Capítulo 86
Nessa mansão, que foi recém-inaugurada, a primeira esposa passou pelo tormento e uma entrevista colada a mais nova.
Achou o seu comportamento invasivo e vergonhoso, se ‘representando’ como a verdadeira dona.
Visualizando um futuro incerto, inclusive com o surgimento dessa cobra num território alugado.
“Irmã, que surpresa.”
“Só vim para não deixar sozinha.”
Mentira, frequentemente larga a maternidade para saber o dia em que Mohammad voltará.
“Ele não virá hoje.”
Reta como uma régua, Hana fechou o semblante como a tempestade que assola um estado abaixo da linha do Equador.
“Sim, notei.”
Verdade, estava demasiadamente pacífico sem o teor desesperador por parte dos funcionários.
Repreendendo até uma empregada por sorrir deliberadamente.
“Então?”
“Minha casa é tão tediosa que decidi passar um tempinho aqui.”
“Fique à vontade.”
“Mas…”
O mordomo do turno se aproximou a uma distância permitida para relatar um notificado.
“O quê?”
Hana ouviu bem e não acreditou.
Alaric Gemstone é um joalheiro de renome, conhecido por sua habilidade incomparável e pelo toque ‘mágico’ que dava a cada peça criada.
De cabelos grisalhos e um olhar penetrante, exalava uma aura de sabedoria e experiência.
Suas mãos, embora calejadas pelo trabalho árduo e pela dedicação ao ofício, são ágeis e precisas, capazes de transformar materiais brutos em verdadeiras obras de arte.
O mesmo que recusou fazer seu anel de noivado, pois a condição de seu atual esposo, um banqueiro reconhecido, era ‘inferior’ demais às peças que criavam.
Trajando uma rouparia simples, mas elegante, veio acompanhado de Pumpkin, que não renega seu apreço pela terceira idade.
“Sr. Gemstone, seja bem-vindo.”
Não apertou a mão devido ao critério restrito pela religião.
“Senhoras, perdão por aparecer assim. Mas vim a um pedido especial do presidente.”
“Mohammad?”
“Sim, preciso iniciar um árduo serviço. Por isso, deu acesso ao cofre ‘AuG1001‘.”
“!!!”
Assim como a mais velha, Hana soube do que se tratava.
Um de muitos, que reserva as preciosidades acumuladas pela linhagem milenar dos Haroon.
Limitando-se apenas a metais e pedras preciosas que atualmente nem existem.
E o fato da presença desse ser icônico já resumia o pouco do que será feito.
“Mas o Sr. Park não está presente.”
“Não se preocupe, está a caminho.”
O calor desse ensopado cheiroso fez a primeira esposa ter a convicção de que Mohammad levava esse romance muito a sério.
Impedindo de espalhar para a cascavel farejar quais são os ingredientes selecionados.
Convidando-o para uma xícara de chá.
***
Ao som de ‘Everyday’ de Ariana Grande, a preocupação foi sarada, graças à ajuda dele ao tranquilizar, e como passava confiança e credibilidade, relaxou e aproveitou a viagem.
E dessa positividade, o clima pesado foi substituído por um alegre, mesmo dizendo o oposto.
A paisagem fechada e os picos que ornamentam a estrada com névoa branca não deixaram de ser belos à sua visão.
O carro turbinado soube ser eficiente mesmo nesse tipo de situação, não causando nenhum alerta.
Mohammad falou sobre a loja, sendo a maior, habitando de tudo e um pouco. Oferecendo doces e salgados, de preparo fresco, para qualquer um que chegue ali.
O que se tornou o paraíso daqueles que têm dietas restritivas e comorbidades.
Nisso, ficou eufórica porque queria comer bolos, tortas e tudo indevido pelo quadro limitante.
A viagem demoraria um pouco, pelo congestionamento e o tempo ruim, sendo um prato perfeito para causar estresse nos motoristas e passageiros.
Com as janelas fechadas e o som alto, bloqueia qualquer chateação.
Tocando ‘September’, era uma das favoritas, sempre pondo quando quer se animar ou arrumar a casa, porque injetava um gás e espantava a preguiça na hora do serviço.
Essa era sua reação favorita.
E nunca ver para baixo como mais cedo, gradualmente, conhecia esse lado mais doce e divertido, faltando muito para chegar ao esperado.
“Mohammad, você beija bem?”
“Quê?”
Lançado no ar, pelo tom travesso, o questionamento de algo que sabe de cor deixou desconcertado. Como se o ato feito diversas vezes fosse bem errado.
“Sim, acredito que sim.”
Seu peito acelerou, pois representava dois caminhos, um bom e um ruim, e apenas lançou de volta para eliminar esse aflito.
“Estou curiosa, só isso.”
