger em casa, era desobedecido para encontrar outro cara tão fatal quanto seus últimos dois namorados.
A imagem sobre o desaparecimento dele, e mais três que experimentaram o inferno no conforto de seus lares, circulava em sua mente enquanto fechava a porta de entrada.
As gotas grossas caem como cascata do final da telha, molhando um pouco o lado de seu casaco cinza.
Por ser um tecido bom, as gotas são absorvidas, impedindo a sensação agoniante.
E uma chance de 70% de não entrar no carro pingando, como se estivesse num rio.
Nem os sons desesperados de Belinha adiantaram, a moça apressou os passos para chegar até o destino.
Em intuição, era chegar a tempo e se confortar no couro macio, sem o ar-condicionado, ouvindo algo suave para esquecer essa assombração que cisma em sair.
A música alta desconecta da cena violenta em que um objeto cortante ou até uma arma possa feri-la.
Isso não seria bom para seu tratamento, e temia pela crise de ansiedade.
Nesse temporal, pessoas precisam ganhar seu ganha-pão diário, descendo a ladeira com seus guarda-chuvas baratos, para se proteger o máximo desse rio apelidado de fenômeno pluvial.
Algumas partes tinham poças d’água, não como antigamente, que eram precarizadas pela falta de tratamento de esgoto.
Contudo, não podiam usar chinelos ou uma sandália rasteira aberta, pois sujaria de lama e provavelmente com dejetos de urina de rato e outras pragas danosas à saúde.
Logo, a maioria calçava tênis ou bota, com auxílio de uma calça jeans e casaco, porque só o guarda-chuva não faria verão.
A parte chata daqueles que precisam do transporte público é a espera e o frio extremo do aparelho refrigerador.
Que amplificava a sensação congelante, uma situação incomum em tempos de calor.
Sendo a realidade do assalariado, que sofre sob um imposto astronômico, sem o mínimo de conforto garantido por lei.
Parece louco, e até delírio de uma mente viajada, que necessitava de locomoção ‘barata’ para chegar a outras regiões.
E, vendo isso, recordou-se de Orgulho e Preconceito.
Jane — a filha mais bonita do casal Bennett — foi obrigada propositalmente pela mãe a não ir de charrete e sim a cavalo, pois a Sra. Bennett queria que ficasse doente e tivesse chance com o Sr. Bingley.
Que ganhava 5 mil libras por ano.
Sendo considerado um milionário hoje em dia, a pobre Jane, ensopada com um belo vestido de verão, faz uma comparação histórica.
Em que precisam se locomover até um certo ‘Sr. Bingley’, a mando de uma ‘Sra. Bennett’, ganhando uma miséria de salário, que não chega a ser um décimo da riqueza desses acumuladores.
Não há romance quando o assunto é sobrevivência.
O som das pisadas se espalhou numa pequena onda em 360° e quem não estivesse protegido se molhava.
As motos e carros têm o dobro do cuidado para não causar um acidente e molhar uma pobre alma, que deseja chegar inteira no serviço.
A chuva ocasionou um barulho alto como se o mundo estivesse caindo.
Alguns guarda-chuvas de 20 reais estavam operando por um de 100 reais.
E, quando chegou perto do destino, visualizou a BMW com as lanternas acesas para guiá-la.
Usando um casaco grosso sem a ajuda de um guarda-chuva, questionou-se o motivo, principalmente hoje, que o clima estava horrível.
Vindo em sua direção, a porta estava destrancada, dando acesso ao interior da máquina.
Essa BMW é equipada com um sistema misto, em que um aquecedor abrigava passageiros em situações extremas, mas como é aqui, que predomina o clima tropical, o aquecedor praticamente é inútil, fazendo-o ser dispensável.
“Caramba, que chuva, não pensei que seria tanto assim.”
O capuz é removido, revelando um cabelo úmido e solto.
