Capítulo 90
“Oi, uhn… Posso experimentar alguns?”
“Claro, pode escolher qualquer sabor.”
“Me vê esse de banoffee com banana caramelizada, por favor.”
“Sim.”
A atendente, que tem um uniforme diferente das que trabalhavam na cafeteria, lembrava muito um sorveteiro estilo estadunidense.
Só que, em vez de ser branca, a coloração é a mesma usada na cafeteria e uma placa metalizada com o nome dela.
Mohammad observava distante, analisando o tratamento sem sua presença.
E, até o momento atual, não houve olhares ou uma expressão de desprezo e deboche.
São gentis, com a face amorosa como se estivessem atendendo um familiar.
E foi bom, esperando que continue mesmo que não esteja presente.
Caso ocorra algo negativamente, não demitirá por justa causa como antes, mas obrigará a pagar uma indenização por injúria.
Portanto, espera nunca ter que fazer e deixará claro para todos, a regra máxima para não fazer nenhum tipo de comentário ou ofensa contra Bruna.
“Muito bom, gostoso! Posso provar outros?”
“Sim, fique à vontade.”
“Obrigada, me vê essa de… cheesecake com calda de frutas vermelhas, por favor.”
“Tudo bem.”
O que era para ser o mínimo, dessa vez veio farto pela significância do cliente.
Bruna também percebeu que o sorvete de pistache — um hyper exportado — não assumia a coloração verde igual ao vômito do Huck, mas amarronzado pelas propriedades oxidantes.
“Interessante.”
É natural ser enganada quando algo não faz parte de seu país, e como era originário do Oriente Médio, berço do dono, é plausível o conhecimento dessa oleaginosa.
Assim, um menino de oito anos, que sempre vem com o pai, pediu uma prova do gelato favorito, já esperava que escolhesse o mesmo sabor.
Descobrir que existem produtos benéficos para a saúde e zero açúcar tornou-se fiel e faz questão de que o pequeno consumisse produtos daqui.
“Aqui, garotão.”
“Obrigado.”
Sem remediar, enfiou a pequena espátula de plástico na boca para saborear o sabor icônico de algodão-doce, feito exclusivamente para o paladar infantil.
Observando a cena, a jovem acha muito fofo o cabelo loiro e as bochechas rosadas, imaginava se tivesse um sobrinho ou uma sobrinha para acompanhar nessas loucuras, ou então…
“Como seria se fosse mãe? Seria uma boa mãe? Assim como minha mãe e irmã, que nasceram com esse dom imediato para amar outro ser humano vindo de seu fruto? Não sei…”
Uma gravidez culposa, em que não há intenção de conceber.
Alertou das inúmeras oportunidades que transou sem proteção, formulando essa situação, trazendo seu filho para tomar sorvete em um clima pouco provável.
Todavia, essa ideia foi removida, sabendo que não podia ter filhos, assim como os seus irmãos.
Mohammad analisa esse dilema silencioso, ao encarar a criança que se deliciava com seu sorvete favorito, notando um desejo oculto negado por ela.
Ansiando a dádiva de gerar, chamando-a de mãe.
Mas, de alguma forma, seu semblante um tanto pesado revelava a possibilidade baixa dessa realidade, sendo do tamanho de um grão de mostarda.
Por isso, implicitamente, quer presentear também, ter um filho que una seu DNA com o dela, os traços dela nessa criança, uma mistura harmônica.
Aqui, os olhos são imediatamente atraídos pelo domínio do branco, que se espalha pelas paredes cultivando o design minimalista.
A prateleira que abriga os gelatos, com sua estrutura de aço especial, brilha igual ao luar banhado pela estrela-mãe, prometendo manter cada sabor na temperatura ideal, garantindo uma textura cremosa e irresistível.
O chão, feito de mármore italiano, reflete a luz sutilmente, convidando os visitantes a deslizar suavemente por seus ladrilhos frios.
Aqui, o caminhar se torna um prazer, seja em chinelos confortáveis ou em elegantes saltos altos.
O ambiente, cuidadosamente projetado, é um verdadeiro palco para momentos especiais — cada canto parece sussurrar histórias de encontros e risadas.
É um local onde as pessoas não apenas vêm para saborear, mas também para criar memórias que as farão retornar repetidamente.
Tornando-se um point frequente, daqueles que amam além da fome, a fonte do significado da ‘experience’.