“Por quê? Quer descobrir?”
“Hum…”
Portanto, o que sempre sonhou estava ali, a sua timidez não permitiu formular o resto da resposta.
De soslaio, presenciou o rosto mirando o lado exterior e suas mãos contidas querendo expor essa verdade.
E, por mais que queira dar espaço, não conseguiu se deter e falou, dando ênfase nessa degustação.
“Não sei, beijo mal pra caralho… Ops, pra caramba.”
“Quem falou isso?”
“Um garoto.”
“Vou chutar que foi na adolescência, né?”
“Infelizmente, por isso, é um dos motivos de eu odiar essa fase.”
Um sorriso com profundo desespero em carregar esse julgamento por tantas milhas.
Esse período é um tanto complicado por ser um meio em que há uma grande absorção de opiniões e aprendizado, e com a chuva de hormônios, era atormentador e pesado.
E o ideal para adquirir traumas.
E Bruna só foi mais uma das bilhões de vítimas.
“Quer tentar?”
“Acredito que sim, mas acho que frustrarei suas expectativas.”
“Haha, mesmo que for, não serei tão infantil a ponto de magoar por algo que existe conserto. Sou um ótimo professor nesse assunto.”
“Será?”
“Claro, e, além disso… estou doido para beijar essa boca.”
Causando um misto de vergonha e realização, atiçou um lado aprisionado há décadas e queria sair nesse exato momento.
Montando em seu colo enquanto se pegam calorosamente para fazer esse interior queimar como incêndio florestal.
“Aí, porra, tá piscando!”
A música da Taylor Swift, no desfile de 2014 da Victoria’s Secret, revela um capricho desconhecido.
“Meu sonho era um dia ver o desfile da Victoria’s Secret.”
“Sério?”
“Anrã. Acompanho desde 2005, quando vi pela primeira vez. Foi o primeiro e único desfile de moda que amei com toda força.”
“Sério?”
“Sim, e foi decepcionante saber do lamaçal que muitas sofreram nas mãos dos dirigentes. Houve o retorno, sendo reformulada para os tempos atuais para corpos reais, sem a ditadura da magreza.”
A marca queridinha sofreu um grande impacto com inúmeras denúncias pela falta de representatividade, falas preconceituosas e até relatos comprovados de assédio sexual nas modelos que desfilavam.
O documentário relatou todos os erros feitos pelo antigo CEO e o seu envolvimento comercial com um dos maiores predadores.
Tendo um hiato de cinco anos, anunciou a volta do show icônico com um novo rebranding, que abandonava o velho método das ‘Angels’ e se tornava ‘VS Collective’.
Fazendo uma representação feminina, com corpos diversos, incluindo transsexuais, de idade avançada e da categoria plus size.
Em setembro, foi exibido o primeiro desfile com o novo cast, indo ao oposto do que sempre foi.
Houve posicionamentos positivos e negativos.
Latifah, que acompanhou todo esse rebranding, comentou os pontos fortes e ruins sobre a capacidade da VS incluir novos meios, assemelhando-os à realidade e também oferecer a chance para novos estilistas que não teriam tanto destaque.
Apesar desses detalhes, a VS continua sendo a mais comercializada no mundo, faturando bilhões em 2022.
“Não viu do ano passado?”
“Não, passou na Prime, então perdi a chance. Fora que não encontrei uma alma bondosa para postar clandestinamente.”
“Queria ter a chance de ir?”
“Primeiramente, sim, mas não tem como, não tenho dinheiro ou muito menos uma pessoa influente para me colocar lá. Para pagar pela viagem, hospedagem, locomoção e alimentação.”
“Se quiser, posso fazer isso.”
Bruna, que ouvia Kylie Minogue, imaginou-se estando ao vivo nesse espetáculo, acreditando na carga dessa promessa, contudo, tem seu pai.
E não queria revelar nada, não depois do acontecido recente.
Assim, só negou.
“Fica para a próxima.”
Já planejando ir para o show que tanto sonha.
“É… Me fala uma coisa.”
“O que foi?”
“Já ficou com alguma modelo?”
“Já.”
Algumas que até faziam parte da VS.
Magras, com corpos tonificados, seios siliconados e cabelos claros ondulados, pareciam anjos na terra. Foi um tempo bom, não tem como discordar.
“Caraca, tu passou o rodo em geral mesmo.”
Achava a coisa mais engraçada do mundo, e isso foi incrível e chato.
Queria o ciúme, pelo seu passado de Casanova. Entretanto, não teria, por enquanto.
“Fui um jovem rebelde, que gostava de brincar de ginecologista.”
“Hum, isso era com casadas e comprometidas também?”
“Sim, e muitas.”
“Espero que não seja igual ao meu irmão.”
“Como assim?”
