Capítulo 89
“Lamento, senhorita, a equipe já está completa. Sinto muito mesmo.”
“Não tem como nem deixar o meu currículo?”
Insistiu uma última vez, para que um dia lá na frente possa ser chamada.
Só que a resposta foi ainda mais decepcionante.
“Poxa… obrigada. Viu, Mohammad, é um baita de um pé frio.”
“Talvez, vamos lá?”
“Tá.”
Bruna foi à frente para ir ao balcão onde localizava os doces produzidos pela casa.
O homem mirou nos olhos da coitada, soltou um ‘agradecimento’, que parecia mais um elogio a um animal que fez algo positivo para o dono.
“Tenho que avisar a gerência para tirar a opção de aceitar currículo no site por um tempo.”
Finalmente respirou o ar dos vivos.
Fascinada pela beleza exibida na sua frente, tortas, bolos, cheesecake e muitas outras coisas bem lindinhas, intoxicou-se com pena de desmoronar o enfeite.
E pode experimentar sem medo de parar num hospital por overdose de glicose.
“Olha, Mohammad, tem até donuts! Tem torta de limão, amo torta de limão.”
“Quer experimentar?”
“E pode? Não tô vendo nenhuma degustação.”
Bruna procurou se havia alguma prova para os clientes, e não tem, apenas os das vitrines feitas hoje mesmo, e cada pedaço dessa iguaria é quase vinte reais.
Achando um roubo, lembrou que foram feitos com ingredientes únicos, compreendendo o cobrado.
“Claro, só um minuto.”
Com o mesmo movimento, outra funcionária veio em sua direção, assim, o ambiente alegre e divertido com as outras colegas, faleceu ao ir atender o dono, principalmente a mulher de mesmo nível.
“Posso ajudá-los?”
“É…”
“Tire o pedaço dessa torta de limão e dê para experimentar.”
A funcionária é a mais antiga da equipe, ouviu um pedido inusitado.
Aqui não existe degustação, diferente da gelateria que dá uma amostra grátis para o cliente provar.
Os produtos só podem ser vendidos, sendo proibido dar sequer uma única degustação.
Pois existe um sistema que quantifica os ganhos e perdas, e caso o funcionário do setor dê uma prova para qualquer cliente, esse pequeno gesto é descontado no contracheque do que fez a ação.
Contudo, não é um qualquer, e nem se qualifica como cliente VIP, e sim o dono e possivelmente a sua amante.
Logo, bem cortês, e rezando para que essa fatia de aproximadamente 150 g não seja descontada do seu suado salário mensal, é colocada num lindo prato americano de sobremesa, e entregue a ela que daria seu veredito.
A fatia de torta é apetitosa, com um merengue italiano flambado no ponto perfeito para dar beleza e atiçar a gula do degustador.
Ao cortar com um pequeno garfo de plástico, colocou em sua boca e comeu.
Seus olhos se expandiram e percebeu que essa é a melhor coisa do mundo, ninguém conseguiria chegar ao nível de fazer algo que derrete na boca e não é doce, no ponto certo do azedo do limão-siciliano.
Só tinha um único problema.
As raspas finas do limão misturadas no merengue.
“É muito bom, nunca comi algo tão delicioso na vida e é impossível dizer que é um produto diet. A única coisa foi as raspas de limão no meio do merengue, mas tirando isso, tá perfeito. Tem como separar um pedaço pra mim?”
“Ahn.. Claro.”
Congelada, voltou o calor no restante dos membros.
“Não gostou das raspas de limão?”
Estranhou porque deveria ser imperceptível, avaliando o erro de principiante.
“Não, na verdade, detesto qualquer tipo de raspa cítrica num doce, parece que tô provando os grumos de uma gelatina sem sabor que não foi bem dissolvida.”
“Entendi… quer levar outras coisas?”
“Pode?”
“Claro, se quiser, leve tudo, não tem importância.”
“Ah, mas alguns têm raspas de limão, laranja e….”
“Sim, se quiser, peço para fazer uma nova remessa para não ter esse incômodo.”
A visão benéfica tinha um quê de resfriamento, a funcionária notou que haveria demissão em massa da cozinha e possivelmente do gerente.
“Não precisa, tá legal, não há necessidade disso.”
A atendente, tendo um dos maiores desafios, ajudava outra querida pelo poderoso, que estava indo em direção ao gerente para relatar uma nova ordem.
O gerente, que conversava com outro funcionário sobre a carga recebida, vê um cidadão trajando uma roupa casual e de chinelos nos pés.
A tapeçaria negra estava oculta num boné escuro.
Embora essa informalidade seja proposital, esse é o dono de tudo que existe na Terra.
Um burguês safado.
Então, não deve vacilar nesse momento histórico e simbólico.
“Presidente, posso ajudar?”
“Qual é o critério usado pelos confeiteiros? Vejo que não foi o que criei.”
“Desculpe, presidente.”
Não questionou, sabendo da variação violenta daquele que questiona suas falas.
“Demita por justa causa os responsáveis pela prateleira, junto, descontarei vinte e cinco por cento de seu salário pelo desleixo óbvio.”
“Sim, presidente.”
“Lembre-se, é pago para seguir ordens e não fazer igual à ratoeira da sua residência, compreende?”
“Sim, presidente.”
Sem apontar, emitiu o notificado por algo mínimo, contudo valioso, pela simples reclamação de seu amor.