#Instagramável.
Ou seria uma ‘novidade do passado’?
Mohammad foi em sua direção, que provava um sabor controverso, como ricota com figo.
E suas visões sincronizaram, e imediatamente queria muito beijar seu rosto e pescoço, como um namorado amoroso faz com sua amada.
Nem disfarçando, seus olhos já os denunciavam, deixando-a com uma ligeira falta de ar e querendo fazer tão igual a ele.
“Quero beijá-lo de novo.”
O MPB tocado era a relíquia brasileira.
Tornando o clima num palco de tranquilidade e encorajando a fazer um pedido que seu peito queria tanto gritar.
“Passa o dia comigo.”
“Como assim?”
A espátula, oferecida ao cliente, estava na mão direita que mantinha em posição relaxada, tentando entender o dito pela boca desse sem-vergonha.
“Fique comigo onde estou hospedado, queria passar o dia com você.”
Essa frase, suave e até uma súplica urgente, causou um misto de sensações conflitantes e o mais intenso é a desconfiança e um tanto de pavor.
“Sabes que não posso fazer isso.”
“Não farei nada, prometi e cumpro essa regra. Só quero isso, antes de voltar para casa.”
“Mas…”
“Não se preocupe, prometo não lhe incomodar ou manchar sua honra.”
“É que não é um pedido tão simples, estou um pouco incomodada porque cometi erros assim.”
“Não vamos fazer, só quero sua companhia antes de retornar….”
Sabe do seu retorno, com a promessa de vê-la novamente.
Só que é precipitado demais, e o receio a atingiu.
Não deveria ter feito o que fizeram, e errar como outras vezes, na realidade, não mensura como viveu até o momento atual de tantas presepadas que entrou e saiu sem nenhuma sequela ou consequência.
Se questionando se arriscaria mais uma vida, das cinco desperdiçadas.
No entanto, de todas as questões que assaltassem, trazendo dúvida entre o ser e não ser, sua boca fala o oposto do que a razão instruiu a seguir.
“Tá bom, mas não vai acontecer nada, né?”
“Nunca, não faria o que não fosse permitido. Tudo bem?”
“Tá bom…”
Talvez essa pequena afirmativa possa prejudicar e muito, e que esse vampiro não queira sair tão cedo de sua simples monotonia.
Entretanto, o futuro é incerto e pode ser benéfico ao coração daqueles que desejam a felicidade, deve ser isso a razão de se arriscar.
Pois nada é mais sedutor do que um final feliz.
***
Hana chegou à casa de sua melhor amiga, que acompanhava há anos e é a sobrevivente do poder dessa frágil madame.
“O que aconteceu?”
“Mohammad.”
A Sra. Sabbah teve a sorte de encostar num homem rico, entretanto, não proeminente como a linhagem dos Mallik.
E encarava a mortal que desejava ser uma deusa, confusa, acreditava que esse homem permanecia no radar dessa especialista.
“Ele não foi para o Brasil?”
“Esse é o problema, continua lá.”
“…”
O véu, de tonalidade rosada, combinava com sua pele forçadamente clareada, para agradar um velho que há anos não respira entre os vivos.
O destino lhe soprou que seria a escolhida, contudo, quando tudo soava positivo, o fio negativo veio trazendo o equilíbrio e, quando perpetuou a escolhida, seu mundo desabou.
E num espaço de dez anos, Mohammad mostrou um comportamento um tanto ‘suspeito’.
Soube de sua breve viagem ao Brasil, que duraria apenas três malditos dias, mas se arrastava muito além do limite.
E a aparição do Sr. Gemstone, soou um alerta de que seu próximo movimento nessa batalha naval entraria num bloco recheado de bombas.
Que a qualquer instante explodiria.
“Preciso agir, antes que o perca de vez.”
“Hana…”
“Se não matar a raiz enquanto é frágil, quando crescer e criar frutos, serei insignificante diante de seu poder.”
“…”
“Ele é meu, e de mais ninguém.”
Profetizou diante de uma tempestade violenta demais para se arriscar.
[PRIMEIRO ARCO: HOTEL BELMOPAN – PART I, FIM. CONTINUA NA PART II]
Comentários no capítulo "Capítulo 90"
COMENTÁRIOS
Capítulo 90
Fonts
Text size
Background
As Mil e uma noites Dela com um espírito Obsessor
Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...