“Ficar se garantindo no poder aquisitivo, mas é horrível de cama.”
“Com toda certeza, posso dizer que não sou.”
“Tá bom.”
Zombou, entretanto, sua veracidade é concreta, sabendo diferenciar um fingimento e um prazer real.
Era nítido, por causa dessa percepção aguçada, que nunca cometeu o erro de não retribuir igual à outra parceira, mesmo que o intuito seja obter toda a fatia.
“Sinto tanta inveja de vocês, que podem fazer sexo de boa com alguém que tenha uma atração física e tal. São verdadeiramente abençoadas por deus.”
“Por que fala assim?”
“Não tenho essa mesma sorte, minha condição meio que ‘inibe’, sabe? E mesmo achando bonito e tal, mas se não criar um vínculo forte a ponto de amar, nunca saberei o que é o prazer. Uma pena…”
“Nunca sentiu nada por quem ficou?”
“Nunca, desde os 22 anos, quando perdi minha virgindade.”
“Desse modo, é uma demissexual?”
“Sim… e não pedi por isso, essa sexualidade só é bonita quando está na fase de curtir os contos de fadas ou na adolescência.”
“…”
“Agora é um pesadelo.”
Bruna desviou o olhar, digerindo a paisagem do lado de fora, a chuva que caía batia no vidro, formando gotículas minúsculas.
E assim, sucessivamente.
Queria ser igual a todos, como sua irmã, seu cunhado, seus pais…
Entretanto, não foi presenteada com essa capacidade como qualquer alossexual.
“E o que amou, sentiu alguma coisa?”
Veio arranhando, já sabendo a resposta, só queria a confirmação e entender um pouco o sofrimento gerado nesse envolvimento desastroso.
“Sim, e não tinha noção dessa condição, mas depois, durante sete anos, sofri e só recentemente entendi meu quadro.”
“…”
“Uma pena, o meu romance foi igual à música ‘I found Love on Two way Street’ com a junção de ‘How could an Angel break my Heart’.”
Procurando nos destroços a graça desse relacionamento, até hoje, passa aquele olhar de nojo quando a tocou pela primeira vez.
Experimentando o céu e o inferno.
Mohammad conhece essas duas canções porque ficou com mulheres que queriam transar ouvindo isso.
Basicamente retratava a desilusão amorosa, relatando a falta e o abandono dos parceiros na vida dessas, principalmente a canção de Toni Braxton.
Em que um amor platônico foi rejeitado porque amava sua melhor amiga, que viveu o desejo do ‘eu lírico’.
Uma via única sem saída e retorno.
Com essas pistas, concluiu que gostava de outra que poderia ser uma amiga próxima.
Nunca deu valor que merecia e acabou casando com uma que é semelhante à Bruna.
Provavelmente, só notou quando não estava mais ao seu lado, e na tentativa de trazer de volta as sensações desperdiçadas, acabou com uma sósia, para enganar o coração.
“Patético.”
Que grande piada, passar um relacionamento com alguém que não lhe apetece, fazendo de tapume para esquecer outra, e no final, em que acaba, percebe o erro e tenta se juntar a outra similar à ex que não deu valor.
Agora, as chances de concluir ou tê-la são inexistentes, o pertence, e fará de tudo e não dividirá com mais ninguém.
E se for preciso matar, fará e dessa vez bem pior do que o antigo parceiro.
“Outra vez essa sensação.”
“Não se preocupe, vai ser amada por toda a sua vida.”
“É, né.”
“Não duvide, vai acontecer.”
“Ok…”
“Venha, cordeirinho. Daqui para sempre, seremos muito felizes.”
Já planejando a vida que terão daqui para frente.
“Olha, já chegamos.”
Reconhecendo imediatamente que o trânsito por essa parte não estava tão ruim, e a precipitação pluvial aumentou.
Também é relatada uma temperatura menor do que nas outras regiões.
O que, para um nativo, é relativamente frio.
Estacionando na vaga reservada, a expressão era de pura expectativa.
“Está com fome?”
“Claro.”
“Trouxe o remédio?”
“Sim.”
Dando duas batidinhas de leve nos seios.
Essa ação fez a mão que segurava o volante tremer, pois a vontade de conferir era excruciante.
Como vem prendendo há um tempo, devido ao espaço dado, remove o cinto apressada e desajeitadamente, enganando explicitamente, mas na realidade, era o prelúdio para o paraíso.
Quando menos esperou, sua santa, a mesma que glorificou duas vezes, estava pousando com as pernas abertas em seu colo e com jeito devasso.
“Ei, lobo mau, me ensina uma coisa.”
“É q…”
Um beijo, e o resto não significa nada.
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Capítulo 86
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As Mil e uma noites Dela com um espírito Obsessor
Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...