O cheiro do coco com outros aromas preenche o pequeno espaço, deixando embriagado.
Assim que a porta é fechada e o ligeiro frio vai embora, sente o calor por sua camada de modo agradável.
Pegando-a de surpresa.
“Aqui tá tão quentinho, vou até tirar o casaco para não ficar com calor.”
“Imaginei que sentiria um pouco de frio.”
“Obrigada.”
Enquanto tentava remover o casaco com toda a classe possível, a vestimenta não queria obedecer, apenas saiu de um jeito truculento e revelou uma parte das costas nuas.
Onde as peças ficaram grudadas e os cachos que foram para frente retornaram ao seu lugar de origem quando lançados para trás.
A brecha da camada da derme das costas é uniforme e lisa, a calça legging impedia de ver em sua totalidade, deixando o presidente curioso.
Foram segundos, e o casaco foi posto em seu colo de um jeito bagunçado.
O cabelo revelava o frizz pela ação, não agradando tanto.
A camisa ocultava o desejo desse admirador.
Principalmente na parte do busto.
O antigo top mostrava um contorno natural, agora, são firmes, deixando mais contido e levantados.
Ao tirar o celular e o gloss no meio deles, usa o colo como apoio, os lábios, pintados de um roxo bonito, perderam sua cor, deixando resquício de um brilho fraco.
E, como qualquer mulher, usa o celular como espelho para enxergar a fronteira desses lábios carnudos.
Vagarosamente, espalhando uniformemente, deixando-os bonitos novamente.
O veículo permaneceu ali, e tudo graças a não tirar os olhos desse pequeno ato, presenciado diversas vezes, mas que é impactante.
A jovem também ajeita o cabelo, colocando-o de lado, para disfarçar um pouco o arrepiado.
O trabalho é dobrado para não ocorrer esses tipos de acidentes, e toda finalização feita seja prejudicada.
Quando terminou, percebeu que não se moveram em nenhum instante e olhou para o lado, onde o motorista encarava fixamente, como se tivesse alguma coisa errada.
São quentes como o carro, revelando um desejo implícito que o corpo tentava barrar.
“Aconteceu alguma coisa?”
“Coloque o cinto.”
“Ah.”
Durante isso, não houve conversas e nem música para quebrar o gelo.
Bruna estava com a cabeça cheia pelo acontecimento que perambulava insistentemente, enquanto Mohammad se concentrava na estrada e na pista molhada.
O limpador de para-brisa funcionava para dar uma boa visibilidade, sua roupa era o mais casual possível.
Iriam ter um dia relaxante na cafeteria que lhe pertence, apreciando o dia chuvoso com uma bebida quente e comida gostosa.
E, antes do meio-dia, retornaria, pois, com a irmã, é responsável pelo serviço doméstico.
Perto do antigo jardim zoológico, perpetuou-se uma situação desconfortante, ao contrário de sexta.
“Não quer ouvir nada?”
“Ahn… não sei, não estou no clima.”
“Por quê? Aconteceu alguma coisa?”
“Um pouco, e está me perturbando.”
“Quer falar sobre isso?”
“Talvez…”
“Estou ouvindo.”
O conforto que essas palavras trouxeram não mensurava o nível de aflição pela notícia passada.
Assim, abriu a boca para confessar o que sentia e tentar amenizar esse impacto que veio como um asteroide.
“É sobre meu ex-namorado. Hoje, quando acordei, o canal de notícias falou sobre um envolvimento num crime. Não sei, estou muito preocupada.”
“Hum…”
Não precisava ser um gênio, é claro que é o homem que matou essa madrugada.
A reação deixou-o um tanto furioso, pois, mesmo depois de tantos anos, ainda tinha um nível de afeto e preocupação por parte dela.
E, com o tempo, acredita que a ausência desaparecerá de sua vida como uma poeira soprada pelo vento.
