Capítulo 103
“Faria?”
O clima agradável foi interrompido outra vez por essa questão, e, através de seu olhar, soube que não se contentaria com a resposta simples, nenhuma resposta seria o suficiente para explicar esse lado perverso.
“Nunca.”
O tom firme e o contato ocular traziam a pura verdade, a tal que quase não anda em sua boca quando quer seduzir e enganar.
Só que é ela, sua vida, seu coração e seu amor.
Não pode seduzir ou enganar, pode até omitir, mas nunca mentir.
“Faria?”
“Nunca.”
A convicção de que essa mão não a machucaria, apenas lhe daria carinho e conforto, é real, mas não para a moça que entende sobre o assunto sem ao menos estar na pele.
Por isso, tinha que agir e, no meio dessa atmosfera, um tapa forte, reunindo a força de toda dor, tristeza e raiva.
Mohammad nunca experimentou ser agredido, claro, os treinamentos bárbaros e torturas necessárias para tornar-se uma máquina não contam.
No entanto, essa mão pequena, suave e bem cuidada, sem estar pintada ou ornamentada, foi disparada em sua face, trazendo esse misto de sentimentos conflitantes e pavor.
O que destabilizou, pois não é uma reação que desejava passar.
Portanto, podia revidar, em sua convicção, é legítima defesa e estava se defendendo das loucuras dessa mulher, poderia, já fez pior por pouco com tantas que tentaram desafiar.
Hematomas, ossos quebrados, cortes por vidros, olhos roxos…
Decorando a tabela completa da Maria da Penha.
Todas que tentaram ‘crescer’ para cima dele e tirar sua autoridade.
No entanto, não consegue fazer com ela, e não quer.
De jeito nenhum, não cogita vê-la do mesmo modo que as outras.
Seu pássaro, seu cordeirinho, não merece alguma agressão ou marcas violentas, somente carinho, amor e marcas de seus chupões, fora isso, nada.
Assim, agiu da melhor forma que sabe e deve fazer.
Um beijo suave em seus lábios.
É delicado, quente e continha as doses necessárias de amor e verdade, mesmo assim, não é o suficiente e outro foi desferido na outra face, que doeu na mesma intensidade, deixando os lados avermelhados.
E igual, a beijou para confirmar que nunca a tocaria desse modo.
“Deveria sair, ir embora e nunca retornar. O amor não transforma ninguém, Mohammad, não serei capaz de tirar a maldade que habita em você.”
“…”
“Por isso, a sanidade clama para te abandonar. Então, por que não consigo fazer isso? Por que sou idiota, na verdade, duplamente estúpida?”
Seu peito não suportou ouvir essas palavras, tão dolorosas quanto os tapas.
Seria mais fácil punir fisicamente do que dizer isso.
Não suportaria ficar longe e não quer que o abandone. Se não, terá que machucar seu peito e prendê-la para nunca sair de seu lado.
“Não, por favor, fique, farei o que pedir.”
“Para! Não vou virar estatística, isso não é o sonho de ninguém. Morrer pela pessoa que deveria amar.”
“Nunca, nunca faria nada, é só que… odeio que toquem em você….”
“Não…”
“Por favor, pode me castigar, agredir ou até tirar tudo que possuo, mas não me abandone, fique comigo.”
O abraço que a envolveu a deixou rígida e é quente como o clima de sua cidade e tão desesperador.
Já viu isso tantas vezes, não é uma cena incomum, só que dessa vez é necessário. No começo tudo é flores e depois do primeiro tapa?
A primeira desculpa?
Outra agressão e terror psicológico, sofreu com a depressão e não quer voltar ao fundo do poço, não dessa forma.
Entretanto, como vítima, não consegue largar essa entidade maligna e, por consequência, seus braços o envolvem na fé, nessa mísera esperança de que não entre num caixão, fazendo-o acreditar em suas palavras.
“Droga, estou cavando minha própria cova, por que faço isso?”
