Capítulo 106
O secretário foi aconselhado a permanecer em repouso e estava nesse exato momento na suíte do presidente, de frente para tal que degustava seu quinto cigarro, a sua marca favorita.
Já experimentou vários, contudo, o modelo vermelho clássico e requintado o encantou, como tudo que é antigo, se habituando ao gosto desse câncer ambulante que custa 2 dólares, quase o preço de uma bala.
Sendo um dos mais baratos que utiliza, por isso, indica que seu humor está péssimo.
Normalmente, só fuma por duas ocasiões: quando está muito excitado — como na luta de Dmitri na Rússia e no torneio anual em Dubai — ou quando tem um sentimento conflitante beirando ao caos e ao ódio.
E esse pobre empregado sabe que não era de felicidade.
“Fico contente em saber que minha ordem ainda seja válida, secretário.”
“Sim, presidente.”
“Explique, qual é a sensação de experimentar a vida humana? Foi bom ir a um pronto atendimento, feito exclusivamente para tratar somente essa espécie?”
“Foi bom, mas não se compara ao atendimento do Dr. Schneider.”
Num tom robótico, rejeitava o fato de ser tratado como humano, exaltando o médico que cuida principalmente dos animais.
Insinuando uma certa ingratidão por algo que sempre sonhou e conseguiu conquistar graças à intervenção da mulher.
Tudo para não ser penalizado, aprendeu a mentir bem para elogiar a bondade desse que trata todos como meros utensílios.
Até porque, Mohammad não era idiota e compreendia que esse animal estava mentindo.
Mas, estava proibido de fazer algo.
“Fico contente, e até lisonjeado pelo agradecimento, até pelo fato de ser um bom dono e proporcionar um tratamento digno de um animal como você.”
“Obrigado, presidente. Sou grato por toda bondade e misericórdia que tem comigo durante todos esses anos. Não tem como descrever a sua benignidade.”
O cigarro sugado com força e depois expelido acabou causando um certo desconforto, mas como estava acostumado, apenas suportou de seu modo e depois daria um jeito de liberar toda essa toxina para fora.
Sabia que a boa ação dela resultaria nessa pequena conversa bizarra, pois na concepção dele, não deveria tê-lo enxergado assim, mas, apreciando-o como animal, para ser usado e depois jogado fora.
Assim como todas que cruzaram seu caminho.
Independentemente do sexo, que cruzaram o caminho do presidente, o olharam com desprezo e até escárnio, não importando ouvir da boca desses a sua verdadeira identidade.
Até Lauren, de personalidade um tanto doce, como uma sobremesa gostosa e delicada, foi tão egoísta e mesquinha ao achar engraçado o papel dele na sociedade.
A sua mirada era como o restante dos que puderam trocar algum fluido com esse cara: somente desprezo.
Amava chegar em sua presença, lhe dando ordens, explicitando o que nasceu para ser, um animal de serviço.
E até de certa forma foi agredido, por descobrir que seu amor não era respondido devidamente.
Descontando seu rancor por saber que era o responsável por simplesmente trocar a roupa de cama depois desse mesmo ter uma noite inesquecível com outra fêmea.
Mesmo suportando todos os defeitos, não deixou de lhe enviar flores quando seu corpo morto chegou à sua cidade natal.
Pois sabe que, entre todas que fizeram o mesmo e até pior, era mais ‘decente’, tratando um tanto ‘melhor’.
Portanto, desse sentimento de culpa e generosidade, fez o ato para honrar a memória dessa que foi mais uma das vítimas desse senhor que distribui trevas e dor.
Até o seu surgimento.
De primeira, supôs ser igual, e até convenceu que o charme e a gorda quantia de dinheiro do presidente seduziriam facilmente, e no final seria como qualquer uma ludibriada com a força do amor e generosidade desse.
Só que foi o oposto, essa pequena criatura conseguiu atrair a ponto de ser um animal domesticável, olhando preocupada, como uma mãe vê o filho machucado.
“Meu Deus! Seu rosto, menino, tá muito feio!”
“….pode acreditar que não vai querer saber o lado quando desprezo alguém.”
Esse tom, desafiando quem não é regido pela lei humana, encaixou propositalmente, para defender um ser que nem brasileiro é.
Pela primeira vez, aos olhos dela, explicitava-se a crueldade dessa divindade, e o aviso ameaçador foi a melhor coisa do mundo.
Desde os seis anos, quando foi retirado do caos, para colocar uma coleira e servir de bichinho de estimação.
“….prometo que enquanto estiver aqui, não sofrerá nenhuma ‘dor de dente’. Ok?”
O ápice da justiça a seu favor, experimentou finalmente o que dizem sobre a roda da vida, e por poucos instantes foi defendido e devidamente vingado por todas as coisas que sofreu durante toda a vida.
“Merece todo o karma que está vivendo agora, Mohammad bin Ali. Essa mulher fará pagar até os últimos instantes que fez em minha vida. E só poderei sorrir!”
“Só que… Não estou nada feliz com isso, ganhou todo o cuidado e atenção que deveria ser só meu, e ainda recebi uma ameaça grave de seu abandono, sabe o que significa?”
“Não, presidente. Perdoe-me a falta de compreensão, poderia, por favor, me explicar?”
“Bem, claro, significa que todo lado amoroso está sendo direcionado a você, e não para mim. O que pode se enquadrar como traição, não é?”
“Me perdoe, não queria causar discórdia no envolvimento de vocês. Foi um ato falho ter causado essa confusão.”