Antes mesmo de fazer o ato de curvamento, já tinha dado as costas, sem olhar para trás.
Nisso, a funcionária que a atendia exibia gentileza e apreciava verdadeiramente atendê-la, diferente do presidente — que possui uma aura pesada e densa — distorcendo tudo ao redor.
A sua companheira é leve, tornando-se uma boa cliente para lidar, e queria que viesse mais vezes.
“Estou embalando os donuts, vai querer mais alguma coisa? Uma bebida, que tal?”
“O que indica? Quero algo gelado que tenha gosto de danone, sabe?”
“Temos duas opções, a primeira é a fresh milk e também tem a bubble tea. Tem vários sabores, e a senhora pode escolher qual pobá de sua preferência.”
“O que é pobá?”
“São gominhos feitos dos sucos das frutas misturados com tapioca, que explodem na boca com o calor interior. É muito gostoso e parece um frappuccino de tão cremoso.”
“Será que posso? Tô levando tanta coisa…”
Vendo o dilema, que tem a liberdade de escolher tudo sem se preocupar com o preço, pelo fato de o dono bancar.
Imaginou se estivesse em seu lugar, faria festas e só andaria de carrão, coberta de joias e com roupas de grife mais cobiçadas no mundo.
“Não tenha medo, tudo isso vai ser pago pelo cliente bonitão. Aproveite para arrancar um pouco da grana desse ricaço.”
Estimulou, sendo a mais sincera possível, num tom de brincadeira, para aliviar o fardo de quem não tem noção de com quem estava andando.
Que resolveu aproveitar e pegar algumas bebidas por 0800.
“É verdade, hoje vou bancar a sugar baby e dar despesa para esse sugar daddy.”
“Hahaha.”
“Sugar o quê?”
Uma voz suave alerta ambas.
“Meu Deus! Que susto! Parece que brota do chão…”
“Desculpe. Agora, o assunto de que estavam falando, sobre o fato de ser um sugar daddy e você um sugar baby, me interessou muito. Então, sou isso? Posso te chamar de minha sugar baby, cordeirinho?”
“É só uma brincadeira, uma analogia, não condiz com a realidade.”
Não cedeu a margem a esse lobo astuto.
Sorriu docemente, achando interessante se situar como uma sugar baby.
O fato de dar tudo e sustentar os seus vícios garante que seu poder de compra possa adquirir uma parte desse coração.
O importante é tê-la ao seu lado no final das contas, o resto é um mero detalhe que será acrescentado ao longo da vida a dois.
“Vai… me chama de sugar daddy… ou melhor, de lobo mau…”
Bruna, que teve suas bochechas mais uma vez atacadas, não percebeu que a funcionária já tinha feito o pedido e estava com tudo terminado na sacola personalizada.
Apreciando uma cena fofa, de um cara que implora carinhosamente à parceira para chamá-lo de ‘lobo mau’, enquanto diz outro apelido carinhoso.
É típica entre casais de início de relacionamento, sendo algo corriqueiro com vários parceiros que estão no estágio do ‘love bomb’.
Mas o que acontece pode ser considerado conflitante e até errado, pois esse, considerado um ser rígido, ditador e cruel, é casado e muito bem comprometido com uma linda mulher de seu país e da sua religião.
Consequentemente, esse simples detalhe faz com que sinta um pouco de dó da outra que provavelmente estava sendo usada para saciar o desejo desse cara, que quer pular cerca de uma forma peculiar.
“Para… Mohammad, tamos na frente de todo mundo…”
“Tá tudo bem, cordeirinho, não se preocupe.”
A funcionária, que chorava por dentro e por baixo pelo tom sedutor, esperou para entregar os pedidos.
E, como esperado, o cara amoroso, quando a viu, seu olhar mudou como um vento forte e encarou-a de um jeito pífio, como se fosse nojento ou semelhante a um inseto rastejado pelo esgoto.
“Droga! Acho que não gostou da minha intromissão.”
Percebendo, imediatamente se desculpou.
“Me desculpe, e obrigada pelo atendimento, foi um amor. Obrigada de verdade. Vamos, Mohammad, quero ver a parte dos sorvetes e o açaí.”
“Sim.”
Bruna, que mais uma vez saiu andando na frente, sem se importar se estava acompanhando ou não, não ouviu o desfecho dessa página.
“Fico feliz que tenha tratado bem, por causa disso, esquecerei o erro cometido e continuará com seu emprego.”
“Obrigada, presidente.”
Aliviada por não ir para o RH e assinar sua demissão.
Assim, as colegas aflitas perguntaram o que aconteceu.
Sendo consolada e ajudada pelas meninas que construíram uma amizade.
“Fui salva pelo gongo, cometi um grave erro e pensei ter perdido o emprego. Mas a mulher que o acompanhava me salvou no último minuto do segundo tempo. Graças a Deus, Jesus, muito obrigada pelo livramento.”
“Vamos tomar alguma coisa, cê tá pálida e suas mãos tão geladas.”
“Tudo bem.”
Levaram a funcionária, que teve um pequeno encontro com o ser maligno, sendo confortada pelas mortais.
“Esse cara não é de Deus, pode ser tudo, menos uma criatura feita Dele!”
Comentários no capítulo "Capítulo 89"
COMENTÁRIOS
Capítulo 89
Fonts
Text size
Background
As Mil e uma noites Dela com um espírito Obsessor
Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...