De todos os alertas possíveis, e tantas verdades vistas e críticas lançadas, Bruna começa a envolver o laço de sua alma a esse demônio.
“Obrigado Deus, se um dia, o mais louco e improvável, machucar esse rosto, eu mesmo peço para me chicotear.”
“Hum… Quero comer um pote enorme com cereal de chocolate e leite bem gelado.”
Mohammad sorriu levemente ao saber desse lado infantilizado na área alimentar, assim, reafirmou que devia ser comida e não besteira.
Depois, antes de ir embora, faria o pedido, quem sabe. Contudo, queria lhe dar substância para nutrir.
“Peça outra coisa que não faça parte do desjejum, algo que vai trazer um pouco de energia, e como estamos no horário do almoço, vale o que encaixe nesse momento.”
“Ah… tá, que tal macarrão igual ao do Ispooleto? Eu gosto, e como é sexta, seria uma ótima pedida, já que amo os pratos que vêm de lá.”
Tentou buscar na mente que tipo e nada vinha, porque nunca se interessou por alguma coisa criada aqui, que não seja relacionada aos seus negócios.
Por isso a pergunta.
“É um restaurante semelhante ao meu trabalho, só que de massas, amo, pois tem variedade de produtos adicionais que só são encontrados ali.”
Mohammad, lembra a familiaridade de nomes de uma cidade italiana dessa rede, entendendo a base culinária, e mesmo não confiando, pediria algo similar sem prejudicar, sendo uma opção melhor.
“Qual tipo de massa gosta?”
“Ahn, gosto de ravióli, talharim e nhoque. E para recheio, molho branco ou vermelho, claro, regado a muito queijo parmesão ralado e camarões, muito mesmo, quero pegar a cada garfada uma quantidade boa dessa iguaria.”
“Posso ver isso.”
Pensou no restaurante daqui, com seus pratos italianos, e mesmo não agradando tanto a Bruna, que não possui um paladar exigente, estava tudo bem, e também pediria o mesmo tipo.
A única coisa é pôr no menu personalizado e pagar por fora o preparo e toda confecção.
“Não se esqueça da sobremesa, quero mousse de chocolate meio amargo.”
“Ok. Enquanto espera o almoço, não quer ver ‘Hilda Furacão’?”
“Claro, vim pra isso mesmo.”
“Vamos para o quarto, ligarei a TV e selecionarei o serviço de streaming.”
“Isso!”
Saindo na frente, nem parecia que o inferno tinha se instalado, deitando na cama bagunçada, esperando ligar a TV 4K ultra.
Selecionando sua minissérie favorita, depois de ‘Gabriela’.
Outra, adaptada das histórias de Jorge Amado, que teve a graça de conhecer em 2012. Tornando-se a favorita, com Hilda, e outras da grade global como ‘Viver a vida’.
Queria ter a oportunidade de ver trechos isolados desses casais, que impactou muito, o que acarretou os amores aos mocinhos, uma raridade se tratando de novela.
Com a barriga virada e balançando as pernas em movimento sincronizado, esperou ver pelo menos dois episódios.
Igual a uma noventista, ligou a única fonte de felicidade e o motivo principal de sua visita.
E essa ação o deixou extasiado, pois queria ver mais vezes, mesmo suportando a teledramaturgia.
O volume alto não o incomodou, deixando-o bem à vontade, indo diretamente pegar o telefone e acionar o ramal.
Ao discar, rapidamente o serviço de quarto o atende, e a voz feminina aborda o hóspede para qualquer ordem dentro de seus parâmetros.
“Quero dois pratos, um é do cardápio e outro, um pedido especial.”
[Sim senhor. Quais são, por gentileza?]
Explicando roboticamente, decorou as especialidades de cada um, detalhando o modo feito para agradar o paladar deles.
Tendo que ser desse modo, caso encontre algo distinto, não ponderar esforços para lesar o estabelecimento.