“Sim… Sim… deveria ter escutado minha intuição. Ter repreendido em outra parte, pelo mau hábito, acabei perdendo o controle e mirei no lugar errado.”
“…”
“Da próxima vez, será em suas costelas em vez do rosto, e não tem como atrair tanta atenção, como nos velhos tempos, né?”
Recorda-se dos inúmeros castigos nessa fase, dos tipos de chicotes usados em seu corpo, principalmente aqueles com a ponta de metal e vidro, que rasgavam, causando sangramento e marcas memoráveis.
“…“
“Por que chora?”
“Jovem mestre… dói.”
“Como assim? Estou pegando leve. Não lembro de permitir essas lágrimas, por isso receberá um bônus a mais pela desobediência.”
Que, desde que passou a punir com tapas, se tornou suave, comparado a antes.
Percebendo que esse tipo de punição era mais gratificante que as dores insanas e marcas profundas que jamais serão curadas.
“Sim, peço mais uma vez perdão, e quero lhe rogar por misericórdia, não fiz por mal, por favor, continue com suas disciplinas atuais.”
“Hum… não sei… Estou com raiva, a ponto de querer te matar. E essa vontade ainda não passou, mas, como prometi, estou impedido de fazer qualquer coisa.”
“…”
“E deve saber como é a personalidade feminina quando suas ordens não são atendidas, não é?”
Esse empregado já presenciou várias facetas, e cada uma aprendeu a lidar e até perceber nuances de como sair, mas, apesar do desprezo, havia duas nunca presenciadas, o que chocou quando foram apresentadas.
Não sabendo lidar no futuro.
Aumentando um décimo, se manteve igual.
O presidente, desde que nasceu e até o momento atual, nunca foi de gritar, na verdade, é um tanto contido em suas palavras que vinham calmamente como qualquer mar tranquilo.
Apesar disso, denota uma raiva sem precedentes e uma violência alta a cada som proferido, que formam palavras danosas e corrosivas ao corpo e à alma.
Os sentimentos até então desconhecidos, até para o hospedeiro, foram liberados no dia 19 de janeiro, sexta-feira. Após entregar todo o material revelador da senhorita, o ex-companheiro, infelizmente, veio a óbito.
Ódio, algo nunca cogitado entrar no caminho, mesmo os que tentam infligir, não, nunca foram sentidos.
E, por nunca ter sentido o fenômeno, não soube lidar quando veio visitar pela primeira vez.
Ver em plena ebulição, por tamanha cólera e ira misturada, destruindo tudo em sua frente com apenas um taco de golfe, enquanto rugia como um animal em plena mistura de dor e ódio, foi assustador.
Com os guardas mais antigos, é medonho e, ao mesmo tempo, maravilhoso.
A voz melosa e até gemidos no ápice de orgasmo sexual com o antigo parceiro só aumentaram as chamas, fazendo imaginar não cruzar seu caminho quando estiver tendo esses rompantes explosivos.
Todo material da suíte foi destruído e, por incrível que pareça, o taco metalizado continuava intacto, suportando todo o impacto de seu usuário que resolveu não usá-lo para a função que deveria ser feita.
E o cheiro de álcool dos conhaques e uísques foi dispensado de sua função, lançado contra a parede, como seu iPad, o maior instrumento de trabalho.
Assim, pode-se observar um verdadeiro homem em fúria, consumido pelo ódio, e tudo isso provocado pela jovem dama, que despertou outro sentimento desconhecido chamado amor.
Por causa disso, libertou a criatura contida pelo bem da humanidade, livre, mesmo essa mortal não percebendo o erro, esse monstro não permitirá que ninguém a toque ou faça alguma coisa.
E aqueles que ousarem receber um pouco de sua bondade e misericórdia, serão condenados a sofrer o ‘destino fatal’.
A primeira vítima foi o ex-namorado e sua família.
Aquela frase dita por esse monstro reverberou pelos quatro cantos.
“Tragam pra mim.”
O secretário vislumbrou a pelagem negra, dentes fortes e corrosivos e os intensos olhos dourados ficarem vermelho-sangue, a mesma tonalidade mostrada agora, enquanto fuma seu último sexto cigarro.
Tarde demais, Fenrir estava solto e não havia o que fazer, e o pobre implorava que a coleira nessas mãos pequenas fosse tão segura quanto seu terreno.
“Qual foi o motivo de libertar algo que nem a criatura conseguia se livrar, por quê?”
“Espero ter nos entendido.”
“Sim, presidente. Fico feliz pela chance, prometo nunca mais cometer.”
Mentira, sabe disso, pois assim como um viciado saindo de sua prisão, correrá novamente para esses braços quentes.
“Continue com seu trabalho, não deixe nada passar e envie todas as informações que devem ser mandadas, e também duas ordens.”
“Sim, senhor.”
“Comunique a Park Hyung sobre algumas propriedades e depois libere a nova mansão Pitaya. Seja rápido, quero resposta no primeiro horário.”
“Sim, presidente.”
“E… não esqueça de cuidar dos seus hematomas. Bruna desejou todo cuidado e uma boa cicatrização. Sendo seu pedido, espero que ouça, compreendeu?”
“Sim, senhor. Farei como a senhorita manda.”
“Está dispensado. Cuide bem da sua saúde, secretário, porque só tem uma.”
“Obrigado, presidente. Peço licença para me retirar.”
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Capítulo 106
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