“Os seus familiares foram mortos, e por causa disso e pela investigação do seu desaparecimento, creio que possa vir para cá. E, como sabe meu endereço, meu pai acha que possa fazer algum mal.”
“Não vai fazer, fique tranquila.”
“Como pode ter tanta certeza?”
“Porque o matei.”
“Um fugitivo nunca vai além, ainda mais com as fotos espalhadas por todas as delegacias do estado, principalmente aqui.”
“É… é igual ao caso Lázaro, demorou, mas conseguiram encontrar, só que morto.”
“Sim, portanto não tenha medo, não vai acontecer nada com você e nem com sua família.”
O sorriso exibido garantia que nada aconteceria.
Até porque, os mortos não falam.
Os detalhes de uma madrugada intensa e divertida, há uma paz inexplicável, da qual nem restou sombra daquele que ousou ter algo além com seu afeto.
A camiseta branca simbolizava a paz, sendo usada para transmitir um lugar pacífico, e também a rendição de um inimigo no campo de batalha.
Só que dessa vez, proporcionou paz para um certo ser maligno.
De calça jeans clara e uma bota escura de cano longo, uma visão rara, foi manchada com o sangue dessa vítima.
Josias aparentava um sinal claro de velhice precoce, não se igualando à beleza de seu torturador.
Quando viu pela primeira vez, imaginou qual tipo de qualificação usava para escolher quem distribuiria seu afeto.
O cara foi arrancado de sua morada enquanto vadiava pela rua, se encontrando numa SUV negra.
Seus olhos bloqueados com uma venda escura e suas mãos presas com arame farpado ocasionaram dor durante a locomoção.
Encontrar esse ser não foi uma tarefa difícil, pois residia no mesmo ponto onde nasceu e na mesma casa onde passou a infância e toda a fase adulta.
Sendo que era comprometido com outra vítima.
Permanecia na casa dos pais e também não tinha emprego, ficando assim, às custas da companheira que dava tudo, igual à Bruna no passado.
Por ser mais velho, tremia e chorava, como um bom covarde que é.
Ao mandar para uma casa velha, no meio do nada, na região de Seropédica, já sabia o seu fim.
Implorando pela piedade, mesmo a morte sendo iminente, não queria sofrer.
Só que o seu Deus não escutou e, como qualquer pecador, sofreria até o último segundo até fechar os olhos definitivamente.
E esse show teve uma plateia especial, a participação da figura que nunca mais poderá ver.
Durante as horas de tortura, a voz dela pelo telefone era amplificada, espalhando desde o ‘eu te amo’ até as inúmeras vezes que brincaram de sexo por telefone.
Feito lentamente, fria e cruelmente, descartou o avental plástico, permitindo que o sangue o sujasse.
Manchando assim sua camisa puramente branca que deveria simbolizar o emblema.
Explicitando, os mais sanguinários são os que buscam pela paz.
Toda a guarda observou, até o secretário permaneceu no show de horror, diferente dos outros que queimavam em euforia.
O empregado queria sair e se derramar num vaso sanitário.
O dom e o talento nato para executar métodos de tortura que vão além da dor física, mas também debilitam o psicológico, é surreal.
Que não se incomodou em começar com o mais leve até atingir o elo mais pesado.
No final, o que apenas machucou um coração estava sem os dedos, o pau, os olhos e a língua.
Deixando por um fio, quase no segundo plano, mas, de forma esplêndida, o método usado não o matou, permitindo degustar todas as sensações que o afligiam.
E, quando a frase que quebrava o elo que os unia, Mohammad disparou cinco tiros, de quem teve o privilégio de pisar no santuário sagrado e ver o corpo imaculado de sua santa.
[Jô, não venha mais me procurar, vamos terminar e seguir os nossos caminhos. Adeus.]
A gravação da chamada é encerrada, e a vida desse teve seu fim, se despedindo para sempre dela.
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Capítulo 85
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As Mil e uma noites Dela com um espírito Obsessor
Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...