Como tem ciência, não abriria espaço para falhas. Nem uma única folha pode ser acrescentada ou retirada dessa especificação.
[Presidente.]
Joe, que estava aguardando a chamada, teve seu melhor dia em não fazer nada, apenas sentado dentro do carro fazendo a segurança da outra horda de presentes.
“Traga os produtos.”
[Sim presidente.]
Enquanto envia a mensagem para um dos seus guardas sobre a sobremesa em sua loja, veio aquilo que martelou no primeiro contato.
Alex foi certeiro sobre a suspeita desse senhor.
Com acesso livre aos dados privados, vasculhou os favoritos e itens no carrinho, nos quais a jovem demonstra uma fixação profunda por esse nicho.
Indo além do ‘gostar’, tornando-se compulsivo.
Reavendo uma ajuda especializada para pincelar suas teorias.
Ao retornar, permanecia na mesma posição, bem concentrada na TV, e para esperar o pedido, resolveu sentar perto da cabeceira, com os pés apoiados no colchão e focando nela.
Formulando várias ideias pervertidas, barradas mais cedo.
“Calcinha rosa, calcinha rosa… Mesmo ocultando suas coxas grossas, ainda dá para ver um pouco da entrada de sua vagina. Que vontade…”
Ao recordar das milhares de imagens em posse do falecido, sentiu ânsia, querendo mais uma vez torturar, que poderia ser imortal e autorregenerar como o mito de Prometeus.
Por causa disso, não guardou nenhuma ao saber que não foi redirecionado a ele, e sim a outra pessoa, e não quis ter nada que fosse dedicado a esse cara.
E colher quando for sua vez.
Assim, mesmo excluído, o detalhe era tão nítido, e uma vontade forte de bater em sua bunda para sentir o prazer causou um certo formigamento pela ansiedade que implora para fazer tal coisa.
“Acalme-se, no futuro poderei fazer, baterei tanto enquanto penetro que não só gozará pela intensidade das estocadas, e sim pelo calor e prazer gerado por cada palmada.”
“Mohammad, posso pedir umas coisas?”
“Pode.”
Em nenhum momento vacilou na resposta, expressando a verdadeira essência de querer fazer tudo que soletre.
“Sábado, minha irmã vai à casa da tia do meu cunhado e terá que levar algumas coisas. Poderia me ajudar nisso?”
“Tudo bem.”
“E também vinte reais em moedas, de 25 e 50.”
“Moedas? Ok, qual é o outro pedido?”
“Sábado, sei que é arriscado, mas vamos comigo no shopping da minha cidade?”
O pedido inocente o deixou desparafusado e agraciado.
Normalmente, é ele que pede e não ela, e saber desse convite, que em situação normal é propício e indicado para dois desconhecidos que estão querendo ser conhecidos, é como subir dez degraus no seu coração.
“Tudo bem, quer ir ao cinema?”
“Sim, depois vamos comer num restaurante nordestino lá mesmo.”
“Ok.”
“A comida pode ser horrível, mas com ela, tudo fica maravilhoso e não perderei a chance.”
Já ela cogitava bagunçar um pouco a carteira desse rico e comprar alguns produtos para cabelo, e com isso, a impulsividade fez um tapa forte balançar seus glúteos firmes, provocando uma quentura nas partes baixas.
“Mohammad….”
Um gemido escapou, o que fez não só a mão, mas toda a estrutura ferver como labaredas incandescentes.
É maravilhoso, novo, e tem grandes planos quando envolve seu chicote e presencia o que é um homem de verdade.
“Diabinha, você ainda vai me matar.”
Comentários no capítulo "Capítulo 103"
COMENTÁRIOS
Capítulo 103
Fonts
Text size
Background
As Mil e uma noites Dela com um espírito Obsessor
Dizem que o amor é a chave para o sucesso, capaz de unir mãos e garantir um felizes para sempre.
No entanto, Bruna, prestes a completar 32 anos, já não sente mais essa faísca e deseja...